quinta-feira, 15 de março de 2012

d´Arte - Conversas na Galeria LXXX


Apeteceu-me escrever no título “Alcochete, sem Freeport”, tantos são os artigos que, nos últimos anos proliferaram nos media portugueses, por causa dessa catedral de consumo.
Alcochete é uma das mais belas vilas da margem esquerda do Tejo.
Deve ser o único ponto em que há consenso! Existem divergências quanto à data e por quem foi criada a povoação, e ao significado do vocábulo. Para mim, porque é a que mais gosto, deriva de “alca xête”, um campo deserto onde pastam ovelhas…

Cais de Alcochete Acrílico sobre Tela 50x60cm
(clic sobre a imagem)

Esperei por uma baixa-mar que coincidisse com o nascer do sol, para tirar as minhas notas, sobre a maneira como a luz brinca sobre as águas e os fundos lodosos do rio.
No conforto do estúdio, ajudado pelas fotos tiradas no local, defini a linha do horizonte, desenhei cuidadosamente o cais e povoei o rio com os barcos de maneira a dar profundidade à paisagem.
Gosto da simetria criada no canto superior esquerdo e inferior direito, que sugere um caminho para guiar o olhar do espectador. Em contrapartida, sinto que é necessário criar um motivo de interesse na parte esquerda média da tela, para valorizar a composição…
Vou parar por agora.

2 comentários:

Luís F. de A. Gomes disse...

Estamos assim a assistir à concepção e crescimento de uma pintura, presumo.
Por enquanto, nestas duas fases do quadro, como que vemos o raiar da aurora e quase que aí poderíamos dizer que temos uma alegoria da construção do mundo no modo como a luz azula o céu sobre a estrada de água que todos os dias incha e se contrai com o respirar das marés. Resta pois esperar pelo surgir da vida que os barcos trarão.

Até lá, temos este amanhecer para contemplar e o simpático acréscimo de, mais uma vez, vermos o lado de lá da cortina da criação, o mesmo é dizer, testemunharmos como cresce o trabalho do pintor. Pois bem, a este respeito, deixa que te diga que esta vertente, digamos assim, didática na "d'Arte", é uma prenda de generosidade que ofereces aos visitantes do Estudo Geral, para lá da galeria em que os presenteias com as belezas do teu engenho.

Aquele abraço, companheiro
Luís

A.Tapadinhas disse...

Vou citar-me. No meu livro "Sargos para o Jantar", escrevo:
Ver o amanhecer junto a uma praia deserta, é assiatir ao renascer do mundo, é descobrir nas ondas vultos de sereias, de faunos e de ninfas, é descobrir nos reflexos das escamas de peixes inventados, todas as cores do arco-íris e uotras que só eu vejo, frios azuis e violetas, apelos de infinito, quentes amarelos e laranjas e vermelhos, trombeta triunfal, paixão, chama de vida.

Tens razão! Resta esperar que a vida regresse todos os dias...

Abraço,
António