AMANHECERES
O Sol continua a espreitar pelo interior do território pertencente ao povoado vizinho. Quando a primeira baba de luz vem lembrar às cores da lezíria que devem espreguiçar as pétalas, já a passarada abandonou os ramos e, cheia de linguarejares, esvoaça e saltita para encanto de quem lhe preste atenção. Outrora, tal assunto era abafado pelos sons das passadas e pelos ditos e mexericos das demandas do trabalho. Hoje há o barulho do trânsito que as pasteleiras de outros tempos, pouco ruído faziam quando a hora era marcada pelas buzinas das fábricas. Actualmente há o tilintar das louças nos cafés e já não há tantas mulheres que se dirijam para o mercado, em busca dos condimentos da dieta diária. Ainda há os deambulares, agora por maior número e variedade de lojas e já não existem apenas as conversetas em tabernas, há gente suficiente para prosas e jornais a meio da manhã. Mas as andorinhas, mesmo estando lá, há muito que deixaram de fazer ouvir os seus piares.
Alhos Vedros, 21 de Maio de 1998
2 comentários:
Este texto do Sebastião serve para descrever um quadro, daqueles que só tem o essencial...
...porque se não estivesse lá, todos sentiriam a sua falta.
E agora, saio voando para outras paragens...
Abraço,
António
Depois do dia, com o Tejo, do entardecer e da noite, como o povo, faltava o amanhecer, com os pássaros; sempre com o exercício dado pelo espelho do tempo.
Aquele abraço, companheiro
Luís
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