quarta-feira, 28 de março de 2012

Dos Açores ao Triangulo Mineiro. Uma história familiar de sobrevivência.

  

Angustias, Horta, Faial Açores
Fonte: arquivo  particular

               Naquele final do século XVIII, no  território hoje chamando Triangulo Mineiro, graças ao médico e político francês, Dr. Raymond des Gannetes, que lhe deu o nome pela semelhança geométrica da região, delimitada pelo o encontro dos rios Grande e Paranaíba, os arraiais cresciam à volta das Igrejas, em espaços  doados por ricos fazendeiros, na maioria, homens e mulheres que chegavam do sul de Minas para ocupar aquelas  terras.

Conta a história e comprovam as pesquisas genealógicas que essas  famílias  se deslocavam de regiões auríferas exauridas para os sertões planaltinos em busca de independência ou sobrevivência, e que muitas delas tiveram origem  açoriana.  Famosas ficaram em Minas Gerais as Três Ilhoas (Antonia da Graça, Júlia Maria da Caridade e Helena Maria de Jesus). Naturais das Angustias, Ilha do Faial, Açores, arquipélago localizado  no Atlântico Norte, e não na costa da África, como registram vários documentos mineiros antigos . Essas três irmãs chegaram a  São João Del Rei por volta de 1723, e casadas com patrícios, deram origem a tradicionais famílias mineiras como as dos Vilela, Borges, Teodoro, Neves, Machado, Junqueira, Reis, Meirelles, Melo, Resende, Garcia, Berquó,  Betencourt, Ávila, Nogueiras, Figueiredos,... e muitas outras que tiveram um ou os  dois pés, no espaço  vulcânico açoriano. 

Mudam os tempos, a paisagem, os ventos, mas o Homem continua o mesmo. Sujeito às tempestades e vaidades humanas, rico ou pobre, letrado ou ignorante, comporta-se num uníssono, mostrando a fraqueza  humana.

                                                            Terras do Triangulo Mineiro
                                                                                                                        Fonte: Arquivo  particular


Matias da Silva Borges nasceu em Carrancas, sul de Minas em 1764. Desbravador, rico e poderoso fundou um arraial, hoje Cidade de Coqueiral. Em Lavras, casou-se com a jovem Mariana Joaquina do Sacramento, filha da açoriana Águeda Maria da Conceição (Vila do Pico). Neta de Sebastião Pereira de Oliveira e Luzia Pereira Vieira. Desse matrimonio nasceram seis filhos, dentre eles uma linda menina de nome Floriana Maria da Silva (1797).

Em Serranos, sul de Minas, em 1789, nascia Francisco Joaquim Vilela filho de José Joaquim Vilela e Maria Mendes de Brito, neto paterno de Maria do Espírito Santo (filha do casal açoriano Julia Maria da Caridade e de Diogo Garcia) e do português de Braga, Domingos Vilela, moradores em Carrancas, sul de MG. 

Os Borges e os Vilela, ricos e influentes, tinham lá suas diferenças. Eram política e socialmente rivais. Mas quis o destino traçar-lhes uma desagradável surpresa. 
A paixão foi à primeira vista, arrebatadora, quando Francisco e a bela Floriana se conheceram. Ela nos seus ainda juvenis 12 anos, ele um rapaz de mais de 20. Um romance  aconteceu às escondidas. Quando a jovenzinha engravidou, o desespero e a vergonha caíram sobre o orgulho daquela tradicional família cristã. A revolta contra os Vilela aumentou, aquilo tinha sido um ato de pura sedução, merecia castigo, vingança. Não permitiram o casamento dos amantes. Na fazenda dos Borges, longe dos Vilela, nasceu um lindo menino, fruto de um amor proibido pela arrogância e intolerância familiar.  Planejaram uma trama terrível.  A honra de jovem seria vingada e a mancha moral seria esquecida com o desaparecimento da criança. A escrava que ajudara no parto, tudo  ouvira, e passou a vigiar a criança com fidelidade canina. Naquela noite de lua cheia, ela não dormia. Deitada no sua esteira, num canto da cozinha, estava atenta aos ruídos da casa. Pressentia que algo de mau estava para acontecer. Não se enganara. Altas horas , quando todos dormiam, um vulto silencioso passou pela porta em direção ao terreiro. Levava ao colo algo envolto em panos. Desconfiada, seguiu-o de longe, descalça, cuidadosa. E viu, horrorizada, a sinistra cena: deitar a criança adormecida, no chiqueiro, para que os porcos a devorassem.  Esperou que o vulto voltasse, apressado,  para a casa, e quando ele desapareceu, correu para salvar a criança. Trêmula, levou-a para o quarto de Floriana e contando toda a história, entregou-lhe o menino. Tempos depois, salvo, nos braços da mãe, foi batizado como Manoel Francisco Vilela. Quando a mãe casou com outro, foi viver com o pai. Já adulto recebeu por causa disso o apelido de Mané dos Porcos, pelo qual era conhecido em todo o Município pratense. Morando na cidade do Prata ( rio da Prata),  no Triangulo Mineiro,tornou-se  político forte e atuante,  foi Vereador por duas legislaturas e Presidente da Câmara Municipal ( Prefeito). Casado  com Severiana Carolina da Silveira deixou em Minas e Goiás larga descendência ( 13 filhos).


Uberaba, 10/03/12

Maria Eduarda Fagundes.
(Natural da Ilha do Faial, Arquipélago dos Açores)

Fontes dos dados:
Wikipédia ( internet)
Fotos: Arquivo particular da autora
Povoadores do Sertão do Rio da Prata ( Benedito Antonio Miranda Tiradentes Borges)

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