sexta-feira, 9 de março de 2012

Limites, ponto de vista de um líder


Seringueira: extração do látex
fonte wikipédia

País de dimensões continentais, o Brasil herdou de Portugal uma conformação geopolítica que se manteve quase intacta até os dias atuais. Porém, há um estado, o Acre, que foi conquistado, comprado e anexado ao território nacional em 1903 pela ousadia de um gaúcho, de São Gabriel, José Plácido de Castro.
Reclamadas pelos bolivianos, que as detinham legalmente, as terras acreanas ,entretanto, foram exploradas e ocupadas pelos brasileiros realmente desde 1877. Os seringalistas, senhores todo-poderosos daquelas bandas, empregavam principalmente nordestinos fugidos das secas, atraídos pelo rico comércio do látex e da castanha. Na tentativa do domínio do espaço, os bolivianos fundaram Puerto Alonso, para estabelecer taxas aduaneiras e tirar vantagens sobre os extrativistas brasileiros acostumados a uma atuação livre.
A aparente indiferença do governo brasileiro ( Campos Sales), que reconhecia a soberania da Bolívia, a rebeldia dos brasileiros em se manter na região , e a incapacidade do governo boliviano em integrar efetivamente à sua jurisdição o território acreano, fez com que a Bolívia resolvesse assinar um contrato de arrendamento do Acre com os Estados Unidos da América, através do poderoso BOLIVIAN SYNDICATE OF NEW YORK CITY IN NORTH AMERICA( de capital anglo-americano), dando a este amplos poderes de exploração do território, já ocupado pelos seringalistas e seringueiros brasileiros, e também o direito de manter uma força militar e uma pequena esquadra para o controle dos rios . Para o acreano, agora, era mais que entregar para o estrangeiro o produto do seu suado trabalho, era também, sob o seu ponto de vista, um risco à soberania brasileira no espaço amazônico. Não hesitaram, os civis teriam que se transformar em soldados, e o comandante devia ser um homem aguerrido, líder, patriota, com conhecimento militar, que concordasse em lutar contra o exercito boliviano, que já estava em paragens acreanas. Lembraram-se do sulista José Plácido de Castro, que no Alto do Juruá trabalhava como topografo para ganhar a vida, depois que abandonara o Exército por motivos de incompatibilidade de idéias e ideais. Após várias tentativas, convenceram-no. Ele teria o que pedira: autonomia única de comando naquela arriscada empresa, aparentemente ignorada pelo Governo. Contaria com o apoio dos seringalistas e seringueiros, armas e munição patrocinadas pelo dinheiro da borracha. O mais difícil seria fazer daqueles homens sem brios patrióticos, preocupados apenas com a sobrevivência, soldados fiéis até as ultimas consequências.
A floresta, abafada, cerrada, que como uma cortina verde não deixava enxergar mais que uns míseros 15 metros à frente, o calor úmido, sufocante, as árvores gigantescas inspirando alucinações e terror à noite, os insetos, as temidas víboras e feras, as febres tropicais e palustres, os sons do vento por entre as folhas, os igarapés, o repentino silencio, o rumor das águas barrentas dos rios, bordados pela densa vegetação que tudo escondia, as pequenas e rústicas cabanas perdidas na mata, seriam os melhores aliados dos brasileiros, conhecedores da região. Os portos fluviais, os postos fiscais, vilarejos e seringais, seriam o palco das bélicas ações. A surpresa, o ataque relâmpago, o ambiente quente, não davam ao inimigo tempo e animo para efetiva reação. As vitórias se acumulavam até que o Exercito boliviano foi acionado e numa desproporção marcante de gente, conseguiu arrasar o grupo de Plácido de Castro, por uns tempos. Na batalha, uma cabocla ao ver seu companheiro ser morto pelos soldados, desesperada empunha uma arma, e atira contra os inimigos, ferindo o Comandante da tropa, que impressionado com a valentia da mulher, ao vê-la ameaçada pelos seus comandados, diz:” “Mujeres asi no se mata”.
A derrota parecia ser inevitável, porém a adesão por onde os revoltosos passavam aumentava, levantava o moral dos homens, dava esperança de uma definitiva vitória. Outros simpatizantes se juntaram ao grupo, entre eles o nordestino Alexandrino, apelidado o Matador, que já nas hostes guerrilheiras foi repreendido pelo comandante Plácido de Castro, ao incitar a deserção.
A coluna, agora fortalecida, ajudada pela surpresa, pelo sol escaldante, e pelo corte da fonte de água, assaltou a tropa sediada no Porto Acre ( Puerto Alonso). Depois de dias de cruenta luta, o exercito boliviano finalmente se rendeu. Levantou-se a bandeira do Acre, independente ( fevereiro 1903).

Bandeira do Estado do Acre

Mas para não haver uma guerra civil, Plácido de Castro cedeu ao Brasil, e anexa o Acre ao território nacional. A intervenção política do Barão do Rio Branco, promove finalmente a pacificação da região com o Tratado de Petrópolis ( 17 de novembro de 1903) , onde o Brasil compra o Acre e indeniza a Bolívia com dois milhões de libras esterlinas, com a construção de uma estrada de ferro ( Madeira-Mamoré) para escoar os produtos bolivianos, e com a cessão de algumas áreas territoriais de Mato Grosso.
Em agosto de 1908, no Acre, numa trilha de perto do seringal de Benfica, uma mulher cruza-lhe o caminho e pede para que ele mude de rumo, sem mais nada dizer. Ignorando o pedido, José Plácido de Castro continua seu trajeto, até que perto de uma grande árvore, sofre uma emboscada. Cai atingido mortalmente por dois tiros. Era o bando do vingativo Alexandrino, que foge adentrando a mata. No seringal perto, num casebre, dois dias depois, febril, a 11 de agosto de 1908, expira o líder da revolta acreana, aquele que deu o Acre ao Brasil, vitima do homem que ele convidou para lutar ao seu lado na conquista dessa região amazônica.

Maria Eduarda Fagundes
Uberaba, 05 de março de 2012
Fontes dos dados:
Wikipédia
Enciclopédia: Delta Universal
A conquista do Acre e a Revolução Acreana ( Ademar Romano)

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