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por
Miguel Boieiro
O Hypericum
perforatum L é planta de muitos nomes populares, entre os quais, hipericão,
erva-de-São João e milfurada. Destes, não uso o termo hipericão, para se não
confundir com o Hypericum androsaemum L
que é o nosso endémico hipericão-do-Gerês.
Também não gosto do nome de erva-de-São João,
porque ele sugestiona a época da floração. Ora, entre nós, a planta logra aparecer,
já em Abril, no seu máximo desenvolvimento.
Trata-se de uma herbácea vivaz muito
frequente em terrenos incultos, taludes e pastagens soalheiras, com folhas
crivadas de pequenas pontuações translúcidas, os tais “mil furos” – daí,
milfurada.
Pertence à família das Hipericáceas e cresce geralmente em tufos de caules erectos, sendo
indígena em Portugal, incluindo Açores e Madeira. De resto, é comum em quase
toda a Europa, norte de África e América setentrional.
Identifica-se facilmente. Eis as suas
principais referências físicas:
Caules avermelhados, lisos, angulosos e muito
ramificados na parte superior, podendo atingir no auge da floração, 80 cm de altura.
Folhas opostas, sésseis, glaucas na página
inferior, com nervuras laterais algo salientes. Como já se relatou,
encontram-se salpicadas de numerosos orifícios que se observam melhor se
colocarmos as folhas contra a claridade.
Flores em panícula na parte terminal dos
ramos, de um amarelo dourado intenso, com odor débil e sabor amargo. São
polinizadas por insetos, havendo, em cada flor, órgãos simultaneamente
femininos e masculinos (hermafroditas).
Frutos formando cápsulas.
A milfurada não é esquisita e medra tanto em
terrenos ácidos, como em alcalinos, desde que sejam soalheiros.
Na sua constituição química podemos encontrar
óleo essencial, vitaminas C e P, flavonóides, glúcidos, taninos e sobretudo, hipericinas. As hipericinas têm acção antimicrobiana e anticancerígena. O óleo
essencial e os taninos conferem-lhe uma acção anti-séptica, adstringente e
cicatrizante. Os flavonóides produzem um efeito anti-inflamatório, vasoprotetor
capilar e antidepressivo.
Em suma, esta planta, há muito considerada
como medicinal, funciona como analgésica, anti-séptica, antiespasmódica,
colagoga, digestiva, diurética, expectorante, sedativa, vulnerária, vermífuga,
estimulante, etc.
Naturalmente que, perante tantas
propriedades, são quase infindáveis as suas aplicações fitoterápicas. Apontamos
apenas as principais: inflamações crónicas do estômago, fígado, vesícula e
rins, afeções ginecológicas, ansiedade, depressão, queimaduras, úlceras
cutâneas, enurese, …e até sida.
Usa-se internamente o infuso das sumidades
floridas (30g para 1 litro
de água) ou o óleo (oleum hyperici),
a partir da maceração das flores em azeite, que se deixa ao sol durante 15
dias, agitando-o de tempos a tempos. Este óleo é ótimo para as queimaduras,
inclusive solares.
“Il Talismano della Medicina Naturale”, obra
que comprei o ano passado em Veneza, indica também a milfurada como coadjuvante
da anorexia, da insónia, da impotência e da bronquite.
Acrescente-se, no entanto, que as grávidas não
devem ingerir o infuso, pois a milfurada parece possuir características
abortivas. Igualmente tem que haver cuidado com as pessoas hipersensíveis à luz
solar.
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