quarta-feira, 24 de junho de 2015

Milfurada ou Hipiricão-de-são-joão




                   Imagens do Google


por 
Miguel Boieiro


O Hypericum perforatum L é planta de muitos nomes populares, entre os quais, hipericão, erva-de-São João e milfurada. Destes, não uso o termo hipericão, para se não confundir com o Hypericum androsaemum L que é o nosso endémico hipericão-do-Gerês.
Também não gosto do nome de erva-de-São João, porque ele sugestiona a época da floração. Ora, entre nós, a planta logra aparecer, já em Abril, no seu máximo desenvolvimento.

Trata-se de uma herbácea vivaz muito frequente em terrenos incultos, taludes e pastagens soalheiras, com folhas crivadas de pequenas pontuações translúcidas, os tais “mil furos” – daí, milfurada.
Pertence à família das Hipericáceas e cresce geralmente em tufos de caules erectos, sendo indígena em Portugal, incluindo Açores e Madeira. De resto, é comum em quase toda a Europa, norte de África e América setentrional.
Identifica-se facilmente. Eis as suas principais referências físicas:
Caules avermelhados, lisos, angulosos e muito ramificados na parte superior, podendo atingir no auge da floração, 80 cm de altura.
Folhas opostas, sésseis, glaucas na página inferior, com nervuras laterais algo salientes. Como já se relatou, encontram-se salpicadas de numerosos orifícios que se observam melhor se colocarmos as folhas contra a claridade.
Flores em panícula na parte terminal dos ramos, de um amarelo dourado intenso, com odor débil e sabor amargo. São polinizadas por insetos, havendo, em cada flor, órgãos simultaneamente femininos e masculinos (hermafroditas).
Frutos formando cápsulas.
A milfurada não é esquisita e medra tanto em terrenos ácidos, como em alcalinos, desde que sejam soalheiros.

Na sua constituição química podemos encontrar óleo essencial, vitaminas C e P, flavonóides, glúcidos, taninos e sobretudo, hipericinas. As hipericinas têm acção antimicrobiana e anticancerígena. O óleo essencial e os taninos conferem-lhe uma acção anti-séptica, adstringente e cicatrizante. Os flavonóides produzem um efeito anti-inflamatório, vasoprotetor capilar e antidepressivo.
Em suma, esta planta, há muito considerada como medicinal, funciona como analgésica, anti-séptica, antiespasmódica, colagoga, digestiva, diurética, expectorante, sedativa, vulnerária, vermífuga, estimulante, etc.

Naturalmente que, perante tantas propriedades, são quase infindáveis as suas aplicações fitoterápicas. Apontamos apenas as principais: inflamações crónicas do estômago, fígado, vesícula e rins, afeções ginecológicas, ansiedade, depressão, queimaduras, úlceras cutâneas, enurese, …e até sida.

Usa-se internamente o infuso das sumidades floridas (30g para 1 litro de água) ou o óleo (oleum hyperici), a partir da maceração das flores em azeite, que se deixa ao sol durante 15 dias, agitando-o de tempos a tempos. Este óleo é ótimo para as queimaduras, inclusive solares.

“Il Talismano della Medicina Naturale”, obra que comprei o ano passado em Veneza, indica também a milfurada como coadjuvante da anorexia, da insónia, da impotência e da bronquite.

Acrescente-se, no entanto, que as grávidas não devem ingerir o infuso, pois a milfurada parece possuir características abortivas. Igualmente tem que haver cuidado com as pessoas hipersensíveis à luz solar.

A terminar, convém ainda referir o seu uso em homeopatia, na preparação de cosméticos e no fabrico de corantes amarelos, castanhos e vermelhos.

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