terça-feira, 16 de junho de 2015

O DIÁRIO DA MATILDE - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

UM BILHETE DA MARGARIDA

Hoje foi um dia longo. Trabalho árduo e, depois do jantar, eu, a mãe e a Matilde fomos para a festa da Moita. É meia-noite e só agora me sentei para escrevinhar estas páginas. Teria preferido ficar em casa. 
But, promises are promises. 


Seja como for, a nova rotina começa a instalar-se. 
Para nós, os pais, significa isto o fim de um ciclo de seis anos em que caminhámos para o jardim infantil, no triénio inicial por causa da mais velha e na recta final pela mais novinha. 

O saldo é que não poderia ser melhor. 
Creio que já escrevi nestes diários o quanto o pessoal é competente e carinhoso para com os miúdos. Se no começo era esse o factor que permitia ultrapassar as insuficiências logísticas e conseguir que as crianças tivessem uma estadia feliz e confortável, com a garantia de terem aprendido e experimentado os exercícios necessários a uma boa formação pré-escolar, depois da remodelação que o jardim fronteiro, por obra camarária, sofreu e das obras que ao acrescentarem uma sala e outras instalações sanitárias e, com isso possibilitando o alargamento de outra e, por consequência, uma sábia reformulação da distribuição dos petizes, então, só posso dizer que ao irrepreensível empenho humano se veio juntar uma unidade com todas as condições físicas para um trabalho de elevada qualidade. 
E assim aconteceu. 

Tenho a certeza que as minhas queridas filhas dali levaram todo o aparato intelectual e físico que lhes servirá como uma base inestimável – no caso da Margarida já o fez – para as aprendizagens que lhes serão solicitadas ao longo do primeiro ciclo do ensino básico. 

A todas as Educadoras e Auxiliares que estiveram envolvidas com a passagem dos meus anjinhos por aquele estabelecimento de ensino, quero aqui deixar o meu maior apreço. 

Perante a Paula, a Zé, a São, a Mizé, a Filó, a Vitalina e a Mali, mas também o Senhor Padre Carlos que tão bem soube lançar e fazer crescer tão importante equipamento, perante eles toda esta família se curva em sinal de profundo respeito e infinita gratidão e, em gesto de vénia, para todos deseja que assim permaneçam, gente que do dia a dia faz um domínio da Graça de Deus. 



A segunda aula foi inteiramente preenchida com pinturas. 

A Matilde gostou e à chegada já dispensou a companhia materna para transpor os portões e dirigir-se para a sala. 

E contou que o seu parceiro fez uma birra por causa de uma caixa e que no intervalo, um outro miúdo da sua sala saltou a vedação da escola. 



Por sua vez, a Margarida foi passar o fim-de-semana com a sua amiga Beatriz, na casa que a avó paterna possui na Portela. 

É a primeira vez que ela sai apenas na companhia de estranhos à família que não desconhecidos, pois trata-se da sua melhor amiga e os adultos são pessoas próximas e de quem somos amigos de longa data – no que pessoalmente me diz respeito e relativamente ao pai, desde a infância. 
E à noite telefonou à mãe a falar das novidades e para dizer que a viagem correu bem. 

Estou a ver a avezinha a crescer, ganhando as asas que um dia permitir-lhe-ão voar só por si. 


São tijolos de quando a alma se perde no etéreo. 


Mas eu não posso deixar de transcrever o bilhete que ela deixou à mãe. Não é por vaidade, acreditem, até porque aí teria que considerar os erros de escrita, mas tão só pelo encanto que não deixo de sentir.  
Mãe 
Mãe fui para o Algarve mais cedo. 
Passei a tarde em casa da Bia. 
Dá de comer à tartaruga por volta das 8.00h e 9.00h da manhã. 
Compra coisas da escola giras. 
Tenho pena de não poder-me despedir de ti mas podes-me telefonar pelo número: xxxxxxxxx. 
Muitos beijos 
Margarida Gomes 



Hoje teria para escrever sobre uma entrevista canalha a um juiz que vi ontem, no canal um da televisão pública. Não o farei devido ao cansaço. Talvez fale do caso amanhã. 



Agora vou para os braços encantados que a madrugada nos oferece. 

Alhos Vedros
  19/09/2003

6 comentários:

Unknown disse...

Boa tarde, Luís.

Apenas hoje pude vir visitar o Estudo Geral.
Tenho andado atarefado...

Mais um 'engenhoso artigo' - engenhoso de 'engenho' - porque fruto do coração e da alma de um Pai carinhoso!

De quando em quando, presenteias-nos com uma 'doce página' de O DIÁRIO DA MATILDE...

Pela minha parte, o meu agradecimento por mais esta tua 'partilha'!

Aquele abraço.

Francisco

Luís F. de A. Gomes disse...

Viva, Francisco.

Imagino como deves estar cheio de trabalho com a preparação da comunicação na Sociedade de Geografia; grande honra, mas também grandes responsabilidade que de modo algum se compadece com uma abordagem menos cuidada. Terás a devida recompensa, estou certo e, mais que tudo, colocarás a História Local, especificamente no que ao caso de AV diz respeito, no palco elevado onde ela merece estar. Toda a comunidade de historiadores que tem contribuído para aclarar e aprofundar os conhecimentos em tal domínio se curva perante ti em sinal de respeito e agradecimento; não pode ser de outra forma.

E és sempre perspicaz naquilo que escreves sobre este diário que na espontaneidade do quotidiano em que na sua maior parte foi escrito esse olhar de coração e de alma de que falas.

Espero que continues a gostar, mesmo sabendo eu que há ideias que, tal como verás, mais à frente apresentarei e com as quais há muito me deixei de identificar e que até me levam a sentir uma certa vergonha por ter sido tão burro em defendê-las. Mas em devido tempo falaremos sobre isso, tenho a certeza.

Também eu te agradeço as palavras, sobretudo a paciência por leres as minhas letrinhas.

Aquele abraço, companheiro

Luís

Unknown disse...

Luís,

Agradecido pelo conteúdo do 1.º parágrafo, demasiado elogioso (a meu ver), relativamente a algumas afirmações que teces referindo-te a mim.

No respeitante ao 2.º parágrafo, sinceramente te digo que eu é que me sinto agradecido com a possibilidade que me dás (assim como aos demais) de aceder, de alguma forma, à tua 'intimidade' familiar.

Quanto ao teor do 3.º parágrafo, relativamente a 'ideias' com as quais te identificaste e, pelos vistos, presentemente já não, nada tens de te "envergonhar", do meu ponto de vista!
É, a meu ver, perfeitamente natural que, sendo cada um de nós 'um ser pensante', vá «olhando com outros olhos» para o Mundo à nossa volta, à medida que vamos progredindo no 'crescimento' como 'ser social'. Ouvi a alguém, e não há muito tempo, «que só não mudam as múmias!»

É suposto que cada um de nós evolua, reconhecendo novas formas de 'apreender o real' e as 'leis' que o 'explicam'.
Não sei se fui claro...

Retribuo o abraço, companheiro.

Francisco

Luís F. de A. Gomes disse...

Viva, Fancisco

Sei que vives como o bom cristão que és e por isso compreendo a tua observação que decorre da modéstia por dever de consciência que te faz ser genuinamente humilde, mas a verdade é que o elogioso a que te referes é merecido e não deves sentir qualquer cinstrangimnento por eu o dizer, pois estamos a colocar um assunto - a história de AV- no devido plano de importância que, de facto tem. Só é pena que quem de direito não seja capaz de comprrender aquilo que mera questão de bom senso é uma evidência.

Quanto ao resto, para ser inteiramente sincero, devo dizer que não será muito do meu agrado essa partilha de um certo privado da minha vida pessoal e familiar mas - qual seria a alternativa? - esse é o preço que tenho que aceitar pagar por querer escrevinhar a série de diários de que este foi o último e no mais estou inteiramente de acordo contigo, apenas acrescentando que também é esse o sentido da vida, aprender até ao último segundo para que possamos ser melhores hoje do que aquilo que fomnos ontem.

Aquele abraço, companheiro
Luís

Unknown disse...

Olá, Luís!

Concordo, quase na totalidade, com o teu comentário.

Ponho, apenas, MUITAS RESERVAS relativamente àquilo que passo a transcrever: «Sei que vives como o bom cristão que és...» Serei??? TENTO, mas não sei se consigo...
Mas alguém também afirmou: «Ser bom (cristão) não é ser parvo!»

Aquele abraço, bro.
Francisco

Luís F. de A. Gomes disse...

Viva, Francisco

Muito haveria a dizer sobre isso e é claro que é assim e bem sei que estás nesse patamar, tal como vejo que é nesse tentar a que te referes e que de facto se verifica que está a razão pela qual qualifiquei a tua qualidade religiosa.

Aquele abraço, companheiro
Luís