domingo, 21 de junho de 2015



MIRADOURO 22 / 2015

(esta rubrica não respeita as regras do acordo ortográfico)
 
Foto: João Ramos
 
 
ACERCA DOS CAMINHOS E DAS CAMINHADAS.
 As memórias não se fixam como calendários antigos que se mantêm inalteráveis no arquivo que deles fazemos.
As memórias avivam-se ou esvaem-se em função de acontecimentos e emoções que ora as convocam, ora as afastam.
Por vezes, ao evocarmos no quadro mental e afectivo os anais de onde vimos e do que somos, esforçamo-nos procurando definir-lhes a nitidez.
As nossas memórias tantas vezes fatigadas, contorcem-se como em volúpia de fumo ou corpo que se esforça por “acertar o passo” com o ritmo do que ouve e embala mas, em qualquer caso, procura afirmar-se em nitidez a querer assomar-se à montra da consciência.
As memórias por vezes esbatem-se de forma tão acentuada que tememos tê-las perdido de vez mas, depois, algo de mágico acontece - um acorde de guitarra, o piar de um pássaro, um odor, uma imagem mesmo que apenas reflexo, … - que as reacende e nos permite recuperar o controlo da “fita” que nos restitui o domínio do continuum da nossa história e daquilo que somos.
Nesse processo percepcionamos, como se uma luz entretanto se acendesse, que não há mundos fechados e que cada um e todos somos apenas um dos elementos que o compõem ou, se preferirmos, um dos termos da equação que sem os restantes ficará inapelavelmente incompleta deixando-nos fragmentados ou privados do registo de etapas que permitem perceber o onde estamos e de como aqui chegámos. Dessa privação resultam frequentemente estados mentais de perplexidade e confusão que dificultam o propósito de prosseguir caminho.
Portanto, se a caminhada ainda não acabou, é importante preservar o diário de bordo do registo dos percursos.
 
Manuel João Croca

2 comentários:

Unknown disse...

Viva, Manuel João!

GOSTEI!
Porquê? - perguntar-me-ás.
Porque sim - responderei.
Mas será 'isto' resposta?! - dirão e rir-se-ão alguns, criticando a "evidente" (?) falta de originalidade e a "ausência" (?) de 'significado'.

Terei em conta as 'críticas', porque é meu 'dever' ESCUTAR - INTERIORIZAR - DIGERIR essas 'opiniões'.

Regressando à 'minha resposta'. Porque não dá-la dessa forma, se me identifico com o 'conteúdo' do POEMA?!

Agradecido, Manuel João.

Aquele abraço.
Francisco

MJC disse...

Olá Francisco boa tarde.

Agradecido pelo teu comentário.

Também me acontece frequentemente gostar de algumas coisas sem conseguir racionalizar o porquê. Ao princípio preocupava-me com isso, agora já não. Se gosto, gosto e pronto e o contrário também é válido.

Um abraço.

Manuel João Croca