terça-feira, 2 de junho de 2015

O DIÁRIO DA MATILDE - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

PARA A MARGARIDA O QUARTO ANO


As pétalas que persistem apesar das turbulências. 
Em Lisboa, uma empresa de componentes incorpora nas suas estruturas e instalações um jardim-de-infância, um atl e uma escola do primeiro ciclo do ensino básico. Obviamente para os filhos dos trabalhadores que assim têm a qualidade de vida melhorada e são amplamente produtivos. 

Exemplos que em multiplicando muito contribuiriam para a nossa recuperação relativamente aos países mais desenvolvidos. 



Esta manhã aconteceu a apresentação do quarto ano e, claro, a Margarida esteve presente, aliás, toda a família que, da parte dos pais tal sempre aconteceu mas, desta vez, a Matilde fez questão de acompanhar a irmã, vá lá saber-se porquê. 


Como o tempo passa. 


A naturalidade foi a nota dominante, ou não fosse o piolhinho uma das veteranas da casa. Embaraços e tremuras são pré-história praticamente esquecida. 


Mas agora reparo como foi pobre a recepção da Matilde. 
De tão mal conduzida que foi a sessão, nem houve oportunidade para recomendações úteis aos alunos e aos pais e comparativamente com o já distante primeiro dia da mais velha, nem mesmo permitiu que a Professora falasse do método a usar para a aprendizagem da escrita e da leitura e não houve qualquer referência ao livro dinâmico que, julgo eu, irá repetir-se. Por experiência, observando o livro da Língua Portuguesa, sabemos nós que, à semelhança da Margarida, também a Matoldas experimentará a metodologia das vinte e oito palavras. Pena que nada tenha sido dito a esse respeito e que os adultos não tenham sido prevenidos sobre o que se irá passar e a melhor forma de lidar com isso. 

Cada vez mais damos conta da sorte que a Marga teve com a excelente Professora que lhe foi atribuída. 

Tal como nas anuidades anteriores, continuará o horário normal, de manhã, das nove horas ao meio-dia e trinta e à tarde da uma e meia às três e meia. 


A vida familiar não terá qualquer sobressalto. 



Mais um sinal do beijo que ao anel se deu. 

A deputada social-democrata Maria Elisa será substituída por, vejam só, o senhor Ribeiro Cristóvão, comentador desportivo da televisão pública. 
Bem, da bola à portuguesa ele deve perceber. 

Será que isto é inocente? 



O caso do ozono, como questão atmosférica, em geral, diz respeito a toda a Humanidade. Quer pela própria natureza deste universo, segundo a qual, pela circulação do ar, os problemas provocados num determinado ponto do planeta podem ter repercussões em outro(s) mais ou menos distante(s); uma vez que tais mazelas têm origem nas actividades económicas e da vida comum dos membros da nossa espécie, estamos perante matérias que podem interessar a todo e qualquer cidadão pelo que devemos informar-nos o melhor possível sobre esses assuntos e procurarmos agir de forma inteligente, isto é, se não obrigatoriamente definindo e clarificando os nossos pontos de vista, pelo menos e muito será, diga-se com franqueza, tentando manter as atitudes e os comportamentos mais consentâneos com um saudável relacionamento entre as nossas culturas e o meio físico que lhes serve de habitat. 
Apesar do muito que se tem escrito na última década sobre os fenómenos em causa, ainda continuamos sem conhecer todas as implicações que um efeito de estufa em crescendo ou a diminuição da película de ozono podem ter para a vida tal como a conhecemos. Nem estamos, por enquanto, habilitados a prever a eventual recuperação dos equilíbrios naturais em face de hipotéticas supressões das fontes do mal, assim como não estamos capacitados para, quanto ao ozono, reproduzir este último gás artificialmente de modo a colmatarmos perdas. 
Neste sentido, tenho para mim as palavras que, há muitos anos, escrevi num ensaio. Sem alarmismos desnecessários, não se trata de acreditarmos que podem ser encontradas soluções, trata-se de tudo fazermos para que elas sejam encontradas. (1) 

Mas por dizerem respeito a toda a Humanidade, os problemas atmosféricos em geral e os do ozono, em particular, também servem como tópicos de reflexão por onde poderemos desenvolver uma mentalidade universalista pois, logo à partida, nos remetem para a ideia da casa comum. 



Na Guiné-Bissau haverá um novo presidente, novo governo e serão marcadas eleições de que sairá um novo parlamento e, provavelmente, um outro presidente e um novo governo. E o mais certo é que o país que está no grupo dos cinco mais pobres do mundo aí continue a medrar num status quo de corrupção e desorganização em que melhor se salvam aqueles que permanecem activos de agriculturas de subsistência. 

É a África Sub-Sahariana continuando aquilo que sempre foi, com a terrível agravante de os mecanismos de morte serem agora muito mais letais. 



E à canícula desta nossa noite corresponde, em São Miguel, uma violenta tempestade trovejante. A ilha está completamente às escuras. 


E agora os anjinhos dormem; na rádio, as notícias das vinte e duas horas. 
Amanhã começarão as responsabilidades. 

Para a minha adorada Matilde, é um novo ciclo que se inicia. 



Ora se hoje comecei com um sinal de esperança, suspendo-me com um toque pessimista. 
A polícia alemã desmantelou um grupúsculo, uma célula neo-nazi que tinha como propósitos mais imediatos o levar a cabo atentados contra os alvos de sempre. 

É a extrema-direita a rugir para se medir em capacidade de salto. 


Estamos, naturalmente, na presença de minorias insignificantes. Mas com o tal pintor de aguarelas também foi assim. E a verdade é que as sociedades em que vivemos permanecem vulneráveis. Continua a ser muito fácil encontrar energúmenos para quem os pretos, os ciganos, os turcos ou os judeus são sempre culpáveis pelas misérias dos mundos em que vivem. Se deixarmos que a violência ganhe, o medo se encarregará de fazer o resto. 

A nós, portugueses, o totalitarismo espreita-nos de mais perto do que a maioria imagina. 



Por ora me calo. 
Amanhã começam as aulas para os meus anjinhos. 


Alhos Vedros 
  17/09/2003 


NOTA 

(1) Gomes, Luís F. de A., ANTROPOLOGIAS, RECURSOS E PALAVRAS, pp. 45/46 


CITAÇÃO BIBLIOGRÁFICA 

Gomes, Luís F. de A., ANTROPOLOGIAS, RECURSOS E PALAVRAS, In “As Pancadinhas De Moliére: Coisas E Loisas De Um Antropólogo”, Prefácio do Autor, Dactilografado, Alhos Vedros, 1989

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