terça-feira, 7 de julho de 2015

O DIÁRIO DA MATILDE - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

TERNURAS E SUSPIROS

Eu sei que sou pai galo que estranha as ausências das crias e não se deita sem que antes lhes tenha beijado os cabelinhos, quando os soninhos já vão longe, pela terra dos sonhos que fazem revigorar os dias. Mas não me importo. Sei que sou capaz de ser justo e de avaliar as situações para distinguir o certo do errado, aquilo que possa ou não ser sensato. E não há mal em nos sentirmos voar de felicidade por estarmos a partilhar as descobertas de terceiros, especialmente quando saíram de nós. 
Ora eu, esta noite, sonhei com a Matilde, estávamos algures, andando de bicicleta, lado a lado, conversando sobre não sei dizer o quê. 

E só hoje assimilei que ontem à tarde foi a primeira vez que eu fiz precisamente aquilo com que sonhei. 

Nem imaginam o regalo dos espelhos de água e das aves marinhas, com o vento afagando o cavaqueio de quem passeia despreocupado. 
É tão intensa a alegria de viver… 

Pois inda há pouco tive um reforço. 
Estava eu ponderando o melhor contrato de saúde para uma empresa, quando a Margarida me telefonou para me ler a quadra que fez para a composição sobre o Outono. 

O Outono está a chegar 
as brasas estão a arder 
as castanhas a fumegar 
nas brasas a ferver. 


Como é que eu posso deixar de andar com um pé aqui e outro no céu? 



Falemos agora de tristezas. 

Eis mais um exemplo do nível a que um estado fora-da-lei pode constituir-se em perigo para a paz no mundo. É com base em fidelidades semelhantes que figuras sinistras como Osama Bin Laden se vão acoitando e subtraindo à justiça. 
Desta vez, a mão do balandrau foi Angola. 

Pierre Falcone, comerciante de armas com nacionalidade francesa e implicado numa venda de armas não autorizada àquele país africano, nos idos de noventa e três, noventa e quatro, num valor superior a quinhentos milhões de dólares, naturalmente como reconhecimento pelos seus bons serviços, foi agora presenteado com imunidade diplomática ao ser nomeado, pelo Sr. Eduardo dos Santos, ministro conselheiro da delegação permanente de Angola, na UNESCO. 
Com o seu novo estatuto diplomático, o homem poderá assim sair de França, possibilidade de que estava proibido após cumprir o ano de prisão preventiva a propósito do processo que lhe foi instaurado devido ao aludido tráfico. 


E já que estou com a mão na massa da política internacional, sublinho um artigo do General Collin Powell sobre o Iraque, no qual destaca que, apesar de toda a gritaria em torno da nova situação naquele país, as populações vão regressando progressivamente a uma vida normal, com a novidade de pouco a pouco irem experimentando e aprendendo a viver as liberdades. (1) 


Com efeito, é o que se vê como pano de fundo das imagens dos atentados que ali têm ocorrido. 
Infelizmente, isso passa ao lado dos nossos enviados especiais que se deliciam com as bombas e os mortos e os feridos e que muitos microfones e câmaras põem à frente de antigos funcionários do regime e do partido que o criara para ilustrarem a oposição e resistência do povo iraquiano – pois não coração – às transformações que ali se operaram. 


Diga-se o que se disser, tudo indica que a intervenção dos Aliados foi necessária e ainda tem para explorar as potencialidades de um contributo positivo na questão da paz no Médio Oriente, especialmente no que se relaciona com o conflito israelo-palestiniano, onde se joga a paz mundial no futuro próximo. 

Não nos podemos esquecer que os homens dominam tecnologias de destruição que nos podem exterminar para todo o sempre. E sabemos que há fanáticos capazes de as usarem, sem atenderem às consequências mais indizíveis. 


Os democratas de todo o mundo rejubilarão com as vitórias de uma sociedade aberta e um estado de direito no Iraque. 



A aula de hoje desenvolveu-se em torno da leitura e da conversa sobre a história do ursinho João. Depois, os alunos fizeram desenhos alusivos. 
A Matilde estava toda satisfeita. 



O que é que isto quer dizer? 
O Dr. Pedro Strecht, pedo psiquiatra que acompanha as crianças da Casa Pia que irão testemunhar no caso da exploração e abuso sexual de menores e que foram eles próprios os objectos de tais vilanias, um tal homem tem sofrido ameaças de morte. 

Será que estamos perante uma brincadeira de mau gosto? 



Amanhã começa o Outono e as árvores já têm muito cabelame estatelado, em redor. 

Alhos Vedros 
  22/09/2003 


NOTA 

(1) Powell, Collin, O TEMPO QUE FOR PRECISO, p. 12 


CITAÇÃO BIBLIOGRÁFICA 

Powell, Collin, O TEMPO QUE FOR PRECISO, In “Público”, nº. 4932, de 22/03/2003

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