domingo, 31 de outubro de 2010

Après Moi, le Déluge!


Movendo-o a consciência da gravidade dos problemas e o sentido de responsabilidade, o Grande Aníbal sentiu o chamamento pátrio e o consequente dever de se recandidatar, anunciando aos portugueses a sua decisão na exactidão do dia, hora e local, segundo a “Anunciação” do Arcanjo Marcelo.

O Grande Aníbal, o presidente dos portugueses que acham que a sua (deles próprios) Política é o Trabalho e que a Política é para os políticos, usando a velha mas ainda resistente receita ideológica herdada do fantasma de Santa Comba, apresenta-se aos portugueses que sabem bem distinguir aqueles que falam verdade e aqueles que semeiam ilusões e utopias, com o já esperado exercício de narcisismo saloio, rodeado de bajuladores e assessores sem carácter e sem pingo de vergonha que se vendem por um “tachinho” para eles e para a família, evidenciando a sua experiência e os seus conhecimentos, o elevado grau de exigência ética que sempre caracterizou a sua vida (claro está que se refere ao modo como conduziu os desvarios e escândalos em que estiveram envolvidos alguns dos seus ministros, enquanto chefe de governo no Cavaquistão, nomeadamente uma sua actual Conselheira de Estado, ex-ministra da saúde, ou à forma como estavam a ser desbaratados (e desviados) os fundos estruturais que entravam todos os dias durante o seu consulado?), mais-valias que ajudarão o País a encontrar o Rumo, perguntando à plateia em que situação se encontraria o País sem a acção intensa e ponderada (como foi a novela das escutas…), muitas vezes discreta que desenvolveu ao longo do seu mandato?

O que teria acontecido sem os alertas e apelos que lançou na devida altura? Sem os compromissos que estimulou, sem os caminhos de futuro que apontou (bem, espero que não se estivesse a referir à Política Agrícola Comum da qual foi um grande defensor e impulsionador no passado, vindo agora há pouco tempo dizer que “A PAC deve ser encarada como uma prioridade e discutida com profundidade e participação activa de todos os interessados”, ou seja, como o eleitorado não tem memória, “vou fazer de conta que não tive nada com isto e que este é um assunto que muito me preocupa”), sem a defesa dos interesses nacionais que tem incansavelmente promovido junto de entidades estrangeiras (aqui não tenho qualquer dúvida de que se está a referir ao encontro com Václav Klaus)?

Mas se bem que a sua magistratura de influência tenha produzido resultados positivos, podia ter sido mais bem aproveitada pelos diferentes poderes do Estado (Ah! Lá está! Tal como Luís XV, os causadores dos problemas são sempre os outros e nunca ele – ele é a solução, o Messias, pois claro!...)

Com a tranquilidade de quem já tem a vitória “no papo”, sabendo que, embora uma pequena parcela da direita mais beata se vá abster por vias do não-veto à Lei do Casamento Gay, grande parte da base eleitoral do PS votará nele, pois muito pior que Aníbal em Belém, seria uma forte votação em Alegre, que poderia conduzir a um despertar de consciências com movimentações internas, fazendo regressar os “exilados de esquerda” no Bloco e pondo em risco de morte toda a hegemonia ultra-liberal (estou a utilizar o termo “ultra-liberal” eufemisticamente, de forma a evitar uma forma linguística indecorosa, mais exacta na definição desse grupo) Socrática, lá vai o Grande Aníbal fazendo ao longo do seu discurso, o auto-elogio perante os portugueses que sabem distinguir a verdade da ilusão…

Como desejável e expectável, não se viu na plateia o seu grande (ex?) amigo Dias Loureiro, que tantos embaraços lhe causou, enterrado até ao pescoço nas trafulhices do BPN (por triste infortúnio, vá lá saber-se porquê, o mesmo banco onde o Grande Aníbal e a sua filha tinham umas parcas poupanças amealhadas à custa de tanto sacrifício…), a tratar da sua vidinha em Cabo Verde e a gozar um merecido descanso e um não menos merecido rendimento por serviços inestimáveis à Pátria.

“Não colocarei um único cartaz!” – diz Ele. Convenhamos: Ele é feio que se farta e ainda por cima sempre com aquele ar sinistro, de gato pingado, pespegado em grandes “outdoors”, mete medo às crianças e é mau para o negócio. Penso que deverá ter sido aconselhado pelo “staff” o qual, sendo esse o caso, terá tido uma ideia brilhante. Eu estou totalmente de acordo - deixemos que a obra fale pelo Homem! Decididamente a fotogenia não é um dos seus melhores atributos. Haverá alguém que já se tenha esquecido daquele ar "monga" e das bochechas a rebentar de bolo-rei na época do “tabu”? Ninguém, certamente.

“Um Presidente deve actuar com discrição e reserva” – Outra grande ideia… Para quem não tem dotes oratórios, nem nunca sabe o que dizer, nada melhor do que deixar que os outros falem por nós. Presumo que será uma campanha marcada por elogios dos “yes men” (e “yes women”) à sua Obra.
E diz mais adiante:
“Centenas de militares portugueses cumprem missões no exterior do território de Portugal em zonas de conflito situadas em 3 continentes.” Ora aí está mais uma página triste da nossa História actual. Andamos a enviar mercenários para defender os interesses dos Senhores do Ópio e do Petróleo, aliciando jovens com salários chorudos, eles próprios pressionados pelas famílias na mira de um rendimento que permita algum desafogo financeiro, criando uma ideia fantasiosa de guerra a brincar, do género daquilo que eram as nossas brincadeiras de infância, aos cowboys e aos índios – os cowboys ganhavam sempre porque eram os bons e os índios perdiam sempre, porque eram os maus. Mas na vida real, às vezes os índios ganham e matam os cowboys; outras vezes, não conseguimos distinguir uns dos outros…

Para concluir: Temos Homem! Que mais necessitará de provar à Nação alguém que em nome da Coisa Pública e da Honra está disposto a abdicar da defesa das suas alfarrobeiras no Boliqueime, numa altura em que as máfias de leste lançam olhares de cobiça aos seus frutos? Alguém que poderá dizer com propriedade: Depois de mim, o Dilúvio!...

Raul Costa

Alhos Vedros, 31 de Outubro de 2010

Genesis

Genesis, by Steve Hacket
Foto de Lucas Rosa

sábado, 30 de outubro de 2010

II Encontro Internacional Sobre Políticas de Intercâmbios na CPLP

O II Encontro Internacional sobre Políticas de Intercâmbio na CPLP decorre em Teresina, Piauí, no âmbito do FESTLUSO – Festival de Teatro Lusófono. Ele vem dar continuidade ao encontro realizado em Coimbra em Dezembro de 2009, e mantém como objectivo principal estimular o diálogo entre agentes culturais e instituições oficiais quanto à concepção, à planificação e à concretização das políticas de intercâmbio cultural no seio da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa.

À semelhança do que aconteceu no primeiro encontro, o próprio formato dos trabalhos, organizado em mesas-redondas abertas à participação de todos os intervenientes, visa aproximar os criadores e as estruturas de produção artística que operam no terreno dos decisores políticos dos vários países, na perspectiva de fomentar o inter-conhecimento pessoal e de facilitar a discussão sobre oportunidades e projectos concretos de colaboração, mais do que a produção de ambiciosos documentos programáticos ou cartas de intenção.

Os resultados obtidos em Dezembro, cujas conclusões se encontram publicadas (http://www.scribd.com/doc/23898901/EIPI-conclusoes), apontaram para a necessidade de uma mais ampla divulgação dos vários acordos de cooperação actualmente em vigor entre os países lusófonos e, sobretudo, de que as medidas aí enunciadas sejam efectiva e definitivamente colocadas em prática. Foi igualmente assinalada a insuficiência da acção cultural da CPLP enquanto comunidade multi-nacional e reconhecido o interesse em que este tipo de encontros se realizem regularmente, de preferência de forma rotativa pelos vários países envolvidos.

Um ano depois, numa altura em que algumas das instituições envolvidas têm novos responsáveis e em que se anunciam para o futuro próximo significativos projectos de colaboração, multi-laterais e bi-laterais (como o “Ano do Brasil em Portugal” e o “Ano de Portugal no Brasil”), cremos ser oportuno fazer um novo ponto da situação.

Para o efeito, convidamos os participantes do I Encontro e iniciamos o alargamento progressivo desta plataforma a outros agentes culturais, em particular, neste caso, do país anfitrião.

Organização
Grupo Harém de Teatro / FESTLUSO
Cena Lusófona

Apoios
Funarte, Governo do Estado do Piauí, Prefeitura Municipal de Teresina, Universidade Estadual

PROGRAMA

15/11 – segunda-feira

16h00 > 18h00
Recepção aos convidados
Sessão de abertura
[INTERVENÇÕES DA ORGANIZAÇÃO E DAS INSTITUIÇÕES OFICIAIS]

16/11 – terça-feira

10h00 > 12h30
mesa-redonda

I. Festivais de Teatro e circulação de espectáculos: o encontro como base para o conhecimento

14h30 > 17h30
mesa-redonda

II. Formação cruzada: enriquecer com a diversidade

18h00 > 19h30
apresentação de publicação
setepalcos, 9: o Teatro em Cabo Verde

17/11 – quarta-feira

10h00 > 12h30
mesa-redonda

III. Co-produções: juntar forças e diferenças

14h30 > 18h00
debate

IV. Comunidade artística e poder político: fórmulas para o diálogo
Conclusões


Fonte: Cena Lusófona
http://festluso.blogspot.com/2010/10/ii-encontro-internacional-sobre.html

CHRÓNICAÇORES

para os que ainda não COMPRARAM NEM LERAM, agora gratuitamente

CHRÓNICAÇORES: UMA CIRCUM-NAVEGAÇÃO DE TIMOR A MACAU, AUSTRÁLIA, BRASIL, BRAGANÇA ATÉ AOS AÇORES
(volume 1, revisto em 2010) agora livremente disponível em
http://www.scribd.com/doc/39955110


Chrys CHRYSTELLO,
An Australian in the Azores/Um Australiano nos Açores (Portugal)
drchryschrystello@gmail.com ; drchryschrystello@yahoo.com.au drchryschrystello@sapo.pt
Homepage/página : http://oz2.com.sapo.pt
Colóquios da Lusofonia: www.lusofonias.net

CONCURSO LITERÁRIO EM LÍNGUA PORTUGUESA

ELOS INTERNACIONAL DA COMUNIDADE LUSÍADA - 2010/11

REGULAMENTO

01 – MODALIDADES: Este Concurso é dirigido a todos os Escritores, Poetas, Trovadores, Sonetistas, Artistas Plásticos e Músicos que, de modo geral poderão expressar-se com liberdade, desde que em Língua Portuguesa. Podem até residir em país de Língua estrangeira, mas, os trabalhos, em Português. Para os Trovadores é dado um tema: ELO, ELOS: 04 trovas numa página só, com pseudônimo.

02 – DOS TRABALHOS: Cada participante poderá enviar até dois trabalhos, em somente um envelope, em três vias, digitados em Times New Roman, espaço dois, fonte 12, não podendo ultrapassar trinta linhas (espaço é linha). Usar somente papel branco, escrito apenas em um lado, colocar o título do trabalho (ou trabalhos) e assinar todos com o mesmo pseudônimo. No caso de pintura, pode ser ilustrada com poesia do mesmo autor; se for outro, o pseudônimo deverá também ser identificado. O poeta que ilustrar trabalho de outra pessoa poderá, independentemente desse trabalho, concorrer normalmente, porém, deverá usar o mesmo pseudônimo. Todos os trabalhos serão numerados por ordem de chegada.

03 – PRAZO E LOCAL DE ENTREGA DOS TRABALHOS: Enviar até o dia 31 de dezembro de 2010, para CONCURSO LITERÁRIO EM LÍNGUA PORTUGUESA – Rua Pio XII, 97/Sala 1102 – CEP: 86020-380 – LONDRINA/PR – BRASIL.

04 – IDENTIFICAÇÃO: Nome, pseudônimo e endereço completo, com CEP; Código, mais o número do telefone; e-mail (para facilitar a comunicação), um breve currículo de até cinco linhas, citando o Clube ao qual pertence. Colocar tudo em envelope lacrado e enviar, de acordo com o item 03 deste regulamento.

05 – CLASSIFICAÇÃO: Haverá, em cada modalidade, três trabalhos classificados.

06 – PRÊMIOS: 1º colocado, Medalha dourada; 2º - Medalha prateada; 3º - Medalha de bronze, bem como os respectivos Diplomas.

07 – PREMIAÇÃO: A entrega dos prêmios será na Convenção do Elos Internacional, em Outubro de 2011, no Brasil. Pede-se a presença dos premiados ou seus representantes. Serão informados com antecedência sobre data e local. Os prêmios não serão enviados por correios.

08 – COMISSÃO JULGADORA: Será composta de Companheiros Elistas com autonomia de decisão, podendo participar da obra, sem participar do Concurso. Os casos omissos a este Regulamento serão decididos pela Comissão Julgadora.

09 – CLASSIFICAÇÃO ESPECIAL: Mediante a qualidade dos trabalhos, os dez melhores em cada modalidade, no conceito da COMISSÃO JULGADORA, poderão ser classificados para a composição de um livro intitulado CONCURSO LITERÁRIO EM LÍNGUA PORTUGUESA DO ELOS INTERNACIONAL... e seus autores receberão um exemplar, graciosamente.

OBS.:
1 – Independente da classificação, todos receberão Certificado de Participação, na Convenção.
2 – Se acontecer a publicação do livro e algum Companheiro Elista (CE) quiser adquirir um ou mais exemplares, poderá obter a preço de custo, mais despesas de correio.
3 – Autorizar – ou não – a publicação do endereço.

10 – LEMBRETES: 1 - Trabalhos escritos a mão serão desclassificados; 2 – Não serão aceitos trabalhos enviados por Correio Eletrônico (e-mail); 3 – No envelope, no lugar do remetente, ESCREVAM O PSEUDÔNIMO e repitam: RUA PIO XII, 97 – 86020-380 – LONDRINA/PR-Brasil.

SAUDAÇÕES ELISTAS
CE Maria A M Frigeri – Da Diretoria de Cultura
Telefones: 0XX 43 – 3324.3462 – 9942.6320
e-mail: mariafrigeri@gmail.com

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

d´Arte - Conversas na Galeria IX


Cais de Alhos Vedros Autor António Tapadinhas
Acrílico sobre Tela 30x40cm (em construção)

DEPOIS DE VAN GOGH
Na minha visita ao museu Van Gogh, em Amesterdão, fiquei com algumas certezas e muitas dúvidas.
Na análise dos seus desenhos, fiquei com a certeza que, afinal, ele preparava os seus quadros ao pormenor, com a indicação da fonte de luz e os seus traços dados com a direcção e intensidade que permitiam a aparente espontaneidade da sua pincelada. Num dos retratos, inacabado, é visível a quadrícula que utilizou para respeitar as proporções do modelo.
Sobre as dúvidas falaremos depois.
Neste meu desenho, não indico a direcção da pincelada, mas está garantida a sua espontaneidade, pois tenciono cobrir toda a tela com este vibrante Cadmium Yellow Médium Hue…
Quero que este amarelo fique a cintilar por debaixo das cores que o vão cobrir!
Vou continuar o meu trabalho.
Até para a semana!

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Feijão Azuki

O Azuki é um feijão pequeno e vermelho. Tal como todas as leguminosas (grão de bico, lentilhas, favas, ervilhas e outros feijões: frade, encarnado, manteiga, catarino, moong, soja, etc) é rico em proteína, cálcio, ferro, minerais e vitaminas. No entanto, todas as leguminosas são ricas também em purina (metilxantina), existente sobretudo na pele, substância considerada muito tóxica para o nosso organismo. É por esta razão que as leguminosas têm de ser postas de molho e cozinhadas, não devendo ser ingeridas cruas, a não ser na forma de germinados. É também aconselhável que sejam cozinhadas em duas ou três águas, ou seja: sempre que aparecer uma espuma branca na fervura (sinal da acidez da leguminosa), essa água deve ser deitada fora e substituída por outra, até que a espuma desapareça. É essa a causa das leguminosas serem indigestas, “esgotando” (inutilmente) os órgãos digestivos Fígado e Pâncreas, e de acidificarem o intestino, desmineralizando-o.

As leguminosas têm sido utilizadas na alimentação humana desde tempos imemoriais, tal como os cereais integrais. São uma excelente forma de ingerir proteína de boa qualidade. De facto, se comermos leguminosas regularmente teremos a quantidade necessária de proteína no organismo, não necessitando de recorrer à proteína de origem animal saturada em gordura. A proteína vegetal tem um teor de gordura muitíssimo baixo e é, por isso, muito mais saudável. Dado o seu baixo teor de gordura não causam tantos problemas nos intestinos.

De todas as leguminosas, as mais saudáveis para uso regular são o feijão azuki, o grão de bico e as lentilhas. Todas as leguminosas podem ser cozinhadas em sopas, estufados, acompanhadas de cereais integrais, com vegetais, ou ainda em “pâtés”, etc. É tudo uma questão de imaginação! Tanto o feijão azuki como, por exemplo, o grão de bico, podem ser usados também em doçaria, ficam excelentes e saborosos!
Para evitar a formação de gases e os outros problemas acima indicados, todas as leguminosas devem ser cozinhadas com alga kombu (1 tira de 5 a 10 cm, consoante a quantidade), que as torna mais digestíveis e macias. Para além disso, as algas são ricas em sais minerais.

É bom também saber que não se devem misturar proteínas, por isso, quando cozinhamos uma proteína vegetal não devemos misturá-la com outra, sobretudo se for de origem animal.

De todas as leguminosas, o feijão azuki é o mais terapêutico e é essencialmente indicado para tratar problemas relacionados com a energia dos órgãos Rins e Bexiga. É um feijão sem grandes “contra indicações” e que pode e deve ser usado regularmente para fortalecer estes órgãos, mesmo que não tenhamos nenhum problema aparente. A estação do ano que corresponde aos órgãos Rins e Bexiga é exactamente o Inverno, por isso devemos intensificar o seu consumo nesta época do ano, seja em sopas, estufado sozinho ou com outros vegetais, cozinhado juntamente com arroz integral (em proporções iguais, é altamente terapêutico), ou mesmo em chá. Fica delicioso estufado com abóbora e alga kombu!

Uma bebida excelente para fortalecer os órgãos que lhe correspondem durante a estação invernosa é o “Chá de Feijão Azuki” (para 2 litros de água usa 4 c. de sopa de feijão): lava bem o feijão e põe de molho numa panela com 10 cm de alga kombu durante umas horas; nessa água, leva a ferver até o feijão estar bem cozido (vai juntando água fria aos poucos para que o caldo não desapareça); coa e bebe o líquido quente, de preferência em jejum ou fora das refeições. Podes aproveitar o feijão para uma refeição, acompanhado de um cereal integral e de vegetais salteados!

Paula Soveral (www.paulasoveral.net)
Presidente da Direcção Técnica da Sociedade Portuguesa de Naturalogia

Bibliografia consultada: “Compêndio de Ciências do Homem, da Alimentação e Nutrição Humana”, de Dr. Manuel R.C. Melo, N.D., Plátano Editora
“Cadernos Macro: Alimentação Macrobiótica”, de Francisco Varatojo com Pedro Romão, ed. UME

terça-feira, 26 de outubro de 2010

HÁ PINTASSILGOS NO MEU QUINTAL


Termina aqui a publicação do conto “Há Pintassilgos No Meu Quintal” neste formato da blogosfera. Não é uma leitura fácil, reconheço-o e também não será um exemplar de uma simples companhia de entretenimento. Ainda assim, se a mesma tiver servido para proporcionar alguns momentos de prazer, estarão saldados os esforços deste vosso servidor. Se por qualquer motivo, da mesma tiver resultado a inquietação de perguntar, a dúvida de dizer, ou a curiosidade de querer saber mais sobre determinadas matérias, então diria que teríamos ultrapassado as minhas melhores expectativas. Se, no fim de tudo, o querido Leitor encontrar aqui uma alegoria sobre a Vida, aí terei que dar por alcançados todos os meus propósitos.

Resta-me assim agradecer àqueles que me convidaram para colaborar neste “Estudo Geral” e para que não corra o risco de me escapar algum nome, coloco o meu reconhecimento nas pessoas do António Manuel Tapadinhas que me endereçou o convite e na do Luís Carlos Santos que é a alma do projecto.
A todos aqueles que me leram, quer tenham ou não deixado o rasto de um comentário, o meu bem-haja pela atenção que me dispensaram.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

XX Encontro Inter-Religioso de Meditação

(integrado na Exposição de Relíquias do Buda e de Outros Grandes Mestres Budistas)

A União Budista Portuguesa e a Escola Superior de Medicina Tradicional Chinesa convidam os membros de todas as confissões religiosas para o XX Encontro Inter-Religioso de Meditação, que decorrerá na ESMTC, na Rua D. Estefânia, 175, em Lisboa, no dia 8 de Novembro, às 19h.

Este XX Encontro está integrado no programa de actividades da Exposição de Relíquias do Buda e de outros grandes mestres budistas (ver anúncio em anexo), que decorre no mesmo espaço, de 6-14 de Novembro, seguindo depois para o Funchal (19-21) e para o Porto (26-28).

Este Encontro é dedicado ao projecto da Exposição, que é promover o diálogo inter-religioso e a Paz no mundo. Como habitualmente, serão lidos curtos textos (1-2 m) de cada religião presente, seguidos de uma curta reflexão e de 25 minutos de meditação em silêncio, após a qual poderá haver diálogo e partilha de experiências.

Nota - No programa (VER AQUI) há uma alteração no Colóquio Internacional "Oriente-Ocidente: diálogos e cruzamentos": o Professor François Jullien, especialista do pensamento chinês, falará às 19h do dia 10 no Anf. III da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.

Bem hajam pela vossa presença e divulgação destas iniciativas! Façamos nossa a diferença e a Paz que desejamos no mundo!

União Budista Portuguesa
Escola Superior de Medicina Tradicional Chinesa

Apoio: Revista Cultura ENTRE Culturas, cujo nº2, dedicado ao tema "Encontro Ocidente-Oriente", será apresentada no dia 11, na Sala do Arquivo dos Paços do Concelho da Câmara Municipal de Lisboa (ver o programa do Colóquio): arevistaentre.blogspot.com

Informações: Paulo Borges - 918113021.

domingo, 24 de outubro de 2010

Filosofia e Saudade

4. Luís Vaz de Camões (1524?-1580)

"Conforme o amor que tiverdes, assim o entendimento dos meus versos."

Em Camões existe uma ambiguidade: Amor a uma mulher que é simultaneamente divina. A mulher é tratada como semidiva. A mulher como mediadora para uma experiência do divino. A mulher como aquilo que do plano divino desce ao plano humano.

Encontra-se também em Camões, um amor mais fino que não quer encontrar o objecto do desejo: o desejado sem consumação é sempre mais perfeito - o amor saudoso.

A Mulher, o Amor e a Saudade são temas em destaque na poesia camoneana.

Luis Santos

(Referência Bibliográfica: Síntese de Apontamentos, Aulas de Filosofia em Portugal, Prof. Paulo Borges, 2009)

Festival Musidanças


De 19 a 27 de Novembro
no Tambor Que Fala e Musicbox


O Musicbox e o Tambor que Fala acolhem, de 19 a 27 de Novembro, a 10ª edição do festival das artes do mundo lusófono, o Musidanças. Com uma programação diversificada e reforçando a sua aposta nas novas tendências da arte lusófona, o Musidanças conta, este ano, com uma novidade, o Concurso de Novos talentos.

O festival arranca no espaço dos Toca a Rufar, o Tambor que Fala, no Seixal. Este espaço já acolheu duas edições do Musidanças, em 2008 e 2009. Contudo, este ano a música é outra e nos dias 19 e 20 a festa faz-se com os ritmos tradicionais dos Pauliteiros de Miranda ou com a tradição popular portuguesa já quase esquecida, dos grupos de Cavaquinhos ou Bandolins.

De 24 a 27 de Novembro, o Musidanças desloca-se para um dos pólos multiculturais mais promissores da capital e onde são bem-vindos os amantes das artes do mundo lusófono, da multicultura e da mistura, o Musicbox. Para este espaço, o Musidanças preparou um cartaz coeso, que procura mostrar a música das comunidades lusófonas que evoluem em Portugal e no Mundo. Catarina dos Santos, Cabace, Semente, Katharsis, Chullage, são alguns dos nomes que estarão presentes.

O Passatempo Novos talentos Musidanças pretende levar cinco bandas a actuar no festival. As inscrições já se encontram abertas até dia 29 de Outubro no portal Palco Principal:


Preço de venda ao público/
Musicbox: Bilhete: 8€
Tambor que Fala: Bilhete: 5€
Info: http://www.musidancas.com

sábado, 23 de outubro de 2010

A Tríplice Herança de Portugal

“O homem de bem deixa uma herança aos filhos de seus filhos.”
Provérbios, 13:22

Se – como afirma Salomão, o rei-sábio – “O homem de bem deixa uma herança aos filhos dos filhos”, nada mais natural que uma nação de bons princípios e de tradição humanista, galardoe as “nações filhas” com herança tão sólida e valiosa que se perpetue em sua história. Esse é o caso de Portugal em relação, especialmente, ao Brasil. Sem exagero, podemos considerar ter recebido da “mãe pátria” não uma singela, mas uma tríplice herança. Herança que, portanto, se consubstancia nas três benesses a seguir explicitadas.

PRIMEIRA HERANÇA – A FÉ CRISTÃ – Se, em 22 de abril de 1500, alguém, na praia da terra a ser descoberta, visse surgir algo inusitado no horizonte, essa primeira visão teria sido a da Cruz da Ordem de Cristo, presente nas velas das naus portuguesas que se aproximavam. Por sua vez, os de bordo, avistando o que imaginavam ser uma ilha, designaram-na “Ilha de Vera Cruz”. Desfeito o equívoco, mudaram o nome para “Terra de Santa Cruz”. Tudo nesse primeiro contato de Portugal com Brasil faz referência à cruz – símbolo da fé cristã. Fé que foi aceita e absorvida em seu mais sagrado sentido: o da tolerância religiosa, do respeito à diversidade de culto e doutrina de cada um, firmando o princípio da crença no Deus que criou os homens e não no Deus que os homens criaram. Dessa forma, todos podem realizar seus cultos de acordo com sua própria consciência, sem imposições ou interferências de quaisquer autoridades eclesiásticas ou governamentais. Por essa tradição de harmonia e paz, já foi referido o Brasil como “Pátria do Evangelho e Coração do Mundo”. Pátria do Evangelho porque a fé cristã predomina em todo o imenso território nacional, mas Coração do Mundo porque todas as manifestações religiosas de todos os matizes gozam de liberdade ilimitada. Nações há em que tais diferenças geram guerras e genocídios. Em outras, se tanto, toleram-se as divergências, o mais das vezes sob o manto do desprezo. Aqui não há meramente tolerância. Há respeito! À guisa de exemplo, em São Paulo a OAB realiza, todos os anos, ato inter-religioso em que se manifestam padres, pastores, dirigentes espíritas, rabinos, xeques, monges budistas e líderes de religiões orientais e afro, em um mesmo templo, sob a atenção respeitosa de todos os presentes!

SEGUNDA HERANÇA – A LÍNGUA PORTUGUESA – Outra e também notável herança é a Língua Portuguesa – “Última flor do Lácio, inculta e bela” – uma das mais extraordinárias, versáteis e melodiosas línguas do mundo! Rica em flexões e em figuras, possui construções e palavras muito suas, como o sonoro infinitivo pessoal flexionado e vocábulos tais como luar e saudade! Equivoca-se quem ousa traduzir esses termos por moonlight e remembrance... Remembrance é apenas lembrança, mas há muitas coisas das quais temos lembrança... e nenhuma saudade! Moonlight é somente luz da lua. Para ser luar, falta-lhe o romantismo, de que não se separa um milímetro, como bem o sabem os corações enamorados, assim como não há falar em saudade sem o intenso componente nostálgico que impregna essa suave palavra!
A expressão de Caminha: “Nesta terra em se plantando tudo dá” estendeu-se também à língua e de tal forma que, apesar da dimensão continental do Brasil, um mesmo idioma é falado e entendido, sem sacrifício, do Oiapoque ao Chuí! Países bem menores, como Espanha, Itália e Suíça não gozam desse privilégio! Por isso é lamentável a enxurrada de estrangeirismos dispensáveis que vêm sendo colocados em circulação, apenas por modismo ou pedantismo (esnobismo, para ilustrar...). Bom seria se todos declarássemos, com Olavo Braz Martins dos Guimarães Bilac: ”Amo-te, ó rude e doloroso idioma”!

TERCEIRA HERANÇA – O HUMANISMO LUSÍADA – Uma sensível diferença distinguiu o colonizador português de todos os demais. Estes estabeleciam uma “linha demarcatória” entre colonizador e colonizado: o senhor e o servo. Essa linha jamais podia ser transposta, o que deu origem a terríveis e incessantes combates entre as partes. Ao contrário disso, o colonizador português se aproximou dos colonizados, mesclando-se com índias e negras. Assim, em vez de fazer inimigos, fez parentes! Mais do que isso, procedeu ao início de um caldeamento de etnias que desaguaria na formação de um povo único na face da terra: o brasileiro! O “homo brasiliensis”! Foi precisamente isso que se viu na 1ª. Batalha de Guararapes, de 19 de abril de 1648, quando brancos, índios e negros – sob o comando de André Vidal de Negreiros, Felipe Camarão e Henrique Dias – se unem para combater o invasor holandês. É quando, pela primeira vez “na história deste país” se fala em “tropa brasileira”! Em consonância com essa realidade, assim principia a poesia “Raça”: “O brasileiro traz dentro de si / Um português, um negro e um índio guarani. / O luso deu-lhe a fibra audaz, arrojadiça/ E a fidalguia própria dessa raça./ O índio, a indolência, a preguiça / O amor à pesca, a inclinação à caça. / No excesso de carinhos e de zelos / Reflete do africano o meigo coração / E às vezes, dos cabelos, aquela permanente ondulação...
Por tudo isso, nós, luso-descendentes, temos orgulho de ostentar mais esta herança: o sobrenome que nos qualifica: Silva, Sousa, Pereira, Fernandes, Moura, Martins... e, é claro, o meu: Oliveira!"

João Baptista de Oliveira,
consultor de empresas, advogado, professor, jornalista e escritor.
(in, dialogos_lusofonos@yahoogrupos.com.br )

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

d´Arte - Conversas na Galeria VIII



Cenáculo Autor António Tapadinhas
Acrílico sobre tela Díptico 2x60x100cm


Cenáculo Pormenor


Cenáculo Pormenor

Cenáculo, nome dado à sala, à reunião, em que Jesus Cristo celebrou a ceia. Por ext.
Reunião qualquer de pessoas unidas para um fim comum, especialmente sociedade ou grémio literário.


Quando um casal meu amigo me convidou para almoçar porque queriam falar comigo sobre um assunto importante, não fazia ideia de qual seria o tema da conversa. Durante o almoço foi crescendo a minha curiosidade que, finalmente, foi saciada na hora dos cafés. Tinham um espaço nobre da casa que queriam preencher com uma obra minha. Deixavam ao meu critério todos os pormenores: cor, técnica, estilo, tamanho... Aceitavam qualquer sugestão porque confiavam em mim...
Se não fossem meus amigos, a partir desse momento ficaria a considerá-los como tal: depositar no meu critério o preenchimento dum espaço do seu lar, com que iriam conviver para o resto da sua vida, mais do que uma prova de amizade, é uma prova de amor...
Poucas pessoas, os dedos de uma mão chegam para as contar, têm uma obra oferecida por mim, se descontar aquelas que ofereço para serem leiloadas para instituições de solidariedade. Fiquei marcado pelas lágrimas de uma aluna minha, que ofereceu uma das suas obras a um familiar, e foi surpreendida por a ter encontrado escondida na gaveta dum armário, na despensa. Não sei que maior ofensa se pode fazer ao trabalho de alguém, independentemente do seu valor artístico! Agora, aconselho os meus alunos a fazerem como eu: para desfazer dúvidas sobre o interesse de alguém sobre uma obra, peço um montante por ela, nem que seja simbólico. A reacção é sempre esclarecedora... Em qualquer altura, encontraremos a oportunidade de devolver a quantia recebida sem o amigo notar: no aniversário, no Natal... que pode ser quando quisermos.
Coloquei uma condição: teriam de me convidar para ir a sua casa, tomar um café e uma bebida. Claro que foi aceite, pois nem sequer era uma condição, era um prazer – disseram.
Passei parte do tempo num convívio do qual não tirei muito partido porque volta não volta, estava a pensar na principal motivação dessa minha visita. Registava mentalmente a cor da parede com luz, sem luz, na sombra, tomava nota do tom da mobília, das peças que envolviam toda a enorme sala comum, com a confortável lareira, e as portadas envidraçadas por onde jorrava a luz... Ah! Falta dizer que o local onde a peça seria colocada era na parede fronteira à mesa, no espaço da sala de jantar.
Quando a tela ficou completa combinámos a entrega da obra, com a sua instalação no local onde iria morar. Pedi aos meus amigos que fossem brincar com o seu belo cão para o jardim enquanto eu colocava o díptico. Podem imaginar (se calhar não podem!) a minha angústia expectante quando eles voltaram para ver pela primeira vez a obra no local escolhido. Eu fiquei em êxtase com a sua reacção, talvez por contágio...
A Beleza reside no mundo das ideias e o Belo é identificado com a perfeição, com a verdade. A partir da beleza emanada por uma obra podemos chegar à beleza superior do Homem.
Uma vez por outra, é bom esquecer imperfeições...

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Um Monumento para D. Ricardo Carvalho Calero

A Carvalho Calero, a quem o Parlamento da Galiza no 1996 declarou filho predilecto, neste ano do seu centésimo nom se queria valorizar a sua pessoa memória e obra, e desde a Fundaçom Meendinho, -que presido- uma entidade declarada de interesse galego, impulsionamos todo um processo para que fosse devidamente e publicamente homenageado, -a Carvalho Calero a quem se nega todos os dias-, e ao que se tivo a galanice de nom dedicar o dia das letras, tivesse um monumento digno, um monumento a colocar no lugar da Galiza -Alameda de Compostela- onde o vam ver 1.500.000 pessoas ao ano. O monumento vai ser inaugurado no seu centésimo exacto, o dia 30 de Outubro as 11:00 h. E muito gostaríamos de que nesse acto compartíssemos a tua presença e a das tuas amigas/os e família. (vai anexo o convite ao acto)

A obra está sendo esculpida, polo escultor ganhador do concurso, José Molares. e é espectacular, está feita para interagir com o público, para ser tocada sovada, fotografar-se com ela, por em valor a sua contorna e enriquecer o património da capital da Galiza.

As contribuições das instituições por razões que nom alcanço, agora estám dando volta a trás (ver aqui). Ainda que está havendo contributos individuais, estes som em muito pequena quantia, e nos temos que ir fazendo frente aos pagamentos. AF undaçom Meendinho foi apanhada polo actual padroado totalmente descapitalizada.

Como sei do teu compromisso e apoio pessoal a estas actividades, e que valoras que na Galiza se renda homenagem a quem se dedicou integral e honestamente a ela, homenagem com obras que ao além de qualquer outra cousa vam falar às gerações futuras de realidades bem reais deste país que se tentam apagar.

Para isso há que ingressar na conta da F. Meendinho indicando o teu nome e b.i. para a declaraçom do impresso 182 da AEAT a fim de teres a correspondente "reduçom" do 25 % no IRPF contributos a Fundações sem ânimo de lucro.

Caixanova 2080 0132 15 0040021179
IBAN ES25 2080 0132 1500 4002 1179

Temos também um leilão de obras de arte achegadas polos seus autores e ao que se vam indo incorporando mais que pode ser do teu interesse ( http://agal-gz.org/blogues/index.php/meendinho/ ).

Agradecendo o teu contributo, apoio e difusom.

Alexandre Banhos,
Pte da F. Meendinho

terça-feira, 19 de outubro de 2010

HÁ PINTASSILGOS NO MEU QUINTAL
COMENTÁRIOS
II


A.Tapadinhas disse...
Lendo esta pergunta,

"Olhando a Terra, por exemplo, é uma coisa tão perfeita, não é?"

a minha resposta é afirmativa.

Algumas pessoas é que fazem todos os esforços para a estragar...
E, parece-me que a epidemia está a transformar-se numa pandemia...

Se realmente houver "uma mãozinha por trás disto tudo", agnóstico que sou, estamos safos: Deus (?)tarda, mas não falha!

Abraço,
António
Luís F. de A. Gomes disse...
"A vida é bela, os homens é que a estragam", dizia alguém que foi figura desta aldeia em que nasci e que infelizmente não saberei homenagiar com o devido respeito que uma tão elevada profundidade necessariamente requereria.
as a verdade é que estamos perante um resumo de sabedoria que nos diz tudo ao recordar-nos que a escolha do mal é eminentemente humana; são os homens que se decidem pelo vale tudo para satisfazerem os seus interesses particulares - eu, sem eufemismos, diria ganância, mas enfim, temos de ser polidos, não é? E Seja como for, vai daí e zás, trata de pisar o próximo com o mesmo à vontade que se atiram ácidos para os rios e gases tóxicos para a atmosfera.

Quanto à tal mãozinha que pode empurrar, eu que tenho alma de andarilho e para mim não reconheço outro território para além dos meus sapatos, pelo que gosto de ver e ouvir, acima de tudo ver e ouvir e ler, é claro, pois todos podemos ver, ouvir e ler e dificilmente poderemos ignorar, resrevo para as personagens o que possam ter para dizer a esse respeito. Sem qualquer dúvida, serão capazes de uma eloquência a que eu jamais me poderia habilitar.

Contudo, posso apenas dizer que Ele não falha, nem tarda, nós é que somos muito distraídos ou ensimesmados o que acaba por dar o mesmo.

Aquele abraço, companheiro

Luís
A.Tapadinhas disse...
...aqueles que mais acerrimamente negam a realidade de Deus têm, normalmente, uma ideia muito primitiva de Deus.

A evolução do conceito de Deus vai sendo feita adaptando-se ao aumento do conhecimento científico. Será alguma vez tão grande que prove ou elimine a existência de Deus?

No entanto, nem sempre o conhecimento científico é uma boa razão para se estar mais próximo de (ou da existência de), Deus.

Os portugueses por saberem tanto, recusaram dar barcos a Colombo para descobrir o caminho marítimo para a Índia, navegando para Oeste. Sabiam que nenhum navio conseguiria cobrir essa distância, cerca de 19.000 quilómetros. Os espanhóis, que precisavam de vencer os portugueses, deram-lhe o que ele queria e, com uma sorte inacreditável, depois de navegar 5.000 km, descobriu outro continente. Colombo morreu convencido que tinha chegado à Ásia.

O saber, algumas vezes, ocupa lugar, quer dizer, não nos deixa ver o mais evidente: um continente logo ali ou um deus...

Abraço,
António
Luís F. de A. Gomes disse...
Tiro o chapéu ao teu comentário e curvo-me perante o mesmo. Diz o essencial com pouco e isso é obra.

E começas por uma pergunta inteligente, a de o conhecimento que os saberes científicos nos proporcionam eventualmente vir a provar ou eliminar a existência de Deus. É uma interrogação crucial pois coloca-nos perante uma dualidade que no dizer comum mutuamente se exclui mas que por si nos remete logo a essência da questão. E quanto a mim a resposta é negativa antes de tudo porque não tem que o fazer. Mais não fosse pelo que dizes por fim, é que Ele não resulta e muito menos se poderia conter no conhecimento que dele pudessemos fazer, antes Se revela nessa luz interior em que nos sentimos caminhar pelo Seu apelo. Algo mais do género do essencial que não está no que os olhos vêem, como poeticamente nos disse Saint-Éxupery.
Mas continuamos a invadir a sabedoria das personagens que, insisto, são destas matérias muito mais sábias que eu e por isso deixo que sejam elas a dizer.

Colombo, Colombo, esse rosto esconso que a História colocou no cerne de um antes e depois, tem a grande curiosidade de ser o único grande herói que quase ganhou a dimensão de um herói cultural, como se dizia na Antropologia de antanho, o mesmo é dizer um ser verdadeiramente mitológico.

Está de pé a teoria de um Professor norte-americano que o apresenta como português, de gema e a mais alta nobreza -na verdade, o homem saberia muito para um simplório genovês que por naufrágio tivesse chegado a Portugal- e parte de uma conspiração de El Rei D. João II, por quem o homem do leme desobedeceu ao Gigante Adamastor.
É um livro interessantíssimo de se ler e apesar de o rigor académico não se reconhecer em tal procedimento de escrever a História, não deixa de nos colocar perante questões muito interessantes de se saber e conversar a respeito das mesmas. Enfim, malhas que o império teceu.

E assim deixo aquele abraço,

Luís

A.Tapadinhas disse...
No início parecia que se estava a falar do Presidente da República, ou mesmo do Procurador - Rainha de Inglaterra, ao dizer, que se regula pelas suas próprias leis, sem que ele tenha que ter aí o mais pequeno papel.
:)
Ele (com E maiúsculo), agora, nunca interfere nos assuntos dos homens, mas há dois milénios atrás, a acreditar no que lemos, interferia dia sim dia não, e nem sempre pelos melhores motivos...
:(
A Shoa seria uma boa razão para Ele se mostrar, mas...

...um pai, que vê o seu filho morrer com um tiro ou pelo efeito colateral de uma bomba, tem todo o direito de exigir uma intervenção, pois, se para Ele são todos iguais, para o pai o seu filho é mais igual que os outros...

E, agora, a grande questão: Todos estamos ligados pelos mais diversos laços. Cada um de nós é capaz de encontrar uma boa razão para intervir, num dado momento, num dado contexto. Todos a cumprirem a lei do olho por olho, não ficaríamos todos cegos?

Aquele abraço,
António
Luís F. de A. Gomes disse...
Viva, Tó

Mais uma vez deixarei que sejam as personagens a dizerem o que têm para dizer a respeito da primeira parte do teu comentário. Continuo convicto que terão palavras mais sábias que as minhas e, em todo o caso, a óptica será sempre a deles que pode ou não, em algum(ns) (do(s)) caso(s), coincidir com a minha, mas essa, para aqui, pouco importa.

Quanto ao resto e sintetizo-o no "(...) Todos a cumprirem a lei do olho por olho, não ficaríamos todos cegos?", a minha resposta é afirmativa.
É justamente para isso que temos o livre arbítrio que nos permite escolher, para mim, justamente os valores que nos façam interiorizar o princípio de procurarmos viver sem fazer mal a ninguém, ainda que a realidade seja mais complexa que uma linearidade dessas aparentemente pode comportar. São esses os limites da civilização que temos por boa, a nossa consciência, aquela perante a qual sempre responderemos, a única em que se pode alicerçar um mundo em que se procure evitar a maldade -muito complexa esta ideia e requerente de ampla e detalhada discussão- e, bem vistas as coisas, aquela em que poderemos compreender, antes de tudo sentir e então depois compreender que, afinal, é em nós que Ele vive e se manifesta e por isso somos nós que O poderemos reconhecer e escolher, sendo nós que sendo Ele em cada um, deveremos agir na procura da elevação ao Seu nível, com isso reconhecendo no outro um irmão e vivendo com ele na convicção de não o querer ofender, seja de que maneira for. A maldade é eminentemente humana e é uma opção inteiramente humana evitá-la ou, se quisermos, evitar de a ela recorrer.

Observações certeiras, as que tu fazes, mesmo aquelas que eu deixo para os dialogantes do conto a resposta. Há horas de conversa para fazer a respeito das mesmas, provavelmente noutra oportunidade.

Aquele abraço,

Luís
A.Tapadinhas disse...
Posso afirmar, depois de ler o teu texto (corrige-me se estiver errado), que o teu protagonista é de opinião que os conhecimentos adquiridos pela Ciência e pela Religião se complementam. Num mundo perfeito seria o mais acertado. Mas...

Tenho de dizer que o teu protagonista é ingénuo: temos uma infinidade de registos históricos de casos de guerras abertas entre ciência e religião -E pur si muove-e muito poucos de colaboração...

É como a relação entre o texto e a música de Vanessa Benelli: é tão absorvente ouvir as notas do piano, que não dá para ler o texto ou vice-versa, ao contrário, como diria o outro...
:)
Abraço,
António
Luís F. de A. Gomes disse...
Não, não, não é e o que se dirá depois permitirá perceber isso. Coexistem, mas a coexistência não implica complementaridade; qualquer delas se remete para ordens de coisas que nada têm a ver entre si pelo que...

Mundos acertados... Seriam possíveis na Matemática, Terra onde se demonstra; fora dela estamos sempre onde o bicho humano mora, ou pode morar, ou simplesmente meter o nariz e aí...

Aí entramos no domínio da confusão que geralmente se faz entre o elemento e o conjunto não singular. É verdade que o pensamento que estilhaçou a ortodoxia teve, em inúmeras e indesejáveis situações, a carne assada na fogueira -ainda que seja curial ressalvar que deste modo estamos a ver a(s) religião(ões) como se o catolicismo fosse a única delas- mas também não deixa de ser verdade que ela continua e sempre continuará a mover-se o que, aqui, significa que apesar de tudo sempre os Bacons disseram, os Galilleus seguiram, os Diderots espalharam e uma miríade -não são mãos cheias- de outros que de tantos faria uma lista de endereços, acabaram por afirmar de tal modo o conhecimento científico que hoje até aqui vivemos num mundo de pensamento laico.
Para além disso, devemos ter presente que se aplicássemos o raciocínio pelo prisma da Madre Teresa de Calcutá e dos inúmeros mártires que literalmente deram a vida pelos outros... Provavelmente, um observador exterior -talvez um ET do Spilberg que brincava com as crianças- diria que somos -estou a referir a Humanidade- uma espécie de Santos e seguramente quereria perceber se tal se deveria a questões hereditárias ou culturais. Como ficariam os cabelos dele -aqui os de outros planetas têm cabelo- quando se confrontasse com a ingenuidade de Anne Frank. Enfim...

O remédio santo diz-nos que sempre é possível ler primeiro e escutar depois, ou escutar primeiro e ler depois, ou ler antes e escutar antecipadamente ou, como diria o amigo do outro, ler a seguir e escutar primeiro, ou será que era ao contrário?

Aquele abraço companheiro,

Luís
A.Tapadinhas disse...
Mudou completamente o sentido da palavra inteligência com a sua manifestação suprema: a tolerância!

Esse sentido inovador coloca a máxima inteligência na cabeça de uma criança, ou no tolinho da aldeia...

Quem é mais tolerante=inteligente que uma criança ou um "tolo"?

E também, e não menos importante, que todos nascemos com a mesma inteligência. A educação, a sociedade em que estamos envolvidos é que a pode conspurcar.

Em termos populares as crianças e os loucos são os que estão mais perto de Deus...

Mais uma vez, o povo tem razão.

Abraço,
António
Luís F. de A. Gomes disse...
Ora aí está. Confesso que nunca tinha pensado o assunto sob esse prisma.

A inteligência é um atributo da nossa espécie; como animal cultural que somos, podemos tomá-la como uma ferramenta, aquela que a biologia nos dá. Infelizmente ou não, não traz consigo livro de instruções pelo que o uso da mesma depende de cada um de nós.
Ora esse é um sentido ético da inteligência que em geral nunca é considerado, mas existe, diria que é empiricamente verificável, pelo que de modo algum o poderemos considerar estranho na Humanidade. É pois um acto de vontade, de consciência e, posso estar enganado, parece-me que será mais nesta perspectiva que a personagem usou a ideia.

A criança e o tolo -atenção que tolo não tem que necessariamente significar louco e há um uso que assimila ambos os vocábulos ao mesmo significado- materializam a escolha inocente -a que não é conspurcada pelas peripécias e condicionalismos do fluir enculturativo e de todas as envolvências da socialização, como dizes- não tanto um comportamento adoptado por tomado como melhor que outros. Digamos que tantos uns como os outros serão espontaneamente assim, no caso, tolerantes.
Mas aqui temos o contraponto da outra sabedoria popular que lembra as papas com que se enganam os segundos, como que para nos recordar que é aquela muito complexa e de outra forma seria insólito que tivéssemos conseguido tanto em tão escasso par de centenas de milhares de anos.

Contudo, não deixa de ser interessante que o povo faça a leitura que lhe atribuis, pois a verdade é que a criança expressa tolerâncias que, muitas vezes, estão interditas aos adultos pela formatação que a sua cultura lhes deu -e isto sem qualquer ponta de determinismo cultural que seria de todo um absurdo pela contradição entre as partes que pressuporia em relação aos argumentos anteriores. Os preconceitos rácicos são um bom exemplo disso e qualquer jardim escola misto é um bom laboratório em que tal se pode facilmente verificar.

Mas a consciência e o livre arbítrio, bem como a inteligência são apanágio de qualquer um e por isso as crianças assimilam e processam e também agem pela sua própria vontade e são bem conhecidas as histórias de meninos e meninas perversos que se comprazem com o mal alheio. É a natureza humana e foi justamente nela que as utopias de um homem novo -subtilmente a companheira da ideia do mundo novo de um amanhã melhor- esbarraram. Afinal somos apenas humanos inapelavelmente sujeitos ao erro, no limite, de uma opção desajustada para com os outros ou outrém.

Daí o sentido ético encontrado para a inteligência que é a propriedade que nos é dada para interagirmos com o mundo envolvente.

Será que só no Seu encalço seremos capazes dessa inteligência ética? Não me parece que Ele seja o único caminho para aí chegar e a criança que se fez homem, mesmo longe Dele, não estará por isso mais distante de conseguir encontrar-se em tal uso da inteligência.

Devo admitir que também não me parece que seja um caminho fácil e apesar de compreender o pensamento da personagem e de genericamente até ser capaz de o subscrever, não reinvidicaria para mim a exemplicação de alguém assim.
Mas eu limitei-me a escrever o conto, só isso.

Aquele abraço, companheiro

Luís
luis santos disse...
Olá Luís. Só agora, 6ª feira, 19h, li o teu texto. Curiosamente, o texto que publiquei hoje cruza parte da temática que aqui abordas. Embora tivesses feito referência no texto anterior ao homem de Piltdown não há relação nenhuma entre ele e este que agora publiquei. Digo-o,simplesmente, para evitar más interpretações entre os mais desprevenidos. De resto, não será de estranhar que aqui e ali abordemos temas comuns...

Grande Abraço.
10 de Setembro de 2010 19:36
Luís F. de A. Gomes disse...
Não há qualquer problema e muito menos qualquer possibilidade de mal entendido.

A Antropologia, melhor dizendo, o vasto universo das Antropologias abarca um conjunto de saberes e métodos de pensamento e entendimento da realidade do Homem incrível; a Antropologia está para a Humanidade com a Astrofísica para o Universo. É depositária de conhecimentos a respeito de toda a História Humana quer enquanto espécie em si, quer enquanto ser social e portanto enquanto o animal cultural que por isso se adaptou a todas as geografias da Terra e, numas mais radicalmente que noutras, as alterou em seu benefício –esta do seu tem muito que se lhe diga se atendermos à muitíssimo desigual repartição dos rendimentos a nível planetário e particularmente dentro de cada país. Seja como for, a Antropologia é talvez a única área de saber que nos permite uma visão global da nossa caminhada, na medida em que na sua vertente antropobiológica -salvo seja a expressão- nos obriga a uma certa reconstrução cultural do passado pelo que, obviamente em âmbito inter-disciplinar, nos habilita a podermos ver um filme das diversas culturas quer no espaço quer no tempo. Com efeito, existe aí um banco de dados a respeito de todas as populações humanas que actualmente habitam o planeta.
Não estamos contudo no domínio de uma ciência exacta. A um certo nível, estamos mais perto das metodologias da História, genericamente das Ciências Sociais; quando falamos da hominização, aproximamo-nos das competências e modos de operar do campo das biologias. Tanto num caso como no outro não há a possibilidade da demonstração pelo que os argumentos, as ideias e as teorias não têm que ser necessariamente universais, isto é, aceites por toda a comunidade científica ainda que haja toda uma linguagem que o é, uma série de conceitos que são reconhecidos de igual maneira em toda a parte e até explicações que são tidas como boas por todos os que se debruçam sobre tais matérias. Ora se uma atitude científica pressupõe, em si mesma, a abertura para a pluralidade de expressões e pensamentos e, de facto, tal sucede em todas os quadrantes dos saberes científicos, mais ainda será de esperar que ela aconteça num domínio onde a característica da universalidade é tão difícil de atingir e nem sempre é possível.
É enorme a variedade das correntes que já surgiram na Antropologia Cultural e sem prejuízo de preferirmos umas a outras, de considerarmos uma teorias melhores que outras, certas explicações mais elegantes que outras, é absolutamente natural que hajam pontos comuns nessas muitas abordagens e que em alguns pormenores aconteçam repetições. Não vejo que venha mal ao mundo por isso e pessoalmente não é algo que me preocupe.
É bom de ver que há todo um potencial de reflexão que só tem a ganhar com a multiplicidade de leituras e pontos de vista e isto sem prejuízo da reserva de achar que nem todos os contributos tenham resultados positivos e enriquecedores. Seja como for, mais não sendo pelo efeito do espelho, tenho por princípio que a pluralidade de abordagens é sempre um fermento propício ao aparecimento de ideias –novas ou renovadas- ou ao seu aperfeiçoamento.

(continua)
Luís F. de A. Gomes disse...
Quando me candidatei aos estudos universitários, teria entrado em qualquer dos cursos a que poderia aceder. Escolhi Antropologia não por qualquer curiosidade científica propriamente dita ou qualquer vontade de vir a trabalhar nessa área, mas apenas porque pelos dados que então reuni, me pareceu que era aí onde melhor me poderia habilitar para fazer aquilo que realmente queria e que era fazer literatura de ficção, quer dizer, entre os diversos cursos por que poderia optar, tudo indicava que seria aquele em que poderia aprender as mais relevantes ideias e teorias, bem como as melhores metodologias e ferramentas de pensamento para me arriscar a tentar compreender a humanidade, a natureza humana e a partir daí, pelo menos, conseguir construir personagens credíveis e consistentes, mundos inventados, é claro, mas que formassem pessoas, tal qual eu e tu, capazes de saírem das páginas do livro e ganharem vida própria, a respeito dos quais nos fosse dada a sensação de que os mesmos poderiam sentar-se connosco a uma mesa e conversas –como o fazem aqui neste conto.
Hoje, mais de trinta anos passados sobre essas decisões, não tenho a menor dúvida que acertei, em cheio.
Como é fácil de entender levei a licenciatura muitíssimo a sério a que não foram estranhos os resultados finais da mesma e para além desse interesse particular que referi, confesso que comecei por me espantar com o interesse o potencial daquele universo de saberes e à medida que fui crescendo nos estudos, fui ganhando uma curiosidade intensa por diversas das suas problemáticas e posso dizer que acabei por extravasar o principal motivo que ali me levara, acabando por me vir a pós-graduar e, ainda que na modalidade de um trabalho independente e freelancer, se o termo aqui tem alguma aplicação, até a permanecer activo e a fazer trabalho de investigação na área do racismo.
Mas isso é uma decorrência do meu principal interesse que é a literatura e como há muito que percebi que esta última é mais uma das fontes de conhecimento a respeito do Homem, nada há que lhe possa ser estranho ou desprezível e muito menos ideias –vindas de onde vierem e ainda mais das Antropologias- que naquela não possam ser processadas de maneira a que os leitor seja confrontado com o convite para reflectir sobre este ou aquele assunto, este ou aquele fenómeno.

Ora como poderia então haver mal entendidos? Não poderia, a menos que eu tivesse a pretensão de saber tudo ou ter a única verdade ou… Sim, é claro, essa hipótese também é válida, fosse pura e simplesmente parvo e pensasse que todo e qualquer teria que pensar exactamente como eu. Seria uma tristeza e, sobretudo, uma ofensa para este próprio espaço que se alguma característica tem, é ela a diversidade, de opiniões, abordagens, gostos e preferências. É assim afinal que é a vida e é exactamente dessa maneira que gosto dela pelo que é assim que deve ser e apesar de ser parte interessada e, em conformidade, a minha opinião ser parcial, não tenho dúvidas em dizer que é dos blogues mais interessantes com que me tenho deparado e só é de lamentar que não seja mais conhecido.

E pronto, aquele abraço, companheiro
Luís
luis santos disse...
Obrigado pelo extrordinário conhecimento que as tuas palavras revelam. Só Deus sabe quanto te devo por ter a possibilidade de ter tido na minha vida um amigo-primo-irmão ligeiramente mais velho.

Que Deus te abençõe, sempre!
Luís F. de A. Gomes disse...
É verdade, estamos perante a amizade de uma vida que já vai ganhando volume no número de décadas que contém.
Sempre brindo a ela, do fundo do coração, pois não tenho dúvida alguma que em boa parte, em ela, por ela, no âmbito de todas as envolvências que aí houverem e as vivências, as experiências, as aprendizagens que proporcionaram, não só em boa parte vieram a condicionar muito daquilo que eu sou, como pessoa, como também a propiciarem grande parte do húmus em que procuro gerar as palavrinhas com que vou criando as pequenas histórias que gosto de contar.
Sobre este último aspecto, para quem ler com atenção o que tenho vindo a escrevinhar, há todo um clima que se faz sentir, todo um laivo de humor ao mesmo tempo subtil e carinhoso que percorrem as minhas páginas que vêm justamente desses anos em que a nossa amizade se foi solidificando e que foram os mais importantes e decisivos para o nosso crescimento enquanto pessoas.
É pois de uma longa amizade que estamos a falar que pode ter andado por aqui e por ali mas permaneceu, sempre e por isso e pelo que disse anteriormente, sempre a ela brindo, no fundo do meu coração.

Nesta medida, tenho a certeza que Ele sabe ser essa dívida recíproca e acredito que, por tudo o que escrevi, se Fosse dado a pensar sobre ela, concluiria pelo peso maior do meu prato.

Aquele abraço, velho companheiro

Luís
A.Tapadinhas disse...
"Quer dizer, os cientistas ainda não sabem explicar muito bem porque é que ocorrem essas transformações que resultam na evolução das espécies. Sabemos que se tratam de mutações e tudo indica que elas decorram de erros de transmissão do código genético. Mas não existe uma explicação inteligível e aceite para que isso suceda e então admite-se, se quiser provisoriamente, como é da praxe da construção do conhecimento científico, aceita-se então provisoriamente que isso possa ocorrer por mero acaso. Depois há o facto de algumas alterações serem benéficas para os indivíduos, isto é, terem a propriedade de lhes conferirem vantagens adaptativas e outras não e isso parece que acontece por acaso."

Já Darwin tinha notado que as variações apareciam por acaso nos animais em cada ninhada, na cor, tamanho, nas sementes, em tudo. Ninguém sabia por que razão a selecção natural se mantinha, apesar do acasalamento indiscriminado de cães, gatos, pombos... Raio da evolução que não seguia um padrão certinho. Só sabia funcionar aos saltos!
Até que, Mendel, um frade Agostinho, que gostava de botânica e estatística, começou a combinar ervilheiras de diversas cores e a apontar os resultados. Quando ele misturou ervilheiras verdes com amarelas, as que nasceram eram amarelas-amarelas, e não amarelo-esverdeado ou verde-amarelado. Mas na terceira geração, essas sementes amarelas, tanto davam flores amarelas como verdes.
As deduções que fez são, ainda hoje, as leis da hereditariedade e servem para flores, cães e homens.
Apesar de as ter publicado, em
1866, ninguém ligou às suas idiotas descobertas com as ervilhas.
Darwin morreu em 1882, sem saber que a falha maior da sua teoria estava corrigida: as súbitas alterações chamadas mutações.
Mendel morreu em 1884.
Em 1900 três botânicos preparavam-se para publicar as suas "descobertas", quando "descobriram" que Mendel, trinta e quatro anos tinha descoberto (sem aspas) o mesmo.
A biologia molecular perdeu uma geração, porque alguém não soube fazer um simples trabalho de casa.

Moral da história: Tudo acontece por acaso...
até evoluirmos o suficiente para encontrarmos a explicação.
:)
Abraço,
António
Luís F. de A. Gomes disse...
Tal e qual e melhor apresentado não poderia estar.

Mas vale a pena notar que o Darwin sofreu forte oposição dos poderes estabelecidos da época, particular e mais manifestamente por parte das autoridade religiosas de então e muito generalizadamente pela sociedade bem pensante da altura para quem as suas ideias e teorias eram simples heresias, quer por romperem por completo com a ideia de Criação que a ortodoxia do pensamento estabelecia como única explicação para o apareciento do Homem, quer por nos colocarem a modos que na a´rvore genealógica de outros primatas, ideia que parecia verdadeiramente bizarra e a que a imprensa da época respondeu com a gravura de um macaco com a cara do genial cientista.
Foi uma árdua luta académica e científica para que as suas teses viessem a ser reconhecidas e ainda para que fossem aceites como a melhor explicação para a formação e a evolução das espécies.
Em outras áreas, com outros protagonistas e até com outras vinganças, houve outros episódios equivalentes a esse. E certamente que não terá sido apenas neste lado do mundo de que estamos a falar.
É curioso reflectir sobre isso.

Mendel foi outro actor de tais cenários que no recato do seu convento provavelmente nem teve consciência da importância e das repercussões das suas descobertas. Mas nao deixa de ser de certo modo simbólico que tenha sido um religioso que tenha dado o contributo que referes e que, ao contrário dos mitos de origem, veio permitir perceber que somos o resultado de um longo processo evolutivo, manifestamente de acordo com as leis da própria Natureza.
Parece que não, mas a par da Revelação de Abraão, talvez tenha sido essa uma das mais decisivas revoluções no pensamento dos homens; seríamos diversos do que somos.

Se a colocarmos em perspectiva e se com isso considerarmos o de outras espécies que nos antecedem na História da nossa Evolução, aventura do conhecimento, apesar de tudo, tem sido das mais rápidas viagens que o espírito e o génio humano têm logrado.
Será que nos vamos queimar nas asas como no mito clássico? Será que sonseguremos a sabedoria bastante para manusearmos o fogo sem nos queimarmos? Essas são dúvidas que perturbam e sobre as quais vale a pena pensarmos e é justamente aí que me parece que a literatura as outras artes se encontram como fontes de conhecimento para os homens, para além de lhes saciar a sede de oinirismo e evasão que tudo aponta para que tenha surgido com a nossa espécie, o sapiens sapiens.

Vê lá bem o que o Pessoa tem propiciado. Poderá haver alguém que duvide da grandeza da obra que nos legou?

Aquele abraço, companheiro

Luís
A.Tapadinhas disse...
Não resisto a fazer-te um desafio! Já te confessaste admirador da ficção científica.

Neste parágrafo - Digamos que assim, a Humanidade, se é que pudéssemos usar esse termo para uma qualquer espécie que se nos assemelhasse, seria seguramente outra -, fazes uma afirmação com a qual não podia estar mais de acordo.

O desafio, a pergunta do milhão de €uros é: Qual Humanidade resultaria dessa "ínfima" alteração?

Recordo-me dum livro de fc em que a humanidade era gerida por religiosos que recebiam instruções directas de Deus e nisso baseavam o seu poder...

...com resultados deploráveis.
:(
Abraço,
António
Luís F. de A. Gomes disse...
Sim, certamente e sempre que os poderes se baseiam numa qualquer forma de verdade revelada, seja ou não religiosa e os exemplos da História são fartos a esse nível, os resultados sempre trouxeram o rasto do sofrimento e da morte.

Mas é curioso perceber como é que os sistemas religiosos –se assim se pode falar- estiveram, quasi sempre e isto para reserva de algum que me escape e não possa ser incluído em tal reunião, os sistemas religiosos, dizia, quase sempre estiveram associados a formas de domínio e controle do poder e é ainda mais curioso verificar que muitas vezes fizeram uso dos conhecimentos a respeito dos fenómenos naturais justamente como instrumentos de manipulação e de afirmação da supremacia de tais deuses sobre os homens e, por via disso, de reforço e consolidação desses centros de poder. Praticamente desde o aparecimento e consolidação que os primeiros estados trouxeram consigo todo o aparato de estruturas religiosas. Eram as previsões dos ritmos e manifestações da Natureza que iam desde as mais simples orientações no que se refere a sementeiras e colheitas, às mais sofisticadas previsões de eventos cosmológicos, como, por exemplo, eclipses e que os senhores dos templos, por serem, em grande parte, guardiães dos saberes mais relevantes da época, usavam a favor do reforço e da continuidade da sua própria importância e poderio. Daí a vulgaridade das teocracias.
Já quanto ao desafio que colocas é de difícil solução pois não se trataria de uma ínfima alteração, antes de uma alteração fundamental. Não se trataria de uma simples alteração de valores e princípios éticos, em que, por exemplo, num mundo exótico como o império romano dos séculos da que ficou conhecida por pax romana, os nossos semelhantes de antanho se dessem a comportamentos que tomaríamos simplesmente por criminosos, como o vulgar infanticídio que até era uma das formas de controle demográfico ao alcance da época. A diferença seria outra, antes de substância que não apenas em termos formais.

(cont)
Luís F. de A. Gomes disse...
(continuação)

Poderemos olhar as espécies hominídeas que nos antecederam e tentar perceber que diferenças poderiam haver entre elas e nós.
Uma de ordem fundamental, é que os mortos ficavam onde tivessem morrido muito simplesmente por não haver quem os chorasse. Isto parece pouco mas traz todo um cortejo de impossibilidade de pensamento ético que só à nossa espécie –sapiens sapiens- foi bio-geneticamente consentido e que marca a diferença fundamental entre o que poderia ser um mundo de caçadores homo erectus e um outro bando já composto pelos nossos avós.
E aqui entra mais uma curiosidade; é que tudo indica que apenas o nosso cérebro apresenta as circunvoluções correspondentes ao que se pode designar de pensamento religioso. Por outras palavras, os cérebros das espécies que nos antecederam na nossa árvore genealógica, não apresentavam as áreas correspondentes a essa actividade mental e a verdade é que a arqueologia jamais encontrou provas do contrário nos vestígios que desses seres chegaram aos nossos dias.
Será que os laços entre mães e filhos seriam da mesma ordem que aqueles que se formam em todas as populações humanas actuais? Provavelmente não, ainda que seguramente houvesse afecto.
Haveria sentimento de perda perante a morte de outrem, por mais chegado que fosse? Continuamos na probabilidade negativa que nos leva a pensar que a caça ao semelhante, o flagelo sobre o semelhante, não teriam na mente as barreiras de um pensamento ético que seguramente não existia.
As diferenças seriam portanto de esta ordem e o mundo resultante é o da lógica da sobrevivência, pura e dura, ainda que já pudessem haver manifestações que representassem a alegria de estar vivo para lá dos simples actos ligados àquela prova primacial.
E continuamos sempre no âmbito daquilo que nos espanta; é que quase se poderia dizer que a Humanidade se foi fazendo a ela própria.
Os já citados romanos, por exemplo, em cuja cultura havia uma vasta produção de pensamento no domínio da moral e da ética, não viam qualquer problema em matar um recém-nascido muito simplesmente por não acreditarem que o mesmo fosse de imediato um ser humano. É muito curioso ter isso em consideração pois, pessoalmente, uma das mais espantosas revelações que se verificam a partir de certos modelos matemáticos de abstracção que desenvolvi no contexto das investigações sobre o racismo que tenho vindo a efectuar, é justamente que nós não nascemos humanos, fazemo-nos humanos, ainda que todos nasçam com as características bio-genéticas que permitem dar e consolidar esse passo.
É pois interessante de ver que na Evolução sucedeu o equivalente; um dia surgiu alguém com um cérebro capaz de desenvolver o pensamento a respeito do transcendente e tudo indica que foi a partir daí que historicamente surgimos nós. Ora isto deveria dar muito que pensar, mas é conhecimento recente e por isso com um longo caminho à frente para percorrer.

(cont)
Luís F. de A. Gomes disse...
(continuação)

O desafio que colocas, o de imaginar uma espécie com a Fé geneticamente transmissível, teria que nos levar para outras animalidades, salvo seja a expressão, uma espécie de abelhas ou formigas que sabem o seu papel à nascença e que nascem obreiras ou soldados sem que possam fazer nada em sentido contrário pois isso está determinado pela sua biologia. No caso, todos esses seres viveriam de acordo com a procura de Deus e nesse sentido seria mais ou menos um mundo sem conflito, na medida em que sem excepção todos tomariam o semelhante como à sua própria pessoa e por isso agiriam em conformidade com a busca da Eternidade.
Nesse aspecto, creio que seria mais emocionante pensar nos mutantes. Como seria se aparecesse um indivíduo que, por defeito genético, nascesse, vamos colocar a hipótese, tal como nós nascemos, sem estarmos programados para ter Fé. Será que o sujeito teria vantagens adaptativas que o levariam a dominar os outros? Como se constituiria então o seu sistema de valores e em que se fundamentaria ou poderia fundamentar? Levá-lo-ia a reproduzir-se e a dar origem a uma nova população dominante?
Quanto a mim, este seria um desafio com muitas mais potencialidades para reflectirmos sobre a Humanidade que somos. Mas apesar de gostar de fc, e apesar de até já ter escrito fc –teatro- ainda não chegou a hora e para ser sincero nem sei se jamais chegará, para que eu me atire a uma história em tais incertas águas; pelo menos por agora, não me parece que tivesse alguma coisa a acrescentar a esse quadrante literário onde há monumentos como um Verne, um Wells, um Clarcke ou um Asimov que anteciparam futuros que hoje tomamos por banalidades deste presente. Pessoalmente, não tenho e dificilmente poderia vir a ter conhecimento suficiente para chegar a tanto.

Aquele abraço, companheiro
Luí

A.Tapadinhas disse...
É necessário um elaborado conceito intelectual, para tomar consciência que eu (cada um de nós) sou irrepetível, único e, por isso, importante em tudo o que se desenrola no mundo. Bater de asas da borboleta, na teoria do caos...

Os nossos avós para sobreviver, depressa chegaram à conclusão que o grupo era indispensável à sua sobrevivência, porque havia animais mais fortes, mais rápidos, mais... tudo, excepto um pequeno pormenor: não tinham o polegar oponível.

A família, cedo se transformou num conceito alargado (e com tendência para alargar cada vez mais): tribo, povo, raça... ... humanidade!

Estamos, agora, no dealbar de um novo conceito: o planeta não é exclusivamente nosso, os animais e as plantas não foram colocados na terra para nosso divertimento...

Cada um de nós tem uma imensa responsabilidade: temos a inteligência, temos os meios para, não digo evitar o colapso, digo prolongar este ciclo de vida.

Far-se-á com pessoas como, Pessoa...

...mas sem os pintassilgos que poisavam regularmente às terças-feiras, no meu quintal!

Obrigado por teres compartilhado connosco este belo trabalho!Faz bem à saúde pensar! Parabéns!

Aquele abraço,
António
luis santos disse...
Obrigado pela partilha dos bandos de pintassilgos que sempre pulularam pelo nosso quintal. O Fernando Pessoa sai envaidecido pelas ricas reflexões que te proporcionou. E terá gostado de ler, com certeza. Uma outra figura sempre omnipresente durante as leituras, não menos valiosa em nós que Pessoa, foi o Francisco José Gonçalves, ele próprio, todo ele, um pintassilgo, nas cores, no esterno, na alegria, o que o tornava único, pois claro, à semelhança de cada um de nós. Aqui fica uma singela homenagem a esse nosso companheiro de passarada, e tão parecidos com os anjos que são. É esta importância de sermos únicos, creio, que torna tão singular, especial, este nosso Estudo Geral. Esta capacidade de assumirmos e partilharmos com os outros as nossas criações, não ficando atrás dos que revelam o artista que existe no fundo de cada um de nós. Ou a vida não fosse um palco e a luz das estrelas os holofotes que nos fazem brilhar. "O homem não nasceu para trabalhar, mas sim para criar", diria o Professor Agostinho da Silva. Felizes dos que atingiram na vida a criatividade absoluta, quem sabe o "update" necessário para transmigrar para outros planos... Talvez por isso seja importante continuar o Estudo. Já pensaste na próxima partilha habitual das terças-feiras?
Luís F. de A. Gomes disse...
Pois é Tó, pensar faz bem à saúde e aquilo a que estes pintassilgos poderiam aspiurar seria a isso mesmo, deixar um pequeno convite para que as pessoas pensem, preferencialmente pela sua própria cabeça, pois afinal sempre caberá perguntar o que andamos cá a fazer que é capaz de ser uma das questões cruciais que nos distinguem dos outros seres vivos.

Em todo o caso devo dizer que faltam ainda os finalmentes pelo que não será hoje a despedida, propriamente dita, dos fascículos deste conto, apesar de a história, essa, ter, de facto, terminado.

Obrigado pelas tuas palavras que são sempre reconfortantes de ouvir, mas o prazer por ter escrito e, porque não dizê-lo, de o apresentar publicamente, foi meu e quanto a este último aspecto, mais ainda por o ter feito num espaço tão interessante como este blogue.

Aquele abraço

Luís
Luís F. de A. Gomes disse...
É isso amigo o homem nasceu para pensar, mas o problema é que no pensar é que está a subversão e vai daí, os senhores do mundo...

O "Estudo Geral", à sua mnaneira, vai por esse caminho, mais não fosse pelo facto de se fazer contra o pensamento único de que enfermam as sociedades em que vamos vivendo e que tanto atrofiam a individualidade de cada um, das quais fazem fonte de força do rebanho que mantém os alicerces do mundo de ganância que se tem consolidado desde há vinte anos para cá e onde, apesar de todas as melhorias, porque as há e sucessos na saída da pobreza de milhões e milhões de almas vivas, a concentração da riqueza é cada vez maior, a repartição da mesma tem sofrido retrocessos graves e, em conformidade, aumenta o fosso entre os mais ricos e os mais pobres.
Faltam pois pensamentos alternativos e, nesse sentido, o "EG" -é giro porque se pode dizer o ovo, quer dizer a semente de um futuro- é uma praça de liberdade, um exemplo de coragem e de fermentação de ideias que, para meu gosto pessoal e aqui sempre ressalvo que, de certa maneira, sou parte interessada pelo que o meu ponto de vista será sempre parcial e jamais isento, mas seja como for, dizia que o EG é uma casinha de conversas e pensamentos que dá gosto acompanhar, repito, na minha opinião, é claro.

Tal como é claro que este meu conto poderia, atendendo ao título, ser dedicado à memória desse nosso irmão que já partiu há duas décadas para nos acompanhar a partir do regaço da Eternidade onde seguramente está. Contudo, dediquei-lhe um conto que compilei nas "Histórias da Margem Sul" e que justamente, faz salvaguarda da memória da nossa infância justamente relacionada com esta vertente da passarada. Depois, depois decidi que estava na hora de dedicar um trabalho à Bélinha que me acompanhou no meu crescimento de quem escreve e muito acabou por contribuir para que eu tomasse o rumo que tomei em direcção à obra que tenho vindo a realizar, mesmo que em silêncio e que agora tenho vindo a divulgar ao público leitor -arrogando-me da vaidade de ter um público leitor.

Quanto ao futuro, já tenho ideia do que vou apresentar e de como o farei mas não será aqui e agora que vou falar disso. Apenas posso acrescentar que, da mesma maneira que o "Há Pintassilgos..." me pareceu ser um trabalho adequado para sair aqui, no EG, tenho para mim que o mesmo sucederá com a próxima publicação que conto fazer. Seja como for, ainda faltam algumas semanas até chegar lá, pois há os finalmentes dos pintassilgo que terão que ser feitos. Há a regra da honestidade intelectual para respeitar.

Aquele abraço, companheiro

Luís

domingo, 17 de outubro de 2010

Interligação de Universos (8)

…………fala-me sobre a paz.

-Jamais encontrará a paz aquele que a procura para si mesmo. Só libertando-se de si é possível encontrá-la. Não se chega à paz buscando-a ou desejando-a exteriormente. Todo o desejo é fruto da personalidade, do ego, e este não contém a Paz, pois a mesma é uma pérola no interior de cada Ser. Olhai e senti as flores do campo e restante reino vegetal e reino mineral. Quando aliares o sentir à visão interior comungareis dessa paz sempre presente nesses reinos. Tendes que entrar num estado total de Vazio para seres preenchido pelo Todo, pela Paz.

- Quanto tempo passará até sentires a necessidade de fazer o silêncio em ti e à tua volta? De procurar no exterior aquilo que sempre esteve em ti? É focalizando no centro do teu próprio Ser, com uma vontade constante, não desistindo e aceitando as aparentes paragens como motivação para prosseguir, que o Ser vai vislumbrando a verdadeira Paz. Esta tem uma dinâmica própria, não é um estado de inércia, mas transformadora, permitindo que a consciência seja motivada a subir os degraus da sua própria evolução.

A verdadeira Paz é um estado interior do Ser e não é atingida através de quaisquer forças ou lutas exteriores.

Quando nada quiseres daquilo que fazes, para ti ou para quem te rodeia, permitirás a tua sintonia com o Plano Evolutivo, que aguarda esse estado subtil de Ser, levando-te ao encontro dessa almejada e tão mal compreendida PAZ.

António alfacinha
Alfa2749@yahoo.com

Filosofia e Saudade

2.Os Pioneiros de uma Filosofia da Saudade em Portugal

"Os Portugueses são mais saudosos que outros povos, o que permite um sentimento único de Amor e Ausência - os pais da Saudade."
D. Francisco Manuel de Melo

"A saudade provém do coração, não provém do entendimento. É um bem que se padece e um mal que se deseja. Amarga e doce, triste e alegre. Na saudade fundem-se os contrários."
D. Duarte


3. Cantigas de Amigo

Uma experiência do mundo como uma unidade amorosa, onde a música, o canto e a dança surgem associados às próprias poesias, num ritmo de sístole e de diástole, movimento do coração. Aqui se revela o tormento da ausência e a alegria do amor.
António José Saraiva

Aqui, a cultura medieval portuguesa é retratada como uma religião do Amor. Mundo paradisíaco porque Deus é bom para quem tem amor. Uma religião do imanente em oposição a uma religião do transcendente.
Afonso Botelho

"Elemento fundamental da saudade portuguesa são as cantigas de amigo, poesia galaico-portuguesa, anterior à poesia provençal. O pensar como se se fosse a coisa amada."

É esta religião do amor que vamos encontrar em Camões, com centramento da experiência erótica, fortemente acentuada na Ilha dos Amores.
Paulo Borges

Luis Santos

(Referência Bibliográfica: Síntese de Apontamentos, Aulas de Filosofia em Portugal, Prof. Paulo Borges, 2009)

Iluminação de interiores


Lucas Rosa

sábado, 16 de outubro de 2010

Breve ensaio sobre a PERCEPÇÃO

Percepção:

Nome feminino

Acto ou efeito de perceber

Tomada de conhecimento sensorial de objectos ou de acontecimentos exteriores.

Resultado ou dados da percepção:

Noção; conhecimento

Figurado discernimento;

Percepção intelectual: acção de conhecer, pela inteligência ou entendimento, independentemente dos sentidos.

Certamente que há tempos bons e tempos maus, mas o nosso humor muda mais frequentemente do que o nosso destino. Nós provavelmente, não vemos as coisas como elas são, vemo-las como nós somos. Cada um tem uma percepção própria sobre um qualquer elemento que visualiza, quer real, quer abstracto. A percepção talvez seja uma tomada de conhecimento sensorial, e é provavelmente uma actividade consciente e portanto presupõe um estímulo que por sua vez deu origem a uma sensação. Assim, julgo que são todas as estimulações heterogéneas das diversas partes da retina que mudam constantemente enquanto o indivíduo se movimenta, o que nos dá a percepção global do meio que nos rodeia.O mundo está cheio de coisas mágicas que pacientemente esperam que a nossa percepção fique mais aguçada. Se as “portas” da percepção fossem limpas, tudo apareceria ao homem como realmente é: infinito. Assim é se lhe parece.

Corre Pé

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

d´Arte - Conversas na Galeria VII


Vai um copo?
Autor António Tapadinhas
Acrílico sobre tela 100x120cm

Fado, Malhoa, e o que mais adiante se verá...

Estava a jantar com minha mulher,
algo que não faço tantas vezes como devia
num restaurante de que eu gosto muito, porque para além da excelente qualidade da comida,
o que por si só, já seria um bom motivo para o frequentar
também aprecio o bom gosto das telas expostas,
são todas minhas
quando o meu amigo Bernardo, dono do restaurante,
curiosamente, quando estive no Rio de Janeiro, fiz questão de passar um dia na “Ilha do Bernardo”, para lhe trazer uma lembrança da “sua” ilha
me pediu para atender um senhor, construtor civil, que queria fazer-me um pedido.
normalmente é para ver se eu concedo um desconto nalguma obra exposta
Acedi, sem grande esperança. Afinal, estava redondamente enganado com as suas intenções!
acontece aos melhores!
O senhor queria que eu lhe fizesse uma tela, grande,
grande – substantivo, não, grande – adjectivo
para colocar na adega da sua casa, que seria inaugurada dentro de alguns meses.
Quando comecei a dar a desculpa habitual para me esquivar a aceitar compromissos,
estilo: “Não tenho tempo! Estou muito ocupado"

o senhor não quis ouvir as minhas razões
era construtor civil, lembram-se?
e disse-me que até tinha ideia do que queria. Aí eu fiquei atento!
construtor civil com ideias, coisa estranha!
Queria que eu fizesse um quadro ao estilo de Malhoa,
José Malhoa, pintor português, naturalista, 1855-1933
com aquela conhecidíssima figura da sua obra “Festejando o S. Martinho”.
repetida em reproduções baratas, ad nauseum
Achei um bom desafio: não tinha muita paciência para pintar como Malhoa,
à data da sua morte o seu estilo já era contestado pelos mais novos
mas como também não tinha dinheiro, resolvi aceitar a encomenda.
fiz mal como se verá!
Para não fazer uma cópia do óbvio, resolvi criar uma composição com duas obras de Malhoa e seleccionar cartazes da época
para o meu ego não ficar muito ferido
para pregar nas paredes da tasca onde se iria passar a cena.
Triste!
Para dar algum realismo às paredes, adicionei areia à tinta,
as pintinhas, suponho que parecem aquelas coisas que as moscas deixam nas paredes
e o claro-escuro do interior, mais escuro ainda, como é costume para ouvir os acordes plangentes da guitarra e os sons maviosos do cantor de fado.
e ninguém notar se quisermos dormir uma soneca!
Quando a obra ficou pronta, combinei com o meu amigo Bernardo, colocá-la no restaurante e o senhor construtor passar por lá para a poder apreciar em todo o seu esplendor. Adorou-a! Mas
há sempre um mas
não lhe convinha fazer mais despesas, naquela altura!
a crise toca a todos, não é? Menos aos pintores, acho eu...
E assim fiquei com uma obra que está exposta no “Restaurante Napolitano” do meu amigo Bernardo.
acreditam que já foi mandada guardar por um senhor que teve de sair para os Açores e ainda não apareceu?
Até hoje!

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Goa - 4º Curso

Vai a SOCIEDADE DE AMIZADE INDO-PORTUGUESA, GOA (SAIP-G) realizar o 4ºcurso de conversação em língua portuguesa destinado a adultos, para o que pretende recrutar Professor/a de nacionalidade portuguesa.

Organizado em grupos com o máximo de 15 alunos, o curso decorrerá em Panjim e em Margão (~35 kms) pelo que se torna necessário que os/as candidatos/as possuam carta de condução.

O curso decorrerá durante 2 meses com início em meados de Janeiro de 2011. Os/as candidatos/as deverão possuir habilitações literárias de nível superior.
Oferece-se: viagens, alojamento e remuneração.

Se se sente habilitado, envie-me os seus biodados para esta caixa de correio. Se não se sente habilitado, não hesite em divulgar a oportunidade junto de quem lhe pareça ter as habilitações convenientes.

Cumprimentos,

Henrique Salles da Fonseca
sallesfonseca@sapo.pt

Cativar

por Fernanda Leite Bião (1)

“[...] – Eu não posso brincar contigo – disse a raposa. – Não me cativaram ainda.
– [...] Que quer dizer ‘cativar?’.
[...] – É algo quase esquecido – disse a raposa. – Significa ‘criar laços’...
[...] – Que é preciso fazer? – perguntou o pequeno príncipe.
– É preciso ser paciente – respondeu a raposa. – Tu te sentarás um pouco longe de mim, assim, na relva. Eu te olharei com o canto do olho e tu não dirás nada. A linguagem é uma fonte de mal-entendidos. Mas, cada dia, te sentarás mais perto...” [...]

(Trecho do diálogo entre a raposa e o Pequeno Príncipe. In: SAINT-EXUPÉRY, Antoine de. O pequeno príncipe. 48. ed. Rio de Janeiro: Agir, 2009, p. 64-67. Tradução de Dom Marcos Barbosa.)

Na parábola de “O Pequeno Príncipe” (Capítulo XXI), de Antoine de Saint-Exupéry, o menininho se aproxima devagar, percebido é por ela – a senhora raposa. Faceiramente, munida de experiências marcantes da sua vida, ela se esconde, tem medo de ser caçada.
Mais passos são percebidos e os olhos da tal senhora estão ligados naquela criatura que se aproxima.
O menino percebe também um movimento e questiona quem seja. Assim começa o diálogo – estrutura de comunicação necessária ao estabelecimento de relações.
Em passos lentos, entre a necessidade de se esconder e de se mostrar, a permissão ao contato acontece. Um olhar curioso, um sorriso como sinal de intimidade e a capacidade de escolher começar, ou seja, recomeçar, de um novo começo sobre o conhecimento aprendido.
Sempre é tempo de experimentar novas possibilidades e novos olhares. Foi assim que a raposa medrosa permitiu ao menino curioso se aproximar. O medo dela se torna o prazer de tê-lo consigo e a curiosidade dele se torna o principio fundante para um novo olhar sobre a vida.
‒ Tu me cativas, menininho?
‒ Cativar, senhorinha?
‒ Sim, pois te esperarei. Você virá?
‒ Sim. Quero aprender a arte de brincar ‒ disse o menino.
A brincadeira é um jogo simbólico para a compreensão da vida. Uma fala representada por expressões de uma liberdade diferente.
Brincar de conquistar, brincar de cativar.
Olhos brilham e os corações se tocam. A respiração individual circunda no mesmo raio de espaço, tornando-se uma manifestação de relação.
Claro que preciso do outro. Do outro que também sou eu. Do outro que fui e do outro que serei.
A importância do outro está associada ao ato de cativar, de aproximar, de compartilhar vivências e florescer afetos.
Uma vez que o coração é tomado pela energia da presença de alguém, jamais terá o mesmo pulsar.
De pulinhos, esconderijos e aproximações, senhora raposa e o menininho passaram a se amar.
Do ato à vontade ou será da vontade ao ato?
É preciso movimento, persistência e a permissão do nascimento da vontade, para se estar junto a outrem. Vontade é o combustível para que o ato se torne realidade.
De ato em ato, o amor, que era só um desejo, um sonho, torna-se palpável, singular.
Conquistar é para as coisas. Nós, seres humanos, queremos é ser cativados!

(1) Psicóloga e Orientadora Profissional. Bacharela em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas).
E-mail: fernandabiao9@hotmail.com.

“CHAMO-ME SATIE, COMO TODA A GENTE”...




terça-feira, 12 de outubro de 2010

HÁ PINTASSILGOS NO MEU QUINTAL
COMENTÁRIOS
I


A.Tapadinhas disse...
As imagens que retiro dos pensamentos traduzidos em diálogo vão enriquecer o arquivo "As Minhas Imagens", que o meu cérebro vai guardando...
E ainda não apareceram os pintassilgos...
:)
Abraço,
António
luis santos disse...
Será um prazer acompanhar a riquíssima prosa do Luís em deambulações à volta do Pessoa. A música do Cage está bem ao nível da prosa e do prosado. Bem escolhida. Obrigado Jasmim D'Água.

A.Tapadinhas disse...
Estou a gostar dos Pintassilgos! Não no sentido em que gostava deles quando era criança...
rsrsrs


Razoavelmente novo? Direi que ninguém é suficientemente velho para morrer! Eu, pelo menos, irei morrer irrazoalvemente novo!
rsrsrs

"Quando vier a Primavera,
Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada."

Acho fabuloso alguém conseguir tornar interessante uma série de personalidades, considerando a dificuldade que temos em considerar aceitável (mesmo para os amigos!), uma só personalidade.
hehehe

Igualmente fabuloso, alguém efabular sobre essa circunstância e prender-nos, como um pintassilgo apanhado na rede...
:(

"Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.
O que for, quando for, é que será o que é."

Isto disse o Poeta, porque a outra disse que "estar vivo é o contrário de estar morto" (ou seria ao contrário?)
hehehe

As tuas palavras têm visgo...
:)
Grande abraço,
António
Luís F. de A. Gomes disse...
Viva companheiro,

Os pintassilgos, por enquanto, lá vão pardalando, mas tão só para que a sinfonia se forme, à medida que formos dando o ouvido à melodia. Esperemos que encante, porque é para isso que sempre vamos vadiando pelas florestas mágicas onde ainda palpita a tranquilidade de podermos viajar por dentro, mas esperemos também que inquiete que é precisamente o que apetece fazer quando de lá regressamos a este mundo pardacento em que se vai transformando o mundo corrente. E como não temos mais nada para atirar às montras desses quotidianos postiços, vai daí e... Pintassilgada com eles que é o que povo precisa -e não é por estar a pensar na mestria do Hitchcok que os lançamos.
Esperemos assim que a passarada vendavalize que é para tanto que tem as asas.

Vamos ver...

Aquele abraço,

Luís
A.Tapadinhas disse...
Espero que ao menos os pintassilgos apareçam, já que a Ofélia está a desaparecer numa nuvem de heteronimia...
rsrsrs

Abraço,
António
luis santos disse...
Uma boa reflexão essa do Pessoa ter-se cumprido como poeta, contra ser casado. Ou, por outras palavras, mais do que ser poeta ser poema. Ou, mais do que ser um só, simplesmente, ser muitos embora o que ele quisesse mesmo era ser todos. O nada que é tudo, pois claro.

Obrigado também pela música que tem sido de um extremo bom gosto.
Luís F. de A. Gomes disse...
Continuaremos pois a escutar o concerto do Colónia que foi, para meu gosto, excelente e vamos ouvi-lo até ao fim, com as palmas e tudo.

E foi assim companheiro, o homem foi mesmo um poeta, no sentido grego do termo, ele viveu como tal e isso implicaria, de facto, a menos que fosse pateta, a elaboração de uma obra literária, quer dizer, só para isto faria sentido viver como um poeta e é aí que está a dificuldade. Como conjugar isso com uma vida familiar razoável? Eis, neste modo de vida em que vivemos, um problema de sempre. E a solução nunca é fácil e quando é conseguida, pelo menos tanto quanto me é dado ver, estamos normalmente perante casos de sorte, felizmente, não tenho dúvidas em acrescentar.

Pois fico muito satisfeito agora por ele ter sido dado a tomar a opção que tomou e mesmo se esta lhe levou uns quantos bagacitos a mais para o fígado, mas lá está, esse é o nosso egoísmo de leitores que se deliciam com a poética e não só que ele nos deixou.
Para mim e não tenho nem por um lado a pretensão de conhecer o todo da sua obra e muito menos, por outro, de ter um vasto conhecimento da literatura mundial, portanto pelo menos avaliando pelos escassos conhecimentos que possa ter sobre esse domínio da cultura humana universal, diria que para mim é um dos grandes monumentos da literatura mundial de todos os tempos, está no panteão dos maiores, dos mais significativos e representativos do que se escreveu nas mais variadas línguas ao longo dos séculos. A "Chuva Oblíqua", por exemplo, será sentida como bela enquanto houver a nossa espécie de sapiens sapiens; atrevo-me a dizer isto e outros exemplos poderia acrescentar.
E isto sem embargo de não ter nada a ver com a mundivisão em que deu forma a todo esse trabalho e ainda menos concordar com a maior parte dos pressupostos da mesma, mas isso é uma questão de liberdade de pensamento e nunca nada alguém tem a ver com ela e seria uma simples cretinice dela fazer uma referência para avaliar uma obra literária, do Pessoa ou de quem que fosse.
Quem quer que queira fazer qualquer trabalho original no âmbito da literatura em língua portuguesa, não tem como escapar a pelo menos escutar as palavras do nosso Fernando, nosso porque meu e teu, de qualquer, nós portugueses que foi como tal que ele se expressou, mas ainda mais nosso porque de qualquer humano e nessa dimensão de todo o mundo. Ouvindo Pessoa, até um bosquímano será levado a pensar no que está no interior da sua consciência.

É o nosso mais ilustre desconhecido e isso é uma pena. Esperemos que esta conversa possa contribuir para despertar a curiosidade sobre a obra do poeta e pensador que foi o Fernando Pessoa. Se assim for com um único Leitor, darei os meus esforços por saldados e bastar-me-à para me satisfazer com o resultado.

Até lá, aquele abraço
velho companheiro
Luís F. de A. Gomes disse...
Meu querido primo,

O que é isso de atirar o olho à...
Ofélia alheia?!

Aquele abraço,
isto é que está aqui uma roda, também tu, velho companheiro

Luís
luis disse...
Aqui vai mais uma achega para manter viva a chama da obra do poeta e que também me ficou gravada na memória: "Ser tudo de todas as maneiras possíveis", o que, de certo jeito, justifica tanta heteronímia, o que vai dar no mesmo de ser o tal "nada"... Claro que o homem para lá de ser um medium assumido, segundo nos consta, inspirado nas ideias de Hippolyte Rivail (...), também terá andado muito pela filosofia oriental - Bhramanismo, Taoismo, Budismos (talvez tenha sido aqui que encontrou essa ideia de "nada"). Mas não ficou por aí e, ao que parece, O Livro da Serpente trás uma síntese pessoana que o distingue de tudo o resto, autor incontornável da filosofia lusitana, ocidental, mundial, mas ao que se sabe, nunca tenha sido um filósofo no sentido académico do termo.
E fazendo jus à nossa Revistinha aqui deixo um poema da Mensagem (sobre a alma portuguesa), o único livro que o poeta publicou em vida, só para não ter de ir agora ao sótão...

D. Dinis

Na noite escreve um seu Cantar de Amigo
O plantador de naus a haver,
E ouve um silêncio múrmuro consigo:
É o rumor dos pinhais que, como um trigo
De Império, ondulam sem se poder ver.

Arroio, esse cantar, jovem e puro,
Busca o oceano por achar;
E a fala dos pinhais, marulho obscuro,
É o som presente desse mar futuro,
É a voz da terra ansiando pelo mar.

Aquele Abraço.
Luís F. de A. Gomes disse...
"(...) autor incontornável da filosofia (...)" (...) "(...) nunca tenha sido um filósofo no sentido académico do termo."

Essa é a dimensão maior da obra do homem e é o que o coloca no Olimpo dos maiores vultos da literatura mundial; ele escreveu filosofia com a sua poesia. Salvaguardo sempre a irrelevância de estarmos ou não de acordo com o seu pensamento e, claro, sem estar a fazer a apologia do que quer que seja. Mas sobre isto não me adianto pois, se a memória não me engana, no próximo post, creio que o recém-chegado à conversa falará precisamente disso. Prefiro que seja(m) ele(s) a di9zer.
Ainda assim, sobre este aspecto, não resisto a lembrar o que li a uma Senhora de um outro blogue –Restolhando- a respeito da universalidade do seu pensamento por via da abrangência das ideias que expressou na sua poesia. Esta troca de palavras sucedeu depois de ter completado e revisto o “Há Pintassilgos…”, embora reconheça que não desdenharia mesmo nada incorporá-la na sequência de ideias que aí se apresentam. Sustenta a Josefa Faias, assim é o seu nome, uma das razões por que o Fernando é tão entendido é o facto de ter expressado sentimentos, sensações, ideias, visões em que muitas pessoas se podem rever. É uma ideia elegante, digo eu, na minha modesta opinião. E atrevo-me a acrescentar que tal decorreu precisamente do facto de ele ter justamente conseguido expressar essa tal reflexão filosófica sobre o Ser, o âmago da nossa humanidade e é aí que reside a sua grandeza literária. Depois há toda uma obra que é vasta e multifacetada e que está aí para que nos possamos deleitar com ela e a partir dela pensarmos no ser que somos, coisa que em todos os tempos a humanidade fará, mesmo que volte a ter que fazer a guerra com os paus e as pedras dos seus primórdios. E por isso Fernando Pessoa está para o futuro com um Esquilo está para o presente e o futuro também pois os universais sempre terão o entendimento de todos os tempos.
Noutros países, depois das teses na Universidade, dos laicos estudos mais ou menos profundos e das mil e uma citações, um monumento como o Pessoa, isto é, uma peça do património cultural –da Humanidade, não podemos esquecer disso- como ele, seria também há muito um direito comercial.

E vamos indo que a propósito desta nossa conversa e daquilo que escreveste e acrescentaste ao que no se vai dizendo no “Há Pintassilgos…”, tive uma nova ideia e vai daí uma homenagem ao Largo da Graça, o original que antecipou os tempos e que foi ideia tua.
À semelhança do que então fizemos ou, para ser mais exacto, ao que íamos fazendo de uns fascículos para os outros, se bem te recordas, quando terminar o texto, acrescentarei um último post com o conjunto dos comentários que forem aparecendo ao longo da história.
Eu até tinha decidido que no último post, e para que ficasse completo, publicaria imediatamente antes um outro em que apresentaria a bibliografia deste trabalho que existe como parte do mesmo no texto original.
Mas agora decidi que depois do post em que se lerá a palavra fim, a combinação com o post da bibliografia será o conjunto de comentários que aqui surjam. É isso que vou fazer e estou a escrever isto como o faria numa nota pessoal, para que não me esquecesse. Dessa forma terminará esta minha colaboração neste blogue –sem prejuízo de que possam haver outras que, de qualquer forma, não conto vir a fazer sem que os pintassilgos batam a asa.

E pronto, com esta decisão termino e deixo aquele abraço
luis santos disse...
D. Fernando
Infante de Portugal

Deu-me Deus o seu gládio porque eu faça
A sua santa guerra.
Sagrou-me seu em honra e em desgraça,
Às horas em que um vento frio passa
Por sobre a fria terra.

Pôs-me as mãos sobre os ombros e doirou-me
A fronte com o olhar;
E esta febre de Além, que me consome,
E este querer grandeza são seu nome
Dentro em mim a vibrar.

E eu vou, e a luz do gládio erguido dá
Em minha face calma.
Cheio de Deus, não temo o que virá,
Pois, venha o que vier, nunca será
Maior do que a minha alma.

(In, Mensagem.)
A.Tapadinhas disse...
É isso mesmo! Explica ou define lá isso do anti-moderno.

Espero que também sirva para a minha paixão: a pintura...
:)

Abraço,

Luís F. de A. Gomes disse...
Bem, não seria bonhito se me adiantasse à personagem que, na próxima terça-feira, dará essa explicação.

Mas não me parece que se possa aplicá-la à pintura.
Eis neste útlimo caso um domínio em que pouco mais sou que um simples ignorante. Do ponto de vista técnico sê-lo-ei, de todo e do ponto de vista histórico não andarei muito longe disso. No âmbito daquilo que se poderá designar por teoria da pintura -e nem mesmo estou seguro de ser esta uma linguagem certa e adequada- estou a leste de tudo. Tudo o que possa dizer a esse respeito resulta do facto de gostar de ver e ter visto pintura por esses museus fora e pelas mais variadas exposições de arte que tenho vindo a ver ao longo da minha vida. Nada de baseada em estudo e muito menos qualquer procura com um mínimo fr rigor documental e metológico.
Ainda assim não me parece que entre os pintores e ao nível da pintura que se fez -e aqui restringimo-nos só a este cantinho do mundo que genericamente e só por questões de linguagem de conversação poderemos designar por cultura ocidental, nela englobando as tradições europeias e as que delas resultaram entre as populações de igual origem no novo continente- tivesse havido um movimento artístico que recusasse, por pressuposto e por base de pensamento, o legado da chamada modernidade, isto é, toda a explicação do mundo fundamentada a partir do legado científico. Não sei, mas pelo menos nunca ouvi falar em tal.
A anti-modernidade -salvo seja a expressão- de que se fala relativamente ao Pessoa estabelece-se na recusa expressa dessa tradição enquanto válida ferramenta para entendermos o Homem e toda a problemática que sejamos capazes de colocar a respeito da sua dimensão no Universo. Só isso e não se pode dizer que tenha sido um caso isolado nos contextos da literatura e da produção de pensamento da época. Ora não sei se isso também se passou na pintura e com pintores. Desconheço por completo tudo o que possa haver a esse respeito.
Enfim, como soe dizer-se, não se pode ter tudo.

Aquele abraço, companheiro

Luís


A.Tapadinhas disse...
"Podemos incorrer naquilo a que eu particularmente costumo chamar como o defeito do olhómetro".

Permito-me discordar! Se não tivéssemos esse defeito, seríamos um povo completamente diferente, atrevo-me a dizer, menos importante no contexto universal. Grande parte das nossas conquistas não têm qualquer razoabilidade, digo, preparação científica. E nem estou a pensar, especialmente, nos Descobrimentos, porque nessa altura, éramos mesmo os que mais sabíamos...

O português com essa capacidade mais evidente foi (é) o Camões: via mais com um olho do que outros com os dois...

Muito estimulantes, intelectualmente, os pintassilgos... Quem diria!

Traduzindo para a pintura. Todos os temas são bons para pintar, a diferença está no pintor. Tu pintas ideias!

Grande abraço,
António
Luís F. de A. Gomes disse...
E no sentido em que discordas partilho a tua opinião, se bem que por formação académica, naturalmente, tenha em conta toda a importância da comensuração e da verificação empírica dos dados e, obviamente, cuide sempre de procurar verificar o sentido de verdadeiro ou falso para as proposições que utilize num discurso e, portanto, seja normalmente dado a ter o tal olhómetro sob vigilância.
Contudo não me parece que seja exactamente nessa perspectiva em que colocas a tua discordância, antes no sentido de ter sido essa uma das maneiras com que os portugas afinal conseguiram atingir certos resultados que, se tivéssemos em conta os requisitos e aparatos científicos para as alcançar, de modo algum se esperaria que eles conseguissem. Inteiramente de acordo com isso e para não irmos mais longe, é simples de entendê-lo se tivermos em conta que afinal até temos cientistas de renome nas mais variadas áreas, da mesma maneira que temos empresas que produzem tecnologia de última geração igualmente em sectores diversos, apesar do ensino miserável que proporcionamos às nossas juventudes. Para além disso, sempre tivemos brilhantes matemáticos -esquece-me aqui, sem recurso à minha biblioteca, o nome de um que se correspondeu com Einstein, por exemplo- e físicos que apenas o nosso nacionalismo pitoresco não é capaz de ver e compreender e em conformidade não destaca. Mas isso deve-se justamente ao facto de não termos na nossa natureza qualquer atavismo que nos inferiorize em relação aos outros povos e, em condições normais, também nós sermos capazes de proezas interessantes. Aliás, creio que isso é para mim a melhor prova da mediocridade e isto para só considerar o plano intelectual do caso, estava a dizer que isso é a melhor prova da mediocridade das nossas elites de poder que, mais que quaisqueres outras, deveriam saber a importância que um bom sistema de ensino tem nas condições que proporciona para que haja um bom banco de cérebros no contexto de uma população; dois séculos depois da aposta que D. Dinis fez na formação -universitária e de carácter prático no que às artes de marear diz respeito, no primeiro caso com a reforma que elevou os Estudos Gerais a Universidade e, no segundo, com a chamada de um almirante genovês para reformar a nossa marinha e tratar do ensino das novas técnicas usadas no sector- lá conseguiram os nossos antepassados um feito que haveria de mudar o mundo e que ainda hoje nos mantém à conversa e que de Portugal fez por mais de um século uma grande potência naval e militar no mundo de então, mas também científica e no plano das ideias em geral -Spinoza é de origem portuguesa, é bom não esquecer- e, no patamar da economia, ao nível do comércio também. Mas isto são pormenores no dizer corrente em que o que mais conta são, como dizem os Valentins Loureiros da nossa tristeza, os assuntos mais importantes e é aí que a massa entra e abafa tudo o que possa estar sobre a mesa, escorrendo sempre para o lado do bolso -só de alguns... Enfim, ganâncias de poucos que cerceiam as possibilidades de muitos e essa é um mal de que não nos temos sabido livrar.

(continua)
Mas aquilo que dizes de Camões é outra prova indirecta do que acabei de dizer e até posso acrescentar mais algumas palavrinhas.
Sem embargo do que referi quanto ao facto de termos tido sempre cientistas que ombreiam com os melhores do seu tempo, a verdade é que por tradição derivada de um trabalho de produção continuada e acarinhada pelos por quem de direito, há muitos séculos que os portugueses estão arredados dos momentos mais significativos da história do conhecimento e isto quer em termos científicos, quer em termos filosóficos. Não é por acaso que, neste último aspecto, os nossos melhores filósofos foram poetas e entre esses, justamente, Camões é um deles. Não entro aqui nem mesmo teria sabedoria para o fazer, fosse onde fosse, na discussão de saber se certos sonetos que tomamos como camonianos são de facto obras de sua autoria ou simples traduções de outros poetas, mormente de Dante e Petrarca; Jorge de Sena, entre outros, chama-nos a atenção para isso. Seja como for, uma peça como “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades…” é uma verdadeira síntese filosófica de um modo de ver o mundo e, por sinal, bem acutilante e que permanece moderna, não será assim? E como este, muitos outros exemplos poderíamos encontrar na lírica do nosso Luís Vaz que nos permitem dele dizermos ter sido também um bom filósofo. Coisa que, pelo menos é disso que até aqui o “Há Pintassilgos…” tem tratado, aconteceu com o Fernando Pessoa, para mim, um dos vultos maiores –tal qual o de “Os Lusíadas”- da literatura mundial.
De resto, os nossos pensadores são muitíssimo modestos e não há uma única ideia que deles tenha saído e que se possa dizer, aqui está, um contributo que teve este ou aquele impacto no domínio da moral, da ética, da epistemologia e por aí fora e que veio a abrir novas vias de pensamento em tal área. Temos o Padre Vieira, mais perto de nós um Sampaio Bruno ou um Sérgio e na actualidade um Eduardo Lourenço ou um José Gil mas… Estão à medida da nossa dimensão cultural.
Mas é por isso que apesar destes constrangimentos às suas capacidades, os portugueses até têm conseguido resultados no mínimo interessantes e sem mais que olhómetros para conseguir avaliar as coisas e nesse sentido concordo com a discordância que expressaste.

Quanto ao resto esperemos que a leitura continue a ter interesse que, até que a tarde termine, ainda muita coisa haverá de ser dita e isto não porque eu ache que tenha alguma coisa a dizer a alguém –e ainda menos nos temas que se seguirão e antes de tudo pelos motivos que se compreenderão com toda a facilidade- mas antes por achar que as pessoas não perderão nada em pensar, sentido em que esta conversa pretende ser um convite.

Aquele abraço, companheiro

Luís

A.Tapadinhas disse...
Sabes o que mais me espantou quando comecei a descobrir Pessoa?
???
Foi a sua capacidade de traduzir em palavras que até eu entendia (!) os grandes problemas filosóficos do Ser intemporal.

Não precisava, como acontecia com outros autores, de ler dez vezes o texto, de procurar dicionários e interpretações de especialistas, que em vez de facilitar apenas "complexisavam" o que já era difícil de entender.

No meu blogue, tenho leitores do Brasil, de Espanha e das américas, que sabem quem é Pessoa, o citam e o admiram...

Ele é mesmo universal!

Abraço,
6 de Maio de 2010 11:41
Luís F. de A. Gomes disse...
Como não admirar o que é universal?
E belo, não tenho qualquer dúvida em afirmar, de uma frescura, de uma musicalidade até de uma transparência de imagem que sempre me esmagou quanto o fazem certas pinturas que vejo uma e outra vez e perante as quais sempre tenho a sensação de estar perante algo transcendental. Pessoa, na poesia, foi e continua a ser isso, belo, universal e de uma argúcia ímpar.


E subscrevo o que dizes quanto à sua capacidade de fazer simples o que outros manifestamente têm tanta dificuldade em exsplicar. Aliás, creio que aí reside outra das suas grandezas, se assim posso falar e já aqui falei a esse respeito, citando alguém -Josefa Paias- que me permitiu entender a razão de ser assim; é que ele foi capaz de transmitir ideias, sentimentos, sensações, dores com que muitos humanos se identificam e logo a universalidade, mas a profundidade do escrutínio também.

Infelizmente, entre nós, ainda podemos falar dele como um ilustre desconhecido. Enfim...

Aquele abraço, companheiro

Luís

A.Tapadinhas disse...
"Você repare que o homem ainda vive escravizado pelas questões materiais da sobrevivência...
...e podemos dizer que tudo se resume ao facto básico de os seres humanos terem que ganhar a vida para sobreviverem."
Em que fase estaria a evolução da humanidade se não tivéssemos de dedicar metade do tempo de cada dia à nossa sobrevivência?
Não devemos esquecer que foi dedicando as 24 horas do dia à sobrevivência que chegámos aqui!
:)
Bradbury é mais conhecido pelas suas obras Crónicas Marcianas
(1950) e Fahrenheit 451 (1953). Não sei se és apreciador de fc. Eu sou.
Ele tem um conto (acho que é dele) em que um polícia da Terra é requisitado para ir a um planeta superdesenvolvido para resolver um crime. Essa civilização estava tão avançada que os homens viviam completamente isolados, comunicando entre si só através da televisão. No entanto, apesar disso, um dos habitantes desse planeta apareceu assassinado. Teve de ser um terráqueo primitivo (ainda por cima polícia!) a resolver o crime, acto que não havia memória de alguma vez ter acontecido.
Moral da história: Afinal, aquela sociedade não era perfeita!
Haverá alguma?
Abraço,
António
Luís F. de A. Gomes disse...
Bastante e uma memória que tenho foi o dia que faltei à escola para ficar a ler "A Máquina do Tempo" do H. G. Wells que só fui capaz de abandonar depois de devorada a última linha. Aliás, em jeito de homenagem a essa minha paixão -que ao nível do cinema ainda é maior- tenho até a minha modesta passagem pelo género no âmbito do teatro, com um pequeno conjunto de peças todas elas classificáveis no domínio da ficção científica.

Também eu não acredito em sociedades perfeitas e creio que jamais a Humanidade que somos o conseguirá atingir. Trata-se de um paradigma, mas não temos como o alcançar e isso tão só pelo simples facto de não sermos, nós próprios, seres perfeitos; ora a equação seria, como é que seres imperfeitos conseguiriam dar origem a mundos perfeitos? Parece-me que a resposta tem de recair sobre a impossibilidade.
É digamos, essa a lição da parábola de Babel que, mais do que nos dar o mito da origem das línguas, como agora alguns estudiosos pretendem, parece-me a mim que reflecte precisamente sobre a nossa imperfeição de seres naturalmente condicionados pela contingência do erro.
O que, por sua vez, não quererá dizer que não tenhamos por bom um tal paradigma. Pretendermos atingir a perfeição terá sempre como consequência que tentemos atingir o melhor e isso é bom, é, bem vistas as coisas, uma das principais molas do progresso que os homens têm conseguido desde que a mamãe Eva saiu de África à aventura de colonizar o resto da superfície terrestre.

Mas é assim, o trabalho continua(rá) a ser esse barrote que se nos entalou entre os dentes e não conseguimos remover, pois o problema seria sempre esse, qual a alternativa? E a verdade é que até aqui não existiu e se quisermos ser minimamente sérios, deveremos admitir que aqueles que se esfalfaram na labuta do trabuco foram aqueles que melhores resultados têm conseguido no domínio do respeito pela dignidade que cada um traz dentro de si quando nasce. Lá está, ganharás o pão com o suor do teu rosto...

É claro que hoje em dia vivemos no limiar de um mundo novo, quiçá com a probabilidade de os homens deixarem de ser escravos dessa obrigação de sobreviver, mas isso seria outra conversa que, possivelmente, até haveremos de continuar, mas, por agora, fiquemo-nos por aqui.

Aquele abraço, companheiro

Luís
luis disse...
...quantos homens de elite nasceram de homens comuns? E quantos homens comuns nasceram de homens de elite?

Será que temos todos um antepassado comum como dizia, por exemplo, o Darwin? Ou será que não?

Aquele Abraço,
Luis Carlos
Luís F. de A. Gomes disse...
Pois é, amigo, esse é um dos problemas, "(...) quantos homens de elite nasceram de homens comuns?" e é por isso que são tão importantes os princípios e os mecanismos da justiça social. O(s) mito(s) de um qualquer homem novo nunca deixou de se acompanhar pelas maiores desgraças.

E temos esse antepassado comum, sim, alhures a(s) molécula(s) que ter(ão)á adquirido as propriedades daquilo que convencionamos chamar vida e a partir da(s) qua(is)l explodiu e se expandiu esta maravilhosa aventura em que às páginas tantas aparecemos, mais não fosse para pudermos desfrutar tamanha beleza.
Curioso é saber que toda essa matéria se formou nos cataclismos das fornalhas cósmicas estelares o que de nós faz verdadeiros filhos das estrelas que, por isso, quase se poderiam designar como as nossas antepassadas comuns. Darwin, esse, ficou fascinado quando reparou nisso e só lamentou já não estar entre nós para se espantar na estranheza dos nossos rostos.

Aquele abraço, companheiro
A.Tapadinhas disse...
Tenho andado por outras paragens, a minha mente ocupada (o disco rígido já tem pouco espaço disponível) e, por isso, tenho deixado passar sem comentários os dois últimos capítulos.

Continua em crescendo, diria, o duelo de palavras e de ideias. Não sei como irá acabar ou talvez (quem sabe?) nem acabe...

Não há engenharia genética que nos valha: os pintassilgos, que é o nome vulgar dado às aves do género Carduelis, são mais (bonitos) perfeitos. Hesitei entre os dois adjectivos: um servirá para qualificar a estética outro a função e qualquer deles é aplicável. Quando era moço e andava a caçar pássaros com a fisga, embora lhes atirasse a pedrada, fazia para não lhes acertar! Já sabia que ficava cheio de pena!

Abraço,
António
Luís F. de A. Gomes disse...
E há ainda quem duvide que as conversas são como as cerejas... Afinal tudo começou pela observação a respeito da ousadia de alguém querer escrever uma obra literária, afirmação que, de tão singela, poderia muito bem ter morrido logo ali, com uma simples palavra de anuência.

Por acaso fui armador de pássaros, com o amigo Luís Carlos e o saudoso Chico de boa memória, Francisco José Gonçalves, filho de Belmiro e Branca Gonçalves, gente de coração fundo e cérebro sadio que do trabalho tirou o pão e o agasalho sem alguma vez se curvar perante borrascas e ferimentos na alma e que na vida deixou um rasto daqueles em que florescem cores e húmus que persistem em não fazer mal a ninguém. E sempre de contas direitas que há visões de antanho que permanecem sem prazo de validade. Era na casa dele que tínhamos as ferramentas da arte, no quintal de uma casa térrea de chão acimentado mas já com luz eléctrica e casa de banho própria o que, para a época, representava a melhoria de uma condição de existência que as vicissitudes de um mundo injusto haviam trazido de outro abrigo onde o mínimo do conforto fora assegurado pelo braço determinado dos próprios. Lembro-me como para o Chico foi isso encarado como um prémio merecido de uma vida de trabalho árduo e ininterrupto. E era pois da casa dele que, nem sempre antes do Sol nascer como recomendavam as boas regras, lá partíamos para nos camuflarmos nas ervas e esperarmos que os livres se deixassem enganar com o ardil de uma qualquer coisa melhor, ouvindo o silêncio da brisa e, quando era o caso, das conversas entre as ramadas, tendo os céus por cenário e a erva da lezíria por horizonte. Era esse o preceito e se bem me recordo, junto da concorrência, o Chico gabava-se de ter a melhor negaça do mundo, uma lugra magnífica que era um espanto de ver, até pestanejava o asame sem que do toque da sua mão precisasse e o Chico que era magro de se contar costelas, inchava de gordo quando dizia estas coisas ao Vladimiro ou até entre os homens mais velhos, entre quem convivia nas noitadas de tabernice na sede do Grupo Columbófilo, onde era sócio e concorrente de outros que, por sua vez, diziam possuir os pombos mais rápidos e resistentes de que havia memória. Não ali, em outro local mas que era frequentado pela mesma espécie de gente alpercatada e de calças de ganga calejadas de carregamentos e outros esforços, a taberna do Martinho que já ia em cento e tantos anos de descontos para a caixa de previdência, aí, estava a dizer, houve até alguém que revelou ter um pombo que fazia a viagem ao Porto, com ida e regresso, nuns escassos quinze minutos. Aquilo é que era uma vida.
Infelizmente esse irmão de sempre partiu novo para a Eternidade, mas tenho a certeza que ainda hoje ele andará a pensar como é que se escapou um bando que havíamos conseguido levar à rede e sobre o qual ele aterrou depois de um voo de golfinho para evitar que as redes, vá lá saber-se porquê, não haviam fechado bem, deixassem fugir os pintassilgos que assim se ergueram em mancha e, zombeteiros, pois então, se reencontraram com a liberdade de caírem nas garras de algum gato, para desespero do nosso companheiro. E assim foi e hoje tenho para mim que se tratou de um final feliz, pois apesar de morrer novo, o meu querido amigo Chico viveu como quis.

E com esta memória do Francisco José Gonçalves me vou, não sem deixar aquele abraço

Luís
A.Tapadinhas disse...
Depois de ler o texto, dei por mim a pensar que talvez seja mais fácil tentar provar que Deus não existe!

Se, sendo mais fácil, ainda assim a prova não for concludente, quererá dizer que, afinal, Deus existe, uma vez que o contrário não pode ser provado?

Einstein talvez tenha partido deste princípio para a teoria da relatividade. O princípio absoluto que escolheu foi que nada pode superar a velocidade da luz, o que foi verdade durante muitos anos e hoje já não é. Não sendo verdade, serviu como tal e com resultados muito relevantes para a humanidade.

Exista ou não, Deus faz falta a todos nós, quanto mais não seja, para termos escolha!

Viva a democracia!
rsrsrs
29 de Junho de 2010 10:56
Luís F. de A. Gomes disse...
Sobre Ele não me pronunciarei, pelo menos agora ou por esta ocasião, deixo essas palavras às personagens que seguramente são mais inteligentes que eu e terão, certamente, mais conhecimentos do que eu na matéria.

Já quanto à democracia é isso mesmo, viva ela que sempre nos deixa em aberto a possibilidade de escolher ainda que a realidade não seja assim tão simples, mas isso seria e terá que ser uma longa conversa. Não digo propriamente dito neste espaço das caixas de comentários mas este da blogosfera, será, sem dúvida alguma, uma das praças em que isso pode e deve ser feito, quanto a mim, é claro.
E devo acrescentar que não partilho a ideia de que aquela seja a menos má de todas as formas de regime político pois, quer enquanto isso mesmo, quer enquanto modo de vida e, como tal, expressão civilizacional, sou daqueles que afirmam que a democracia é, apesar de tudo, o melhor dos regimes e a melhor maneira de viver; como não acredito no proselitismo, ressalvo que isso é assim na minha modesta opinião pois aceito que outras preferências sejam justificadas e, não direi igualmente válidas mas acrescentarei, exequíveis (?), se bem que não esteja certo de seja este último termo o mais adequado.

Aquele abraço, companheiro

Luís
Anónimo disse...
A democracia é o regime das maiorias de "tolinhos", incluindo algumas facções (só para não meter tudo no mesmo saco) dos "Super Dragões" e dos "No Name Boys", onde a demagogia ganha quase sempre.
Luís F. de A. Gomes disse...
"A democracia é o regime das maiorias de "tolinhos", incluindo (...)" os anónimos que têm todo o direito a expressar as suas opiniões, inclusivamente de negação da mesma, ainda que o não tivessem nas alternativas que, naturalmente, presumo, pressupõem a total liberdade de expressão.

Quais são as alternativas à democracia? Partimos sempre do princípio que aprender não ocupa lugar pelo que somos todos ouvidos.
Anónimo disse...
caro senhor
a democracia é uma coisa para se ir construindo todos os dias. há-de chegar o dia que deixará de ser democracia para passar a ter outra qualquer designação, como tudo na vida a sujeição à permanência é absoluta. são tantas as alternativas à democracia, não é verdade? umas melhores que outras, de acordo e até poderão vir misturadas. mas preservemos as liberdades enquanto bem a não alienar.
Anónimo disse...
perdão. onde se diz permanência deverá ler-se impermanência.
Luís F. de A. Gomes disse...
Estamos pois esclarecidos.

Muito obrigado por nos lembrar a lei da mudança que está subjacente à matéria e, como tal, a tudo neste Universo em que vivemos.

Aprendemos ainda que a democracia se constrói todos os dias e que, para ela, existem muitas alternativas que "(...) até poderão vir misturadas. (...)"

E ficámos a saber que a liberdade é um bem "(...) a não alienar."

Bem-haja por tanta sabedoria e pela elevada generosidade de a partilhar connosco.

Há que repeti-lo, agradecemos

Luís F. de A. Gomes