domingo, 13 de março de 2011

Carta de Navegação

Em primeiro lugar há que Acreditar
na forma redonda em que se ergue uma onda
no som da espuma quando se espreguiça
no certo respirar do mar

Depois vem a simplicidade do Olhar
paz que se afirma em crença alheia
infinitas maneiras de não ser
olhos nos olhos, doce feitiço de almas gémeas

A seguir, criar o jeito de não iludir
não furtar o que se desajustou
de Alguém que canta quando dança
e ao dançar reconhece o caminho

Logo virá o dom de não dizer mal
maldição no maldizer, triste
de quem jura falso testemunho
cadáver adiado que se anuncia

E ai do que se atreve a matar
porque esse haverá de morrer
sobras do sofrimento em que agiu
queda profunda nos abismos da mente

E se mente e não se redime
não sonha com substancial vacuidade
não conhece a doce ilusão da vida
e tenta explicar mais do que sente

pensa que sabe quando escreve
não ouve o silêncio do coração ao bater
não acerta o passo ao marchar
e, sobretudo, se Deus não o chamar

Então, de pouco lhe valerá a música,
musa única.


Luis Santos
5/3/2011

2 comentários:

A.Tapadinhas disse...

Perdi-me com a tua carta de navegação, nas tuas ondas com som de espuma que se precipitam nos abismos da mente.

Talvez porque o som do coração a bater, não deixe ouvir a música.

Ou, quem sabe, a musa se tenha retirado, reformado, por ter perdido o prazo de validade...
:)
Abraço,
António

luis santos disse...

Nada de mais razoável. As pinturas, os poemas, a forma como nos revemos neles, ou não, é que vale. Também é possível estarmos fora da validade. Mas em qualquer carta de navegação, o melhor será ajudar-nos a encontrar o caminho. Como há muitas, quando uma não serve tratamos de arranjar outra. Como se vê, eu gosto de navegar à bolina, quer dizer, ir em frente aproveitando até a força de ventos contrários. E foi assim que, vindos da Índia, chegámos ao Brasil, ao Japão, ao Tibete. Ou seja, não chegámos muito longe.

Abraço.