Em primeiro lugar há que Acreditar
na forma redonda em que se ergue uma onda
no som da espuma quando se espreguiça
no certo respirar do mar
Depois vem a simplicidade do Olhar
paz que se afirma em crença alheia
infinitas maneiras de não ser
olhos nos olhos, doce feitiço de almas gémeas
A seguir, criar o jeito de não iludir
não furtar o que se desajustou
de Alguém que canta quando dança
e ao dançar reconhece o caminho
Logo virá o dom de não dizer mal
maldição no maldizer, triste
de quem jura falso testemunho
cadáver adiado que se anuncia
E ai do que se atreve a matar
porque esse haverá de morrer
sobras do sofrimento em que agiu
queda profunda nos abismos da mente
E se mente e não se redime
não sonha com substancial vacuidade
não conhece a doce ilusão da vida
e tenta explicar mais do que sente
pensa que sabe quando escreve
não ouve o silêncio do coração ao bater
não acerta o passo ao marchar
e, sobretudo, se Deus não o chamar
Então, de pouco lhe valerá a música,
musa única.
Luis Santos
5/3/2011
2 comentários:
Perdi-me com a tua carta de navegação, nas tuas ondas com som de espuma que se precipitam nos abismos da mente.
Talvez porque o som do coração a bater, não deixe ouvir a música.
Ou, quem sabe, a musa se tenha retirado, reformado, por ter perdido o prazo de validade...
:)
Abraço,
António
Nada de mais razoável. As pinturas, os poemas, a forma como nos revemos neles, ou não, é que vale. Também é possível estarmos fora da validade. Mas em qualquer carta de navegação, o melhor será ajudar-nos a encontrar o caminho. Como há muitas, quando uma não serve tratamos de arranjar outra. Como se vê, eu gosto de navegar à bolina, quer dizer, ir em frente aproveitando até a força de ventos contrários. E foi assim que, vindos da Índia, chegámos ao Brasil, ao Japão, ao Tibete. Ou seja, não chegámos muito longe.
Abraço.
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