AO VOLANTE DE UMA COMBI
Centenas de quilómetros pelo interior do Mato Grosso. Céus, como são grandes as distâncias neste reino.
A terra cor-de-laranja entranha-se-nos nas narinas.
Viajamos numa decrépita station volkswagen e a canícula impõe as janelas abertas.
Caminhos de areia e o desconforto de assentos com molas erodidas por uma vida de solavancos.
Mas a paisagem compensa.
Seja pelo verde do sertão que nesta época do ano está sequioso, seja pela exuberância da floresta tropical, a milhas mesclada por povoados de ruas rectilíneas e largas, sempre pintalgadas por casas térreas de cores berrantes.
As aves selvagens, essas, vão aparecendo em qualquer lugar.
Por aqui e ali moradas de caboclos, em madeira e muitas delas com alpendre, quasi todas envilecidas.
À noite avista-se a grandiosidade da Via Láctea, mas no interior da selva húmida pantaneira, as estrelas têm o acompanhamento de uma milhena de sonidos, alguns indistintos, saídos da vida que por lá brota de todos os lados.
Do alto da Chapada dos Guimarães, perto do marco geodésico que, segundo os locais, assinala o centro do continente sul americano, distingue-se bem uma das delimitações do planalto central brasileiro.
Aí, o desnível que se expressa em forma de canyons, está infestado com uma florestação densa e de grande porte, adornada e alimentada pelas cascatas de cujas águas se alimenta a rede hidrográfica que dá forma ao Pantanal.
Cuiabá, 31 de Julho de 1995
2 comentários:
Tenho de fazer um paralelismo entre o que descreves da região pantaneira, que não conheço, e uma outra que conheci, para mal dos meus pecados e bem das minhas memórias: a região da serra do Uíge, Norte de Angola.
"Céus, como são grandes as distâncias...".
"A terra cor de laranja entranha-se nas narinas."
"Caminhos de areia e o desconforto de assentos com molas erodidas por uma vida de solavancos.
Mas a paisagem compensa."
...E podia continuar!
Não estou a querer dizer que ao conhecer-se o interior de Mato Grosso, se fica a conhecer Angola ou qualquer outra zona do globo...
Há uma coisa de que eu tenho a certeza, se continuarmos no mesmo hemisfério: a Via Láctea continua linda!
Abraço,
António
Infelizmente, nos sítios onde residimos, não temos qualquer possibilidade de gozar esse espectáculo luminoso que é o céu nocturno em que se nos oferece a Via Láctea.
Mas compreendo o que dizes, é claro e do ponto de vista da geologia, não será assim tanto de estranhar o paralelismo que encontras com os chãos de Angola que, pela minha parte, não conheço. Afinal, há continuidade entre terrenos de África e do Sub-Continente Sul Americano que já estiveram unidos na Pangea.
Espaços selvagens, no sentido de permanecerem paisagens físicas pouco ou nada alteradas pela humanização, talvez seja daí que decorre o paralelismo de que falas e que eu não deixo de ser tentado a adivinhar.
Recortes desta nossa maravilhosa casa comum que é a Terra.
Aquele abraço, companheiro
Luís
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