quarta-feira, 30 de março de 2011

d´Arte - Conversas na Galeria XXXI


Amarras Autor António Tapadinhas
Óleo sobre Tela 60x100cm

Continuando a dar notícia da minha expedição fotográfica de que resultou a série que tenho estado a apresentar, chegou a altura de mostrar os elementos que mantêm a unidade entre a terra firme e o elemento líquido: os cabos. Neste caso, apresentam as mazelas naturais de uma vida de trabalho com o salário baixo (para ser mais verdadeiro, sem salário), sem benefícios sociais, mas com uma força que resistiu a todas as provas, embora sejam nítidos os sinais dessa vida de trabalho: diríamos rugas, se os cabos tivessem qualquer coisa de humano. O quadro mostra o casco do navio, corroído pelo sal e intempéries, apesar de levar tintas especiais contra a corrosão, com os cabos em primeiro plano balançando ao sabor da brisa.
Para ser verdadeiro, não me lembro se havia brisa e não sei sequer se ela conseguiria mexer os cabos. Considerem a frase uma liberdade poética…

2 comentários:

Luís F. de A. Gomes disse...

As cordas incansáveis que sempre permitiram segurar os barcos com que os homens se atiraram ao mundo e, curiosamente, sem as quais jamais a nossa espécie teria conseguido libertar-se da tirania da superfície.
A corda que nos recorda esse clássico de Hitchcock em que se reflecte sobre a inalianável singularidade da vida, paradoxalmente, símbolo da morte pendurada, igualmente essa invenção que anonimamente se perde na noite dos tempos, tal qual a simplicidade da roda, contudo, sem a qual jamais os homens se teriam conseguido elevar até ao céu.

Ao contrário de muitos que afinal passam a vida a ver navios, estas tuas pinturas servem-se dos mesmos para nos fazer viajar pelos rincões da mente.

A partir de um ângulo nada evidente, as cores que escolheste pintam a decadência do que se afunda; só não gostaria que se constituisse numa alegoria dos dias que passam.

Aquele abraço, companheiro
Luís

A.Tapadinhas disse...

Há pequenas coisas, às quais não damos importância mas que sem elas o mundo seria outro, ou, ainda mais radical, não existiria como o conhecemos. Desde logo este meio de nos comunicarmos.

Libertar-se da tirania da superfície, dizes tu, quando te referes à saga dos homens, na descoberta do planeta azul. Não sei por que razão o planeta não se chama Oceano e a espécie dominante
não habita no mar. Só porque tem um cérebro maior e o polegar oponível?

Abraço,
António