terça-feira, 29 de março de 2011

FACES

LENTAMENTE

Jurema sabe que o pai do pai de seu avô foi escravo e apesar de liberto, tanto ele como seu filho mais não conseguiram que permanecerem escravos, deixando tão só ao seu avô a liberdade de buscar refúgio em Salvador, em cujo porto foi moço praticamente até à hora da sua morte. Seu pai foi operário e actualmente é motorista. Moram numa casa que têm vindo a construir de acordo com as necessidades familiares, em Santa Cruz, um bairro pobre que se foi favelando consoante o crescimento que a miséria tem quando se instala num sítio. Jurema acabou o ginásio e começou de imediato a trabalhar, dada a sua arte natural, como ajudante de cabeleireira, perto da Barra. Esforça-se um pouco mais e à noite frequenta um curso de informática, numa escolinha providencial sediada no edifício do shopping, a menos de cinco minutos do salão. É árduo, de segunda a sábado sai de casa às seis da manhã, para regressar depois das onze da noite. E no entanto, Jurema mantém um sorriso de íntima satisfação. Ela acredita que assim virá a melhorar a sua condição.

São Salvador da Bahia, 2 de Agosto de 1995

51 comentários:

A.Tapadinhas disse...

Aquilo que é um sonho para alguns é um pesadelo para outros...

O importante é depois do pesadelo não perder a capacidade de sonhar...

Abraço,
António

Luís F. de A. Gomes disse...

Nem mais e é isso justamente o que a Jurema nos faz perceber.

Aquele abraço, companheiro
Luís

Amélia Oliveira disse...

Também fiquei a gostar da Jurema! Sendo professora, já me cruzei com algumas 'Juremas' pelo caminho - ainda vou acompanhando o percurso de algumas! Umas, que acabaram por perder a capacidade de sonhar e foram ficando pelas caixas dos supermercados locais, mas há as outras que são verdadeiras heroínas e continuam na luta pelos seus sonhos, apesar de tudo e de todos... Espero que a Jurema faça parte deste segundo grupo...

Luís F. de A. Gomes disse...

Pertence ao segundo grupo, certamente. Hoje - passararam dezassete anos sobre a história - certamente ultrapassando a metade dos trinta e mãe de um casalinho, tem segurado lugar numa pequena empresa de distribuição, no escritório, onde faz de tudo, conseguindo manter o patrão com a escrita em dia e o movimento diário deivdamente despachado. Camsamo-la ou não?

Amélia Oliveira disse...

Será que a tua pergunta é 'Casamo-la ou não?' Se for essa a pergunta eu diria que, sendo a Jurema uma mulher tão especial que consegue 'dar conta do recado' de todos, bem merece viver um grande Amor. O melhor mesmo seria encontrar-lhe alguém todos os dias, ao olhá-la, lhe dissesse:
'Shall I compare thee to a Summer's day?
Thou art more lovely and more temperate'
(Shakespeare, Sonet #18)

Amélia

Luís F. de A. Gomes disse...

Boa, vou nessa solução; atenção que já sabemos ter ela um casalinho. Os filhos foram de um casamento com alguém que lhe batia e pura e simplesmente se aproveitava da força de vontade e de trabalho dela para se deixar ficar no boteco muitos bons dias por mês.
Até que uma prima lhe arranjou trabalho e ela foi ter com ela, no Rio de Janeiro, mas não levou os filhos que ficaram com a mãe, ainda em Santa Catarina, em Salvador.

Foi no Rio que ela deu de caras com esse grande amor? Ou foi noutro lugar qualquer para onde ela tenha ido? Como sucedeu? Queres contar-me como foi?

Luís F. de A. Gomes disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Amélia Oliveira disse...

Reencontraram-se no Rio. Por acaso. Tinham trocado alguns carinhos quando se conheceram, nos tempos em que Jurema frequentava o curso de computadores. Mas nessa altura Jurema não tinha tempo para amar e depois veio o casamento, o marido, os filhos, e nunca mais tinha sabido nada dele! Embora, naquelas noites de solidão e maus-tratos, a lembrança daqueles carinhos da juventude lhe trouxessem alguma acalmia.
Naquele dia em que se cruzaram por acaso, Jurema voltou a sentir-se Mulher. Ele ofereceu-se para caminhar com ela até casa e foram contando as suas histórias. E ela ficou a saber que também ele casara e tinha filhos, tal como ela. Mas ali, naquele caminhar, eram somente um homem e uma mulher.
E passaram a caminhar juntos todos os dias, quando Jurema saía do trabalho – ele trazia-lhe um poema quase sempre e ela uma fatia de bolo que fazia na véspera, antes de ir para a cama. E era assim que se amavam, naquelas caminhadas diárias, naqueles doces e poemas, em que o mundo deixava de existir para serem só eles e os seus passos… nada mais… sem se saber até quando ou até onde esses passos os levariam!

Amélia

Luís F. de A. Gomes disse...

Uaau! Continua, por favor.

Luís F. de A. Gomes disse...

Em teus olhos se perde o mar
e eu que não sou marinheiro,
apenas um solitário aventureiro
é nele que me quero encontrar.

Deixa o colibri a pétala beijar,
com suas asinhas de veleiro
em mil batidas de corpo inteiro,
sobre seu perfume a planar

e eu que não sou o primeiro
que em teus olhos quero voar
quero ser o solitário marinheiro

de braços abertos pelo ar
vou descer no infinito terreiro
onde serei Rei só de te amar.

Vê se este soneto está de acordo com o nível e género de conhecimentos e sobretudo dos traços de personalidade que conheces dele.

Se der para tanto, é o meu pequeno contributo para que continues, como te pedi.

Amélia Oliveira disse...

Jaime era um homem bem-apessoado e sabia falar de coisas belas. Tinhada feito um cursinho de contabilidade e acabou vindo para o Rio de Janeiro para trabalhar no escritório de um familiar. Mas a sua paixão eram as palavras. Gostava de escrever e aproveitava a hora de almoço para ficar no escritório vazio, comendo silenciosamente o almoço que a mulher todas as manhãs lhe preparava e escrevendo os seus versos.
Jurema sentia-se bem caminhando ao seu lado, orgulhosa quando outras mulheres olhavam de relance para o seu amado poeta. E tinha sonhos de felicidade que lhe chegavam com os poemas de Jaime. Nunca lhe fazia perguntas sobre aquela parte da vida dele que não a incluía, esperando que ao não falar desse outro mundo ele se desvanecesse. E Jaime também deixou de falar dessa sua outra vida, onde Jurema não cabia, por já estar demasiado cheia, com a mulher e os filhos.
E assim passavam as semanas, entre segundas e sextas, porque aos fins-de-semana Jurema não trabalhava – nem caminhava, nem fazia bolos, nem ouvia versos: só amava, em silêncio, aquele homem que lhe oferecia sonhos.

Amélia Oliveira disse...

Já estou a ficar irritada com o Jaime - tenho a impressão que a pobre da Jurema ainda não é desta que vai ser feliz... ou pode ser que sim... ela bem merece, não achas? Vamos ver...
Amélia

Luís F. de A. Gomes disse...

Sim, claro que merece.

De qualquer forma, o Jaime parece-me bem e não há nada que nos diga que, mesmo assim, não poderá fazer a Jurema viver a sua história de amor e os seus momentos de felicidade - afinal, ela tem uma maneira muito própria de encarar a vida e os escolhos que as suas vagas trazem - pelo menos à sua maneira.

Continua que estás a moldar o diamante e eu estou a gostar. Agora a Jurema merece que lhe conheçamos a história completa - naturalmente até agora. Da mesma maneira que a partir daqui ela já te pertence, deste-lhe o sopro da vida para lá daquela pequena história. É um exercício bastante interessante, na medida em que uma personagem ganha vida não só de uma história para outra - não seria isso invulgar - mas também de um Autor para outro, o que não é tão vulgar assim.

Força! Toma o tempo que quiseres.

Amélia Oliveira disse...

Voltei porque me tinha esquecido de te dizer que o teu soneto é muito bonito - gostei mesmo muito!
É um exercício divertido, mas acho que a minha escrita não chega para tanto... eu não sou propriamente uma escritora a sério, faço uns rabiscos e só há muito pouco tempo descobri que consigo rabiscar palavras... :)! tenho cá a impressão que tu é que vais ter que pegar na pobre da Jurema ou ainda morre nalgum acidente sem conseguir ser feliz...
Em todo o caso é uma experiência divertida, devo admitir! Agradeço-te por isso!
Amélia

Luís F. de A. Gomes disse...

Viva, Amélia

Não tens que agradecer, apenas continuar.

Quanto às considerações literárias elas não são para aqui chamadas e isso porque não faz sentido considerá-las neste momento. Afinal estás a criar os contornos de uma história - com gente viva e de carne e osso lá dentro que é o qye a literatura sempre deve ter e que tantas e tantas vezes não tem - e não houve qualquer atrapalhação para chegares aqui. Em conformidade, muito provavlemnte a continuidade também ela estará garantida. De resto, escrever não tem qualquer alternativa ao velho método de ir escrevendo e depois logo se vê. No fundo, ganhando sempre com isso e o gozo de o fazer, enquanto o fazemos, esse ninguém o poderá diminuir, muito menos tirar.

Assim, peço-te que continues.
E não duvides, sou eu que agradeço a tua simpatia e a tua disponibilidade.

Luís

PS

O soneto saiu de repente, tentando imaginar um apaixonado, mais ou menos com os contornos que lhe vieste a dar.

Amélia Oliveira disse...

Vamos então ver como fazer da Jurema uma mulher feliz... logo se verá!
E os agradecimentos são mútuos, então!
Amélia

Luís F. de A. Gomes disse...

Ok!

Amélia Oliveira disse...

Numa segunda-feira chegaram más notícias de Santa Catarina: a mãe de Jurema adoecera e pedia-lhe que viajasse com urgência por causa dos filhos!
Nesse final do dia a caminhada foi triste – Jurema sem o seu habitual sorriso, preocupada com a mãe, com os filhos e com medo que Jaime a esquecesse na sua ausência e Jaime cabisbaixo com a súbita partida daquela mulher que o fazia sentir-se jovem e apaixonado novamente. Trocaram um abraço trémulo na despedida, o primeiro abraço desde o reencontro casual alguns meses antes e separaram-se com promessas de cartas, cada um rumo à sua outra vida.
Jurema ficou apenas um mês em Santa Catarina. A enorme saudade que sentia dos filhos fez com que a morte da mãe, vítima de uma leucemia galopante, não fosse tão penosa. E sendo uma mulher forte e com um grande sentido prático – foi essa força que a levou para tão longe do salão de cabeleireira onde começou a trabalhar anda mocinha- rapidamente tratou das questões práticas relacionadas com o funeral da mãe e a venda dos seus poucos haveres e preparou-se para voltar ao Rio, com os seus filhos.
Jaime, por sua vez, cumpriu a promessa: todos os dias, ao almoço, sentava-se calma e silenciosamente, escrevendo os versos que enviava depois por carta à sua querida Jurema, que os lia e relia até os aprender de cor. E era também à hora do almoço que aproveitava para ler as longas cartas que Jurema lhe enviava para o Escritório, dando conta de todos os pormenores relativos ao estado de saúde da mãe, à beleza dos filhos, aos preparativos para o funeral e tudo o mais que fazia parte do seu dia e que ela gostava de lhe contar porque, dessa forma, sentia-o mais próximo de si.

Amélia Oliveira disse...

Bem, uma separação de 1 mês e tudo continuou bem entre a Jurema e o Jaime. E como a Jurema é uma mulher guerreira tenho a certeza que, com ou sem Jaime, vai ter uma boa vida com os filhos no Rio... apesar de ter cumprido a promessa, não sei se confio muito no Jaime...

Se quiseres dar umas achegas, serão muito bem vindas!
Amélia

Amélia Oliveira disse...

No caminho de regresso ao Rio de Janeiro Jurema foi deixando que uma felicidade tranquila lhe aconchegasse o coração. Finalmente teria os filhos junto a si, para além de se sentir Mulher nas suas caminhadas com Jaime iria também poder sentir-se Mãe junto dos filhos… essa ideia fazia-a sentir-se completa!
Chegaram num Sábado à tarde e, na semana seguinte, com o acordo do patrão, Jurema permaneceu em casa a organizar a sua nova vida: escola dos filhos, alterações em casa para os acomodar e alguns passeios para mostrar as principais partes da cidade às crianças. Não houve tempo para o Jaime nessa semana, para se amarem nas habituais caminhadas, mas amavam-se em silêncio, o que não era bem a mesma coisa mas teria que servir, agora que Jurema era uma mulher menos disponível! Na semana seguinte logo arranjaria tempo para fazer o habitual bolo da noite e para amar Jaime durante a também habitual caminhada de regresso a casa, enquanto ele lhe falava de coisas belas, usando palavras cheias de magia que a faziam sonhar. E aquele sentimento de completude voltou a preenchê-la!

Luís F. de A. Gomes disse...

Só agora li a continuação. A sequência está boa - o amor tem que sempre ser posto à prova e nada melhor que o afastamento e muitas são as vezes em que os próprios o procuram para se certificarem dos seus sentimentos - e a casualidade do regresso a Santa Catarina cria aqui um bom contra-ponto para que a sequência do primeiro momento do reencontro e da redescoberta da paixão sirva para deixar o Leitor em suspense sobre o que se vai passar a seguir, com a separação e surpreendido antes pelo sucedido - pois o mesmo poderá ser levado a esperar que, na sequência desse reencontro, eles logo materializem a paixão, coisa que não aconteceu e que chegou mesmo a sofrer o adiamento com a separação provocada pelo regresso forçado de Jurema a Salvador.

Não te apresses. Mesmo que demore muito tempo, deixa amadurecer o que tiveres em mente. Mas continua, vais criar bom material para uma história - o género saberás escolhe-lo intuitivamente, acredita e entre o conto e a novela há aqui matéria para uma jóia - a que depois poderás dar a devida forma literária, com isso criando o diamante que, depois de feito, terás que lapidar, até que ela tenha o conteúdo e os contornos que tenhas por melhores, isto é, que vejas mais de acordo com aquilo que pretendias fazer.

Antes de tudo, obrigado por este divertimento neste fim-de-semana.

E é claro que fico cheio de entusiamo perante a perspectiva de ler o "episódio" seguinte.

Mas a verdade é que a Jurema merecia mesmo isto. Olha que bonito que é...

Luís

Amélia Oliveira disse...

Bem, agora que fiquei entusiasmada coma a Jurema perdi o sono! Parece-me que, decididamente, não foi feita para um 2º casamento, mas tb não me parece o tipo de mulher que se fique pelo trabalho e pelo cuidar dos filhos! Tenho a sensação de que uma Causa a deixaria feliz - com ou sem Jaime, vamos ver como é que ele vai reagir a esta sua súbita indisponibilidade, agora que chegaram os filhos... O que achas? Nunca tendo estado no Rio e atendendo a que a Jurema é descendente de escravos, ex vítima de maus tratos por parte do marido e tendo crescido numa favela, qual o tipo de causa que lhe pode vir a interessar?

Amélia Oliveira disse...

Só agora li o teu comentário! Obrigada eu, estou tão divertida que até perdi o sono... O nunca ter estado no Brasil cria aqui algumas dificuldades... e preciso de uma causa para a Jurema! é uma mulher de armas, esta nossa Jurema!

Thank You!´
Amélia

Luís F. de A. Gomes disse...

Que tal poder encontrar um empurrãozinho na poesia do Jaime.
Afinal parece que o rapaz tem uma certa vertente bucólica, pois incorpora a Natureza na sua poesia. Ora que a Jurema sabe o que é sentir na pele e nas memórias a injustiça - a injustiça social é para ela uma evidência - isso todos podemos adivinhar, mas pode muito bem acrescentar a isso um gosto pela Natureza de que lhe derivará a consciência da importância da Natureza nas nossas vidas de humanos e daí para a reunião dessa vertente com as ideias políticas relacionadas com a esperança de um mundo melho, um amanhã melhor para os seus filhos, o abraço a causas que tenham a ver com as preocupações dos "Verdes"? Pode ser uma hipótese. Experimenta-a na tua cabeça. Podes até pesquisar um pouco sobre os Verdes brasileiros e a sua líder que é uma mulher de se lhe tirar o chapéu.

Que tal?

Mas olha que são horas de dormir e muitas vezes sonhamos com o que escrevemos ou o cérebro trabalha o que queremos fazer em piloto automático, pelo menos é a sensação que muitas vezes tenho.

Seja como for, uma muito boa noite.

Luís

Amélia Oliveira disse...

Gosto!
Obrigada!
Amélia

Luís F. de A. Gomes disse...

De nada, sou eu quem agradece.

Bons sonhos

Luís

Amélia Oliveira disse...

No Domingo à noite, enquanto cozinhava o bolo de abacaxi para o dia seguinte, passava no velho televisor encavalitado em cima do armário da cozinha – a casa era pequena e as crianças ocupavam agora a sala de estar – um programa sobre a vida de Maria Osmarina Silva de Souza, conhecida em todo o Brasil como Marina da Silva! Jurema sentiu de imediato uma espécie de identificação com aquela mulher que, tal como ela, tinha um passado de fome, de dor e até um casamento falhado do qual também tinha tido duas crianças. E sentiu qualquer coisa acender-se dentro dela, qualquer coisa muito forte mas que não saberia como explicar, porque não se podia traduzir em palavras: seria um sentimento? Ou um espírito que tomou conta dela, fazendo-a querer ser maior? Ainda bem que no dia seguinte iria encontrar-se com Jaime, porque tinha que falar-lhe sobre aquela súbita vontade de ser alguém maior do que ela! E nessa noite, antes de adormecer, voltou a ler um dos poemas que o Jaime tinha escrito para ela e que já sabia de cor, como todos os outros, mas que preferia ler porque o segurar aquele poema entre os seus dedos era segurá-lo a ele contra o seu corpo de Jurema Mulher!


Em teus olhos se perde o mar
e eu que não sou marinheiro,
apenas um solitário aventureiro
é nele que me quero encontrar.

Deixa o colibri a pétala beijar,
com suas asinhas de veleiro
em mil batidas de corpo inteiro,
sobre seu perfume a planar

e eu que não sou o primeiro
que em teus olhos quero voar
quero ser o solitário marinheiro

de braços abertos pelo ar
vou descer no infinito terreiro
onde serei Rei só de te amar.

Amélia Oliveira disse...

Um ensaio para introduzir o 1º contacto com 'os Verdes'... mas é só um ensaio, não estou muito certa de que fique assim - pode ser que o Jaime, como é um homem com algum nível de conhecimentos, venha dar alguma ajudinha neste campo...

Amélia Oliveira disse...

Um ensaio para introduzir o 1º contacto com 'os Verdes'... mas é só um ensaio, não estou muito certa de que fique assim - pode ser que o Jaime, como é um homem com algum nível de conhecimentos, venha dar alguma ajudinha neste campo...

Amélia Oliveira disse...

Importas-te de remover um dos posts, sff? Não sei porquê saíu em duplicado...
thank you!

Luís F. de A. Gomes disse...

Não tem qualquer problema, mas és tu quem pode remover esse comentário, clicando no símbolo do lixo que tens no fundo do comentário.

Quanto ao primeiro ensaio de que falas, parece-me que está muito bom; a solução que encontras é verosímil e tem bastante credibilidade – até o pormenor da televisão na cozinha é um factor dessas características relevantes que acabei de referir – e o entrosamento com o poema tem potencialidades – muitas, quer no que respeita à descoberta da causa de que falámos, quer no referente à tal história de amor que, no caso da Jurema, ainda que seja uma sonhadora que tenha essa natureza, de modo de ser, de carácter, pelo meio em que cresceu, pela socialização/enculturação que teve, não pode deixar de ter uma sensação do amor animal, o mesmo é dizer, com materialização carnal para lá da espiritual, numa mistura em que não entende muito bem como se entrosam essas vertentes.

Assim, tenho para mim que vais no bom caminho, vais mesmo muito bem. Só posso pedir-te que continues e fazer figas para que aceites e mostrar-me grato por isso.

Já estou em dívida para contigo.
Luís

Luís F. de A. Gomes disse...

PS:

Deixei passar o Jaime.

Não, aqui ele já contribuiu com o poema, não é chamado para mais nada. A solução que apresentas é muito boa. Pelo menos eu estou a gostar, bastante.

Luís

Amélia Oliveira disse...

Luís,
Claro que Não estás em dívida, estou a divertir-me com a Jurema e o Jaime, sobretudo porque não sei que rumo dar à história e as ideias vão surgindo a pouco e pouco!
Não tenho o símbolo do lixo que me permitam apagar comentários, mesmo os meus, logo ficará em duplicado!

Have a nice day! And I'm gald you're enjoying it! Sometimes I think my English is better than my Portuguese, so maybe Jurema will have to learn English as well... :)

Luís F. de A. Gomes disse...

Olá, Amélia

"(...) sobretudo porque não sei que rumo dar à história e as ideias vão surgindo a pouco e pouco!"
Não tem nenhum mal que assim seja e, muitas vezes, o mesmo sucede quando temos um plano - mais ou menos - bem elaborado daquilo que queremos fazer e ainda, enquanto vamos escrevendo, é muitíssimo vulgar que nos vão ocorrendo novas ideias que aplicamos e - também não é raro que tal suceda - sem que o tenhamos querido à anteriori, isso concorre para que a história até mude de rumo ou a(s) personage(ns)m sofram algumas alterações pelas modificações das contingências em que estão inseridas.

Quanto ao comentário duplicado não vale a pena preocuparmo-nos com isso.

Com o Sol que está, temos uma tarde bonita - espero que onde quer que estejas seja assim que ela se apresente - que, espero, brilhe a teus olhos.

Quanto a isso não há qualquer problema e até podes tirar partido dessa circunstância para encaminhares/tratares a história no(s) contexto(s) em que estás mais à vontade; isso é legítimo e qualquer bom escritor o respeita.
Repara no seguinte: porque não poderá a Jurema ir parar, por exemplo, a Nova Yorque? Ou a qualquer outra cidade norte-americana cujo ambiente conheças?
Não perderia necessariamente a sua aproximação a essa causa dos Verdes e, pelo contrário, até pelo efeito do espelho, do choque de um mundo altamente urbanizado e mais distante da Natureza do que aquele de onde ela teria partido - o Brasil, ainda que o Rio seja uma metrópole e haja aí um modo de vida absolutamente urbano, tem, por exemplo, mata selvagem no seu interior - poderia muito bem reforçar a ideia da importância de as sociedades humanas encontrarem pontos de harmonia, mais que de equilíbrio até - mas atenção que isto sou eu a falar e teríamos que dar verosimilhança à evolução do pensamento da Jurema para chegar aqui - com a Natureza.
Dessa forma a Jurema teria que necessariamente aprender inglês e tu poderias trabalhá-la em ambientes que conhecas bem. Seria uma vantagem para ti.

Sim, estou a gostar bastante desta troca de impressões e, bem vistas as coisas, desta colaboração literária. Enriqueço-me com isso.

Tem então um r esto de tardecom as cores da Primavera que os chãos já vão anunciando
Luís

Amélia Oliveira disse...

Naquela segunda-feira, depois de deixar as crianças na escola que ficava logo ali ao pé de casa, Jurema voltou ao trabalho. Esperava-a uma infinidade de tarefas, depois de uma longa ausência de um mês e mais uma semana, o que até lhe soube bem porque assim o dia passou mais rápido. Não precisaria preocupar-se com o regresso das crianças a casa- o Fabinho, tinha ficado encarregue de olhar pela Dora até que a mãe chegasse – e depois a escola ficava mesmo a dois passos… mas mesmo assim Jurema sentia uma leve preocupação de mãe a que não estava habituada, uma vez que era a primeira vez que as crianças ficariam em casa sozinhas durante algum tempo, sem ninguém que olhasse por elas. Tudo era diferente quando vivam com a avó – nas cidades pequenas, para além da família, também os vizinhos vão olhando pelas crianças dos outros, há sempre uns quantos pares de olhos na rua em estado de alerta para uma briga, uma brincadeira que acaba mal, uma queda, … na cidade grande tudo é diferente, ninguém parece ver o que acontece em seu redor, as pessoas olham através dos outros, sem se verem, sem se cumprimentarem, sem se importarem. As crianças iriam estranhar mas acabariam por se habituar, pensava Jurema à medida que o dia de trabalho chegava ao fim e o início da caminhada de regresso a casa, na companhia de Jaime, se aproximava.
Quando saíu deu logo de caras com Jaime, que já a esperava há algum tempo. Segurava um raminho de flores silvestres, era mesmo coisa do Jaime, tão cavalheiro e sempre tão cuidadoso com ela. Os lábios tocaram-se num beijo suave e breve e Jurema sentiu, naquele momento, que Jaime lhe pertencia e que ela lhe pertencia também, mas não daquela forma como os amantes se pertencem, era um pertencer diferente, como se as suas almas se entrelaçassem mesmo sem que os seus corpos se tocassem…
Depois de algumas explicações acerca dos acontecimentos desse mês em que estiveram separados, Jurema conduziu a conversa para o programa que tinha visto na televisão na noite anterior e tentou explicar a Jaime sobre o espírito que a invadiu, aquela vontade de ser grande, de ter um destino maior, porque achava que, lentamente, tinha chegado até ali, mas isso era ainda tão pouco para ela!

Amélia Oliveira disse...

Bem, o Jaime vai ter que dar um empurrãozinho à Jurema para começar a 'luta', senão a história nunca mais tem fim... vamos ver as sugestões que ele lhe vai dar, porque estamos a precisar de uma reviravolta rapidamente ou 'morremos' de tédio com tanto pensamento e tanta caminhada... :)

Boa noite!
Amélia

Luís F. de A. Gomes disse...

Sim, ela tinha que falar com o Jaime sobre isso.

Mas vamor ponderar como é que ele vai reagir.

Entusiasta????.... Não sei.
Será que ele entenderia as preocupações dela? Até aí, diria que ele é capaz.
Mas mostraia grande interesse? Partilhá-las-ia?
Tens que pesar esses aspecto que pode ser crucial.
Experimenta ver se aferirira bem um certo desinteresse com uma nova reviravolta no amor deles, uma nova separação, quer dizer, um novo - período da vida deles - percurso por caminhos separados. O amor que não mais uma vez não se materializa, não encontra circunstâncias para se materializar.
Tenta ver se funciona e se achares que a sugestão funciona e tem potencialidades... Aproveita.

Luís F. de A. Gomes disse...

Força, então.

Luís F. de A. Gomes disse...

Amélia, não fim o segundo comentário que finaliza o primeiro. Peço desculpa mas só o vi depois de fazer o meu primeiro comentário. Depois vi o segundo que me pareceu ser uma resposta ao meu, mas vejo que não foi assim. Peço desculpa, mais uma vez.

Sim, o empurrão pode dar o tal empurrãozinho...

Mas experimenta várias hipóteses para o mesmo.

Luís

Amélia Oliveira disse...

Olá Luís!
Não me parece que o Jaime vá acompanhar a Jurema na sua 'caminhada'. Ainda por cima e apesar de ser um homem das palavras, não devemos esquecer que é um contabilista, sem grande espírito para aventuras... A força aqui está na Jurema e, talvez, este seja um percurso que ela tenha que fazer sozinha! Mas o Jaime pode dar um empurrãozinho nesse sentido, afinal ele é o amor que ela ainda não tinha tido, por isso merece algum protagonismo tb - acho! Logo se vê!

Have a nice sunny day!
Amélia

Luís F. de A. Gomes disse...

Olá Amélia,

Parece-me bem que assim seja. Aliás isso até é capaz de dar mais potencialidades à história da Jurema na medida em que lhe deixa maior liberdade.

Mas por acaso, depois da tua mensagem de ontem à noite, fiquei a pensar naquilo que já delineaste e tenho para mim que, no essencial, já tens os contornos de uma - porque não dizê-lo? - boa história.

Não sei se isso não implicará que consideres agora - é um passo seguinte - algumas opções que vais ter que tomar se aqwueles quiseres escrever.
Pessoalmente, ficaria encantado por ver o resultado; qualquer que ele venha a ser e isto sem qualquer ponta de menosprezo por ti, coisa que seria idiotia pura, pois não teria como justificá-lo se é que tal sentimento tem ou pode ter alguma justificação, antes apenas por ficar contente só pelo simples facto de ver alguém - neste caso tu - fazê-lo.

Seja como for, essas opções têm a ver antes de mais com a escolha do processo - método - que vais usar para contar a história. Relacionada com essa, embora não necessariamente, está a delimitação temporal da narrativa - a escolha de qual o ponto em que vais dar a narrativa por finda e se isso será a vida toda ou parte da vida da Jurema - creio que será esta última hipóteses - e neste caso, certamente tendo que dar destaque a algo relevante - existe, essa matéria-prima, a tal descoberta que ela faz de uma causa para uma vida.
Quanto ao método terá que ver se te serve melhor narrar na perspectiva, por exemplo, do seu Amigo Carlos - em qualquer uma das suas variantes - ou na do Deus omnisciente - e isto pressupondo que não a vais contar na primeira pessoa a partir do ponto de vista dela ou dele ou de alguém envolvido e próximo deles.

Enfim, matéria para pensares e decisões que terá que tomar.

Haja então uma tarde de Sol e em paz, para ti, because the fields are already breathing in white and yellow, and how it’s shining for our joy
Luís

Amélia Oliveira disse...

Olá Luís!
Esta escrita e troca de ideias sobre como construír uma história tem sido bastante divertida. Contudo, passar a um processo mais sério implicaria muito estudo (teria que ir reler as minhas velhas Teorias da Literatura, tipos de narradores, etc, etc, etc,) o que implicaria uma série de estudo para o qual não teria tempo neste momento. Portanto, a nossa Jurema vai ter que aguardar por alguém que queira pegar-lhe de forma séria, eu tenho só estado a divertir-me muito dando-lhe alguns contornos...
Tem sido um processo divertido! Nunca passei da escrita de pequenos textinhos, é engraçado ver como se desenrola o processo criativo, com alguém que escreve 'a sério'!
Agradeço-te bastante por isso.

Have a wonderful almost-spring afternoon!
Amélia

Luís F. de A. Gomes disse...

Olá, Amélia

Ok! Se não pretendes prosseguir a experiência, respeito a tua vontade, muito embora seja da opinião que estás a menosprezar as tuas capacidades e um tanto a exagerar a antevisão do trabalho que seria necessário para dares os passos seguintes. Nós não vamos ler o Código da Estrada sempre que pretendemos fazer uma viagem de Lisboa ao Porto, pois não? Mas não faz, pelo menos chegaste aqui e em qualquer momento poderás tratar da Jurema com um pouco mais de tempo e em melhor oportunidade. Não sei porquê, será um peixe que vai crescer no aquário do teu cérebro e, quando chegar a hora, ele(a) te dirá que pretende sair daí, para se aventurar nas águas da vida que as páginas da literatura inventando, afinal, recriam, para que possamos reflectir sobre os mistérios deste animalzinho tão curioso como é o ser humano.

Seja como for, não posso deixar de agradecer as tuas palavras demasiado benevolentes para mim e acima de tudo a simpatia desta troca de ideias que, bem vistas as coisas, acabaram por dar à Jurema uma vida que eu jamais teria encontrado para ela.
Com atraso na data, pelo que vejo, mas estive ausente, aqui fica o desejo de um resto de tarde tão encantadora como tem sido este dia de Sol que, apesar do frio, começa a chamar a Primavera por tudo o que é campo
Luís

Amélia Oliveira disse...

Boa noite, Luís!
Obrigada pela força para ir para a frente! Tem sido muito agradável pegar na 'tua' Jurema e dar-lhe vida. Digamos que vai ficar a 'marinar' um pouquinho por falta de tempo para ir aos velhos manuais! Muito engraçada a comparação com o Código da Estrada, mas a escrita pressupõe conhecimentos prévios, quando se pretende que seja séria, coesa e coerente! Mas será que aí acaba o divertimento deste escrever despreocupado de que estou a gostar tanto? Provavelmente o mesmo prazer que tiveste ao escrever os Frescos, que tanto tenho gostado de ler e cujos comentários têm, tantas vezes, extravasado para áreas que, certamente, não pensaste ao escrever?

Uma boa semana e um até breve à Jurema!

Amélia

Luís F. de A. Gomes disse...

Olá, Amélia

Não dei conta deste teu comentário e por isso só agora respondo.

Não tens que agradecer nada, quem está aqui em dívida sou eu.

Sim, a escrita pressupõe muitíssimos conhecimentos, pelos motivos que dizes; temos sempre que estar o mais certos possível que aquilo que escrevemos, sobretudo as ideias que possamos veicular e, por ventura, aquelas em que queremos convidar o Leitor a reflectir, não são disparatadas. Por acaso, a literatura está cheia desses erros de palmatória. Ter isso em conta é assim uma atitude responsável da tua parte.
Seja como for, quando estamos a imaginar uma história, quando estamos a escrever, fazemo-lo por intuição e de modo algum estamos preocupados com a(s) teoria(s) da literatura que a experiência já a(s) fez assimilar e que, por isso, usamos praticamente da mesma forma que usamos a linguagem sem que tenhamos que estar constantemente a atender às suas regras e daí o paralelismo com a condução.
Quanto ao gozo de escrever, não me parece que isso acabe com ele – pelo menos, no meu caso pessoal. Antes pelo contrário, reforça-o, na medida em que enfrentamos o desafio de conseguir criar dentro de um dado quadro de referências. Inovar dentro de uma determinada tradição literária, é essa a cereja desse bolo doce e gostoso que tanto prazer dá saborear.
Certamente que tive imenso prazer enquanto fui escrevendo cada um destes frescos, mas o tempo que passou impossibilita-me reconstituí-lo e, em conformidade, já não poderei falar dele com um mínimo de acerto.
Já no que diz respeito aos comentários que levaram estes poemas despretensiosos onde eu jamais imaginara, sou eu o primeiro a ficar surpreendido com isso e não posso deixar de admitir que tal sucedeu. De tal modo que me sinto obrigado a falar disso mesmo no acto da despedida desta publicação e só por isso não vou falar agora do assunto. Peço que compreendas esta atitude.

E pronto, vamos deixar a Jurema crescer dentro de ti, na certeza da curiosidade por a ver ganhar a alforria de uma(s) página(s) em branco, o mesmo é dizer, a liberdade desse oceano fantástico que é a Vida.

Hasta luego!
Luís

Amélia Oliveira disse...

Despedida dos Frescos??? E depois o que vou fazer às 3ªf de manhã? :)

É isso mesmo: Hasta Luego!
Abraço
Amélia

Luís F. de A. Gomes disse...

Terás sempre o encanto de um entretanto de espanto que te espera nos frescos que os dias têm para te oferecer, basta que os queiras colher e que te deixes envolver e tu mesma os poderás descrever.

Está bem assim?

De qualquer forma "A Comunidade..." continua com muitos outros frescos para ver e sentir e pensar com eles e voar... Basta que nessas águar queiras navegar.

Estou retribuindo,
Luís

Amélia Oliveira disse...

WOW... muito bem escrito este comentário!
Está muito bem assim! :)
Amélia

Luís F. de A. Gomes disse...

Thank you.

E sendo assim, já temos matéria para as terças-feiras de manhã.

Luís

Amélia Oliveira disse...

Bom dia, Luís!
Sendo o 'Faces' um livrinho de viagens, li hoje uma citação que gostaria de te deixar aqui, porque me parece muito apropriada a este teu espaço:
'The world is a book and those who don't travel read only one page!'
St. Augustine

Amélia

Luís F. de A. Gomes disse...

Bom dia, Amélia!

E é isso mesmo, não tenho dúvida, pessoalmente sempre vi as viagens como fontes de aprendizagem, em muitos aspectos, até muito melhores que os próprios livros. Tenho a certeza que não seria a mesma pessoa que sou se não tivesse passado por algumas das aventuras por que passei.

Mas desconhecia esse pensamento do Santo Agostinho e não deixa de ser significante que uma tal percepçãso seja tão antiga.

Resta-me agradecer-te a generosidade deste cuidado.

Luís