quarta-feira, 30 de março de 2011

A GRANDE CORRIDA AO POTE

Vendas Novas, 21 de Março de 2011

PASSOS COELHO, que não é seguro que venha a ser o substituto de Sócrates, é um fulaninho inovador, vendo que tacho era palavra demasiado gasta e plebeia para designar a ocupação do poder, introduziu o provincianíssimo pote, mas, por precaução franciscana, disse à Judite de Sousa que não tinha pressa de se lambuzar. O lambuzar, acrescento eu, no pressuposto de que o pote é de mel por dentro e de barro por fora. De modo nenhum me ocorreria que o pote entrasse neste contexto na acepção mais popular, até porque já se não usa. Nem que fosse de azeitonas, por causa do cheiro desagradável que exala. Ainda pensei no pote das migas, mas isso não é um pote, é um prato, ficando portanto aquém do tacho. Mas deixemo-nos de semânticas.
Sócrates — o homem sabe-a toda! — convencido que a grande aliança entre a Lapa e Belém será inevitável e que a desaprovação do próximo OE ditaria o seu afastamento do pote em condições favoráveis ao PSD, usando a política como quem joga xadrez — deve ter aprendido com o Vítor Constâncio — aplicou um gambito tão bem engendrado que o introdutor do pote teve de tomar (ou comer) a peça do lúdico ardil. É que a coisa era (e é) assim nos cantares do Ney Matogrosso: se ficar, o bicho come; se fugir, o bicho pega. Dito de outra maneira: Se Passos Coelho cai no laço do PEC4, os barões do seu partido apeiam-no do assento etéreo onde se pendurou; se não cai, se não viabiliza, fica com o odioso do mel do pote se entornar, o que só é bom para as moscas e as formigas, mas de qualquer modo favorável aos intentos socráticos, pois ninguém se admiraria com a eventualidade do PS suceder ao PS na mesmíssima condição minoritária. E, se outro fosse o cenário, nada mais se imagina do que ser o PSD a ficar com a colher do mel na mão, mas sem se poder lambuzar à vontade, ou seja, a ingovernabilidade continuaria…
Fica a dúvida: será que o pote aguenta tantos safanões e piparotes na tampa?
Será que ainda há mel no pote?

Publicado em 25 de Março de 2011 no Jornal do Barreiro

ABDUL CADRE

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