domingo, 31 de julho de 2011

Ana Paula Andrade nos Colóquios da Lusofonia



A pianista e maestrina açoreana Ana Paula Andrade toca canções açoreanas no Encontro da Lusofonia. OUÇA-A no 13º Colóquio em Florianópolis, Santa Catarina, Brasil, 9/4/2010, com Henrique e Carolina Andrade Constância e alunos de Música da UFSC.

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J. CHRYS CHRYSTELLO, Presidente da Direção
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sexta-feira, 29 de julho de 2011

ENCONTROS COM AGOSTINHO

NAMORANDO O AMANHÃ


(2ª. Edição)




3. NOBRE POVO NAÇÃO VALENTE



Então o que é que eu fiz?
Falei com um amigo.
Ou antes, eu falei, primeiro, comigo próprio.
Não gosto de fazer coisa nenhuma que não me seja trazida pela própria vida.
Por exemplo, eu não tomaria nunca o caminho de vir a Alhos Vedros, como antes da partida para o Brasil, nunca tomei, por iniciativa minha, o caminho do Barreiro ou de outras populações a que ia –como tanta outra gente ia- conversar com as pessoas que era a única maneira na época de estar realmente vivo.
Mas um dia um amigo veio ter comigo e me disse:
“-Você sabe que eu estou pensando uma coisa?”
“-Então o que é?” –Perguntei eu.
E ele disse:
“-Meu querido amigo, você mês está trazendo aquilo que precisava.”
A vida veio ter comigo e me desafia a que eu faça aquilo que eu sei.
“-Você não quer trabalhar comigo?”
Estamos trabalhando os dois.
Já conseguimos registar o nome da fundação. Que nome lhe demos? Chamamos-lhe “Mensagem”.
Há um livro célebre de Fernando Pessoa, “Mensagem” que toda a gente cita, que muita gente leu e que é o quê? É um livro em que o Fernando Pessoa diz o que pensa que Portugal foi quando fez as suas grandes proezas de construir este país e de navegar pelo mar que navegou.
Então nós pensamos que devíamos ter uma mensagem não para o passado mas para o futuro.
Uma mensagem que não fosse apenas escrita, pensada, belamente diversificada como é a de Fernando Pessoa, mas que fosse coisa, fosse de facto, de chegar a um lugar e ver como as crianças estavam plenamente na vida; como realmente aquela terra, por mais pequena que fosse a aldeia, estava tendo uma vida económica certa.
Era essa a mensagem que queríamos, não só para Portugal, mas para todo o mundo, se ela tivesse força suficiente para chegar a todo o mundo.
E que mais uma vez se visse no mundo que o português não é nenhum povo mesquinho acantonado numa tirinha da Península Ibérica mas, pelo contrário, aquele povo que no mundo mais fez para que o mundo que houve até agora existisse e que mais pode fazer para que exista outro mundo que é esse outro completo.
Foi Portugal, foram os marinheiros portugueses, quasi todos analfabetos, foram eles que obrigaram a Europa a meter-se em ciência nova que produziu tudo o que é técnica e que é a ciência de hoje.
Foram eles que mostraram à Europa o que era o resto do mundo. Foram os navios portugueses que andaram transportando de um lado para o outro do mundo as culturas diferentes, os homens diferentes, os animais diferentes, as árvores diferentes. Nunca ninguém fez tais coisas no mundo se não os marinheiros portugueses.
Marinheiros, como dizia, analfabetos, mas que estavam tão atentos à vida, tão interessados na vida, tão educados pela vida que realmente puderam dar vida mesmo àquele que parecia distante e morto.
E eu digo que depois de nos inventarem o próprio Portugal, inventaram o mar.
Muita gente decidira descobrir o mar. Pois é. Mas quando se diz que um cientista descobriu isto ou inventou aquilo, a pessoa fica muito hesitante sempre em dizer se descobriu ou se inventou.
Então vamos pôr, exageradamente, eu digo, vamos pôr que os portugueses inventaram o país e depois inventaram o mar, não é?
E toda a gente, tal foi a força dessa invenção, acabou por achar que sempre tinha havido, que os portugueses não inventaram nada, apenas tinham descoberto aquele país e descoberto aquele mar.
Tanto me faz que se diga uma coisa como se diga outra.
O que eu digo é que Portugal ainda não acabou a sua tarefa.
E quando as pessoas vêm e me dizem assim:
“-O que é que o senhor julga? O português, nesse tempo, foi exactamente assim. Mas agora?”
E eu conto duas histórias, ou antes, uma história e depois uma invenção.
A história é a seguinte:
Tenho um amigo meu, arquitecto de São Paulo, um grande arquitecto da Universidade de São Paulo que me disse:
“-Eu tenho apenas uma hora para estar em Lisboa. O que é que o senhor me aconselha que eu veja?”
E eu digo:
“-Duas coisas. Vamos ao Museu das Janelas Verdes para ver aquilo que se chama os painéis do Infante –se é do Infante ou não, não se sabe, mas enfim, supondo que é do Infante, os painéis de São Vicente ou os painéis das Janelas Verdes, como eu gosto mais de dizer- vamos ver aqueles painéis e depois disso saímos e vamos por aí fora até ao castelo de São Jorge.”
Como ele se interessava pelos problemas da cidade, da arquitectura da cidade, do traçado das ruas etc…
“-Vamos lá porque de lá de cima temos uma certa vista de Lisboa e o senhor vai entender como se formou Lisboa e até como se está deformando, como se está transformando numa coisa bem inferior a muitas que já foi.”
E fomos às Janelas Verdes.
E esse meu amigo que é um arquitecto e um grande apreciador de artistas fartou-se de tirar fotografias dos painéis.
Como sabem, os painéis são uma coisa única que há no mundo, porque nunca uma nação inteira foi tirar o retrato.
Um dia, vou vos trazer para aqui uma reprodução dos painéis e vamos ver esse retrato extraordinário que os portugueses tiraram no fim do século XV. Com todas as classes. Ali há o povo pescador, ali há um frade branco, chamado de São Bernardo, ali há o nobre, ali há o guerreiro, ali há gente que sabia coisas que lia livros, aqueles que estavam dispostos a ensinar a outros aquilo que os outros ignoravam.
E toda aquela gente está com uma visão e com uma face de respeito, de força, de saúde, de vontade e ao mesmo tempo, não entendendo bem que mudança ia haver.
Vão tirar o retrato enquanto é tempo e enquanto a vida lhes corre daquela maneira e têm alguém que eles apresentaram com um livro virado para o povo.
E nós dizemos, se uma família for tirar um retrato a um fotógrafo, for com um livro virado para o público, que naturalmente que vamos ler aquele livro e tiremos conclusões.
O livro tem a parte da missa que se diz no dia em que se celebra o Espírito Santo. E o dia em que se celebra o Espírito Santo era o dia em que o povo português dizia aquilo que queria.
(continua)

quinta-feira, 28 de julho de 2011

d´Arte - Conversas na Galeria XLVIII


Quintas do Norte (em construção) Autor António Tapadinhas
Acrílico sobre Tela 40x60cm

A Murtosa é uma Vila do distrito de Aveiro situada numa planície junto ao Oceano Atlântico, cuja origem remonta aos inícios do século XIII. A sua íntima ligação com o Oceano e com a Ria que tem aqui o seu maior espelho de água, justificavam que as suas principais actividades tenham sido a pesca e o moliço, nome dado à apanha de algas que são utilizadas como fertilizante natural. Os barcos moliceiros ainda continuam a ser utilizados na arte Xávega, um tipo de pesca de arrasto em que o barco sai de terra deixando no fundo uma corda ligada a uma rede, que depois é arrastada até á praia, puxada por bois ou tractores, com o peixe que apanha pelo caminho.
Este trecho da paisagem seduziu-me pela elegância das estacas espetadas no fundo lodoso da ria.
É a partir destas pinceladas de cor dadas com a tinta diluída em água, que eu vou salientar com a tinta mais espessa, as cores e texturas, com vista a conseguir o efeito que pretendo: a tranquilidade de um pôr-do-sol.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Pensamentos?


Sereis sem dúvida uma porta aberta no deslumbramento do quotidiano.

A.A.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Língua e Geografia: Corno de África


Ao ler a manchete


Roma, 25 jul (Lusa) -- A seca no Corno de África provocou uma "situação catastrófica que exige uma ajuda internacional em massa e urgente", declarou hoje o diretor-geral da FAO, Jacques Diouf, na abertura de uma reunião ministerial de urgência em Roma.
Perguntei-me, mas onde fica o Corno [chifre] de África? Olhando para o mapa fica mais fácil compreender.o nome associado à forma ponteaguda daquela parte de África.

Corno de África
Corno de África (português europeu) ou Chifre da África (português brasileiro), também conhecido como Nordeste Africano e algumas vezes como península Somali, é uma designação da região nordeste do continente africano, que inclui a Somália, a Etiópia, o Djibouti e a Eritreia.

Corno de África
Tem uma área de aproximadamente 2 milhões de km² e uma população de cerca de 90,2 milhões de pessoas (Etiópia: 75 mi, Somália: 10 mi, Eritreia: 4,5 mi, e Djibouti: 0,7 mi).

Etimologia
O nome Corno de África pode ter sido originado pela forma pontiaguda daquela parte do continente, ou provir da mitologia. A despeito dos possíveis significados vulgares da palavra corno no português e em outros idiomas, o termo alude, para os nativos da região, ao efeito afrodisíaco do corno de rinoceronte e, para muitos africanos, é um símbolo de poder, além de um importante meio de comunicação: tradicionalmente, o anúncio para as principais cerimónias tribais é feito soprando-se num corno de pala-pala ou cudo, dois dos antílopes mais “nobres”.
Tal referência também é encontrada na cultura chinesa, no episódio mitológico da vitória de Huang Ti, o Imperador Amarelo, sobre Tche Yeu, "o de cabeça cornuda".[1].

(1) Chevalier, Jean e Gheerbrant, Alain. Dicionário de Símbolos. Rio de Janeiro, José Olympio Editora, 1988, pp.233,234.

Saudações.

Margarida

Fonte:http://pt.wikipedia.org/wiki/Corno_de_%C3%81frica

domingo, 24 de julho de 2011

Para esconjurar o medo

Unindo e, simultaneamente, dividindo os povos da Terra, muitas e diversificadas são as culturas, mas apesar de algumas serem tão diferentes que se chega a pensar serem inconciliáveis, há algo de comum a todos os homens e a todas as mulheres, qualquer que seja a cultura em que se insiram: o desejo profundo de amarem e serem amados.

É esta a raiz da nossa humanidade e é por ela que nos tornamos iguais, saciados e compassivos. Teremos muitas outras características e atributos comuns, que certamente definirão a nossa espécie por exemplo, o medo , mas que todavia não nos distinguirão tanto quanto se julgue dos animais que nos são próximos.

Descobrir isto na escola da vida, se mais ganho nos não der, dá-nos pelo menos serenidade, pacifica-nos por dentro, faz-nos desejar um mundo materialmente próspero, socialmente justo, humanamente digno; um mundo onde reconheçamos no outro a nossa própria humanidade. Não o conseguimos ainda, mas afinal é isto precisamente que procuramos há milhares de anos. Não o conseguimos porque nos metemos por caminhos e veredas que nos desviaram do destino. Por isso, desembarcámos neste mundo organizado por poucos e para poucos, permitido pela apatia e rendição generalizada, justificado e prometido como sendo para o bem de todos. E este «melhor dos mundos» em que nos desumanizamos quotidianamente não nos deixa ser quem somos, impele-nos ao desejo, não de amar e ser amados, mas de consumir e de lucrar. Trata-se de uma doença grave, de um cancro espiritual: consumir cada vez mais, lucrar cada vez mais, usar o prazer até à anestesia dos sentidos e exaltar os sentidos até à anulação do sentimento. Que lástima!

Há quem queira explicar tudo isto com a globalização, usando para tal aquele dialecto sombrio e alienante a que alguns chamam de «economês». Tudo é subsumido à economia e os dogmas desta astrologia sem astros substituíram os dogmas religiosos do passado. Agora há só uma religião, que é o mercado, e maldito seja quem dela não for crente. Há até quem ache que tudo estaria luminoso e ungido não fora a crise. Crise? Qual crise? Aquilo a que chamam crise é um processo de obtenção de lucro como qualquer outro. Como qualquer outro, não, nossa consciência com o que de conveniência se justifique; os milhares de mortos e estropiados são apenas danos colaterais, gente que estava no lugar errado do tempo certo.

Sentimo-nos em desconforto, mas o medo pode ainda muito. Medo de que tudo piore, medo de qualquer mudança, medo de que doa, medo do amanhã, medo do de aqui a instantes. Medo do medo.

Por mais que saibamos que não há dragões, o medo de dragões é sempre verdadeiro, não nos deixa caminhar, ata-nos ao chão.


ABDUL CADRE

13/07/2011

sábado, 23 de julho de 2011

Viva a Liberdade!


Nobreza de espírito é a realização da verdadeira liberdade, é a busca permanente da verdade e do bem, a encarnação da dignidade humana.

Não pode haver democracia nem sequer mundo livre sem este alicerce moral.

A verdadeira liberdade é aquela que permite seguir na busca do padrão absoluto pelo qual o nível da dignidade humana deve ser medido.

Eis o grande ideal!

***

Quem preza a civilização e a vida intelectual olha para a história do século XX com verdadeira perplexidade. Quase diria, com estupefacção. Quantos eruditos – académicos, artistas e cientistas – puseram de lado a vida civilizada optando pelo triunfo da mentira, da ditadura, daviolência? Quantos deles colocaram as suas potencialidades às ordens do terror? O rol é certamente incontável.

Mas também, quantos os que se recusaram a abandonar a integridade e por isso morreram às mãos dos algozes da Civilização? Eis outro rol interminável que nos deixa atónitos…

E olhando em redor, o que vemos? Vemos exércitos de eruditos queconsideram mais importante alcançar a resposta final política do que dizer a verdade e pensar sem preconceitos.

Foi depois da guerra de 1939-45 que Hannah Arendt concluiu que a crise só se transforma em drama quando lhe respondemos com preconceitos. E estes mais não são do que as ideias politicamente formatadas. Em vez de recorrerem à liberdade, recorrem às «cartilhas». Ironicamente, fazem-no em nome da liberdade que, desse modo, nãopraticam nem sequer, afinal, admitem.

A traição de parte significativa da intelectualidade está na razão directa da falta de capacidade para assumpção das responsabilidadesintelectuais. É para esses mais cómodo responderem às questões com soluções politicamente formatadas do que assumirem a integridade que deles seria legítimo esperar. Não passam daquilo a que Thomas Mann ironicamente apelidava de «literatos da Civilização», os que sabem tudo relativamente ao que os outros pensam mas pouco ou nada acrescentam da sua própria autoria. Para estes, a felicidade não é uma questão metafísica ou religiosa mas sim e apenas um problema político.

Logicamente, arriscam-se a propor soluções baseadas em ideias geradas em contextos completamente diferentes dos que estão na circunstância em observação. É que, se existe algum lugar onde a submissão reina, é seguramente entre os intelectuais politizados.

Cúmulo da ironia, bradam as receitas encartilhadas à mistura com VIVAS à liberdade.

Porquê tanta traição à nobreza de espírito?

Sedução do poder, influência, inchaço por ser ouvido e quiçá admirado. Numa palavra, vaidade.

O significado de conceitos imortais como o do bem, do mal, dacompaixão, da sabedoria, da justiça, da virtude, raramente é aflorado porque a linguagem actual preza a objectividade dos factos que se analisam em função de objectivos que visam o progresso material.

A busca da verdade só pode seguir a via dos valores perenes dedistinção entre útil e inútil, bem e mal, relevante e insignificante.

Assim, em nome da liberdade, se mata a verdadeira liberdade e seabandona a procura da verdade.


17 de Julho de 2011

Henrique Salles da Fonseca

BIBLIOGRAFIA:

Riemen, Rob NOBREZA DE ESPÍRITO, UM IDEAL ESQUECIDO, Ed. Bizâncio, Lisboa, Abril de 2011

sexta-feira, 22 de julho de 2011

ENCONTROS COM AGOSTINHO



NAMORANDO O AMANHÃ

(2ª. Edição)


2. OLHA, AQUI TEMOS UM CAMINHO


E queridos amigos, neste ponto há uma coisa de que estou convencido.
É que quando as resoluções vêm de cima, quando é para o geral de um país, elas vão ser pouco adequadas aqui e acolá. Há sempre alguma coisa a que o realizador não pode atender que não pode encontrar, aquilo que é pormenor deste ou daquele lugar.
De maneira que ao mesmo tempo que haja essa legislação geral, é preciso que haja uma vontade local –quase diria particular- que atenda ao problema da terra com cuidado.
E tendo a certa altura visto este problema com clareza, eu pensei o que era possível da minha parte fazer nisso.
Se eu fosse rico, não havia –eu quando digo ser rico, quero ter à minha disposição todo o dinheiro do mundo, porque se não falta sempre alguma coisa- então, se eu fosse rico, naturalmente eu, directamente ou por amigos, companheiros, chegava a algum lugar e dizendo: “-Qual é o problema económico desta terra?” e as pessoas eram capazes de me dizer, o problema é na agricultura, ou na indústria, nisto ou naquilo, qualquer ponto. Como este acto se resolve?
E eu não adiantaria nenhuma espécie de remédio. Eu deixaria que as pessoas me dissessem como acham que podiam resolver.
E quando elas tivessem um plano bem firme, eu então poderia chamar amigos economistas, ou amigos da agronomia, ou de qualquer outro assunto em que se tivesse tocado naquela conversa, para eles virem dizer quais os inconvenientes ou convenientes que haviam na solução marcada pelas pessoas.
E se houvesse discordância, eu iria até ao ponto de acreditar mais naquilo que as pessoas tinham achado como ideal, do que aquilo que viesse da ciência do meu amigo economista ou do meu amigo agrónomo. Porque acredito muito mais, como modelador na vida, na vontade que as pessoas têm dentro de si do que naquilo que aprenderam nos livros; podem eles estar errados, pode a pessoa ter lido em diagonal, ao passo que ter tido um ideal e satisfazê-lo, mesmo que se verifique no fim que a coisa não deu certo, é para a pessoa um renovar de confiança em si próprio. Ele ousou ser uma coisa que não lhe era aconselhada por outros que lhe pareciam superiores.
Então se faria uma determinada experiência de economia num lugar.
Se eu passasse a outro lugar e houvesse uma ideia diferente quanto à economia e quanto à maneira de organizar as pessoas para essa economia, eu apoiaria também uma experiência diferente para que depois as experiências se pudessem comparar e se tirassem conclusões gerais para uma colectividade inteira, para muita gente junta.
Eu arranjaria a tal escola aberta de dia e de noite para que as pessoas que tivessem perguntas para fazer viessem aí e perguntassem e a pessoa que estava lá dentro pudesse responder, pelo menos no geral, para que elas compreendessem o problema e pudesse depois, ele próprio, contactar com outras pessoas para poder dar informações mais adequadas.
E quando eu percebesse que as perguntas estavam rareando, havendo ainda tanta coisa para saber, eu faria vir algfuém que incitasse as pessoas a fazerem mais perguntas.
Nunca ninguém se deve satisfazer com aquelas respostas que já tem; que aquelas respostas que tiverem sejam apenas uma pedra mais alta a que eles subiram para fazerem perguntas ainda mais difíceis do que aquelas que já tinham feito e também as respostas adequadas a isso.
E a terceira coisa.
A terceira coisa seria a de se verem cinco maneiras de poder pôr ali alguém que estivesse atento à saúde geral e à saúde de pessoa a pessoa e pudesse dar todos os conselhos que fossem necessários para que ela continuasse a seguir aquela rota.
Tendo eu, meus amigos, um cuidado especial.
Em não ser dono de coisa nenhuma daquelas coisas que deixasse em cada povoação, porque ser dono de coisas, se pode dar a possibilidade de fazer isto ou aquilo, prende ao mesmo tempo a pessoa, e muito, em cuidados com o dinheiro, onde é necessário, se está perdendo, se está ganhando etc, uma série de complicações que estragam a vida de muita gente.
Provavelmente há muita gente rica que todos julgam que estão vivendo opiparamente e passam a noite com fantasmas, com pesadelos, meio acordados, meio a dormir, inquietos, porque supõem que pode falir o banco em que puseram o dinheiro ou que pode dar mau resultado um negócio no qual investiram o seu capital.
Não! Nós o que devemos acima de tudo é estar tranquilos com a vida que levamos desde que ela seja naturalmente adequada às nossas necessidades.
Mas não sou rico, é evidente. E procuro sobretudo, não sendo rico, ser a favor, com muito cuidado com essa história, não é?

(continua)

quinta-feira, 21 de julho de 2011

d´Arte - Conversas na Galeria XLVII



Carrasqueira Autor António Tapadinhas
Acrílico sobre Tela 30x40 cm

Entre este quadro e o da semana anterior medeiam oito anos. A série que tinha pensado fazer nessa altura, estou a fazê-la agora. O rio continua lá, presentemente com golfinhos roazes, sinal que resistiram a um período em que a sua sobrevivência esteve em perigo. A sua comunidade tem actualmente 25 elementos.
A outra comunidade, a dos pescadores agricultores é que continua em perigo.
Como todos nós portugueses que não somos nem agricultores nem pescadores...

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Pensamentos?


Que agradável surpresa o caminho que surge numa esteira de sílabas irreconhecíveis que nada mais são que sons o
cos de memórias.

A.A.

terça-feira, 19 de julho de 2011

Sonda espacial entra na órbita de Vesta


Após quatro anos de viagem, a sonda espacial Dawn entrou na órbita do asteróide Vesta, situado entre as órbitas de Marte e Júpiter. Durante um ano, vai tirar fotografias de alta definição e recolher dados que vão ajudar os cientistas a estudar a formação do sistema solar.

Charles Bolden, director da Agência Espacial Norte-americana – NASA, afirma em comunicado que este acontecimento“é notável, pois é a primeira vez que uma nave espacial entra em órbita de um corpo na principal cintura de asteróides”. Acrescenta que a NASA está encarregada de enviar astronautas a um asteróide em 2025, sendo a missão Dawn crucial para a preparação dessa viagem.

Depois de estudar Vesta, Dawn vai viajar até ao planeta-anão Ceres, onde chegará em 2012. Vesta e Ceres são dois dos maiores corpos da Cintura de Asteróides, região do Sistema Solar compreendida aproximadamente entre as órbitas de Marte e Júpiter. Nesta região encontram-se aproximadamente 100 mil asteróides, considerados escombros da formação do sistema há 4600 milhões de anos.

A sonda transmitiu informações que confirmam a entrada na órbita de Vesta, mas o momento preciso desse acontecimento é desconhecido. O momento da captura Dawn dependeu da massa e da gravidade de Vesta, sobre as quais não há certezas, só estimativas.

A massa do asteróide determina a força de sua atracção gravitacional. Quanto mais massivo for Vesta mais forte é a sua gravidade. Com o Dawn agora em órbita, será possível medir com mais precisão a gravidade do asteróide.

As observações a realizar vão ajudar a compreender os “primeiros capítulos” da história do Sistema Solar. A NASA indica que os dados vão permitir ainda abrir caminho para futuras viagens tripuladas, sendo Marte o principal objectivo das próximas décadas.

Esta missão está a ser dirigida pela Universidade de Califórnia e conta com a colaboração do Centro Aeroespacial alemão, o instituto Max Planck para a Investigação do Sistema Solar e a Agência Espacial Italiana.


in, Ciência Hoje, 19/7/2011

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Condição

Alimento-me da incerteza em que perduro
químicas reações desencadeadas
pelo medo. Medro minha condição
de máquina humanizada em espaços
no branco esforço de me fazer
em traços de concretude: iludo-me
em forças inexistentes.

(Pedro Du Bois, inédito)

domingo, 17 de julho de 2011

Interligação de Universos (17)


……………fala-me sobre identificação e ilusão.

- Ao colocares uma vara dentro de água, verás uma imagem distorcida da mesma, quando observada no plano menos denso, o ar. É uma imagem refractada, uma ilusão. Neste meio menos denso a vara encontra-se mais perto do que ela é na realidade, na essência. Os vossos corpos externos, aqueles que visualizais com os vossos órgãos dos sentidos e com os quais vos identificais são imagens distorcidas dos vossos corpos Reais, o que sois em essência, num plano superior. A vossa Real imagem antes de chegar ao plano mais denso, o físico, atravessa vários planos que se vão densificando verticalmente de cima para baixo. Em cada plano existe um vosso corpo mais ou menos subtil. Ao vos identificardes com o plano mais baixo acreditando ser aquele o único existente, irás continuar com o vosso estado de hipnose neste belo planeta, pensando que estais a evoluir, quando na realidade marcais passo não saindo do mesmo degrau da escada evolutiva. A cada plano corresponde um tipo de consciência cada vez mais ampla e Leis que se tornam necessário cumprir. Sabendo viver essas Leis e que as mesmas se encontram numa escala evolutiva é um estimulo constante para não nos identificarmos com o patamar já atingido. Sabendo morrer para o que já se passou e sendo audazes no Caminho, sem angústia pelo amanhã, ireis vos aproximando da essência, o Eterno Presente. Aí vereis que as vossas passagens pelos planos mais densos são experiências que têm como único objetivo o aproximar da Consciência Única, o Imutável.

António Alfacinha

sábado, 16 de julho de 2011

Pensamentos?


Sem palavras ou sons podereis mergulhar num conhecimento não poluído de verbalização humana.

António Alfacinha

Seminário "Aflições" budistas e "pecados" cristãos

O seminário visa introduzir ao reconhecimento, terapia e libertação das patologias fundamentais que afectam o nosso ser, obscurecendo a consciência e provocando sofrimento, segundo a tradição budista e cristã, onde se divisam notáveis convergências. Estudaremos as seis "aflições" (kleshas) segundo a tradição budista - ignorância, desejo possessivo, orgulho, inveja/ciúme, avidez/avareza, ódio/cólera - e os oito "pensamentos" (logismoi) pecaminosos segundo João Cassiano, base da doutrina cristã dos sete pecados capitais: gula, avareza, obsessão sexual, cólera, tristeza, desespero, vã glória, orgulho. Note-se que "pecar" tem o sentido etimológico e extra-moral de "dar um passo em falso" e "falhar o alvo", numa curiosa afinidade com a "ignorância" (avidya) budista.
Trata-se de reconhecer estas patologias como distorsões da sanidade fundamental do nosso ser, que nela se dissolvem no silêncio meditativo.

Sábado, 23 de Julho, das 15 às 19h. Sede da União Budista Portuguesa: Av. 5 de Outubro, 122 - 8º esq., Lisboa. Comparticipação: 20 euros (uma real indisponibilidade financeira não é impeditiva)

O seminário é orientado por Paulo Borges, presidente da União Budista Portuguesa e professor de Filosofia da Religião na Universidade de Lisboa. Autor de vários livros, entre os quais Descobrir Buda (Lisboa, Âncora Editora, 2010).

Inscrições: sede@uniaobudista.pt
Mais informações: 918113021

sexta-feira, 15 de julho de 2011

ENCONTROS COM AGOSTINHO

NAMORANDO O AMANHÃ



(2ª. Edição)



II- PORTUGAL, A INVENÇÃO DO MAR E O SEU PAPEL NO FUTURO



1. O PÃO QUE AINDA TEMOS QUE AMASSAR



Pediram-me que fizesse uma conferência na Universidade Católica, com toda a espécie de liberdade para dizer o que me apetecesse que é o costume, quando no fim um jovem disse:
“-O senhor falou do que é Portugal, no que foram Portugal e a Europa ontem e hoje. Eu gostava de saber como será no futuro.”
E eu disse:
“-Boa ideia. Porque a mim o que me interessa não é o ontem e o hoje. Eu falei de ontem e de hoje porque era o que estava no vosso programa, porque se estivesse lá a Europa e Portugal no futuro eu também falaria no futuro. Mas é muito simples, a coisa é assim. O futuro é com você que tem vinte anos ou menos, comigo não. Você é que vai voar no século vinte e um; você já nasceu para aí. Eu ainda nasci atrás.
A minha obrigação é fazer uma pista para um avião descolar.
Então, como ainda o que eu estou habituado, fundamentalmente, pelo tempo em que nasci, é a estrada, para mim, preparar o futuro é ir ver que buracos há na estrada e começar a encher os buracos para que amanhã o vosso avião possa levantar voo sem nenhuma espécie de embaraço.”
E ele disse assim:
“-Mas o senhor acha que há buracos na estrada?”
Ai não que não há.
E ele perguntou:
“-Que buracos são?”
E eu digo.
Primeiro buraco na estrada: nem todo o português come. E quando eu digo que nem todo o português come, nem todo o português tem casa, nem todo o português tem uma roupa decente, ou o calçado, ou a cama boa para dormir. Buraco na estrada extremamente importante.
Segundo. Muito português gostaria de saber coisas, quando ouve a rádio, quando vê a televisão, quando vê um jornal, se lê, ele vê que se fala de coisas que ele não pode entender que não sabe o que é, que gostaria de saber.
Gostaria de perguntar, gostaria de ter aquela escola de que outra analfabeta me falou e de que eu falei ao Ministério da Educação.
O que seria para ela uma boa escola, você sabe?
Ela me dizia:
“-Era ter uma casa sempre aberta.” –Ela provavelmente deixava de dia e de noite, sempre aberta. “-Onde eu possa entrar e perguntar aquilo que não sei.”
E é claro que devia ser a escola.
A escola não é o lugar onde se mete na cabeça de uma pessoa, de uma desgraçada de uma criança, aquilo que ela não pretende saber, nem de resposta a coisas que não servem para nada.
O que é preciso é haver escolas preparadas para ensinar cada um a responder às perguntas que cada um queira fazer.
Essa é que é a escola certa.
Então, muitos portugueses não têm mais perguntas para fazer, ou não podem fazer as perguntas porque não há quem lhes responda.
Esse sistema escolar não existe.
Escola sempre aberta para cada um entrar e perguntar o que não sabe.
Ainda com a consciência de que por mais que a gente saiba, eu costumo dizer, morre-se sempre analfabeto em alguma coisa.
Pode-se ser alfabetizado de ter aprendido a ler…
E o resto, e depois?
Quando chega a certa altura e se fala, por exemplo, poluição dos rios, a pessoa pode perguntar o que é essa palavra de poluição? O que é que polui os rios?
E então ela devia encontrar um lugar onde fosse perguntar, “-O que é isso?”, lhe explicassem, viesse ela a ter interesse ou não nesse problema de poluição. Mas pelo menos não tinha ignorância, pelo menos sabia.
Outro buraco.
Enquanto houver um português que queira perguntar alguma coisa e não tenha quem lhe responda, há buracos que impedem todo o avião de descolar.
É preciso que ele seja inteiramente tapado, coberto, para que a pista seja uma pista razoável e dê para levantar voo.
E um terceiro buraco que eu acho muito importante que é o que pouca gente tem em Portugal saúde firme na qual se apoie.
O que há, quando há, é alguma possibilidade de ir à farmácia e comprar a pastilha adequada.
Mas não se trata disso.
Saúde é não precisar de pastilha nenhuma. É ter vivido de tal maneira, ter sido cuidado de tal forma, ter apoio em quem consulte a cada problema que lhe apareça para que nunca precise dessas coisas de hospital ou de consultórios médicos.
Terceiro buraco na estrada.
Então, toda a pessoa que viva no presente e fundamentalmente para o presente mas que cuide do que vão fazer as gerações futuras, tem de ver como é que se cobre esses buracos e avança.
(continua)

quinta-feira, 14 de julho de 2011

d´Arte - Conversas na Galeria XLVI


Carrasqueira - Cais Autor António Tapadinhas
Óleo sobre Tela 90x100cm

Quando falei sobre a saga dos avieiros, mencionei que os “ciganos do rio”, como lhes chamou Alves Redol, procuraram o seu sustento no Vale do Tejo e no estuário do Sado.
Há uma aldeia ribeirinha em plena Reserva Natural do Estuário do Sado, que conserva algumas construções de madeira, cobertas de caniço – os palheiros.
Nesta aldeia, continua a ser utilizado um cais construído em estacas de madeira (palafitas), que se prolonga por centenas de metros sobre os esteiros lodosos do rio.
Foi um processo iniciado por dois pescadores que criaram um acesso para chegarem aos seus barcos, sem se enterrarem no lodo, aos quais se foram juntando outros, até se chegar ao emaranhado de estacas que tornaram este local um dos mais visitados do concelho.
Os habitantes desta aldeia continuam a ganhar o seu sustento, conforme as épocas do ano, com a agricultura e a pesca.
Não sei se são agricultores-pescadores ou pescadores-agricultores. O que sei é que o peixe é uma delícia e, não resisto, tenho um pequeno segredo para lhes contar…
Gostam de batata-doce? Eu também!
Aquele lugar é o seu paraíso. Tem um nome: Carrasqueira.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Fotos de Macapá

Fortaleza de São José do Macapá, em Macapá,
Capital do Estado do Amapá (Norte do Brasil).

Hidemberg Alves da Frota
Outubro de 2010.




terça-feira, 12 de julho de 2011

Massacre das palavras

Fernanda Leite Bião(1)

Letra por letra, unidas.
Eram vogais e consoantes que bailavam.
Tive medo.

As palavras têm seu poder.
E que poder!
Poder de renascer e fazer morrer.

Matam, aniquilam, massacram.
Podem construir o amanhã.
Tudo depende do seu interlocutor.

Anjos e demônios.
Somos todos.
Quem fala mais alto?

______________
(1)Psicóloga, Orientadora Profissional e Professora de Psicologia e Formação Humana em Belo Horizonte (MG). E-mail: fernandabiao9@hotmail.com

segunda-feira, 11 de julho de 2011

O Bardo na Brêtema

A música ouve-se

Por Rudesindo Soutelo(*)

A violinista alemã, Anne Sophie Mutter, numa visita que fez a Madrid com a Orquestra de Câmara de Londres no ano 2004, para um par de concertos dedicados a Mozart, foi entrevistada para o diário El País –jornal que patrocinava os concertos– e ao perguntarem-lhe pela visão que tinha de Mozart, respondeu: “Visão, nenhuma. A música ouve-se”(1).

Essa concisão verbal, sem deixar margem para ambiguidades, é talvez a disciplina que lhe permite ser uma grande intérprete em constante aperfeiçoamento e comprometida com o seu tempo e os compositores actuais, aos que estimula com encomendas para aumentar o seu repertório de concertos e recitais. Isso também lhe permite ter critério próprio e livre sobre o acontecer quotidiano e na mesma entrevista criticava duramente o novo Papa por umas desafortunadas declarações sobre a condição feminina: “ir contra um género é ir contra a humanidade, contra todos, e ainda pior quando se faz em nome de Deus, porque para mim, Deus não tem sexo, nem cor, não é homem nem mulher, nem branco nem preto”(2).

Com certeza há pessoas que podem interpretar isso como uma excentricidade de diva, nomeadamente quando o que está a esclarecer é óbvio pois todos sabem que o som se percebe pelo ouvido. Mas, refletindo sobre essa precisão linguística, deparamos que o binómio visão-audição está na base de outros conflitos. Com frequência, ouvimos referir queixas de que esta ou aquela pessoa não olha nos olhos quando se fala com ela e esse comportamento tem-se, mesmo, por uma má educação. Se a linguagem é falada, portanto auditiva, porque olhar nos olhos?

Existe uma linguagem intercorporal, não-verbal, que relaciona os corpos humanos através da distância física e do tempo num contexto cultural(3). Algo que a psicologia social tem estudado muito e que as equipas de vendedores treinam diariamente para obter melhores resultados económicos. Assim, classificam os clientes segundo o canal de comunicação dominante que utilizam, resultando três categorias básicas: visuais, aqueles que olham de frente; auditivos, os que desviam o olhar para ouvir melhor; e kinésicos, aqueles que evitam o olhar e comunicam com os sentimentos(4), categoria na que podem incluir-se muitos artistas. Basta, pois, adaptar-se ao interlocutor para não contrariar a sua comunicação.

O híper consumismo visual deformou de tal modo a audição que cada vez menos pessoas conseguem ouvir música de olhos fechados e só olham para o seu vazio interior. A diferença entre o que eles ouvem e o que ouve o iniciado –segundo nos esclarece Theodor Adorno na Teoria Estética– “circunscreve o caráter enigmático”(5) já que “a expressão é o olhar das obras de arte”(6).

O economista Jacques Attali –presidente da Comissão para a libertação do crescimento francês– num ensaio sobre a economia política da música, logo na primeira página clarifica a importância do auditivo sobre o visual com estas palavras: “o mundo não se olha, ouve-se; não se lê, escuta-se. Ouvindo os ruídos poderemos compreender melhor para onde nos arrasta a loucura dos homens e das contas, e quais as esperanças ainda possíveis”(7).
Visão, pois, nenhuma; a música ouve-se.

(*) Compositor e Mestre em Educação Artística.
© 2011 by Rudesindo Soutelo
(http://www.soutelo.eu)
(Vila Praia de Âncora: 11-IV-2011)

VER AQUI EM FICHEIRO PDF REVISTO
____________

(1)Ruíz-Mantilla, J. (29 de Abril de 2004). Entrevista: Anne Sophie Mutter Violinista - "Me hubiese gustado que Mozart compusiera para mí". El País, p. 37.
(2)Ibid.
(3)Poyatos, F. (1994). La comunicación no verbal I. Madrid: Istmo.
(4)Henric-Coll, M. (Agosto de 2003). Programación neurolinguística. Obtido em 11 de Abril de 2011, de www.gestiopolis.com: http://www.gestiopolis.com/canales/derrhh/articulos/63/pnl.htm
(5)Adorno, T. W. (2008). Teoria Estética. (A. Morão, Trad.) Lisboa: Edições 70, p. 187.
(6)Ibid. p. 175.
(7)Attali, J. (1977). Ruidos. Ensayo sobre la economía política de la música. Valência: Ruedo Ibérico, p. 9.

domingo, 10 de julho de 2011

Regaleira



Foto de Lucas Rosa

sábado, 9 de julho de 2011

“Lendo Por Entrelinhas Enviusadas”


Leio de forma nua lábios mudos
Penetro olhos desconhecidos adentro
Oiço ao longe o som de surdos
Toco com os dedos música improvável
Pinto pingos de suor num dia quente
Penso em ir sem ir a lado algum
Imagino ficar parado a olhar sem fim
Deito-me sobre a linha ténue do horizonte
Limito-me a atravessar fronteiras da mente
Visto-me tantas vezes de actos de tolerância
Controlo o corpo do topo de uma torre de controle
Viro-me para dentro de um frasco destapado
Rasgo-me dos pés até à ponta de cada cabelo
Retiro-me completamente do interior físico
Refugio-me nos milhões de corações que voam
Abro asas ao ego libertando-o a toda a hora
Deixo as portas abertas à fuga à realidade dual
Remeto-me à pequenês do grão de areia no Universo
E ali fico até ao reiniciar do próximo ciclo sequencial...

...Deste continuado existencial vai e vem da Alma...


Escrito no Campo-Serra, Caldas da Rainha, Portugal, de passagem, a 07 de Julho de 2011, por manuel duarte de sousa, a propósito do direito à Libertação de Pensamento, a que todos os Humanos devem estar sujeitos, sem restrições ou imposições...

sexta-feira, 8 de julho de 2011

ENCONTROS COM AGOSTINHO

NAMORANDO O AMANHÃ


(2ª. Edição)


4. UMA HIPÓTESE DE COMO HAVEREMOS DE CRESCER


Primeiro essa de que os alimentos produzidos vão ser distribuídos. Não há outro jeito.
Quando um governo declara que dá um subsídio de desemprego –e nos países de economia desenvolvida esses subsídios de desemprego duram tanto tempo e dão perfeitamente para que a pessoa viva- então, dar um subsídio de desemprego é dizer:
“-O meu amigo agora alimenta-se de graça. Vai dentro dessa quantia que está aí, comprar o que lhe apetece e viver com isso.”
Mas tem que fazer outra coisa.
É que ninguém aguenta o tempo livre se não tiver nenhuma ocupação que o interesse.
Ai do desgraçado a quem fica o tempo livre e ele não sabe o que é que há-de fazer. Não aprendeu nenhuma coisa interessante para a vida. Não aprendeu, por exemplo, a pintar ou a fotografar, se lhe apetecia ser fotógrafo ou pintor, estava muito longe disso. Então o que o espera é o que espera muitas pessoas reformadas que na vida não aprenderam nunca outra coisa se não a trabalhar. Quando falta o trabalho acabou a razão de viver, não tem mais nada. E lentamente estão desaparecendo do mundo,
Isso tem que se parar rapidamente.
E coisa curiosa, está se fazendo.
Já hoje numa escola, quer a escola primária quer a escola superior, os alunos têm muito mais liberdade do que tinham no tempo em que eu fiz primária ou escola superior, ou até a escola secundária.
Nós éramos obrigados a cumprir ali um programazinho muito taxativo, não tínhamos liberdade de desenhar o que queríamos, tinha que se copiar o que a professora desenhava na pedra e era, em geral, de má qualidade; se fazíamos uma redacção era um tema imposto pela professora. Estava um dia de Sol e ela dizia: “-Façam favor de fazer uma redacção sobre um dia de chuva.” Teríamos que imaginar como teria sido um dia de chuva naquela altura, não é?
Era um ensino totalmente separado da vida.
Hoje não. Hoje já os meninos são incitados a desenhar ou a redigir aquilo por que têm interesse, contar a sua história, seja em imagens, no desenho ou de pintura, seja redigindo, em verso, por exemplo. Escolas em que os meninos já são incitados a fazer poesia e que descobrem esta coisa que afinal, os poetas não são nenhuns seres extraordinários diante dos quais tem que se estar de joelhos admirando. Não. Eles foram apenas os que tiveram mais sorte que os outros. Encontraram circunstâncias na vida, na casa em que se criaram, nas escolas em que andaram, na vida material que tiveram que lhes permitiu conservarem-se poetas, ao passo que os outros que também nasceram poetas…
Que não são só poetas de verso.
A ideia que a pessoa tem de se dizer poeta porque se faz verso, não é verdade.
Poeta é aquele que cria na vida alguma coisa que na vida não existia.
Não existia aquele poema, ele criou, pronto, é poeta. Mas pode ser uma música que ele compôs; um bailado, por exemplo. Pode ser qualquer experiência de Química ou de Física que não se tenha feito e ele a faz. Qualquer avanço da Matemática, por exemplo, que eles conseguem.
E até eu costumo dizer, até alguns podem ser poetas na vadiagem.
Que coisa é essa da vadiagem? Pois meus amigos, é andar pelo mundo olhando o mundo.
E cito sempre o exemplo de uma amiga minha, analfabeta –vive lá para a Beira, para a Serra da Estrela- que queria uma pequena reforma pelo que tinha de trabalhar ainda aos setenta e tal anos ou não sei o quê, queria uma pequena reforma e quando eu lhe perguntei: “-Mas a senhora o que vai fazer com essa reforma?” “-Eu?! Vou ver o mundo.”
E então esse desejo de ver o mundo.
E ainda podíamos dizer que era passear pelo mundo, sem ver o que era bom e o que era mau.
E agora vos vou contar uma outra história que se passou, não comigo mas com um amigo meu.
Quando foi o vinte cinco de Abril, viu-se um casal no Alentejo, marido e mulher com quem ele contactou, tinha recebido um dinheiro com que não contavam; os salários atrasados, supúnhamos, um subsídio qualquer, uma ajuda de férias qualquer coisa do género.
E o meu amigo que tinha uma mentalidade de homem da cidade; achou que eles tinham talvez comprado um rádio, uma televisão ou qualquer coisa assim.
“-E vocês que fizeram com esse dinheiro?”
E a mulher –o marido estava silencioso como é costume deles, não é?- a mulher que falava disse: “-Alugámos um táxi.”
Grande espanto o do meu amigo. “-Sim senhor, alugar um táxi para quê?”, não é?
“-E o que é que vocês fizeram com o táxi? Onde é que foram?”
E ela disse:
“-A Fátima.”
E o meu amigo ficou espantado de eles terem aquele desejo de irem a Fátima. Mas depois entendeu.
Quando ouviam falar que fulano tinha ido aqui ou acolá com algum dinheiro que lhe tinha sobrado, muita gente disse que tinha ido a Fátima. Era aquilo de que se falava mais. Era a terra que se sabia.
Então, foram a Fátima.
“-E que tal Fátima?” –Perguntou o meu amigo.
E eles que eram trabalhadores da terra, a mulher disse assim:
“-Fátima? Aquilo é uma charneca. Não serve para nada.”
Então, perante este juízo que eles tinham feito de Fátima, o meu amigo pensou: “-Bom, esta gente não está a perceber a coisa. É capaz de não entender. Foram lá, não entenderam nada do que pode haver em Fátima diferente da charneca, como muita gente, pelo menos, e o que viram foi a qualidade da terra que era o que lhes interessava.”
Bom, então, em face disto, o meu amigo disse:
“-Bem, então vocês voltaram para casa, não, para trás?”
“-Não senhor, fomos mais à frente.”
“-Então onde é que vocês foram?”
“-Fomos à Batalha.”
E o meu amigo naturalmente percebeu que foi o “chauffeur” de táxi, o motorista que quis ganhar mais uns quilómetros, não é, disse: “-Vocês não querem vir à Batalha?” e eles foram à Batalha.
E perante o que eles tinham dito de Fátima, o meu amigo, já muito descrente das possibilidades deles, disse:
“-E a Batalha que tal? Não gostaram?”
“-Não gostamos? Então não havíamos de gostar de uma renda de pedra como aquela?”
Eles tinham aprendido a beleza do cenário e tinham dado dela uma definição rápida que muito historiador da arte não diria; punha-se ali a explicar o que era o gótico, o manuelino, não sei que mais, uma trapalhada medonha, em lugar de dizer às pessoas, aqueles cavalheiros fizeram uma renda de pedra. E ela, imediatamente foi ao essencial e disse o essencial.
Isso é poesia. É por isso que eu digo que todo o vadio devia ser admitido como um poeta. Sabe-se lá o que é que sucede quando ele olha, quando ele vê as coisas.
E costumo também contar outra história.
Quando se fala na biografia de Newton, aquele que deu com a lei da gravitação… Agora está meio comprometida com a Física moderna mas enfim, ainda se vai mais ou menos por esse lado.
Então conta-se uma história que parece que não é verdadeira mas, se ela se contava como se fosse verdadeira, era porque se achava que a pessoa tinha esse direito.
Então o que se conta dele é que ele, um dia, teve a ideia da lei da gravitação quando lhe caiu uma maçã na cabeça.
E eu digo logo. Ora o que é que andava a fazer aquele cavalheiro?
Ele não estava a dar aulas, porque não é nas aulas que caem maçãs nas cabeças das pessoas. Ele também não estava num laboratório; também não é nos laboratórios que caem maçãs na cabeça.
O cavalheiro andava vadiando, não é?
Então o bom, o certo, é deixar quem quer vadiar, quem quer passear pelos campos, vá passear. Pode ser que lhe caia na cabeça qualquer coisa por dentro e por fora que lhe dê uma ideia muito mais vasta, muito mais interessante que a da simples lei da gravitação que diz que uma coisa tende a cair em cima de outra, quando o que nós o que queremos saber é o que pode elevar uma coisa acima da outra.
Estamos hoje à procura não de uma lei da gravitação, mas de uma lei de levantar voo para aquilo que for o nosso ideal, o nosso sonho.
Pode ser que ao vadio caia alguma coisa na cabeça que dê com essa lei, essa possibilidade extraordinária de o homem voar.
O que vem ligar-se com uma coisa que me aconteceu ontem.

(continua)

quinta-feira, 7 de julho de 2011

d´Arte - Conversas na Galeria XLV


Castelo de Palmela Autor António Tapadinhas
Acrílico sobre tela 40x50cm

Já assinei a obra! Quer dizer que a considero acabada! Algumas vezes, não assino imediatamente, porque não estou totalmente seguro de que o quadro esteja acabado. Deixo-o pendurado no estúdio para que a comunicação se mantenha, até que a tela me diga o que lhe falta. É um processo que tem resultado. Neste caso, tenho a sensação nítida que a obra está acabada: tudo o que fizer a seguir está a alterar a integridade que sinto nela. Às vezes basta um pequeno traço, uma pequena mancha de cor, para alterar substancialmente uma harmonia... Pensemos no que aconteceria se alterássemos as quatro primeiras notas da Quinta Sinfonia de Beethoven! Já foi dito que seria como anular a peça inteira!
Como puderam observar, utilizei inicialmente uma pincelada espessa, carregada de matéria, para se tornar mais expressiva e talvez despertar mais emoções. Tentei encontrar no final um compromisso entre essa pincelada emotiva, e outra mais objectiva, tendo em atenção tanto a construção das formas como a descrição do motivo: Queria que fosse facilmente identificável a Serra do Louro e o Castelo de Palmela.
Deu-me muito prazer fazer esta obra e partilhá-la com os meus amigos, à medida que ia crescendo. Não foram muitos os que comentaram as diversas fases do processo, mas sei que não deixaram de o acompanhar. Talvez noutra altura, se sintam mais à vontade para fazê-lo, pois eu sei que não são precisos especiais conhecimentos técnicos – a vossa sensibilidade chega e sobra!
A todos, o meu muito obrigado!

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Os meninos da salbanda

Ouro Preto, Fonte: Wikipédia.

Contam as lendas e histórias de Minas Gerais, do tempo do Brasil Colônia, que quando o ouro foi achado naquelas paragens por uma expedição oficial do castelhano Francisco Bruza de Espinosa, conhecedor de minas auríferas, os interesses dos colonizadores e da Coroa voltaram-se para a procura do reluzente metal. Os trabalhos de busca eram executados a céu aberto, na garimpagem de córregos e rios, e na escavação subterrânea de morros e montanhas, onde supunham estar as jazidas. Sem mão de obra especializada e suficiente, mais uma vez os colonos e a Coroa portuguesa recorreram à compra de escravos africanos, como já haviam feito os plantadores de cana e senhores de engenho. A maioria dos negros vinha de Angola e de São Jorge da Mina, na África. No porto de Paraty, no Rio de Janeiro, os sobreviventes à desumana travessia marítima eram comprados e levados, escoltados, pelos tropeiros. Amarrados, descalços, adultos e crianças, maltrapilhos, seguiam a pé pela Estrada Real até a região aurífera (principalmente Vila Rica, Mariana, Sabará, São João Del Rei. e Tijuco). O caminho seguido pelos escravos era outra epopéia, desta vez terrestre, até chegarem ao seu triste destino.
Rugendas(Mineradores), Fonte: Enciclopédia Itau cultural

Naquela região mineira os africanos eram escolhidos para os serviços de mineração, gerais, ou domésticos, de acordo com a aptidão física. Os de compleição longilínea e forte iam para o transporte das sinhás, eram os carregadores de liteiras, usados também nos serviços para toda a obra. Os de porte baixo e atarracado, em geral da região da Mina, eram mais procurados para os trabalhos de exploração nas minas.

A busca subterrânea do ouro era feita de maneira rudimentar. As escavações e retirada do material rochoso parava quando atingiam o lençol freático e se formavam poços alagados nos fundos dos buracos. Lavrava-se apenas o ouro encontrado na jacutinga, salbanda e nos itabiritos. No auge do ciclo do ouro mineiro ( 1695 a 1800), quando chegaram a resgatar só em Vila Rica e Mariana cerca de 700 toneladas de ouro, eram tantos os escravos que numericamente chegavam quase à metade da população da Capitania.

Mal alimentado, vivendo em senzalas úmidas e atulhadas, trabalhando de sol a sol em ambiente insalubre, mal iluminado por tochas de sebo, com pouca aeração e arriscado, o negro minerador não durava muito tempo. Os jovens raramente passavam dos vinte e um anos. Após um curto período de trabalhos de 5 a 7 anos, se não pereciam antes em acidentes e soterramentos, nas minas, morriam de doenças cardiorrespiratórias (tuberculose, silicose, pneumonias) e anemias.

Nos poços verticais furados na rocha, por serem lugares exíguos e estreitos, de difícil acesso, utilizavam crianças pequenas (mais de 7 anos) para atingir a salbanda, camada intermediária da rocha, facilmente escavável, naquela região rica em ouro. Os negrinhos desciam os estreitos e íngremes degraus, escavados na própria rocha, para retirar o material que colocavam numa bolsa de couro. Na subida de volta, se resvalavam, caiam arrastando consigo os outros que vinham atrás. Muitos morriam sufocados ou feridos, abandonados na escuridão do fundo do poço. Dizem os moradores da região, os mais antigos, que ainda pode-se encontrar ossos dessas crianças da salbanda, que ficaram esquecidos dentro de buracos, nas minas.

Apesar das condições miseráveis em que viviam, era permitido aos escravos garimparem por conta própria aos domingos e dias santos. O ouro que arrebanhavam dessa maneira e de forma ludibriosa (engoliam ou escondiam pepitas na carapinha, e até enterravam com os defuntos ouro, em covas rasas, no cemitério de escravos...) era utilizado para comprarem a alforria e para fundarem Irmandades negras (Nossa Senhora do Rosário) que ajudavam outros escravos.

À custa de grandes sacrifícios e sofrimentos, o ouro que os negros africanos tiraram das terras mineiras alucinou a imaginação de Senhores, atiçou a cobiça de aventureiros, provocou muitas mortes e brigas, engrandeceu a imagem arquitetônica da Igreja, construiu e embelezou palácios, abriu caminhos, fez surgir cidades, criou em Minas Gerais uma cultura barroca específica, ajudou a reconstruir cidades na Europa, enriqueceu os cofres de Estados estrangeiros e , após tantos anos, ainda alavanca a economia do país e desperta a curiosidade histórica.

Maria Eduarda Fagundes
Uberaba, 30 de junho de 2011

terça-feira, 5 de julho de 2011

Tudo certo

Tomar banho de sol, só
até ao meio-dia
e ao fim da tarde, uma Avé Maria

Consultar o médico
confiando irremediavelmente em nós
pulsar, de intuição pura

Condicionar o ar e desligar
tomar refresco
até não se constipar

Compor o corpo, marchar
a estudar as leis da Física
e aplicar, um Pai Nosso

Fortalecer o corpo para lutar
pela paz, por ti
como um filho de Ghandi

Rebentar de boa ação, redenção
Redentor de mil e um e-vento
como pôr fim ao sofrimento

Ou ficar toda a semana
debaixo da figueira com Gautama, islâmico
o Encoberto cabalista de sempre

Não há morte para a alma
invisíveis alados por todos os lados
a estudar se atingem bons resultados

Não é mais a criação
dos deuses, do que uma boa ideia
adornada por palavras certas

E, por fim, voltando ao principio
acautelando uma boa briga
para descanso geral da barriga

Também ao mundo não virá mal
se dermos meio a que Portugal, revele
esse infinito espírito santo


(ao Diogo Correia)


5/7/2011
Luis Santos

segunda-feira, 4 de julho de 2011

A União Europeia destruiu a Indústria tradicional portuguesa e agora pede-lhe Contas. O Negócio com as Dívidas dos Países sob Observação da Troica.

A tragédia da Grécia arrasta-se, de maneira humilhante, sem que haja uma perspectiva honrosa para as partes. A crise financeira em que se encontram os países sob observação da Troika é consequência dum crise das instituições da EU e da desarmonia das suas economias.

Assistimos a um conflito macabro entre a Europa do Norte e a Europa do sul; fundamentalmente um conflito entre os países carentes e os países fortes.

Os países ricos querem vender /exportar para os países pobres, sem contrapartidas de investimento sério nestes países. Como macro-produtores colocam, os seus produtos a preço de concorrência com os produtos das empresas locais. Em Portugal, a União Europeia destruiu as indústrias do calçado, das pescas, dos têxteis e em parte a agricultura. A princípio, as multinacionais internacionais instalaram-se provisoriamente nos países da periferia para se aproveitarem dos fundo perdidos da EU. Depois de passar o prazo de compromisso assumido começaram a abandonar o país ou a reduzir a produção. Ficam redes de intermediários que passam a servir o mercado com produtos importados. Resultado: a fraca economia é ainda mais enfraquecida ao ver as pequenas e médias empresas desaparecerem.

Em Portugal pude observar isto na zona de S. João da Madeira. Uma empresa alemã, aproveitando-se do saber especializado da região em calçado, instalou, lá e noutras zonas, grandes fábricas de calçado. A sua concorrência levou muitas empresas pequenas e médias à falência. Depois a empresa fechou uma fábrica e racionalizou outras para se irem aproveitar doutras zonas mais baratas fora de Portugal. Para trás ficam os trabalhadores sem capacidade de compra. Estes servem-se dos produtos chineses baratos mas de má qualidade.

O turbo-capitalismo passa pelos países como um furacão arrastando tudo atrás dele. Deixam o país com maus hábitos explorando-os depois através dos abutres financeiros.

A Europa é um projecto político que está a ser destruído por interesses económicos turbo-capitalistas demolidores de nações. São de tal modo grandes que obrigam os países a pôr tudo à venda e a privatizar tudo no seu interesse.

Atendendo às diferentes tradições na economia não se pode chegar nunca a uma solução satisfatória, com agravante da moeda única. Como a política económica europeia é inconsequente, torna-se consequente a exigência da Chanceler alemã Merkel ao exigir que os bancos apoiem os países fracos. Os credores têm de renunciar a uma parte das suas exigências através dum acordo de dívida, para que Portugal e a Grécia se libertem de parte da sua dívida. Consequentemente alguns bancos entrariam em crise.

Só uma prorrogação dos períodos de reembolso para os títulos do governo e créditos de apoio com juros baixos poderão dar tempo ao país para reorganizar e disciplinar a sua economia. Só neste caso se poderia compreender a intervenção duma Troika controladora. Portugal para cumprir o memorando da Troika terá de renunciar à sua soberania e transformar os portuguesesem assalariados do grande capital, sem capacidade de se erguer com dignidade.

Temos uma EU com economias de diferentes tradições. O Norte, exportador e disciplinado está interessado num euro forte devido aos interesses financeiros mundiais e o Sul que não consegue produtividade concorrente e que pelo facto estaria interessado na desvalorização do Euro, para assim poder exportar os seus produtos mais baratos em relação a outras moedas. Como os países fortes não instalam empresas de grande alcance internacional nos países da periferia, estes, para manterem um nível alto de vida, recorrem à importação e ao crédito financeiro internacional. Assim passa um país inteiro a viver “com as calças na mão.” Terá de hipotecar também os esforços de estabilização não lhe restando fundo de meneio para investimentos próprios.

No caso de não haver na Europa uma distribuição equitativa das fontes de produção, o Norte Europeu terá de fazer grandes transferências de capitais (fundos de solidariedade) para os países pobres. Assistimos a um jogo de batoteiros em que uns têm os trunfos e os outros a “canalha”. A Troika vela pelos interesses do grande capital! Os deuses europeus parecem agarrar-se à vaca da europa mas só enquanto ela dá leite.

Faltam os investimentos; os créditos de apoio financeiro estrangulam povos enações. Este apoio revela-se apenas em favor dos accionistas e dos países com economias fortes. Precisa-se uma política de investimento económico, de firmas alemãs e dos países criar fábricas e lugares de trabalho nos países da periferia. Doutro modo encontramo-nos numa divisão do mundo em países ricos produtores e em países pobres consumidores. Assiste-se, ao mesmo tempo, à concentração do saber especializado nas mãos de alguns e do saber proletarizado para a generalidade.

O programa de assistência financeira visa assegurar o pagamento aos credores internacionais. Estes vêm dos países fortes, que se vêem divididos entre a defesa dos seus bancos interessando-se por isso em facilitar os créditos para que os governos possam pagar os juros aos seus Bancos. Seguem assim uma política anti-contribuinte.

Um país como a Alemanha consegue créditos no mercado financeiro internacional a 3% para depois poder emprestá-lo a Portugal a 7% e à Grécia a 11%. Facto é que Portugal também disponibilizou dinheiro para a Grécia ganhando algum; não muito porque não tem o crédito/confiança internacional duma Alemanha. Este sistema só beneficia os especuladores bancários com os seus accionistas e promove a irresponsabilidade. Na União Europeia não há honestidade.

António da Cunha Duarte Justo
Antoniocunhajustogooglemail.com
www.antonio-justo.eu