sexta-feira, 18 de novembro de 2011

d´Arte - Conversas na Galeria LXIII


CUF Autor António Tapadinhas
Óleo sobre tela
(clique sobre imagem para ver em pormenor)

Esta tela é uma recriação de uma pintura de Kokoschka, pintor do expressionismo alemão (1886-1980), nascido em Pochlarn, perto de Viena.
Quem a baptizou foi a amiga que me comprou a tela. Na sua paixão à primeira vista pela obra, logo lhe chamou Cuf, porque as suas cores estranhas, sobretudo do céu, lhe faziam lembrar uma das principais unidades industriais portuguesas, situada no Barreiro. No seu período de ouro, esta unidade empregava mais de 10.000 trabalhadores. As suas lutas reivindicativas, a sua resistência e luta contra as injustiças, transformaram o Barreiro num símbolo da luta contra a ditadura, mas também num símbolo de poluição, bem visível nos fumos verdes e alaranjados que as chaminés lançavam na atmosfera.
Não utilizei nesta obra nenhuma tinta preta. Consegui a substituição dessa cor com a combinação de Cadmium Red Hue e Prussian Blue Hue, para sublinhar a intensidade vibrante, cheia de enganadores matizes luminosos, das poluídas águas do rio.
Parece-me que assim se consegue o melhor de dois mundos: chamar a atenção para um problema da Humanidade, sem ser agressivo a ponto de causar mal-estar ao observador, tornando-o mais receptivo, julgo eu, à mensagem que se pretende passar.
É assim que entendo a Arte; a sua justificação é a sua Beleza!

4 comentários:

luis santos disse...

Uma fábrica em que os esgotos e
os fumos químicos
misturados com os azotos
correm a céu aberto.

E tantos amigos que ganharam e gastaram ali
a vida.

Tudo bem a propósito,
como este expressionismo alemão
rima com industrialização.

(Cliquem em cima da pintura para ver ao pormenor)

Luís F. de A. Gomes disse...

É um velho problema, esse de se saber se importa à Arte, em quaisquer das suas manifestações, fazer-se veículo de propostas em face dos problemas que à Humanidade se colocam. Naturalmente não existem unanimidades e várias são as perspectivas que se colocam e, provavelmente, em todas esses âmbitos se acrescentaram peças intemporais ao património artístico humano. No entanto, há um mínimo que desde os primórdios poderemos encontrar em troda a produção artística, tanto no domínio da literatura como no da pintura; a dupla propriedade de fazer pensar e simplesmente divertir e, na verdade, não há como negar que a Arte não tenha outro desiderato para lá do encanto que provoque. Ora tendo isto em conta, então teremos que admitir que ao artista assiste a possibilidade de escolher apenas um desses caminhos ou optar pela simbioso de ambos. A partir daqui surge o gosto e nessa medida, direi que para meu gosto estou de acordo contigo e também eu prefiro as manifestações artísticas que nos convidando a pensar, fogem a uma atitude panfletária e proselista sejam quais forem os seus contornos. É, digamos pelo contexto, o dartear que faz falta e que tens aqui feito sem qualquer concessão quer à facilidade, quer aos alindamentos de circunstâncias ou para gerar concordâncias vazias.

E mais uma vez o fazes com a tua própria linguagem, o teu próprio cunho pessoal o que, para mim, é o mais importante.

Aquele abraço, companheiro
Luís

A.Tapadinhas disse...

Cuf, pela sua dimensão tornou-se um símbolo do que deve e não deve acontecer no nosso país.

Temo que a pretexto da falta de dinheiro, paulatinamente, o que não deve acontecer se vá tornando norma...

Abraço,
António

A.Tapadinhas disse...

O proseletismo cego nunca foi bom para os que pretendem pensar pela sua cabeça, ou com cabeça...

Por isso, quase sempre um elemento pertubador do pensamento livre...

e muitas vezes castrador da Arte, conforme nós a entendemos...

Abraço,
António