Uma Revista que se pretende livre, tendo até a liberdade de o não ser. Livre na divisa, imprevisível na senha. Este "Estudo Geral", também virado à participação local, lembra a fundação do "Estudo Geral" em Portugal, lá longe no ido século XIII, por D. Dinis, "o plantador das naus a haver", como lhe chama Fernando Pessoa em "Mensagem". Coordenação de Edição: Luís Santos.
quinta-feira, 24 de novembro de 2011
d´Arte - Conversas na Galeria LXIV
Caldeira da Moita Autor António Tapadinhas
Acrílico sobre Tela 30x90cm
Este é o aspecto actual da Caldeira da Moita na preia-mar. Digo actual, porque estão projectadas obras que poderão alterar substancialmente esta visão. O formato panorâmico desta tela permite formar uma ideia da sua beleza.
A embarcação que se destaca neste quadro é o varino “Boa Viagem”, da Câmara Municipal da Moita, restaurado em 1981.
O seu nome teve origem nos "ovarinos", embarcações de Ovar. Barco típico do Tejo, servia para transportar carga, e tal como a fragata, também era de casco bojudo, mas mais elegante e sem quilha. O seu fundo liso permite-lhe singrar em águas pouco profundas, adequando-se perfeitamente à navegação nos esteiros do Tejo.
Aparelhava uma ou duas velas de estai substituindo o latino triangular por um quadrangular, num mastro inclinado para a ré. Tinha duas cobertas com anteparas, porão com paneiros e ainda bordas falsas para um melhor acondicionamento da carga.
É uma embarcação muito elegante, e simultaneamente muito robusta.
Os varinos vão continuar a sulcar o Tejo, não para transportar mercadorias, mas para navegar ao serviço de cidadãos interessados em ver o rio de um ângulo diferente. Condenados a apodrecer, esta é a segunda oportunidade dos varinos, recuperados e prontos para iniciar uma nova vida…
Quem não gostaria de ter também uma segunda oportunidade?
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5 comentários:
Bonito "O Boa Viagem" e esta perspetiva da Caldeira da Moita. Parece que terminou a intervenção camarária prevista na Caldeira e ainda não tivemos oportunidade para admirar o novo enquadramento paisagístico com o pretendido "espelho de água", o dique, a passagem de peões para a outra margem... Como ficou?
Até há pouco tempo atrás a Câmara Municipal da Moita mantinha em navegação dois varinos: "O Boa Viagem" e a "Pombinha" (uma varina?)as duas últimas embarcações tradicionais de grande porte existentes no Concelho. A Pombinha encostou, faz meses, no estaleiro de Mestre Zé Lopes(?)a precisar de restauro... Muito bonita a Pombinha, feminina, ladina, esguia, ligeira, elegante, robusta mas dócil de manobrar. Uma flor feita mulher.
Tivemos tempos em que chegámos a ir à vela de "stein"(?) ajudando o chefe de pilotagem, amigo Mário, filho do Marinho da Graça, saudoso velho capitão do mar, nascido no célebre e histórico Palácio da Graça. O tal por onde passou a família real, D.João I e seus filhos, a inclita geração, em que pontuava Seu Infante D. Henrique, o Navegador, e onde se ultimaram os planos para a conquista de Ceuta o primeiro grande passo da expansão ultramarina portuguesa.
Nunca mais tivémos notícia dela. Ao que parece o restauro está caro e o interesse metido na coisa também não era muito. Mas, como dissémos, faz tempo que não ouvimos falar dela e até pode ser que existam boas novidades. Aproveitaremos a lembrança e contactaremos alguém ligado ao poder local.
Será que não estará na hora de a fazer regressar ao Cais Velho de Alhos Vedros, dos homens velhos com asas, onde durante tanto tempo morou? Pode ser que o poder local, ou até alguma das Associações mais ligadas ao rio se interessem pelo assunto e a consigam trazer de volta. Seria bom.
Abraço Geral.
É verdade, os varinos são os burros das águas, neste caso do Tejo e tal como esses outros carregadores que, por estas paragens, andam tão perto da extinção, será o gosto que os humanos têm por passear que os salvará desse apagamento físico que, ainda assim, não o seria na memória pois em tal domínio e entre outros factores, aqui teríamos a pintura para nos dar a ver como tinham sido aos tempos em que por essa estrada líquida faziam circular as coisas e as pessoas.
É claro que hoje temos a fotografia e o filme e que por tais vias nos colocamos a salvo da impossibilidade de não termos registos das manifestações culturais dos nossos dias. No entanto, creio que a pintura, pela subjectividade que envolve, continuará a ter o seu papel em tais actos de preservação da memória pois muito melhor que qualquer registo frio que possa obter pela aplicação de uma qualquer daquelas tecnologias, esta deixará para sempre o olhar que os coevos tiveram sobre o seu próprio tempo e isso é uma outra fonte de materiais –o discurso émico de um povo é sempre um dos primeiros elementos com que nos podemos confrontar para abordar as mentalidades que no mesmo se manifestam- que importa preservar para o futuro para que aí se possa compreender melhor o passado de que se partiu.
Ora neste sentido a tua pintura cumpre o seu papel e, para nosso deslumbre, deixando bem claro o quanto a Borda de Água merece bem o olhar colorido de quem sabe levar o mundo a formar-se e a crescer numa tela em branco.
Aquele abraço, companheiro
Luís
Acho que ficou bom e... bonito! O dique cumpre o seu papel, deixa passar ou retém a água, conforme lhe dá na gana...
Estou a pensar dar o baptismo de água (de fogo espero que nunca!) ao meu neto na próxima visita que ele me fizer: dar um passeio no varino pelas águas do Tejo!
Mas, ontem, ontem nosso Deus ou Diabo, que também conta, fiquei horrorizado (até a palavra é horrivel)! Fui pôr pneus novos no carro e atravessei a pé a ponte junto ao Matão (outra palavra horrível, esta talvez bem aplicada porque é lá que aprisionam os cães que são apanhados na rua) e o rio da Moita estava da cor do café com borras e com o cheiro duma vacaria em pleno funcionamento...
Abraço,
António
PS Acho que este teu comentário, se quiseres podes juntar o meu, seria uma boa abertura para o "Miradouro"...
Luís F. de A. Gomes: Quando comecei a escrever a resposta ao comentário do teu homónimo, e nosso amigo, ainda não estava o teu plasmado no ecrã.
Acho o máximo essa definição de varino: os burros da água.
Pois, pensando bem, são isso mesmo!
E tal como os outros, os verdadeiros, estão em vias de extinção!
Que dos outros, os metafóricos, cada vez há mais...
...infelizmente!
Abraço,
António
Fui, como ia dizendo, informar-me sobre "A Pombinha", o outro varino que até à pouco fazia companhia ao "Boa Viagem", e os maiores receios confirmaram-se. A "Pombinha" jaz em agonia no estaleiro de Mestre Jaime para nunca mais. Mais um golpe fatal dado no nosso, já de si, tão mal tratado património histórico. É com muita tristeza que o registamos.
Abraços.
P.S. Assim que o Croca der o tiro de partida para o Miradouro seguirei a tua sugestão.
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