terça-feira, 23 de julho de 2013

A COMUNIDADE DO VALE DA ESPERANÇA - UMA CRÓNICA



O interesse pelo meu trabalho continua, muito embora, propriamente dito, as novidades desta tarde não o sejam inteiramente, pois tinha ficado mais ou menos assente que este convite teria lugar e com o propósito de vir a ser posto em prática já no ano lectivo que se seguirá às férias deste Verão que, por sua vez, teima em não dar tréguas nesta canícula que nos atira para a piscina com o mesmo gosto que os miúdos se entregam à brincadeira. Seja como for, pelo telefonema de há umas horas, fiquei a saber que a direcção que trata dos estágios dos professores para o liceu, conta que eu organize e execute uma série de sessões de formação a respeito de como planificar uma aula e estabelecer as melhores maneiras de apresentar uma matéria.
Com efeito, é justamente aí que incide toda a teoria da minha tese de doutoramento.
Eu parto de pressupostos muito simples. Antes de mais pela resposta às duas perguntas mais elementares e, quanto a mim, prioritárias que poderemos considerar. O que podemos entender por uma lição? Em que consiste uma aula?
Ora uma lição, na sua forma mínima, é um conjunto de conhecimentos que se transmite a outrem e a aula é, precisamente, o espaço e o lapso de tempo em que aquela ocorre.
Temos por isso que independentemente da vontade ou consciência de um observador, em todos os casos que possamos tomar como exemplificativos de qualquer um daqueles fenómenos, há necessariamente três elementos que se repetem e sem qualquer dos quais pura e simplesmente deixaremos de estar perante os mesmos, tal como anteriormente os concebemos.
Esses denominadores comuns são os seguintes:
Um, de ordem material, é o conteúdo temático daquilo que se pretende ensinar, digamos, em linguagem simplificada, a matéria a ministrar na aula.
Os restantes, de natureza humana, especificamente o professor que expõe e explica os saberes que queremos que sejam aprendidos pelos alunos que, em tal contexto, são o outro componente da situação.
Qual é o problema que imediatamente teremos que resolver na preparação de uma aula? Trata-se de compreender e equacionar como poderemos proceder para ensinar um determinado assunto e conseguir que este seja entendido e, de preferência, assimilado por aqueles a quem se destina.
Pois bem, o desafio básico passa desta forma a girar em torno da escolha dos melhores processos para, num certo momento, conseguir que uma dada plateia aprenda uma temática particular. Por outras palavras e em termos de uma ocorrência concreta, qual será o procedimento mais eficaz para que estas pessoas venham a aprender estes dados especificamente considerados?
Àqueles que apontámos como as partículas mínimas de uma aula ou lição, o binómio professor aluno e o objecto de estudo, temos com isso de acrescentar os meios, os métodos, os mecanismos, as tecnologias que tenhamos ao nossos dispor para que possamos levar a bom porto a missão em apreço.
Em resumo, não será errado dizer que uma lição é a transmissão ordenada e dirigida de uma mensagem ou um conjunto de mensagens, tendo em vista que as mesmas sejam aprendidas por aqueles que as recebem. Para aquela existe naturalmente um emissor e um receptor, cabendo ao primeiro optar pelas metodologias e técnicas apropriadas para que os objectivos sejam atingidos.
Com isto se espera que o transmissor esteja devidamente preparado e documentado no domínio que lhe é proposto abordar, mas também que possua uma boa formação no âmbito de saber elaborar a conveniente exposição dos temas.
Para tanto, quais são os recursos que poderemos eventualmente utilizar? Vários e de ordem diversa. A começar pelos materiais bibliográficos, dos livros, propriamente ditos, aos meros excertos de textos. Igualmente é de explorar a aplicação de imagens, da simples fotografia aos slides, sem esquecer o filme, em função do qual se pode partir para o esmiuçar de uma questão qualquer. Pessoalmente e com o desiderato de o usar no próximo ano lectivo, já tratei de pedir na associação que assegurem a projecção de “Um Violino No Telhado”, a partir do qual pretendo levar os alunos a reflectirem sobre os impactos de uma religião no dia a dia das pessoas comuns. Bem como temos de estar despertos e atentos às novas possibilidades tecnológicas, como, por exemplo, a retroprojecção de transparências em que poderemos destacar uma ideia que nos interesse, ou qualquer esquema relevante para o que estejamos a dizer e que obviamente preparamos para usar na oportunidade certa. Isto para além da tradicional cartografia que nos serve para localizarmos um qualquer evento ou um sítio determinado e das já habituais visitas de estudo invariavelmente com finalidades precisas e de carácter prático e complementares de um determinado conteúdo programático. Aqui, em tão heterogéneo conjunto, incluo os chamados trabalhos para casa que podem e devem ser praticados como complemento daquilo que se ensina e não apenas enquanto aplicação e treino daquilo que se aprendeu que, para isso, há que tirar partido das fichas de trabalho que os alunos, em geral, executam na sala de aula e que em concomitância servem como registo dos conhecimentos que se vão aprendendo. São estas as ferramentas que um professor pode escolher para desenvolver a sua acção.
Materializando agora com algo que não está incluído no programa do ensino oficial.
Suponhamos que eu pretendia falar das origens do pensamento político moderno e, portanto, teria que tratar de Spinoza e apresentar uma síntese do que consistiu a sua visão a respeito do estado e do papel dos governantes na sociedade.
Poderia muito bem solicitar um trabalho feito em casa, no qual, em poucas linhas, se fizesse um pequeno apanhado biográfico do sujeito. Não ficaria mal se me munisse de um texto ou de uma compilação de pequenos textos que resumissem o cerne das ideias do filósofo e, por último, poderia ainda ter um pequeno registo dos principais pensamentos, em acetato. Seria de toda a pertinência que elaborasse uma ficha de trabalho através da qual se tomasse a devida nota e simultaneamente se exercitasse o controle da aprendizagem sobre a matéria dada. Para ilustrar a exposição e a correcção do trabalho de casa, ficaria muito bem a passagem de diapositivos relativos à Amesterdão da época em que o homem que, por sinal, era de origem portuguesa, viveu.
Começaria então pelo tratamento do que tinha sido pedido aos alunos, a partir do que contextualizaria aquele grande pensador e a respectiva obra, ao que se seguiria a leitura e interpretação dos textos complementares, a primeira operação garantida pelos alunos e a segunda ainda pelos mesmos, desta feita mediante a orientação proporcionada pelas perguntas que lhes colocasse e que confluiriam para irmos ao encontro das conclusões previamente destacadas nas transparências que, em conformidade, culminariam os trabalhos. Na aula seguinte, depois de uma recapitulação da sessão anterior, necessariamente obtida a partir das respostas dadas pelos alunos às perguntas que, com esse propósito, lhes colocasse, passaríamos então à resolução da ficha de trabalho que, tendo um tempo dado para ser feita, seria seguidamente corrigida na aula com o que posteriormente se poderia partir para a matéria seguinte.
Eis, grosso modo, aquilo que terei para ensinar aos novos estagiários.

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