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A história pode
resumir-se assim: anos antes da chegada dos europeus ao continente africano,
dá-se numa aldeia um acontecimento imprevisto: um aldeão obtém do exterior gado
bovino da raça barrosã. O facto desencadeia vários conflitos que culminam com a
desgraça de um dos filhos: Cisoka. Este, enfeitiçado com a rama de abóbora,
fica privado de memória.
O jovem descreve deste
modo a sua desventura: “Chamo-me Cisoka, filho de Ciwale
e Esendje, a quem os homens lançaram ao corpo o feitiço da rama de abóbora; a
abóbora que cresce no arimo; o arimo que amaldiçoou a maldade dos homens; os
homens manchados com o mal por terem visto o gado; o gado obtido na terra dos
homens que andam no mar.”
E quem melhor que José Luandino
Vieira, o prefaciador deste livro, para nos explicar/resumir o que de facto se
passa? Eis parte das suas palavras: “(…) E não um feitiço
qualquer, desses curiais para facto ou situação avulso na vida quotidiana do
angolano, o sabido e consabido. Mas o poderoso, o raro, o quase absoluto: o
feitiço da rama de abóbora.
A um feitiço desses não
se exige palavras. Dele nos damos conta não por nos dizerem, denuncia. Só no
descomportamento da comunidade se revela o que é, para todos, loucura do
enfeitiçado. Simultaneamente é clareza, lucidez, luz que desvela e revela
actos, acções e peripécias, próprias ou alheias, a seus próprios olhos. Um
homem em busca da sua identidade profunda pode por vezes esquecer o que parece
óbvio: o feitiço da rama de abóbora lhe foi posto pela posse pura e simples, em
sua família, de riqueza proveniente de bois estrangeiros, bovinos de raça barrosã,
animais originários dessa terra dos homens que andam no mar…”.
Cuidado, muito cuidado
com o feitiço da rama de abóbora!
Tomás Lima Coelho
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