Pode até não ter graça, mas façam de conta que estou a
propor analisarmos o país à luz da filosofia do Pátio das Cantigas.
Num pátio, como se sabe, todos são primos e
primas e o que importa é a marcha à fulambó e saltar à fogueira nos santos
populares. No fim, o Evaristo casa a filha com o marçano e todos lá vão
cantando e rindo: ailó, ailó, ailó-ailó-ailó…
Sem qualquer xenofobismo, é curioso de se ver
que o estado-maior desta desgovernança a mando do barão (ou será conde?) de
Boliqueime tinha como cabeças de cartaz o canadiano Álvaro, o alemão Gaspar, os
angolanos (almas gémeas) Relvas & Passos. Saídos os mais estrangeiros (ou
estrangeirados?) morte lenta e chico esperto, surge a moçambicana que não
mente, nunca mente – única coisinha fofa assim no mundo – e que todavia mente
com quantos dentes tem (verdadeiros e postiços), faltando-lhe apenas o do siso.
A moçambicana foi professora do Coelho, no
curso da treta que lhe foi oferecido por bons serviços prestados à fábrica de
laranjas e laranjinhas. Há que agradecer as boas notas e recomendações, que
este é o país das cunhas e dos empenhos, onde o povo bate palmas, mesmo que em
missa, mesmo que em funeral.
E por falar em laranjinhas, aquela escola de
penduras e conspiradores dá os seus frutos. O Passos não percebe nada de
economia, de finanças, de bom senso, de ética e fala um português de arrepiar.
O homem fala, fala e não diz nada, limita-se a dar pontapés na gramática. No
entanto, quando se trata de conspirar, merece nota vinte. Ele, com o
beneplácito do senhor reformado que está em Belém, deu um nó cego ao Seguro que
ficou seguro pelo pescoço, e acorrentou ao esterquilínio do governo o Paulinho
das feiras e submarinos. Melhor ainda: amansou a revolta do laranjal e parte
para as autárquicas como se fosse o Evaristo do tens cá disto.
Neste momento vai gente a passar na rua. São
desempregados, naturalmente. E cantam: ailó, ailó, ailó-ailó-ailó…
Isto é um pátio, e num pátio não se passa
nada…
ABDUL CADRE
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