Gonçalo Rego
Licenciado em História,
professor e jornalista, nasceu em Pinelo, Trás-os-Montes. A infância e
adolescência foram passadas na ilha Terceira, nos Açores, em Angola e na ilha
da Madeira. Veio a fixar-se no Barreiro onde passou a residir a partir de 1979.
Foi fundador do jornal “Voz do Barreiro” e da “Rádio Margem Sul” e colaborador
assíduo do “Jornal do Barreiro”.
Em 2004, através da
EYAEL Editora, publica a sua primeira novela, “LAURA”, que conta uma história
de amor vivido no decorrer do Portugal colonial em finais dos anos sessenta do
século XX quando, em Angola, imperava a discriminação através da cor da pele;
em Portugal continental, a sede do Império, era o estatuto social que dividia
as pessoas.
É neste contexto que
Carlos Macedo, enfermeiro e dentista em Angola, na pequena vila de Calulo,
concelho do Libolo, parte um dia para Portugal em gozo da licença graciosa. Em
Lisboa conhece Laura, criada de servir numa casa rica, e apaixonam-se um pelo
outro. É então que começa a luta do casal contra as barreiras sociais, numa
Lisboa provinciana e conservadora.
“A vila de Calulo, cujo
acesso por estrada asfaltada só foi concluído em 1972, era um pitoresco e
dinâmico povoado. No centro, um belo jardim em alameda a desembocar no largo
onde estavam os Bancos, a Administração, o casario mais antigo. Uma rua subia
em direcção à Escola Preparatória e Hospital. Nessa rua estava o edifício dos
Correios, uma Escola Primária, a Farmácia, a Fazenda, as grandes casas
comerciais e o Cinema. Mais acima uma vivenda onde funcionava a PSP. Uma outra
rua ligava o Largo à Igreja e a uma avenida ladeada de vivendas modernas.
A dois passos do
centro, o Campo de Futebol, ponto de encontro da população em domingos de
animados desafios. O futebol também servia de pretexto para concorridas
excursões, quando havia jogos fora.
(…) A população branca
formada por comerciantes, produtores de café e funcionários públicos, para além
dos professores da Escola Preparatória e das muitas escolas de ensino primário
espalhadas pelo concelho, conhecia-se e dava-se bem. Sobretudo a comunidade
branca e mestiça. Quanto aos negros, apenas aqueles, muito poucos, que detinham
cargos de responsabilidade na Administração Pública, tinham acesso à
convivência da comunidade branca, com excepção dos dias de futebol e do cinema.
O início da guerra
colonial e o seu impacto no quotidiano de Calulo são assim descritos pelo
Autor:
“O conflito armado no
Norte de Angola criara um tipo de solidariedade que envolvia praticamente todos
os brancos. Alguns, aqueles que tinham vivido o início da guerra em 1961,
consideravam essa solidariedade como que um modo de sobrevivência do sistema.
Poucos fazendeiros
brancos se apercebiam da evolução que se estava a processar em todo o lado. A
hipótese da independência quase não era abordada em público. Era uma espécie de
tabu. Para a população negra e mestiça, assim como para os brancos mais jovens
naturais de Angola, a política estava sempre na ordem do dia.”
Tomás Lima Coelho
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