domingo, 18 de agosto de 2013

 
 
 
 
 
COMO UM RIO QUE CORRE
Fui no outro dia ver o filme a Gaiola Dourada e gostei.
Gostei porque, em minha opinião, sem ser um ggggggggrande filme (nem tal pretendendo), acaba por mostrar um pouco daquilo que mais genuinamente somos.
Como um rio que corre apertado entre montanhas que o tolhem e apertam obriga-se, o rio, a comprimir-se (como que fechando-se sobre si próprio) até por fim  conseguir soltar-se e espraiar-se para, no alagamento, fecundar a terra para a sementeira que se precisa fazer, também assim são, porventura, os portugueses, nós.
Constantemente comparados e depreciados a outros que supostamente nos estarão “à frente” e serão superiores, reféns de uma auto-estima enfraquecida, amputada  por quem sempre de nós se aproveitou sem nunca nos representar com a dignidade que nos é devida pela história que soubemos construir, sente-se o português acabrunhado na incerteza que a sua timidez lhe impõe, suspende o vôo que a alma lhe pede, adiando a manifestação da sua natureza profunda. Mas como semente que germina e porque o que tem de ser tem muita força, impelido por uma força estranha e instintiva acaba sempre por se elevar à altura do seu destino, onde finalmente se realiza naquilo que mais naturalmente é: um fazedor de pontes, ligador de mundos que, num permanente deslumbre vai deslumbrando e, assim, seduzir, harmonizar, pertencer.

 
Foto: Isa Ferreira; Texto: M. J. Croca

5 comentários:

Anónimo disse...

gosto

Tomás disse...

Tá visto: um filme a ver!

luis santos disse...

Eu também gostei muito... a ver, sem dúvida! Um retrato muito carinhoso sobre a emigração portuguesa não fosse o filme deste realizador luso-brasileiro dedicado aos seus pais. Um bom documento que nos ajuda a perceber melhor alguns dos dramas da emigração que tão de perto toca a nossa História.
Por outro lado, a emigração, e agora já para lá do filme, que tem levado a cultura e a Língua ao mundo inteiro inteiro constituindo-se assim a lusofonia como uma das nossas grandes heranças comuns, como de resto tão bem descreve o Manuel João neste seu texto e se antecipa nos desejos do Tomás.

Por fim uma palavra para a bela foto da Isa Ferreira que nos mostra o belo Douro levando-nos assim de volta à lembrança de algumas das imagens mais belas do filme.

E Abraços.

Amélia Oliveira disse...

MJC

Parece-me que 'A Gaiola Dourada' é, então, a não perder.
Por vezes é necessário sair para nos darmos conta da nossa modernidade e do quanto a nossa fraca auto-estima é inusitada. E não me refiro aos séculos de história que nos deram a grandiosidade dos tempos passados. Refiro-me ao presente, a este tempo em que Portugueses brilham por esse mundo fora e em que Portugal brilha aos olhos de tantos que nos visitam e nos escolhem como 'casa'. Referiram-me, há dias, um artigo de um jovem Australiano, que referia Portugal como um dos melhores países que havia visitado, nas suas deambulações (gostamos desta palavra, não é?) por esse vasto mundo. Concordo! Tenho sempre saudades, quando viajo.

Muito bonito, o Douro.
Abraços.

estudo geral disse...

Caro anónimo, ainda bem que gostou.

Quanto ao interesse do filme parece que vale mesmo a pena se tivermos em conta a deliberação aqui desta nossa pequena plateia já que, dos dois que já vimos, ambos aprovamos.

Na nossa diáspora pelo mundo dignificamos Portugal e os portugueses mas é quando em casa, como anfitriões, que mais se evidencia a genética de onde provimos. Como pôr o Mundo inteiro em Portugal se torna difícil, teremos de levar Portugal ao Mundo inteiro. Como ? Talvez tornando-nos cidadãos do Mundo tornando o Mundo inteiro a nossa casa. Não acham ?

Os australianos pelos vistos captam bem.

Abraços.

Manuel João