domingo, 10 de novembro de 2013


O ESTADO DO TEMPO - I

Não fora as condições dramáticas em que vivem cada vez mais portugueses a pantomina até poderia suscitar risota. 
Se apenas se assumissem como pantomineiros que são mereceriam mais respeito, assim não. 
O que eles querem é mudar de paradigma, mudar a Constituição que é, como quem diz, a nossa vida. 
A democracia não lhes serve. 
É contrária à sua filosofia, dificulta a defesa dos seus interesses o alargamento dos seus privilégios. 
Ensino, saúde e justiça para todos? Já chega de devaneio. 
É preciso lavrar na lei a diferenciação das classes garantir o privilégio de uns poucos à custa do empobrecimento de muitos, a imensa maioria.
 Perderam o respeito pelos conceitos mais elementares de ética e decência. 
Mentem despudorada e impunemente perante a complacência e cumplicidade de quem jurou defender o que é de todos.

A luta não é fácil e afigura-se prolongada. 
Inteligência, habilidade e flexibilidade são necessárias mais do que nunca. 
Há muito para unir, que precisa e anseia ser unido. Há que pensar, conseguir despoletar e pôr em movimento a imensa energia transformadora que cada um transporta em si, para fazer diferente.

Há que permitir o silêncio, possibilitar uma melhor organização dos sentimentos e das ideias que se estruturam até cristalizarem em querer. 
E, depois, descobrir as pontes que tornam possível o continuar.
 Querer, que se deseja, se revele numa “ânsia colectiva de tudo fecundar.”


Hoje, pela manhã, fui com o meu irmão António caminhar pelas margens da ribeira. 
E pelo caminho, pensava, pensava…

De vez em quando falávamos um com o outro.


                                                                                            Manuel João Croca


Cabeção: Ponte sobre a Ribeira da Seda.
Foto de Edgar Cantante

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