O ESTADO DO TEMPO - I
Não
fora as condições dramáticas em que vivem cada vez mais portugueses a pantomina
até poderia suscitar risota.
Se apenas se assumissem como pantomineiros que são
mereceriam mais respeito, assim não.
O que eles querem é mudar de paradigma,
mudar a Constituição que é, como quem diz, a nossa vida.
A democracia não lhes
serve.
É contrária à sua filosofia, dificulta a defesa dos seus interesses o
alargamento dos seus privilégios.
Ensino, saúde e justiça para todos? Já chega
de devaneio.
É preciso lavrar na lei a diferenciação das classes garantir o
privilégio de uns poucos à custa do empobrecimento de muitos, a imensa maioria.
Perderam
o respeito pelos conceitos mais elementares de ética e decência.
Mentem
despudorada e impunemente perante a complacência e cumplicidade de quem jurou
defender o que é de todos.
A
luta não é fácil e afigura-se prolongada.
Inteligência, habilidade e
flexibilidade são necessárias mais do que nunca.
Há muito para unir, que
precisa e anseia ser unido. Há que pensar, conseguir despoletar e pôr em
movimento a imensa energia transformadora que cada um transporta em si, para
fazer diferente.
Há
que permitir o silêncio, possibilitar uma melhor organização dos sentimentos e
das ideias que se estruturam até cristalizarem em querer.
E, depois, descobrir
as pontes que tornam possível o continuar.
Querer,
que se deseja, se revele numa “ânsia colectiva de tudo fecundar.”
Hoje,
pela manhã, fui com o meu irmão António caminhar pelas margens da ribeira.
E pelo
caminho, pensava, pensava…
De
vez em quando falávamos um com o outro.
Manuel João Croca
Cabeção: Ponte sobre a Ribeira da Seda.
Foto de Edgar Cantante
Sem comentários:
Enviar um comentário