domingo, 30 de março de 2014

                                                                                        (12 - 2014)
O PANO E O TALHE
Há semblantes fechados onde são as aproximações possíveis.
Nos desígnios por revelar, nos movimentos a evoluir, nos caminhos a percorrer.
Já não nos sorrisos mercantis de máscaras.
Não nas falas e risos transitórios, resquícios de despedidas não anunciadas.
Nuns, o perceptível resguardo, invoca a intacta possibilidade de construções no fluxo que ateia a brasa da fogueira colectiva e plural.
Noutros, a ínvia desistência de aceder ao alçado do edifício do querer, sela as portas do poder ser.
 
Na in-sinceridade da ocultação do desmoronamento, a negação da possibilidade da construção. 
 
A camisa é branca e, sobre o pano crú, exercita-se o desenho em riscado de alfaiate.
À frente do pano é que se talha o fato.

Manuel João Croca

Pintura de Luís Delgado



2 comentários:

Amélia Oliveira disse...

Bom dia, MJC.
Não sei se li bem o teu texto, em todo o caso acabei a lembrar-me de uns versos de Shakespeare (da peça 'As You Like It' - acto 2, cena VII) , de que gosto muito, a propósito de o mundo ser um palco onde todos temos as nossas entradas e saídas, nessa representação que são as nossas vidas. Apetecia-me desenvolver a ideia, mas seria um comentário demasiado longo e, provavelmente, algo desinteressante. Refiro só que lá cheguei, mentalmente, pela ideia de 'máscara' associada à representação... e porque por detrás das máscaras o 'actor' esconde sentimentos que não lhe adivinhamos. O mesmo acontece neste palco que é a vida, para voltar à metáfora de Shakespeare: será que os sorrisos são mercantis? Serão in-sinceridades? Nunca podemos saber verdadeiramente o que cada um esconde por detrás da sua máscara, não concordas? Podemos somente interpretar mas, quem sabe?, não chegar nem perto da realidade...
Não sei se tudo isto faz algum sentido face ao que quiseste transmitir com o teu texto - em todo o caso foi esta a minha leitura.
Gostei do quadro também.
Bom domingo.
Amélia

MJC disse...

Olá Amélia, boa noite.

Os sorrisos alegram o mundo e fazem muita falta.
Não são a esses que me refiro.
Todos nós temos uma dimensão pública e outra privada que deve ser preservada e respeitada.
É indispensável ao equilíbrio.
A questão não se prende com isso.
É outra coisa.
Provavelmente mal abordada. mas foi assim que saíu, em jeito de desabafo.
às vezes faz falta.

Obrigado pelo teu comentário.

Abraço.

MJC