A PROPÓSITO DE UMA HOMENAGEM
TEJO,
UM RIO PARA VIVER
Corre,
da nascente até à foz, corre.
Um
rio, o rio, nós.
Neste
nosso exercício do viver, talvez valha a pena olharmos o rio que nos é vizinho
como exemplo. Quando nasce é apenas ténue fio de água mas já tem um propósito,
desaguar. No seu percurso recebe muitos afluentes que o engrossam e dão caudal.
Arrasta sedimentos vários, atravessa fronteiras, irriga campos, dá luz, alinda
paisagens, umas vezes acelera, outras apenas desliza como um bocejo mas, nunca
pára e vai sempre crescendo.
E
é esse aumento de caudal que permite as inúmeras navegações.
Uma
das várias navegações que se podem praticar é percorrer os trilhos onde o rio
estanca o seu deambular insaciado no abraço à terra, sua eterna e insubmissa
namorada. E ela acolhe-o enfeitada por salgadeiras, cardos (que picam mas
também dão flor) e outras plantas que ali fizeram a sua casa e colonizam as
zonas húmidas. Namoram ao som do regurgitar dos bivalves quando as marés baixam,
e dos gritos e chamamentos das aves do mar que folclorizam o ambiente. A
elegância sumptuosa dos flamingos desliza sobre o cinzento lodoso e o seu
colorido conta-nos que há outros mundos neste mundo que sentimos mais nosso
apenas por nos ser mais próximo. O brilho do Sol, o vento no cabelo, o cheiro
da maresia, os barcos típicos sobre as águas que com arte bolinam os esteiros,
domesticados pelo saber dos últimos intérpretes da faina, ou por navegantes
ocasionais que no ócio exercitam e cumprem o fado ou desígnio da alma lusa
marinheira.
Manuel João Croca
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