por Manuel João Croca
Neste
Outono e Inverno tem chovido muito.
Os
campos estão alagados. A água corre desenvolta por valas, estradas, bermas dos
passeios, algerozes e beirais.
O
frio também tem sido presença frequente.
A
natureza acaçapa-se para melhor se defender do tempo agreste, nós recolhemo-nos
porque a alma convida e o corpo pede.
Se
na natureza o tempo se manifesta agreste, também no social o desconforto se
instalou e, pelo que se assiste, veio para ficar. Desconforto que resulta de um
empobrecimento generalizado da população. O desemprego é uma calamidade, os
jovens lutam desesperadamente por oportunidades que não surgem, a emigração
dispara. A soberania e independência do país estão a hipotecadas a interesses
que não os nossos nem avalizámos. A corrupção e o clientelismo campeiam. A ofensiva
do grande capital financeiro está a obter grandes sucessos. Assiste-se a uma
perca generalizada de direitos e regalias sociais, no trabalho e na justiça, na
educação e na saúde num retrocesso civilizacional sem precedentes e, ao que
parece, para prosseguir durante muitos mais anos.
A
natureza não se pensa mas elabora-se e, debalde todas as agressões de que é
vítima, sempre acaba por se cumprir. Os campos rebentarão em erva fresca e em flores
de todos os tons e aromas, as árvores hão-de carregar-se de folhas novas, preparando
a floração que parirá frutos e novas colheitas. A natureza rejubila no
exercício de servir, no propósito da dádiva. Aproxima-se a Primavera e com ela
a renovação.
No
social será desejável que, pensando-nos, consigamos encontrar as melhores formas
para, igualmente, nos renovarmos. Encontrar novos rumos que nos possam conduzir
no sentido de uma maior felicidade. E se a busca pode cansar, a perspectiva
desse aconchego deve motivar. Nesse sentido, é importante recuperarmos o tempo
dos verbos.
Resistir.
Sonhar. Conceber. Realizar.
Nessa
busca talvez valha a pena olharmos o rio que nos é vizinho como exemplo. Quando
nasce é apenas ténue fio de água mas já tem um propósito, desaguar. No seu percurso
recebe muitos afluentes que o engrossam e dão caudal. Arrasta sedimentos vários,
atravessa fronteiras, irriga campos, dá luz, alinda paisagens, umas vezes acelera
outras apenas desliza como um bocejo mas, nunca pára e vai sempre crescendo.
E
é esse aumento de caudal que permite as inúmeras navegações.
Compete-nos
a nós, pôr nele os barcos onde queremos navegar, construir a frota a que
queremos pertencer. Vamos todos trabalhar nisso. Há vários barcos que já têm
nome. Um chama-se Trabalho, outro Educação, mais um que é Saúde, outro ainda
que é Justiça. Depois há ainda outro, de maior porte, que é o Liberdade e aqui
ao lado estão-me a dizer que a frota se deverá chamar Democracia.
Posto
isto, apraz-me registar que há muito entusiasmo pela navegação, sinto-o.
*
Uma
última nota:
No
próximo dia 21 de Março celebra-se o início da Primavera e comemora-se o Dia
Mundial da Árvore e da Floresta e o Dia Mundial da Poesia. Nesse sentido e em
face do abate de várias árvores no núcleo urbano de Alhos Vedros, seria perfeitamente
justificado e justo plantar algumas árvores. Até estava a pensar, que seria
giro e oloroso plantar algumas laranjeiras no jardim do coreto. Como estamos em
ano de comemorações dos 500 anos do Foral poderiam ser baptizadas como “Árvores
do Foral”…
4 comentários:
Belo Editorial. Parabéns e Abraço.
Muito bom, MJC. E que a natureza se cumpra e a Primavera comece este mês - de facto. Não resolverá todos os problemas, mas trará algum brilho e muito colorido.
Abraços de Carnaval à beira-rio.
Obrigado Luís.
Abraço.
Manuel João
Amélia viva.
A Primavera começa mesmo este mês, isso é certo. O resto, logo se vê.
Beijinho.
MJC
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