sábado, 1 de março de 2014

            Editorial

                         por Manuel João Croca



Neste Outono e Inverno tem chovido muito.
Os campos estão alagados. A água corre desenvolta por valas, estradas, bermas dos passeios, algerozes e beirais.
O frio também tem sido presença frequente.
A natureza acaçapa-se para melhor se defender do tempo agreste, nós recolhemo-nos porque a alma convida e o corpo pede.
Se na natureza o tempo se manifesta agreste, também no social o desconforto se instalou e, pelo que se assiste, veio para ficar. Desconforto que resulta de um empobrecimento generalizado da população. O desemprego é uma calamidade, os jovens lutam desesperadamente por oportunidades que não surgem, a emigração dispara. A soberania e independência do país estão a hipotecadas a interesses que não os nossos nem avalizámos. A corrupção e o clientelismo campeiam. A ofensiva do grande capital financeiro está a obter grandes sucessos. Assiste-se a uma perca generalizada de direitos e regalias sociais, no trabalho e na justiça, na educação e na saúde num retrocesso civilizacional sem precedentes e, ao que parece, para prosseguir durante muitos mais anos.
A natureza não se pensa mas elabora-se e, debalde todas as agressões de que é vítima, sempre acaba por se cumprir. Os campos rebentarão em erva fresca e em flores de todos os tons e aromas, as árvores hão-de carregar-se de folhas novas, preparando a floração que parirá frutos e novas colheitas. A natureza rejubila no exercício de servir, no propósito da dádiva. Aproxima-se a Primavera e com ela a renovação.
No social será desejável que, pensando-nos, consigamos encontrar as melhores formas para, igualmente, nos renovarmos. Encontrar novos rumos que nos possam conduzir no sentido de uma maior felicidade. E se a busca pode cansar, a perspectiva desse aconchego deve motivar. Nesse sentido, é importante recuperarmos o tempo dos verbos.
Resistir. Sonhar. Conceber. Realizar.
Nessa busca talvez valha a pena olharmos o rio que nos é vizinho como exemplo. Quando nasce é apenas ténue fio de água mas já tem um propósito, desaguar. No seu percurso recebe muitos afluentes que o engrossam e dão caudal. Arrasta sedimentos vários, atravessa fronteiras, irriga campos, dá luz, alinda paisagens, umas vezes acelera outras apenas desliza como um bocejo mas, nunca pára e vai sempre crescendo.
E é esse aumento de caudal que permite as inúmeras navegações.
Compete-nos a nós, pôr nele os barcos onde queremos navegar, construir a frota a que queremos pertencer. Vamos todos trabalhar nisso. Há vários barcos que já têm nome. Um chama-se Trabalho, outro Educação, mais um que é Saúde, outro ainda que é Justiça. Depois há ainda outro, de maior porte, que é o Liberdade e aqui ao lado estão-me a dizer que a frota se deverá chamar Democracia.
Posto isto, apraz-me registar que há muito entusiasmo pela navegação, sinto-o.
*
Uma última nota:
No próximo dia 21 de Março celebra-se o início da Primavera e comemora-se o Dia Mundial da Árvore e da Floresta e o Dia Mundial da Poesia. Nesse sentido e em face do abate de várias árvores no núcleo urbano de Alhos Vedros, seria perfeitamente justificado e justo plantar algumas árvores. Até estava a pensar, que seria giro e oloroso plantar algumas laranjeiras no jardim do coreto. Como estamos em ano de comemorações dos 500 anos do Foral poderiam ser baptizadas como “Árvores do Foral”…

4 comentários:

luis santos disse...


Belo Editorial. Parabéns e Abraço.

Amélia Oliveira disse...

Muito bom, MJC. E que a natureza se cumpra e a Primavera comece este mês - de facto. Não resolverá todos os problemas, mas trará algum brilho e muito colorido.

Abraços de Carnaval à beira-rio.



MJC disse...

Obrigado Luís.

Abraço.

Manuel João

MJC disse...

Amélia viva.

A Primavera começa mesmo este mês, isso é certo. O resto, logo se vê.

Beijinho.

MJC