terça-feira, 7 de outubro de 2014

FANTASIANA E OUTROS LUGARES

PENSAVERSANDO


NO INÍCIO SÓ PODIA SER O CAMINHO


No início era verbo,
ou antes no início foi o caminho.
Foi o caminho para a antiga Gallaecia,
o caminho até Santiago,
Santiago de Compostela ou Campo das Estrelas.
No início foi o caminho...
um caminho que nos levou/ nos leva por vários outros.
No início foi o caminho,
um caminho físico através de um espaço,
onde a natureza se estende e acolher os peregrinos, 
os seus bordões, as cabaças, as conchas e,
dominada pela luz, pelos rios
(e novamente o vocábulo caminho nos vem à lembrança),
distende a sua voz,
os seus rumores,
os seus ventos para os elevar tão alto quanto os cânticos
gravados nas pedras graníticas da mais simples capela.
E nós, peregrinos de um dia,
seguimos ou perseguimos as nossas memórias...
peninsulares, ocidentais... atlânticas.

Atlântico, outro caminho,
caminho da chegada e da partida,
o caminho das lendas celtas, das meigas
das fadas, das brumas... dos mistérios.
O caminho do início foi-se transformando,
e foi o caminho espiritual.
Um caminho dos olhos interiores
que se abrem, absorvem todos os outros sentidos
e um imenso azul nos invade...

Cheguei ao azul.
Outro caminho se abre,
outro espaço que se conjuga com (a) serra, 
onde o calcário se deixa acariciar pela vegetação humilde,
curvada em jeito de prece,
onde se ouve hino a toda a natureza.
Um espaço que nos faz sentir pequenos,
que nos transforma numa pequena folha,
num leve aroma de rosmaninho,
numa gota de espuma poisada na concha.
Um caminho onde chegamos e ficamos
e as palavras se esgotam,
não nos chegam à boca
e a boca fica calada
e só os olhos se abrem
e ouvem e falam.
Cheguei à Arrábida.

Este é outro caminho da minha peregrinação.
Um caminho entre aromas,
entre incensos terrenos
e a magia do mar imenso que se junta ao céu,
lá bem ao fundo,
no horizonte.

Horizonte, linha, caminho entre o que somos
e o que, um dia, seremos:
mais uma partícula,
mais uma estrela que irá aumentar o Campo de Estrelas ou Compostela
ou seremos mais uma concha do colar da Serra-Mãe,
mas sempre viajante,
mas sempre peregrino
por um caminho..

1 comentário:

MJC disse...

Este poema é belo ou, então, sou só eu que acho.
Quer dizer, gosto.
Muito.

Parabéns ao autor ou à autora.

MJC