sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Figo-da-índia


por Miguel Boieiro

Quando a Sociedade Portuguesa de Naturalogia comemorou o seu 95º aniversário, como habitualmente, a festa terminou com um jantar de gala vegetariano no qual participaram cerca de meia centena de comensais.

Nestes jantares ou almoços festivos que se realizam, em média, um em cada estação do ano, é costume inovar gastronomicamente com o uso de produtos vegetais que se encontram hoje um pouco esquecidos, face ao imediatismo dos prés cozinhados artificiais que abundam nas grandes “catedrais” consumistas.
Ora, uma das novidades, foi a apresentação de um magnífico sumo de figo-da-índia, como excelsa bebida para acompanhar a refeição. Na realidade, quase se tratou de uma aventura, pois não sabíamos bem se iria dar certo; todavia, o resultado foi espetacular e todos gabaram a saborosa bebida de tonalidade verde clara.
É certo que os bons eventos começam sempre por ideias criativas, mas a vera dificuldade é passá-las à prática. De facto, descobrir onde se encontravam os melhores cactos, colher os frutos, retirar-lhes a polpa, liquefazê-los, separar as sementes e engarrafar a bebida de forma a ficar em condições na altura do repasto, foi tarefa muito demorada e espinhosa (na acepção dupla do termo).  

A figueira-da-índia ou Opuntia ficus-indica é uma Cactácea subtropical, originária do México que se naturalizou em várias regiões do mundo, especialmente na bacia mediterrânica. Gosta de climas amenos e quentes, solos bem drenados e tolera bem terrenos áridos com baixa fertilidade, como aliás, todos os cactos.
A planta é perene e arbustiva, podendo atingir cinco metros de altura. É destituída de folhas, embora os caules ramificados formem parras carnudas que se assemelham a folhas com a configuração de raquetes.
As flores, hermafroditas, de um amarelo vivo, aparecem na borda dessas pseudo folhas e os frutos, com formato oval (parecem pequenos barris), amadurecem por volta de cem dias após a floração.
Os figos começam por ser verdes e à medida que vão amadurecendo, ganham uma tonalidade amarelada e até levemente alaranjada. Cada unidade chega a alcançar o peso de 220 gramas.
Na morfologia da planta falta referir o mais desagradável que são os espinhos. Quer as “folhas”, quer os frutos, são providos de duas espécies de espinhos, uns muito duros e longos e outros mais pequenos, sedosos, quase invisíveis. Principalmente estes últimos causam intensos dissabores porque se introduzem na nossa pele e é muito difícil retirá-los. Com a prática, adquire-se uma técnica própria para os manusear com os cuidados devidos.

A planta tem várias aplicações úteis. Destacamos as seguintes:
- Formação de sebes protectoras das propriedades;
- Mecanismo natural contra a erosão dos solos e retenção da humidade;
- Ornamentação de espaços verdes;
- Usos industriais: Corantes naturais extraídos dos frutos ou base para criação de cochonilhas (corante vermelho), produção de mucilagens, artigos de beleza (óleo), etc.;
- Alimentação de animais, especialmente em climas áridos no que respeita às “folhas” e aos frutos, depois de retirados os picos, obviamente;
- Alimentação humana: os mexicanos comem as chamadas raquetes jovens, em sopas, em pickles, ou mesmo assadas (possuem um sabor que lembra o do feijão verde).
 - Há também quem utilize as sementes moídas para fazer uma farinha que misturada com a dos cereais, dá para fazer pão muito fortificante.
- De resto, as sementes são oleaginosas e proporcionam um óleo de alta qualidade que pode ser usado em cosmética e para fins medicinais.

Os frutos podem consumir-se frescos ou secos, em sumo, geleias ou xaropes.
As folhas cortadas longitudinalmente, barradas nas partes internas com mel e dependuradas, ficam a escorrer, durante 24 horas, uma substância xaroposa que é muito eficaz para a tosse e os males da garganta. Podem também ser utilizadas em cataplasmas para inflamações cutâneas.
Finalmente convém mencionar mais algumas das propriedades desta valiosa planta medicinal:
Os figos são riquíssimos em vitamina C, provitamina A, cálcio, magnésio, potássio, fósforo e açúcares redutores não cristalizáveis.

Em medicina natural e popular, há imensas indicações, de que se salienta a prevenção da asma, as anginas, os vermes intestinais, os problemas da próstata, as dores reumáticas, a diarreia, as doenças da pele, os males do fígado, o escorbuto, etc.

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