por Miguel Boieiro
Quando a Sociedade Portuguesa de
Naturalogia comemorou o seu 95º aniversário, como habitualmente, a festa
terminou com um jantar de gala vegetariano no qual participaram cerca de meia
centena de comensais.
Nestes jantares ou almoços festivos
que se realizam, em média, um em cada estação do ano, é costume inovar gastronomicamente
com o uso de produtos vegetais que se encontram hoje um pouco esquecidos, face
ao imediatismo dos prés cozinhados artificiais que abundam nas grandes
“catedrais” consumistas.
Ora, uma das novidades, foi a
apresentação de um magnífico sumo de figo-da-índia, como excelsa bebida para
acompanhar a refeição. Na realidade, quase se tratou de uma aventura, pois não
sabíamos bem se iria dar certo; todavia, o resultado foi espetacular e todos
gabaram a saborosa bebida de tonalidade verde clara.
É certo que os bons eventos
começam sempre por ideias criativas, mas a vera dificuldade é passá-las à
prática. De facto, descobrir onde se encontravam os melhores cactos, colher os
frutos, retirar-lhes a polpa, liquefazê-los, separar as sementes e engarrafar a
bebida de forma a ficar em condições na altura do repasto, foi tarefa muito
demorada e espinhosa (na acepção dupla do termo).
A figueira-da-índia ou Opuntia ficus-indica é uma Cactácea
subtropical, originária do México que se naturalizou em várias regiões do
mundo, especialmente na bacia mediterrânica. Gosta de climas amenos e quentes,
solos bem drenados e tolera bem terrenos áridos com baixa fertilidade, como
aliás, todos os cactos.
A planta é perene e arbustiva,
podendo atingir cinco metros de altura. É destituída de folhas, embora os
caules ramificados formem parras carnudas que se assemelham a folhas com a
configuração de raquetes.
As flores, hermafroditas, de um
amarelo vivo, aparecem na borda dessas pseudo folhas e os frutos, com formato
oval (parecem pequenos barris), amadurecem por volta de cem dias após a
floração.
Os figos começam por ser verdes e
à medida que vão amadurecendo, ganham uma tonalidade amarelada e até levemente
alaranjada. Cada unidade chega a alcançar o peso de 220 gramas .
Na morfologia da planta falta
referir o mais desagradável que são os espinhos. Quer as “folhas”, quer os
frutos, são providos de duas espécies de espinhos, uns muito duros e longos e
outros mais pequenos, sedosos, quase invisíveis. Principalmente estes últimos
causam intensos dissabores porque se introduzem na nossa pele e é muito difícil
retirá-los. Com a prática, adquire-se uma técnica própria para os manusear com os
cuidados devidos.
A planta tem várias aplicações
úteis. Destacamos as seguintes:
- Formação de sebes protectoras
das propriedades;
- Mecanismo natural contra a
erosão dos solos e retenção da humidade;
- Ornamentação de espaços verdes;
- Usos industriais: Corantes
naturais extraídos dos frutos ou base para criação de cochonilhas (corante
vermelho), produção de mucilagens, artigos de beleza (óleo), etc.;
- Alimentação de animais,
especialmente em climas áridos no que respeita às “folhas” e aos frutos, depois
de retirados os picos, obviamente;
- Alimentação humana: os mexicanos
comem as chamadas raquetes jovens, em sopas, em pickles, ou mesmo assadas
(possuem um sabor que lembra o do feijão verde).
- Há também quem utilize as sementes moídas
para fazer uma farinha que misturada com a dos cereais, dá para fazer pão muito
fortificante.
- De resto, as sementes são
oleaginosas e proporcionam um óleo de alta qualidade que pode ser usado em
cosmética e para fins medicinais.
Os frutos podem consumir-se
frescos ou secos, em sumo, geleias ou xaropes.
As folhas cortadas longitudinalmente,
barradas nas partes internas com mel e dependuradas, ficam a escorrer, durante
24 horas, uma substância xaroposa que é muito eficaz para a tosse e os males da
garganta. Podem também ser utilizadas em cataplasmas para inflamações cutâneas.
Finalmente convém mencionar mais
algumas das propriedades desta valiosa planta medicinal:
Os figos são riquíssimos em vitamina C , provitamina
A, cálcio, magnésio, potássio, fósforo e açúcares redutores não cristalizáveis.
Em medicina natural e popular, há
imensas indicações, de que se salienta a prevenção da asma, as anginas, os vermes
intestinais, os problemas da próstata, as dores reumáticas, a diarreia, as doenças
da pele, os males do fígado, o escorbuto, etc.
Sem comentários:
Enviar um comentário