MIRADOURO 39 / 2014
(à laia de continuação do Miradouro 38)
Para
quê então tentar representar uma perfeição que se sabe não existir ou ser
sequer possível?
Ninguém
se prende pelo que não há, antes pelo que o toca, emociona e ilumina. Pelo que
põe os olhos a brilhar e motiva.
Pelo
que alimenta a combustão interna e o calor no peito, garante do conforto e
recompensa maiores.
O
resto é ilusão, alienação, despropósito.
O
que há que procurar é o propósito e vontade de ser (tornar-se) melhor ainda
que, para isso, em cada chegada, se tenha de novo que partir.
Ou
nunca sequer chegar e ser, assim, um eterno viajante de si, em si e por si.
E
se nunca ninguém se revela na totalidade, se nunca em nada tudo é transparente
e revelado, que à imagem das fisionomias (visíveis e reconhecidas porque
exteriores), o que do dentro se abra e revele possa reflectir e corresponder ao
pulsar profundo do sentido e do pensado para que cada um possa saber com o que pode
contar.
Não
se pense em pretensão doutrinária ou evangelizadora.
Não! Apenas a manifestação de algo em que se acredita.
Antes
e apenas o propósito de poder justificar e merecer a possibilidade do que em
cada um se esboça de único e irrepetível.
Enquanto
pólo mobilizador de uma comunidade que se deseja livre, diversificada e plural
mas activa e solidária.
Apesar
das diferenças, será por aí que nos encontraremos (ou não) na construção de
realidades mais gratificantes e dignificantes para todos.
O
resto, serão apenas coisas que se dizem.
Manuel João Croca
Foto de Edgar Cantante
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