domingo, 19 de outubro de 2014



MIRADOURO 39 / 2014
(à laia de continuação do Miradouro 38)


Para quê então tentar representar uma perfeição que se sabe não existir ou ser sequer possível?
Ninguém se prende pelo que não há, antes pelo que o toca, emociona e ilumina. Pelo que põe os olhos a brilhar e motiva.
Pelo que alimenta a combustão interna e o calor no peito, garante do conforto e recompensa maiores.
O resto é ilusão, alienação, despropósito.
O que há que procurar é o propósito e vontade de ser (tornar-se) melhor ainda que, para isso, em cada chegada, se tenha de novo que partir.
Ou nunca sequer chegar e ser, assim, um eterno viajante de si, em si e por si.
E se nunca ninguém se revela na totalidade, se nunca em nada tudo é transparente e revelado, que à imagem das fisionomias (visíveis e reconhecidas porque exteriores), o que do dentro se abra e revele possa reflectir e corresponder ao pulsar profundo do sentido e do pensado para que cada um possa saber com o que pode contar.
Não se pense em pretensão doutrinária ou evangelizadora. Não! Apenas a manifestação de algo em que se acredita.
Antes e apenas o propósito de poder justificar e merecer a possibilidade do que em cada um se esboça de único e irrepetível.
Enquanto pólo mobilizador de uma comunidade que se deseja livre, diversificada e plural mas activa e solidária.
Apesar das diferenças, será por aí que nos encontraremos (ou não) na construção de realidades mais gratificantes e dignificantes para todos.
O resto, serão apenas coisas que se dizem.

Manuel João Croca 


Foto de Edgar Cantante

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