terça-feira, 30 de junho de 2015

O DIÁRIO DA MATILDE - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

Ao fim de catorze anos de actividade cheia de contribuições para o avolumar do conhecimento sobre o sistema solar, em geral e, em especial, do sub-sistema que o gigante Júpiter e os seus satélites fazem, nível a que a particular atenção recaía no corpo central e em uma mão cheia de planetas secundários, entre os sessenta e tal que os acompanham, a sonda Galileu verá hoje o fim da sua jornada quando se despenhar e desfizer na atmosfera joviana. 
Por via dos seus mecanismos assistiu-se, pela primeira vez, a uma erupção vulcânica em outro planeta que não o nosso. Mas também ficámos a conhecer a realidade do vulcanismo activo de Io, o berlinde onde aquela surpresa teve lugar, bem como a existência de um oceano de água salgada em Europa, sob uma capa gelada. Isto para só falarmos de dois dos casos mais espectaculares. Muito mais nos deu a conhecer aquele engenho fruto do génio da nossa espécie. E mesmo o simples aumento dos dados sobre a atmosfera do maior dos translacionandos solares, ou a verificação do número das suas luas, ambos são importantes contributos científicos.
Projecto bem sucedido, é um dos factos que nos permitem sustentar ser a exploração espacial um dos componentes de uma cultura da Humanidade, uma civilização humana, expressão de paz e aproximação entre os homens, capaz de assegurar a continuidade da nossa passagem pela Terra.

O chefe desta aventura diz que a haver um outro plano de acção complementar, estará exequível lá para dois mil e dez. Uma boa hipótese será fazer de um dos satélites o alvo preferencial.

Ficamos cheios de curiosidade em saber o que contem um oceano salgado em outro corpo do sistema solar.


Somos capazes de coisas tão lindas.


Interessa compreender que, em termos económicos, o espaço pode muito bem substituir a guerra, quer enquanto geradora de negócios e lucros, tal como no aspecto de ser capaz de funcionar enquanto motor de inovações científicas e tecnológicas e outras. O nosso quotidiano já está invadido por instrumentos que directa ou indirectamente resultam de conquistas tecnológicas e científicas que aqueles desígnios exploradores têm propiciado.

Se Portugal quer ficar no primeiro mundo da nova divisão do trabalho que tem vindo a ocorrer nas últimas décadas e ainda não terminou, é vital que entre nós se estabeleçam unidades empresariais que deem corpo a algumas das indústrias que concorram para aquele fim. Anteriormente, há que reformar e reformular as nossas Universidades e o trabalho académico que aí se pratica e, a partir disso, apostar num sistema de ensino capaz. Para já, a tristeza que encontramos é a investigadora portuguesa do Instituto Max Planck, na Alemanha que, entre nós, não conseguiu ganhar uma bolsa de estudo. (1) 



É longa a lista de materiais escolares da Matilde que a Luísa adquiriu ontem de manhã e agora está preparando na sala.
São guaches, lápis de cor e de grafite, esferográficas e cadernos, isto sem contar com os livros, é claro, ao que se junta uma resma de papel de máquina de escrever, um bloco de folhas A4, marcadores, plasticinas, cartolina e uma tesoura e também um pano, um avental, uma caixa para arrumações e uma régua.
Como já possuímos algumas das parcelas do rol, a Luísa diz que a factura não foi muito pesada. O custo total saldou-se nos vinte e cinco euros.



Impreterivelmente, a Matilde responde com um sorriso à pergunta se está a gostar da escola.

Pois eu não devo estar enganado se aqui escrever sim.
Tenho para mim que ela sente este novo passo como uma aproximação à irmã mais velha e respectivas amizades de que a Beatriz é o melhor elo comum. Digamos que se sente ao mesmo nível delas e isso deve aumentar-lhe a importância aos seus próprios olhos.


É tão viva e alegre este meu encantozinho.


Temos que saber aproveitar este factor para fazer prolongar e sedimentar este impulso inicial.
Faz parte dos atributos da paternidade.



Domingo sem história; conversetas, jornais e leituras.
A minha prima-irmã Adelina visitou-nos e passou a tarde na companhia da Luísa e do pardalito.


Os céus deste fim de Verão quente enchem-se de algodões que brilham e atenuam o azul.

A Margarida está cheia de saudades.
Chegará depois do jantar.


Verei a tarde cair com a mais novinha.
Vamos andar de bicicleta.



A Margarida chegou satisfeita e cheia de novidades.

Vistos os materiais novos e contadas que foram as peripécias que, da praia ao campo, passaram por uma procissão na aldeia, esta manhã, uma vez lavados os dentinhos e tomado o fluor, ala para a caminha que amanhã começa a primeira semana completa de trabalho deste ano lectivo que para a Matilde será o baptismo neste grau de ensino.


Agora os anjinhos dormem e a noite, quente e serena, apela-me ao recato de um cigarro.



E já posso comprar uma bicicleta para mim.

Depois do passeio que fiz com a Matilde, desde o largo da esplanada da Júlia, onde enchemos os pneus, até ao cais novo, a miúda deixou bem patente a sua destreza no controle da pedaleira e ficou claro que já podemos encarar a possibilidade de a família fazer destes passeios um dos momentos do convívio e da alegria que tão importantes são para a harmonia do lar.


Alhos Vedros
  21/09/2003


NOTA

(1) Nave, Filomena, A ÚLTIMA MISSÃO DA GALILEU, p. 27


CITAÇÃO BIBLIOGRÁFICA

Nave, Filomena, A ÚLTIMA MISSÃO DA GALILEU, In “Diário de Notícias”, nº. 49.122, de 21/09/2003

segunda-feira, 29 de junho de 2015

REAL... IRREAL... SURREAL... (138)

Rapariga com Brinco de Pérola, de Johannes Vermeer, 1665
Óleo sobre Tela, 46,5x40cm
A pintura Rapariga com Brinco de Pérola é uma das obras-primas do pintor holandês Johannes Vermeer. A peça está no museu Mauritshuis de Haia. É muitas vezes referida como "a Mona Lisa da pintura holandesa".


Em 2003, foi produzido o filme, Rapariga com Brinco de Pérola, baseado no romance de Tracy Chevallier, realizado por Peter Webber, tendo como protagonistas Colin Firth como Vermeer e Scarlett Johansson como a rapariga do brinco.



 Devemos desconfiar sempre das obras-primas: se olharmos com mais atenção, descobrimos nelas algo que nunca tínhamos visto, o que as torna cada vez mais fascinantes!

António Tapadinhas


domingo, 28 de junho de 2015



MIRADOURO 23/2015

(esta rubrica não respeita as normas do acordo ortográfico)


Foto de João Ramos


As formas que a Natureza toma, torna-nos aprendizes do muito que tem para ensinar.
Assim saibamos ser alunos disponíveis e com vontade de aprender.
É o tempo que a molda e nos molda.
Transitório, efémero, para não fartar.
Como Ela devemos ser flexíveis, tolerantes, para poder mudar.

Manuel João Croca

sexta-feira, 26 de junho de 2015

AFONSO DE ALBUQUERQUE, o Grande


Curiosas foram as suas relações com o descobridor do Brazil, relações de parentesco, ainda que afim e de amizade.
As primeiras por Pedro Alvares Cabral ser ca­sado com sua sobrinha, D. Isabel de Castro, irmã dos Noronhas que tanto se distinguiram na Índia e por sua vez filha da irmã do grande Afonso d'Albuquerque. As segundas porque à evidencia ressaltam da carta escrita pelo governador e datada de Calicut, em 2 de dezembro de 1514. Dela se vê que fora Albuquerque quem patrocinara aquele casamento obtendo para a noiva bom dote. Com efeito, na sua opinião, Pedro Alvares Cabral era muy boom fidalgo e merecedor d'isto digno de toda a medrança e galardam de seus serviços.

Na corte porém tinha havido grandes intrigas pro­venientes das lutas dos partidos originadas nas desinteligências entre Pedro Alvares Cabral e D. Vasco da Gama e por isso Albuquerque o sabia apartado asy de vosa vontade(de D. Manoel I) e prazer, tendo-o el-rei lamçado de voso serviço (de D. Manoel I). Tudo isso eram no entanto arrufos e errados conselhos. E agora vinha o fim da carta: pedir a El-Rei para o chamar, aconselhar e reprehender e assim com elle se congraçar.
Parece porém que a esta carta D. Manoel I se não dignou responder, não conseguindo d'esta forma os serviços do grande herói da Índia desfazer a nuvem sombria que pesava sobre o prestígio do ilustre des­cobridor do Brazil!
O auge do poderio na Índia—Embaixadas dos reis orientais 
A notícia das vitórias e até das atrocidades, feitas para constar, com que Afonso d'Albuquerque precedia as suas marchas, criou aos portugueses uma atmosfera de excepcional prestígio e poderio no Oriente.
Era pois com justa razão que, em 18 de outubro de 1512, o grande governador, escrevendo a D. Manoel I lhe contava como, apenas souberam ter vindo de Por­tugal gente e armas, todos os reis e senhores lhe es­creveram, fazendo muitos oferecimentos, mais com medo que per suas vontades. Conhecia-lhes bem a psychologia! Não contentes com isso mandavam os seus embai­xadores.

Assim, em 12 de julho de 1511, D. Manoel I, escre­vendo ao bispo de Segovia, dizia-lhe para dar notícias ao rei de Espanha da chegada a Goa de um embai­xador do Xeque Ismael, o  da Pérsia. Em 6 de dezembro do ano seguinte contava Albuquerque como tinham aprisionado o embaixador do Preste João em Dabul e ele o foi exigir, sendo então entregue. Recebido processionalmente, foi á igreja onde mostraram a Vera Cruz, cujo portador ele era. Contava por fim o seu cativeiro e roubo em Zeila.


Zeila – Costa da Somália – Séc. XIX

De um mandado de 13 de novembro de 1514, consta que Afonso d'Albuquerque mandara entregar aos embaixadores do rei de Narsinga uma peça de veludo preto, uma peça de damasco, côvados de escarlata, barretes de grã, 48 pardáos e especiarias. Em carta, datada de 27 de novembro desse mesmo ano, referia-se ás manilhas e joias enviadas para D. Manoel I, trazidas pelo embaixador do rei de Narsinga. A este rei enviou Albu­querque dois cavalos de preço, vinte e sete côvados de veludo preto e trinta de damasco e meia dúzia de barretes vermelhos.



Este embaixador é o chamado pelos Comentarios Retelim Cherim. Era pessoa das principais e trazia na vanguarda, a anunciá-lo, quatro elefantes com os seus castelos de madeira, paramentados de seda, dentro dos quais vinham pessoas gradas com bacias de prata dourada cheias de pérolas e outras joias. Eram os deslumbradores presentes para o grande governador.

Depois de entregue a sua mensagem, Afonso d'Albuquerque aconselhou-lhe o repouso para no dia se­guinte tratarem dos seus negócios. Com efeito, passada aquela noite, longa foi a conferencia havida entre os dois. Quis o embaixador combinar com Albuquerque a guerra ao Hidalcão, mas Albuquerque, nesse ponto, respondeu-lhe secamente, obedecendo ao seu sistema de tratar com reserva, e só entrou em combinações quando viu o rei de Narsinga decidido a atacar forte­mente as tropas do Hidalcão.

Retribuiu os presentes do embaixador, já com peças provenientes de Portugal, já com outras que Pero d'Al­buquerque tinha trazido de Ormuz.
O Hidalcão, sabedor d'esta embaixada, apressou-se a mandar também a sua, receoso de lhe tirarem o trato dos cavalos. Protelou Afonso d'Albuquerque a res­posta para ver o procedimento do rei de Narsinga. En­tretanto a mãe do Hidalcão, muito desejosa das pazes, enviava um emissário do sexo feminino, a qual gentil­mente foi logo despachada com explicações da demora. Como o rei de Narsinga se mantinha hesitante e o go­vernador desejava partir, despachou o embaixador do Hidalcão, adiando a solução do caso para quando vol­tasse do mar Vermelho, prometendo-lhe todos os cavalos vindos de Goa, contanto que aos portugueses entregasse a terra firme e a passagem dos Gales.

Em 8 de novembro de 1514 enviou Albuquerque ao rei de Cambaya uma adaga d'ouro com rubis no cabo e vários objetos de prata: uma bacia de lavar as mãos, uma albarrada* (infusa) dourada, uma taça, um jarro dourado, um castiçal pequeno de prata e um bernegal*.
Mas a embaixada mais notável foi, sem dúvida al­guma, a do Xeque Ismael, o xá da Pérsia como temos dito. Merece referência especial.
Estava já Afonso d'Albuquerque instalado na for­taleza de Ormuz. Por Miguel Ferreira mandou-lhe o embaixador dizer que lhe queria dar o recado do seu senhor. Não quis o governador recebe-lo imediatamente, pois queria deslumbrá-lo.

Para esse efeito mandou, diante da fortaleza, preparar um estrado grande de madeira, com três degraus, todo alcatifado, tendo em redor muitos panos e um docel de brocado. No estrado algumas almofadas de veludo verde e duas cadeiras da mesma cor, franjadas de oiro. À gente de guerra mandou dispor numa ver­dadeira parada militar. D. Garcia de Noronha foi o mestre de cerimonias e por ele acompanhado o em­baixador. À frente do cortejo dois caçadores d'onças, a cavalo, cada um com a sua nas ancas e após eles doze mouros a cavalo, muito bem vestidos, trazendo joias d'ouro, peças de seda e brocado em bacias de prata e depois as trombetas de Afonso d'Albuquerque. Esqueceu dizer que logo atrás dos caçadores d'onças vinham seis cavalos muito bem ajaezados com cobertas ricas, testeiras e saias de malha nos arções.
Quando D. Garcia com o embaixador chegaram à fortaleza ecoaram os tiros das peças de artilharia da armada surta no porto. Tamanho era o barulho que, na frase dos Commentarios “parecia que se fundia o mundo”.

Apresentou-lhe então o embaixador uma carta do seu soberano para o rei de Portugal e outra para o governador, a qual este entregou a Pero d'Alpoim, seu secretário que junto de ele estava. Quatro coisas dese­java o embaixador da parte do seu rei: primeira que os direitos pagos das mercadorias, vindas da Pérsia a Ormuz, fossem do Xeque Ismael; segunda, que lhe desse embarcação para passar gente sua à terra da Arábia; terceira, que o ajudasse com a sua armada a tomar um lugar insubordinado agora; quarta, que lhe desse porto na Índia para os mercadores da Pérsia tratarem suas mercadorias e licença para assentarem casa de feitoria em Ormuz.

Nada respondeu Afonso d'Albuquerque de defini­tivo, sobre preterições de tanta monta, mas mandou tratar o embaixador o melhor possível.
Assim sabemos que, em 26 de abril de 1515, man­dou-lhe dar l0 quintais de gengibre, 6 de pimenta, 3 arrobas de cravo, 1 quintal de canela e um fardo de açúcar, como presente. Em 5 de maio do mesmo ano mandou-lhe dar um gomil* de prata dourada e ao seu capitão um punhal guarnecido de ouro e prata.

Em 29 de Junho de 1515 mandou lhe Albuquerque dar 5o serafins em ouro e 1 português de 10 cruzados para as suas despesas.
Entretanto, Fernão Gomes de Lemos era enviado á Pérsia para retribuir a embaixada por Albuquerque recebida em Ormuz. Notáveis foram os presentes cujo portador foi: espingardas e armas brancas; dois corpos de couraças; uma espada e um punhal guarnecidos d'ouro; bestas e lanças; uma carapuça de veludo preto guarnecida d'ouro com 181 rubis; manilhas d'ouro; anéis, 3 com rubis e outro com uma safira no meio de 27 rubis; uma espécie de colar com rubis, turquesas e pérolas; uma pêra d'ambar, com 100 rubis e 60 dia­mantes; várias moedas portuguesas e especiarias.

Não se pode dizer que não fosse magnificente! E por isso não admira que o xeque Ismael, numa carta escrita a Albuquerque, lhe chamasse grande senhor que tem o mando e esteio dos governadores da lei do Messias, cavaleiro grande e forte leão dos mares! Pe­de-lhe mestres bombardeiros e, na sua linguagem hiperbólica, compara-o com o amanhecer da claridade e com o cheiro do almíscar!

Também o capitão geral do xá da Pérsia cha­mava a Albuquerque leão bem aventurado, cumulando-o assim de elogios!
É que, com efeito, a fama do grande homem corria veloz e mais não adivinhavam os grandiosos projetos que lhe escandeciam o cérebro.
Os Commentarios contam-nos dois d'eles: um, cortar uma pequena serra para desviar o leito do Nilo, afim de não ir regar as terras do Cairo. Para tal efeito, por várias vezes, chegou a mandar pedir a el-rei D, Ma­noel I, oficiais da ilha da Madeira, dos costumados a cortar as serras para passagem das levadas com que se regam as canas do açúcar. Outro era a destruição da casa de Meca.

Qual deles o mais audaz?
É o brilho incomparável do génio perante o qual todos se devem curvar.

-In Affonso d’Albuquerque, António Baião, Lisboa 1913.

Cortou muito nariz e muita orelha, mas elevou o nome de Portugal às alturas, e vê-se bem o respeito que adquiriu entre os “inimigos”. Mas foi entre os “amigos” que mais inimigos teve.


Francisco Gomes Amorim
04-06-2015  

quinta-feira, 25 de junho de 2015

Desenho Afro-euro-brasileiro







"Eu vou para madagascar!"
by Kity Amaral

Técnica mista sobre papel 2008
21 x 29,5 cm





quarta-feira, 24 de junho de 2015

Milfurada ou Hipiricão-de-são-joão




                   Imagens do Google


por 
Miguel Boieiro


O Hypericum perforatum L é planta de muitos nomes populares, entre os quais, hipericão, erva-de-São João e milfurada. Destes, não uso o termo hipericão, para se não confundir com o Hypericum androsaemum L que é o nosso endémico hipericão-do-Gerês.
Também não gosto do nome de erva-de-São João, porque ele sugestiona a época da floração. Ora, entre nós, a planta logra aparecer, já em Abril, no seu máximo desenvolvimento.

Trata-se de uma herbácea vivaz muito frequente em terrenos incultos, taludes e pastagens soalheiras, com folhas crivadas de pequenas pontuações translúcidas, os tais “mil furos” – daí, milfurada.
Pertence à família das Hipericáceas e cresce geralmente em tufos de caules erectos, sendo indígena em Portugal, incluindo Açores e Madeira. De resto, é comum em quase toda a Europa, norte de África e América setentrional.
Identifica-se facilmente. Eis as suas principais referências físicas:
Caules avermelhados, lisos, angulosos e muito ramificados na parte superior, podendo atingir no auge da floração, 80 cm de altura.
Folhas opostas, sésseis, glaucas na página inferior, com nervuras laterais algo salientes. Como já se relatou, encontram-se salpicadas de numerosos orifícios que se observam melhor se colocarmos as folhas contra a claridade.
Flores em panícula na parte terminal dos ramos, de um amarelo dourado intenso, com odor débil e sabor amargo. São polinizadas por insetos, havendo, em cada flor, órgãos simultaneamente femininos e masculinos (hermafroditas).
Frutos formando cápsulas.
A milfurada não é esquisita e medra tanto em terrenos ácidos, como em alcalinos, desde que sejam soalheiros.

Na sua constituição química podemos encontrar óleo essencial, vitaminas C e P, flavonóides, glúcidos, taninos e sobretudo, hipericinas. As hipericinas têm acção antimicrobiana e anticancerígena. O óleo essencial e os taninos conferem-lhe uma acção anti-séptica, adstringente e cicatrizante. Os flavonóides produzem um efeito anti-inflamatório, vasoprotetor capilar e antidepressivo.
Em suma, esta planta, há muito considerada como medicinal, funciona como analgésica, anti-séptica, antiespasmódica, colagoga, digestiva, diurética, expectorante, sedativa, vulnerária, vermífuga, estimulante, etc.

Naturalmente que, perante tantas propriedades, são quase infindáveis as suas aplicações fitoterápicas. Apontamos apenas as principais: inflamações crónicas do estômago, fígado, vesícula e rins, afeções ginecológicas, ansiedade, depressão, queimaduras, úlceras cutâneas, enurese, …e até sida.

Usa-se internamente o infuso das sumidades floridas (30g para 1 litro de água) ou o óleo (oleum hyperici), a partir da maceração das flores em azeite, que se deixa ao sol durante 15 dias, agitando-o de tempos a tempos. Este óleo é ótimo para as queimaduras, inclusive solares.

“Il Talismano della Medicina Naturale”, obra que comprei o ano passado em Veneza, indica também a milfurada como coadjuvante da anorexia, da insónia, da impotência e da bronquite.

Acrescente-se, no entanto, que as grávidas não devem ingerir o infuso, pois a milfurada parece possuir características abortivas. Igualmente tem que haver cuidado com as pessoas hipersensíveis à luz solar.

A terminar, convém ainda referir o seu uso em homeopatia, na preparação de cosméticos e no fabrico de corantes amarelos, castanhos e vermelhos.

terça-feira, 23 de junho de 2015

O DIÁRIO DA MATILDE - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

A VISITA DO ZÉ MARIA 


Merece que recuperemos um registo que deveria ter sucedido ontem. 
Com a edição do jornal “Público” foi distribuída a aventura de Tim Tim, “Rumo à Lua”, desta primeira vez e simpaticamente, de forma gratuita. Trata-se do primeiro exemplar de uma série que englobará todas as histórias daquele repórter que supostamente, nas intenções do seu criador, consubstanciar-se-ia como que num arquétipo do cidadão europeu e um modelo para o mundo, em geral. 

Datam da puberdade os meus primeiros contactos com o assexuado herói que tinha por inseparável companhia a cadelinha Milou; foi com a saudosa revista que ia dos sete aos setenta e sete anos de idade que eu passei da colecção falcão e dos mandrakes e fantasmas para outras bandas desenhadas estética e literariamente mais elaboradas de que a dupla Black e Mortimer foi, desde logo, um enamoramento para o resto da vida. 

Não sei porquê, o Tim Tim nunca foi um dos meus eleitos. Li a larga maioria das aventuras mas, no género, preferia outras personagens mais divertidas, como o Asterix e o Lucky Luke – e quem é que se lembra do de Iznogood? – ou o já referido Professor Mortimer e a adolescência acabou por ter o presente da descoberta de, por exemplo, um Hugo Pratt. 


Seja como for, conto adquirir todos os volumes. As filhas do meu coração 
agradecerão. 



E não é que eu escrevi as linhas anteriores na presença de uma aranhazinha com fraldas? 

Uma vez que os pais têm presença marcada nos festejos das bodas de ouro do casamento de um dos tios, a Luísa que é a madrinha de baptismo, aceitou ficar com o Zé Maria que está adoentado dos brônquios e que assim tem no lar o sítio mais conveniente. Só por isso eu me vi forçado a tirá-lo da caminha desmontável onde dormia, quando uma motorizada mal educada o acordou em sobressalto. 


Como eu já tinha olvidado esta fase. 


E agora que lanchou e tem a fralda mudada, o Zé Maria, o mais novo dos três filhos do João e da Teresa ali está, na sala, tendo por companhia as brincadeiras da Matilde e o jornal da madrinha. 



Aí vem mais um mapa cor-de-rosa. 

Neste reino do homo maniatábilis (1) haverão as patuadas do nacionalismo possível de quem, em tão larga medida, depende dos subsídios da União, lá veremos uns jurarem defender melhor a pátria que os outros e depois das tronâncias – que hoje em dia já ninguém pode desembainhar a espada do agarrem-me se não eu vou – o indesejável acontece na mesma e logo qualquer outra causa oportuna propiciará que as nossas excelências se adaptem às novas circunstâncias e permaneçam no lugar do destino para onde corre o marfim. 


Capoulas Santos, o ministro da agricultura e pescas do Engenheiro António Guterres, já gritou alto e bom som, oh da guarda que o governo se prepara para aceitar a abertura das nossas águas territoriais à frota pesqueira espanhola que é só um dos colossos do ramo entre as economias da União Europeia.

É claro que ninguém tem dúvidas que os armadores nacionais terão dificuldades acrescidas com semelhante concorrência e, como eles alertam, desta forma, terão sido em vão todos os esforços que nos últimos anos têm sido feitos para manter os equilíbrios dos cardumes de espécies como a sardinha e o carapau. 

Provavelmente, às nossas autoridades resta pouca margem de manobra para outra coisa que não seja a aceitação da futurível realidade em causa. 
Pena foi que tivéssemos deixado desmantelar grande parte da nossa frota costeira, sem qualquer outra contrapartida para além dos subsídios ao abate dos barcos, ao mesmo tempo que aceitámos diminuir quer as armações para o mar alto, quer as correspondentes quotas de pescado. As pescas, dada a nossa geografia, poderiam – já para não dizer deveriam – muito bem ser uma das especialidades da nossa economia. 

Mas aqui repartem-se responsabilidades pelos intérpretes da nossa alternância partidocrática. 

Capoulas Santos é que seria dos últimos com propriedade para opinar nestas matérias. Então não foi o Engenheiro Guterres agraciado pelo estado espanhol e logo por recomendação de José Maria Aznar, seu homólogo, em Madrid que até é o líder de uma corrente política que, tanto por lá como no exterior, se opõe aos socialistas? 
É caso para perguntar o que é que eles estiveram lá a fazer. 


Ora acontece que esta é a sina de um país que vive de mão estendida para o estado. 
E para nos recordar isso mesmo, vai daí o Engenheiro Ludgero Marques reclama mais investimento público para o norte e, em especial, o grande Porto, o pretenso motor naquela região. 
Em vez de clamar para que os empresários se readaptem e invistam na investigação universitária e na conquista de novos mercados; em vez de alertar, desafiar e incentivar os correligionários, o homem que até dirige uma associação empresarial, ao contrário, reivindica do executivo que gaste mais dinheiro para reanimar o tecido económico daquela zona. 
Com a nossa fiscalidade, isto é uma delícia. 


Então e o que dizer do facto do grande desiderato nacional ser a bola, a propósito do que, só entre Braga, Guimarães e Porto, teremos dois estádios de raiz e outros tantos remodelados, com os custos acessórios garantidos pelo erário público. 
Aí tem o senhor engenheiro o reclamado investimento estatal. Se não gosta, tivesse protestado junto dos baronetes locais que tão forte finca pé teceram em torno daquelas despesas manifestamente desnecessárias e inoportunas. 
Tristemente, é esta a tal pronúncia do norte que se reúne em torno da távola da regionalização. 

Depois queixando-se que Portugal seja a pátria mais desgraçada entre os países desenvolvidos. 


Pois o espectáculo que ao mundo vamos dando é o de uma partidocracia oligárquica em que, nos dias correntes, um dos polos do seu núcleo duro tem os principais mentores de cabeça perdida e a propósito do escândalo do abuso e exploração sexual de menores, na Casa Pia, estamos a assistir a estertores que já não hesitarão em destruir o que possa restar de estado de direito nesta nossa terra ibérica. 
Já ouvimos dizer que os juízes formam uma corporação capaz de conspirar contra tudo e todos, inclusive a democracia; vimos zelotas, sempre sub-repticiamente, é bom de ver, defender que há personalidades que merecem um tratamento especial por parte da Justiça e escutámos intenções para a alteração de leis com as quais colidiram certos interesses instalados. 
É o resultado da vitória do homo maniatábilis ou, como eu escrevi há vários anos, é o nosso défice de democratas. 

Os grupos de interesses movem-se para que o poder se altere. Eles querem alguém de volta. 


Estaremos condenados aos ciclos das revoluções? 
O que acontecerá quando este sistema clientelar que vive paredes meias com a corrupção explodir de podre? 


As alegriazinhas do meu coração serão emigrantes? 



A Matilde gosta de pintar. 
Ali está ela, à minha frente, toda concentrada nas formas que vai fazendo com o pincel. 



E o pai aproveitou a aula de natação para esticar as pernas e ler. 



Hoje fico por aqui, apenas deixando a nota do telefonema da Margarida para as novidades. 

Rica vida, a do piolhinho. 


Daqui a pouco levaremos o Zé Maria de regresso à casa paterna e jantaremos por lá. 

Não acredito que regressemos cedo a casa. 
Há sempre mote para darmos à língua. 

Alhos Vedros 
 20/09/2003 


NOTA 

(1) Gomes, Luís F. de A. O DIÁRIO DA MARGARIDA – O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA, Vol. I, p. 98 


CITAÇÃO BIBLIOGRÁFICA 

Gomes, Luís F. de A., O DIÁRIO DA MARGARIDA – O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA, Vol. I, Dactilografado, Alhos Vedros, 2001

segunda-feira, 22 de junho de 2015

REAL... IRREAL... SURREAL...(137)

Nude Sitting on a Divan, Amedeo Modigliani, 1917
Óleo sobre Tela, 100x60cm
Tontura 

Que voz é essa, triste, que sussurra
aos meus ouvidos dor e tal loucura,
rouba a vontade, minha vida empurra
para outro norte, para a noite escura?

Que escuro é esse, se ainda trago
olhos abertos, braços estendidos,
se brilha em mim ainda como um facho
o fogo teu, voraz e desabrido?

Que dentes são que ao trincar me mordem,
e essas unhas que a rasgar-me a alma
tiram pedaços dos meus sonhos vãos?

Quanta loucura cabe em minha boca,
quanta tortura cabe em minha palma,
antes que eu caiba enfim, nas tuas mãos?

Ernesto Dias Jr.





domingo, 21 de junho de 2015



MIRADOURO 22 / 2015

(esta rubrica não respeita as regras do acordo ortográfico)
 
Foto: João Ramos
 
 
ACERCA DOS CAMINHOS E DAS CAMINHADAS.
 As memórias não se fixam como calendários antigos que se mantêm inalteráveis no arquivo que deles fazemos.
As memórias avivam-se ou esvaem-se em função de acontecimentos e emoções que ora as convocam, ora as afastam.
Por vezes, ao evocarmos no quadro mental e afectivo os anais de onde vimos e do que somos, esforçamo-nos procurando definir-lhes a nitidez.
As nossas memórias tantas vezes fatigadas, contorcem-se como em volúpia de fumo ou corpo que se esforça por “acertar o passo” com o ritmo do que ouve e embala mas, em qualquer caso, procura afirmar-se em nitidez a querer assomar-se à montra da consciência.
As memórias por vezes esbatem-se de forma tão acentuada que tememos tê-las perdido de vez mas, depois, algo de mágico acontece - um acorde de guitarra, o piar de um pássaro, um odor, uma imagem mesmo que apenas reflexo, … - que as reacende e nos permite recuperar o controlo da “fita” que nos restitui o domínio do continuum da nossa história e daquilo que somos.
Nesse processo percepcionamos, como se uma luz entretanto se acendesse, que não há mundos fechados e que cada um e todos somos apenas um dos elementos que o compõem ou, se preferirmos, um dos termos da equação que sem os restantes ficará inapelavelmente incompleta deixando-nos fragmentados ou privados do registo de etapas que permitem perceber o onde estamos e de como aqui chegámos. Dessa privação resultam frequentemente estados mentais de perplexidade e confusão que dificultam o propósito de prosseguir caminho.
Portanto, se a caminhada ainda não acabou, é importante preservar o diário de bordo do registo dos percursos.
 
Manuel João Croca

sexta-feira, 19 de junho de 2015


“Anti Poluídos Corações Transcendentalmente Anónimos” Não tenho cara e nem sei do coração Vim pela sombra e chamam-me de anónimo Estou sempre mais que invisível para quem pensa ver Sinto o respirar puro de uns tantos que não poluem a consciência Remeto-me a uma meditação que pouco tem de transparente transcendência Rezo tanto que a magia acontece pura e simples Embora não saiba a letra de qualquer oração oro Recito passagens que nem na Bíblia estão e só na mente vejo Aparecem escritas em várias línguas que não sei sequer interpretar Soletro aos poucos letras de cânticos angelicais quase a roçar o milagroso Visito a Alma quando vejo o portal para lá aberto Vou fraternalmente de mão dada com os Profetas Venho do Além com voz rouca e farta de gritar à toa Vislumbro em vão o órgão que toca vibrantes notas celestiais Vibro tanto que mais pareço feito de varas verdes num dia de ventania Remeto-me para um tempo onde nada havia Regresso de marcha a ré e sem rumo virado para o futuro Regrido no passado sem saber se sei ou não sei o que há para saber Resisto às ondas negativas agarrado firme a uma rocha virada para oriente Revejo tudo o que são frases em dias mais curtos e leio-as à meia-noite à meia-luz Estou com a fome de quem quer alimentar o imaginário Respiro o mais depressa que posso para ganhar forca anímica Rio-me sozinho escondido para evitar que me vejam de cara iluminada Transmito vibrações altamente aceleradas e positivas e partilho-as ao espelho Reflicto a imagem sã no mais profundo ponto de vista que existe para comprovar Pego em mim do avesso e estendo-me ainda molhado num estendal de pele de gente usada… Escrito em Luanda, Angola, a 18 de Junho de 2015, por Manuel de Sousa, ao som de musica Rock Metálico Pesado em tom de meditação, em Homenagem a todas as Formas Vivas Vibratórias e a todo o Mundo Material, também de natureza vibratório… Afinal de contas, queiramos ou não, vivemos num Mundo-Universo plenamente vibratório…usando corpos de alta frequência vibratória…


quinta-feira, 18 de junho de 2015

CIÚME


Poema declamado que vos ofereço esta semana
e poderão ouvir e ver neste link:
http://www.euclidescavaco.com/Poemas_Ilustrados/Ciume/index.htm


Euclides Cavaco
cavaco@sympatico.ca



quarta-feira, 17 de junho de 2015

Etnografar a Arte de Rua (X) Graffitar a Literatura













Graffitis fotografados por Luís Souta, 2015.
Cascais, Cobre, Rua António Livramento


«Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!»
(Fernando Pessoa “Mar Português” in Mensagem, 1934)


Considero estes graffitis (2 em 1) uma homenagem, de um jovem autor anónimo, ao grande poeta do Desassossego. Assim se decora um viaduto (um dos muitos «não-lugares» da nossa sobremodernidade, Marc Augé, 1992) que se pode ver na 3ª Circular-N9 (um de cada lado), quando se vem de Alcabideche no sentido Cascais-Guincho; quase no final da subida lá está o viaduto que dá acesso ao Cobre, um bairro sossegado, de vivendas, da vila de Cascais.

Pessoa, neste conhecido poema, lembrou as «quantas mães choraram», os «quantos filhos em vão rezaram» e as «quantas noivas ficaram por casar»… «para que fosses nosso, ó mar».

“Esqueceu-se”, todavia, de todos os que se afundaram (e quantos foram!) nas águas transatlânticas e que os portugueses haviam feito escravos, num comércio tão ao mais rentável que os da especiarias. Muitos daqueles Negros não chegaram a ver a capital do Império. As condições desumanas desse transporte transformavam, também para estas populações, as longas viagens atlânticas e índicas em autênticas jornadas «trágico-marítimas». Bué de naufrágios…

«Valeu a pena? Tudo vale a pena»… Será assim? A história parece, às vezes, que se repete. Mas não, a história é irrepetível. Para essa similitude, os cientistas sociais usam agora o conceito de «reconfiguração». Daí, a hodierna “escravatura”… branca, do trabalho infantil, ou a dos imigrantes desesperados do norte de África, que encontram a inesperada sepultura nas águas do civilizado Mediterrâneo. Saibamos aprender com a história (com ‘h’ ou ‘H’), não esquecendo todos os «actores sociais» que a protagonizaram. Penitenciemo-nos pelos erros passados, pedindo perdão, quando for caso disso, ou erguendo um «artefacto» que nos recorde essa gente que também nos mostrou como a nossa «alma», em muitas ocasiões, foi bem «pequena».

É isto que eu vejo nestes dois graffitis. Outros, farão diferente leitura das cordas multicores, do mar azul, do homem, do remo, e… É essa a beleza da arte! Cada um interpreta os «signos» de acordo com as suas crenças, sensibilidade, estado de alma e experiência de vida. Uns ficam presos aos «significantes» – os traços, as cores, a composição. Outros agarram-se aos «significados» reais, mágicos ou imaginários. Na arte cada um vê (quase) o quer ver.


Luís Souta

terça-feira, 16 de junho de 2015

O DIÁRIO DA MATILDE - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

UM BILHETE DA MARGARIDA

Hoje foi um dia longo. Trabalho árduo e, depois do jantar, eu, a mãe e a Matilde fomos para a festa da Moita. É meia-noite e só agora me sentei para escrevinhar estas páginas. Teria preferido ficar em casa. 
But, promises are promises. 


Seja como for, a nova rotina começa a instalar-se. 
Para nós, os pais, significa isto o fim de um ciclo de seis anos em que caminhámos para o jardim infantil, no triénio inicial por causa da mais velha e na recta final pela mais novinha. 

O saldo é que não poderia ser melhor. 
Creio que já escrevi nestes diários o quanto o pessoal é competente e carinhoso para com os miúdos. Se no começo era esse o factor que permitia ultrapassar as insuficiências logísticas e conseguir que as crianças tivessem uma estadia feliz e confortável, com a garantia de terem aprendido e experimentado os exercícios necessários a uma boa formação pré-escolar, depois da remodelação que o jardim fronteiro, por obra camarária, sofreu e das obras que ao acrescentarem uma sala e outras instalações sanitárias e, com isso possibilitando o alargamento de outra e, por consequência, uma sábia reformulação da distribuição dos petizes, então, só posso dizer que ao irrepreensível empenho humano se veio juntar uma unidade com todas as condições físicas para um trabalho de elevada qualidade. 
E assim aconteceu. 

Tenho a certeza que as minhas queridas filhas dali levaram todo o aparato intelectual e físico que lhes servirá como uma base inestimável – no caso da Margarida já o fez – para as aprendizagens que lhes serão solicitadas ao longo do primeiro ciclo do ensino básico. 

A todas as Educadoras e Auxiliares que estiveram envolvidas com a passagem dos meus anjinhos por aquele estabelecimento de ensino, quero aqui deixar o meu maior apreço. 

Perante a Paula, a Zé, a São, a Mizé, a Filó, a Vitalina e a Mali, mas também o Senhor Padre Carlos que tão bem soube lançar e fazer crescer tão importante equipamento, perante eles toda esta família se curva em sinal de profundo respeito e infinita gratidão e, em gesto de vénia, para todos deseja que assim permaneçam, gente que do dia a dia faz um domínio da Graça de Deus. 



A segunda aula foi inteiramente preenchida com pinturas. 

A Matilde gostou e à chegada já dispensou a companhia materna para transpor os portões e dirigir-se para a sala. 

E contou que o seu parceiro fez uma birra por causa de uma caixa e que no intervalo, um outro miúdo da sua sala saltou a vedação da escola. 



Por sua vez, a Margarida foi passar o fim-de-semana com a sua amiga Beatriz, na casa que a avó paterna possui na Portela. 

É a primeira vez que ela sai apenas na companhia de estranhos à família que não desconhecidos, pois trata-se da sua melhor amiga e os adultos são pessoas próximas e de quem somos amigos de longa data – no que pessoalmente me diz respeito e relativamente ao pai, desde a infância. 
E à noite telefonou à mãe a falar das novidades e para dizer que a viagem correu bem. 

Estou a ver a avezinha a crescer, ganhando as asas que um dia permitir-lhe-ão voar só por si. 


São tijolos de quando a alma se perde no etéreo. 


Mas eu não posso deixar de transcrever o bilhete que ela deixou à mãe. Não é por vaidade, acreditem, até porque aí teria que considerar os erros de escrita, mas tão só pelo encanto que não deixo de sentir.  
Mãe 
Mãe fui para o Algarve mais cedo. 
Passei a tarde em casa da Bia. 
Dá de comer à tartaruga por volta das 8.00h e 9.00h da manhã. 
Compra coisas da escola giras. 
Tenho pena de não poder-me despedir de ti mas podes-me telefonar pelo número: xxxxxxxxx. 
Muitos beijos 
Margarida Gomes 



Hoje teria para escrever sobre uma entrevista canalha a um juiz que vi ontem, no canal um da televisão pública. Não o farei devido ao cansaço. Talvez fale do caso amanhã. 



Agora vou para os braços encantados que a madrugada nos oferece. 

Alhos Vedros
  19/09/2003

segunda-feira, 15 de junho de 2015

REAL... IRREAL... SURREAL... (136)

Festa em Alhos Vedros, Autor António Tapadinhas, 2009
Acrílico sobre Tela, 60x69cm


FESTA EM FAMÍLIA 

A mulher, apreensiva, 
aguarda a contagem regressiva. 
O homem, um tanto tonto, 
proíbe a mágoa, o tédio, o desaponto. 
O ano finda, a noite é de alegria! 
Porejando energia, o jovem brinda. 
Propensa à frivolidade própria da idade, 
a moça cuida de coisas de somenos. 
Enquanto isso, o ancião faz um afago nos pequenos, 
ajeita a gola do abrigo, 
indaga de si para consigo: 
"Um ano a mais ou um de menos?"


Wanderlino Teixeira Leite Netto