O REGRESSO DO HERÓI
A Margarida aprendeu o que é um sismo e quais as atitudes mais aconselháveis em caso de catástrofe.
Agora anda toda preocupada com a possibilidade de tal ocorrência.
Diplomatas norte-americanos encontraram a morte num atentado na Faixa de Gaza que ainda não foi reivindicado.
Parece que o propósito da visita seria atribuir algumas bolsas de estudo a jovens palestinianos para estudarem nos Estados Unidos da América.
Como sempre, o terrorismo impôs a sua lógica em detrimento das relações pacíficas entre as populações de países e culturas diferentes.
Collin Powell falou com dureza e disse não poder haver um estado palestiniano independente enquanto as autoridades locais não forem capazes de controlar, desarmar e desmantelar a actividade das organizações terroristas no interior daquele território.
É assim mesmo. Não pode haver qualquer contemporização com gente daquela.
Lamentavelmente, os europeus do Ocidente não são capazes de se entenderem sobre a pertinência de cerrarem fileiras na guerra contra o terrorismo.
Choraremos tanta tibieza.
Esta tarde, depois de uma forte chuvada, abriu-se um buraco azul no negrume em movimento para o interior.
E no planalto da Quinta da Lomba, valeu a pena encostar o carro para ver o Tejo banhado por um clarão de Sol.
No Azerbaijão, o filho do ditador ganha a sucessão através de eleições cuja democraticidade é mais que discutível.
Soluções dinásticas, como esta, parecem estar em gestação em outras três ex-repúblicas soviéticas a saber, o Uzbequistão, o Cazaquistão e o Turquestão. Em todas, as anteriores chefias comunistas souberam prolongar-se após as independências e com isso assegurarem a passagem de uma ditadura a outra.
Os povos permanecem os mesmos, agora um pouco mais rotos e famintos.
E por cá tivemos o regresso do herói.
Logicamente porque pretende provar a inocência como um qualquer cidadão o faria, arroga-se da pretensão de procurar discursar na Assembleia da República sobre um processo judicial e para marcar o dia do regresso ao seu lugar de deputado, não fez por menos e concedeu entrevistas a vários diários e a uma revista de actualidades.
E o que fez foi puxar pelos rabos de palha dos outros partidos e sustentar a grande verdade de não estar ali a conceder a entrevista se fosse culpado. Mas também não se esqueceu de pôr em causa as testemunhas que seriam peões de uma urdidura e ainda da Provedora da Casa Pia, a quem acusou de jogo sujo.
Tenho dificuldade em decidir se se trata de cinismo ou de patetice. Às páginas tantas, defendeu que Martins da Cruz fez mal em demitir-se do cargo de ministro dos negócios estrangeiros, uma vez que dera a sua palavra de honra de que nada tinha feito para que a sua filha saísse beneficiada na entrada em medicina a que, legalmente, não tinha direito.
Pior foi a defesa da razão de ser do pedido de demissão de Paulo Portas, a propósito do seu envolvimento como testemunha no julgamento da antiga gestão da universidade moderna. Devolvida a bola, argumentou que no seu caso, por ser deputado, não tinha que se demitir, coisa que deveria fazer se fosse ministro.
Como assim, então o Parlamento não é a sede principal do poder político num regime democrático?
O homo maniatábilis é a figura que dá corpo ao regime partidocrático e à sociedade clientelar em que vivemos.
Dado o seu número e sobretudo devido às posições em que se colocam para terem oportunidades de usufruto de benesses, o que lhes confere uma característica comum, podemos considerar os exemplares como elementos de um conjunto social. Mas como também têm um repositório mínimo de ideologia que todos partilham, a ideia que são os melhores para a situação em que se encontrem e o pressuposto da naturalidade com que encaram o sistema de fidelidades e compadrios em que se apoiam, como se o mesmo fosse uma fatalidade para a qual se limitam a contrapor o silêncio de quem vive como se aquele nem existisse; e ainda pelos interesses que acabam por se cruzar numa rede de conveniências que a todos suporta, por estes dois factores fundamentais, mais que um grupo, o homo maniatábilis dá forma a uma classe social. Ora como todas as classes sociais, também neste caso encontramos os estratos médios e os altos e os baixos, dependendo dos rendimentos que conseguem o que, geralmente, está associado ao lugar que ocupam nas teias das influências partidocráticas.
Um estado assim organizado, está indefeso perante os lobbies mais indizíveis.
A democracia não existe em Portugal.
O estado de direito é uma farsa e no actual quadro partidário, as alternativas encontram-se nos extremos.
Esteja onde estiver, Salazar está a rir.
Na aula de hoje continuaram os exercícios a partir da palavra menina.
“-E também escrevemos mena e nina.” –Disse a Matilde com um ar todo importante.
Foi o tema do trabalho de casa que também tinha uma figura alusiva para colorir.
É uma alegria ver a Matilde a desenhar as letras.
E já lhe vai ganhando o jeito.
A felicidade falando alto.
Alhos Vedros
15/10/2003
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