terça-feira, 15 de dezembro de 2015

O DIÁRIO DA MATILDE - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

O REGRESSO DO HERÓI

A Margarida aprendeu o que é um sismo e quais as atitudes mais aconselháveis em caso de catástrofe. 

Agora anda toda preocupada com a possibilidade de tal ocorrência. 



Diplomatas norte-americanos encontraram a morte num atentado na Faixa de Gaza que ainda não foi reivindicado. 
Parece que o propósito da visita seria atribuir algumas bolsas de estudo a jovens palestinianos para estudarem nos Estados Unidos da América. 
Como sempre, o terrorismo impôs a sua lógica em detrimento das relações pacíficas entre as populações de países e culturas diferentes. 

Collin Powell falou com dureza e disse não poder haver um estado palestiniano independente enquanto as autoridades locais não forem capazes de controlar, desarmar e desmantelar a actividade das organizações terroristas no interior daquele território. 

É assim mesmo. Não pode haver qualquer contemporização com gente daquela. 

Lamentavelmente, os europeus do Ocidente não são capazes de se entenderem sobre a pertinência de cerrarem fileiras na guerra contra o terrorismo. 

Choraremos tanta tibieza. 



Esta tarde, depois de uma forte chuvada, abriu-se um buraco azul no negrume em movimento para o interior. 
E no planalto da Quinta da Lomba, valeu a pena encostar o carro para ver o Tejo banhado por um clarão de Sol. 



No Azerbaijão, o filho do ditador ganha a sucessão através de eleições cuja democraticidade é mais que discutível. 
Soluções dinásticas, como esta, parecem estar em gestação em outras três ex-repúblicas soviéticas a saber, o Uzbequistão, o Cazaquistão e o Turquestão. Em todas, as anteriores chefias comunistas souberam prolongar-se após as independências e com isso assegurarem a passagem de uma ditadura a outra. 
Os povos permanecem os mesmos, agora um pouco mais rotos e famintos. 



E por cá tivemos o regresso do herói. 

Logicamente porque pretende provar a inocência como um qualquer cidadão o faria, arroga-se da pretensão de procurar discursar na Assembleia da República sobre um processo judicial e para marcar o dia do regresso ao seu lugar de deputado, não fez por menos e concedeu entrevistas a vários diários e a uma revista de actualidades. 
E o que fez foi puxar pelos rabos de palha dos outros partidos e sustentar a grande verdade de não estar ali a conceder a entrevista se fosse culpado. Mas também não se esqueceu de pôr em causa as testemunhas que seriam peões de uma urdidura e ainda da Provedora da Casa Pia, a quem acusou de jogo sujo. 
Tenho dificuldade em decidir se se trata de cinismo ou de patetice. Às páginas tantas, defendeu que Martins da Cruz fez mal em demitir-se do cargo de ministro dos negócios estrangeiros, uma vez que dera a sua palavra de honra de que nada tinha feito para que a sua filha saísse beneficiada na entrada em medicina a que, legalmente, não tinha direito. 
Pior foi a defesa da razão de ser do pedido de demissão de Paulo Portas, a propósito do seu envolvimento como testemunha no julgamento da antiga gestão da universidade moderna. Devolvida a bola, argumentou que no seu caso, por ser deputado, não tinha que se demitir, coisa que deveria fazer se fosse ministro. 
Como assim, então o Parlamento não é a sede principal do poder político num regime democrático?



O homo maniatábilis é a figura que dá corpo ao regime partidocrático e à sociedade clientelar em que vivemos. 
Dado o seu número e sobretudo devido às posições em que se colocam para terem oportunidades de usufruto de benesses, o que lhes confere uma característica comum, podemos considerar os exemplares como elementos de um conjunto social. Mas como também têm um repositório mínimo de ideologia que todos partilham, a ideia que são os melhores para a situação em que se encontrem e o pressuposto da naturalidade com que encaram o sistema de fidelidades e compadrios em que se apoiam, como se o mesmo fosse uma fatalidade para a qual se limitam a contrapor o silêncio de quem vive como se aquele nem existisse; e ainda pelos interesses que acabam por se cruzar numa rede de conveniências que a todos suporta, por estes dois factores fundamentais, mais que um grupo, o homo maniatábilis dá forma a uma classe social. Ora como todas as classes sociais, também neste caso encontramos os estratos médios e os altos e os baixos, dependendo dos rendimentos que conseguem o que, geralmente, está associado ao lugar que ocupam nas teias das influências partidocráticas. 

Um estado assim organizado, está indefeso perante os lobbies mais indizíveis. 


A democracia não existe em Portugal. 
O estado de direito é uma farsa e no actual quadro partidário, as alternativas encontram-se nos extremos. 


Esteja onde estiver, Salazar está a rir. 



Na aula de hoje continuaram os exercícios a partir da palavra menina. 
“-E também escrevemos mena e nina.” –Disse a Matilde com um ar todo importante. 

Foi o tema do trabalho de casa que também tinha uma figura alusiva para colorir. 

É uma alegria ver a Matilde a desenhar as letras. 
E já lhe vai ganhando o jeito. 



A felicidade falando alto. 


 Alhos Vedros 
   15/10/2003

Sem comentários: