terça-feira, 8 de dezembro de 2015

O DIÁRIO DA MATILDE - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

THE WONDERLAND 

Aqui há gato, o mesmo é dizer, nestes assuntos, engenharia financeira. 
O primeiro-ministro anunciou que no próximo ano será possível reduzir os impostos e, simultaneamente, aumentar o investimento público em cinco por cento. 
Certamente, tal só será viável com um aumento do défice público. 
Será isso compatível com a necessidade de manter o défice orçamental abaixo dos três por cento que nos é imposta pela integração no Euro? 

Cá para mim, isto é mais uma manifestação daquele velho hábito de falar para não estar calado. 


Mas depois quando lemos que os cortes previstos vão direitinhos para a educação, a saúde e os assuntos sociais, ficamos cientes que a ideia continuará a ser que os mais pobres paguem o despesismo de quem vive à sombra do erário público e que, para nosso regalo, se traduzirá em coisas tão prementes e economicamente estimulantes como dez estádio de futebol. 



Em contrapartida temos a contestação estudantil na rua. De Norte a Sul e um pouco por todas as universidades públicas, os alunos dizem não ao pagamento de propinas, pelo menos ao aumento que se pretende para valores máximos à volta dos oitocentos euros. Convenhamos que em Portugal seria muito difícil suportar um ensino superior inteiramente gratuito e não sei se tal seria aconselhável e não só por motivos que se prendem unicamente com o ponto de vista e interesses dos discentes. 

Mas é claro que o financiamento do ensino superior público é um problema sério e bom seria que entre nós se compreendesse que não deixaremos o limbo do desenvolvimento enquanto não tivermos uma formação de elites ao melhor nível do que há por esse mundo fora e isso, atendendo à nossa realidade, só se conseguirá com políticas, propósitos e medidas que, necessariamente, acarretarão o gasto de muito dinheiro. 

Logicamente, a parte de leão deve caber ao estado já que estamos a falar de um interesse geral. Contudo, se o directo beneficiário der um contributo, não me parece que haja nisso algo de errado. Obviamente, salvaguardando as possibilidades daqueles que sendo capazes de obter bons resultados, não possuam os meios financeiros para o fazer. 
Quanto aos valores, o bom senso acabaria por resolver o caso. 



Bom senso que é precisamente aquilo que não parece existir, quando o grande acontecimento será o regresso de um arguido à bancada do maior partido da oposição. 
Ele há a presunção de inocência e isso é incontornável. Mas também há o decoro. 
E o homem, se tivesse vergonha na cara, estando de consciência tranquila, como jura a pés juntos, retirar-se-ia para o recato da sua vida privada, defender-se-ia com os meios que tem à sua disposição – então há ou não há confiança na justiça? – e calmamente esperaria o resultado final que seguramente se traduziria na conclusão da inexistência de indícios e provas do crime ou, perante julgamento, na absolvição. 
Depois retomaria a vida pública e, aí sim, deveria ter a coragem para aguentar as primeiras vagas de desconfiança e a inteligência suficiente não só para as fazer esquecer, como ainda para deixar bem claro que, sem ressentimentos, continuaria capaz de zelar pelo bem público. 
Assim, não; em quatro, dois juízes mostraram-se convencidos de existirem fortes indícios de ter cometido os actos criminosos de que é acusado e não é que o rapaz parece querer vir disposto a empunhar o estandarte da luta contra esse universo tenebroso? 

Com todo o respeito, cheira-me à salazarenta táctica da virtude imposta pela censura e com os exemplares que temos no nosso jornalismo, nem é preciso qualquer velhote com um lápis azul na mão. 



Pois hoje foi dia de passeio para a Matilde. 
A recepção ao novo aluno fez-se do jogo da caça ao tesouro. Deu direito a diploma e tudo. 


Foi um encanto ver o pardalito a contar à irmã como decorreu a manhã. 



Periclitante mas lá vai. 
Eleições no Kosovo em que as forças concorrentes não tiveram que andar sob a vigilância dos acólitos armados. 
No fim, ambos os partidos mais votados se mostraram satisfeitos com os resultados. 

Seria tão bom, uma democracia na antiga Jugoslávia. 



Mas a grande head line está na capa e em oito páginas da revista norte-americana Time que publicou uma reportagem sobre os clubes nocturnos e a prostituição em Bragança, ali elevada ao ponto da rota do alterne europeu. 

O ai jesus da malta do costume é que não se fez esperar e o governo retaliou com o cancelamento da publicidade ao euro que aí vem naquele órgão de comunicação social. 


Tristemente, há aqui uma ironia amarga. 
É que se deu a conhecer um dos atractivos para os bandos de hooligans que se adivinham a propósito da maior realização futebolística de sempre no nosso país. 



Yasser Arafat não consegue dominar nem se consegue separar dos grupos terroristas mais fanáticos e violentos. 

Qualquer solução consistente para o problema israelo-palestiniano terá que passar por cima dele? 



É tão estranho este mundo em que nós vivemos. 


Alhos Vedros 
  14/10/2003

Sem comentários: