Wave, Night, de Georgia O´Keeffe, 1928 Óleo Sobre Tela, 76,2x91,5 cm |
Despedida
Ontem foi a última edição da rubrica
“Miradouro” que era assegurada aos Domingos, pelo amigo Manuel João Croca.
Saiu, pelo seu pé, por motivos pessoais. O “Estudo Geral” fica mais pobre. Respeito
a sua decisão, como espero que respeitem a minha, quando/se chegar a altura.
Esta é a singela homenagem da rubrica de
Segunda-feira “Real… Irreal… Surreal…”.
Palavras
Ditas, na apresentação do livro “OOM ou O INFINITO AZUL DO FUTURO AGORA”
Fiquei muito honrado e feliz com o
convite que me fizeste para ler um poema na apresentação do teu livro. Duplamente.
Porque te admiro como escritor e porque há poetas que são bons, geniais até,
mas são para serem lidos na intimidade. Aqueles de que eu gosto, não perdem por
serem ditos ou lidos, perante uma multidão. Quando me deste a oportunidade de
seleccionar o poema para dizer na apresentação, a minha escolha recaiu de
imediato neste “Territórios de Solidão”. Mas fiquei com muitas dúvidas, porque
há diversas maneiras de dizer poemas. Para simplificar, podemos dizer à maneira
clássica, à João Villaret, de uma maneira intimista, irónica ou satírica, à
Mário Viegas, ou com arrogância e fogosidade como Ary dos Santos. Eu sei qual
preferes, mas não te vou fazer a vontade. Vou dizer o teu poema, à António
Tapadinhas, como ele (que neste caso sou eu) dizia há 40 anos atrás, quando
tinha 30 anos. Viva o espectáculo da poesia!
TERRITÓRIOS
DE SOLIDÃO
Solidão
é o mundo a fechar-se no centro de um
mim
emparedando a alma no medo de ser
assaltado.
É marcar por traços a passagem dos dias
sem curiosidade de olhar por cima do
muro.
É uma luz que se apaga ao começo da
noite,
distância que não confronta nem sequer
contesta.
É escutar o som do cabelo a crescer até
cobrir o corpo todo
e ter um copo em cada mão para se
brindar ao que seja.
Solidão
é um olhar que já não procura
num tempo sem emoção
e quando já sem chama e apagada
a lenha se torna carvão.
Solidão…
(podemos começar outra vez)
solidão é
sob um céu rutilante de estrelas
sentir um adeus de velas no mar.
SELECÇÃO DE ANTÓNIO TAPADINHAS
2 comentários:
Amigo António,
lembro-me bem daquela noite, do poema que escolheste para dizer e da forma como o disseste. Foi à tua maneira e foi a melhor. Aquela noite foi, para mim, mágica e todos os que estiveram (e até alguns que não estiveram lá fisicamente) fizeram essa magia. Mais uma vez obrigado pela tua valiosa contribuição.
De facto o "Miradouro" acabou e a minha participação no "Estudo Geral" também. Continua a vida e a vida é feita de encontros (e desencontros)e de Outros "Miradouros" - que até podem ser um "Toca a Banda no Coreto" ou um "Vistas do Largo" - acontecerão.
E outros "Estudos Gerais" - que podem ser um livro colectivo de poesia, um texto "emoldurando" uma fotografia" ou um devaneio enquanto exercício para uma Comunidade de Leitores - também.
Podem também ser as páginas de um livro de autor.
Certo, certo é que vamos continuar a encontrar-nos.
Porque é essa a nossa vontade e, portanto, é assim que as coisas são.
Obrigado.
Pelo teu texto e ilustração que, como habitualmente, constituem um belo conjunto e pelo abraço.
Daqui, vai outro.
Grande.
Manuel João Croca
Amigo António, por estes gestos, e por outros, é que o nosso Estudo continua bem vivo e se recomenda. Como tudo, também um dia há-de acabar, se acabar, com a liberdade e a dignidade que, creio, nos assiste. Claro que há outros, mas como diria o poeta, "não é a mesma coisa". Mais Abraços.
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