HOJE HÁ CIRCO, AMANHÃ NÃO SABEMOS
Por cá não são necessários atentados terroristas para dizimar o portuga. Morre-se nas estradas como nos conflitos do Médio Oriente.
Neste Sábado que passou, perderam a vida em acidentes de automóveis mais portugueses que as vítimas do último grande atentado terrorista em Bagdad.
A nossa cultura cívica não incorpora a ideia de que não podemos, de modo algum e em nenhuma circunstância, pôr em risco a vida do nosso semelhante.
São vergonhas da nossa face. É claro que o português dos tempos do salazarismo era maioritariamente analfabeto. Mas quase trinta anos depois da escola democrática, entristece que as novas gerações continuem a ultrapassar com traços contínuos e a acelerar desmedidamente em asfaltos molhados ou dentro das localidades.
Mas não admira, não.
Como escreveu o ministro adjunto do primeiro ministro, o Euro 2004 é o grande desígnio nacional que trará “(…) um contributo importante para a viragem do país rumo a um novo ciclo de progresso e bem estar.” (1)
Prometo enviar um fac-simile do jornal a todo aquele que, compreensivelmente, duvidar das palavras que acabei de transcrever.
E não deixa de ser caricato que neste mesmo número daquele diário, em que alguém, em editorial, se escandaliza com os novos manuais escolares do português de décimo ano que fazem do lixo televisivo objecto de estudo, as primeiras quatro páginas do jornal sejam dedicadas precisamente ao futebol.
A impressão que nos fica é que nos espera um país de empregados de mesa.
Na aula de hoje os alunos voltaram a trabalhar a palavra menina que copiaram diversas vezes, tanto na forma de maiúsculas como de minúsculas. A este respeito, fizeram ainda recortes da figura alusiva e complementaram o turno com desenhos sobre o mesmo tema.
Fora dos aspectos didácticos, a Professora disse a três meninos que têm direito a lanche a meio da manhã, a expensas da acção social escolar e distribuiu um pedido de autorização para que os educandos tenham acesso ao programa de saúde e higiene oral e também a autorização para que amanhã possam deslocar-se à Moita no âmbito da recepção aos novos alunos.
Em ambos os casos, a nossa resposta foi positiva.
No primeiro caso, apenas declinámos a dose de fluor quinzenal, uma vez que, por prescrição do seu pediatra, a Matilde toma um comprimido diário daquele revitalizante.
Escusado será dizer que este género de assistência sanitária é válido e muito importante.
Uau! Mas amanhã há passeio.
Claro está, a Liga Árabe pede que as forças de ocupação (sic) abandonem o Iraque e devolvam o governo aos iraquianos.
O que eles querem não sei, mas sei que não querem uma sociedade aberta naquele país e muito menos um estado pacífico e empenhado na paz entre israelitas e palestinianos.
Isso seria a morte anunciada daquelas tiranias.
E nós, não queremos que a democracia vença?
Tanto quanto queremos voar em redor da Lua que hoje traz um véu de humidade.
Fica-lhe tão bem o irisado do halo que a rodeia…
Alhos Vedros
13/10/2003
NOTA
(1) Arnaut, José Luís, EURO 2004 UMA APOSTA GLOBAL, p. 5
CITAÇÃO BIBLIOGRÁFICA
Arnaut, José Luís, EURO 2004 UMA APOSTA GLOBAL, In “Público”, nº. 4952, de 12/10/2003
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