Celebração da Poesia no seu Dia
Mundial, 21 de março de 2017, com um
“Atelier de Animação Teatro e Performance” numa colaboração entre a Biblioteca
Municipal do Pinhal Novo e a Escola Superior de Educação do Instituto
Politécnico de Setúbal.
“O meu País é o meu Corpo” é o
título do Atelier que realizámos na sala multimédia da Biblioteca com o
objetivo de Sentir, Dizer e Fazer uma Performance de palavras, frases, versos,
poemas inspirados por “Lençóis Bordados” da pintora contemporânea Lourdes
Castro.
Participaram neste evento jovens
da Escola Secundária do Pinhal Novo, acompanhados pela sua professora, e estudantes da ESE das
Licenciaturas em Tradução e
Interpretação de Língua Gestual Portuguesa com as professoras Sandra Marques e
Ana Silva e da Licenciatura em Animação e Intervenção Social com a professora Sandra
Cordeiro.
A
música e a luz serenas criaram o ambiente criativo num chão povoado de lençóis
e jornais. Num primeiro tempo, alguns dos participantes deitaram-se e relaxaram
nos lençóis, enquanto outros desenhavam contornando os corpos com marcadores
pretos [para sermos fiéis à referência da Pintora Lourdes Castro, num workshop
mais prolongado no tempo, os lençóis seriam a seguir bordados].
Num
segundo tempo, cruzámos com outros corpos contornando também e deixando espaços
vazios de interação para escrever palavras, frases, versos, poemas alusivos ao
olhar refletido dos participantes.
Resultou
desta experiência laboratorial de “ensino” da poesia [alguns diriam “escrita
criativa”] os “trabalhos” que foram paginados numa marcação própria para poemas
a dizer na performance que se realizou de seguida:
(1)
“Por vezes temos o
fogo
Na boca (…)
O avanço do relógio
Dá-nos uma certa
Alegria
Luz na
Vida”
João, 13 anos Escola
Secundária do Pinhal Novo
(2)
“Dançarino
dança na lua
Livre
Como as aves voam
Com as asas
No céu azul”
Mariana Silva, 13
anos Escola Secundária do Pinhal Novo
(3)
“A voz do sol,
Comeu a maçã do
joelho
Uma ave tocou nos
lábios
Com azeite
Com a cabeça”
Gabriel, 13 anos
Escola Secundária do Pinhal Novo
(4)
“O otorrinolaringologista
Comeu com o cabelo o
Abacaxi e o ovo
Que estavam
No frigorífico
Na sua
Casa em
Júpiter
João Ribeiro, 13 anos
Escola Secundária do Pinhal Novo 7º E, nº 14
Neste Atelier desenvolvemos
técnicas da Professora e Poetisa Maria Alberta Meneres, publicadas no seu livro “Um poeta faz-se aos
10 anos”, nos anos 70, e de outros colegas “professores de Poesia” que criaram
com o estudante Rosi, de 12, anos o seguinte texto:
“O TEXTO
Era uma vez um texto
Era uma vez uma casa
no texto
Era uma vez um cão no
texto
Era uma vez um gato
no texto
Há um pássaro
Ele voa
No texto”
O pensamento o a inquietação
deste tipo de Ateliers retratam as temáticas de Alda Bizarro, bailarina e
coreógrafa num livro recente “10X10 Encontros entre Arte e Educação”, Fundação
Calouste Gulbenkian, 2017, p.41: “fica de fora [da educação] as danças malucas,
o espaço dos que não têm jeito para jogar, dos gorduchos, dos que temem a
competição, dos que gostam de se sentar no chão, ou até dos que gostam de estar
deitados a ouvir, a escrever ou a desenhar. Na escola, bem como no resto da sociedade,
a posição sentada ganha prevalência na hierarquia das posições. No entanto, a
minha experiência no 10X10 diz-me que a estratégia de aprendizagem que põem as
cadeiras de lado e recorrem a atividades que envolvem diretamente o corpo têm
um enorme impacto junto dos alunos, suscitando o seu entusiasmo e a sua
motivação”.
Performance Recital
A partir do Atelier com os jovens, realizámos a Performance Recital que
envolveu alguns estudantes dos cursos de Licenciatura da Escola Superior de
Educação de Setúbal TILGP (Flávia Silva, Sara Tavares, Catarina Cândido, Barbara
Pollastri e Ana Pires); AIS (Patrícia Brioso, Ana Catarina Barroqueiro, Ana
Isabel Muge dos Reis, Ana Maria Ferreira, Sara Monteiro, Eulália Matta); a estudante Erasmus Cecília Boechat e os
jovens da Escola Secundária do Pinhal Novo.
Os poemas lidos foram, em alguns casos, criados pelos
próprios estudantes da ESE, ao longo das aulas do 2º semestre, como é o caso
seguinte:
“Quadris”
“Balançando
ao som da Canção
Entre
contração e Convulsão
Os
passos consoados vão desenhando a dança
O
movimento dos quadris aos poucos revela
A
sedução velada que o corpo não nega
Mas
esconde do tabu instituído e velado
O
corpo fala enquanto a mente consente
Com
as regras infundadas mas conscientes
E
funciona como escape para o real desejo
E
quando liberto o corpo explode
Extravasa,
respira, suspira, transborda
E
revela a verdadeira essência da carne”
(Cecília Boechat,
março de 2017)
De salientar ainda o poema da colega Eulália Matta, escrito
no próprio momento da Performance.
A Performance realizou-se em língua portuguesa de Portugal e
do Brasil, bem como em crioulo, francês e italiano, enriquecida com a Língua
Gestual Portuguesa, desenvolveu-se num cenário protagonizado pelos lençóis
desenhados ao longo do Atelier.
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