Abdul Cadre
PODE BEM SER QUE EU ESTEJA ERRADO
Contrariamente ao que muito boa gente pensa, não há qualquer prova científica de que exista a alma e, por maioria de razão, de que esta sobreviva à morte do corpo físico. O facto de haver cientistas que admitem tal fenómeno não compromete a Ciência. Além disto, nem todo o conhecimento tem de ser científico, mas o que deste esperamos é um critério seguro de demonstração.
No campo da espiritualidade – é nesse campo que a alma medra – as demonstrações de cada um a si próprio serão tão seguras quanto o método de aquisição e desenvolvimento dos sentidos próprios para conhecer realidades imateriais. Quem o consiga – e estamos a partir do princípio da existência de realidades imateriais – poderá dizê-lo a outro, mas não poderá convencê-lo do que não pode demonstrar. Alguns esoteristas, não sei se por excesso de boa vontade se por fraqueza e vaidade caíram no terreno dos magos de vão de escada, servindo-se de métodos circenses. É de tais falsidades que vem muito do descrédito que cai sobre o campo espiritualista. Se falarmos de religião, então essa tristeza, para não usarmos outro adjectivo, atinge foros indiscritíveis.
Recorrentemente, a imprensa traz notícias deste género: cientistas determinaram o peso da alma. Da alma? Bom, se ela for imaterial – como eu a entendo – não tem peso, como é óbvio. Mas são notícias bem-intencionadas: destinam-se a deixar-nos bem-dispostos.
Mas excitante, excitante foi o que aconteceu na semana passada e que entusiasmou muitos dos meus amigos, inclusive da minha área de pensamento. Uma notícia vinda do Canadá dizia que um indivíduo «completamente morto» apresentava reacções electro encefálicas, ondas cerebrais ou coisa assim, o que daria que pensar. E eu pergunto-me: pensar em quê?
Os intrigados do costume puseram-se logo a magicar: cá está, isto é coisa de vida para além da morte. Será? Não terá uma explicação mais terra à terra? É que eu vi – entre muitos horrores – um indivíduo cuja cabeça explodira continuar a caminhar. Certamente que o seu cérebro, que deixara de existir, não emitia ondas de letra grega alguma. O corpo estava ainda vivo, mas o indivíduo estava morto. A morte do indivíduo, para os esoteristas, dá-se quando se rompe o popularizado cordão de prata; as células do corpo vão morrendo devagarinho. É neste processo de degradação que a biologia, a química, a electroquímica e o electromagnetismo dão uma grande ajuda ao nosso entendimento.
O apetite que alguns esoteristas têm para adoptarem dos cientistas materialistas a confusão entre cérebro e mente fá-los esperar do material o que só o imaterial pode dizer.
Os relatos de experiências perto da morte (ou de quase morte) podem ser muito inspiradores, mas só isso. Muitos cientistas querem explicar de outro modo o que os crentes não crêem.
Mas não se assustem, que também tenho muitas coisas que me dão que pensar, mas que não vêm nos jornais e muito menos na Internet. Creio na realidade da reencarnação, mas não creio que o Manuel nasça João na próxima encarnação. O convencimento que me toca nada tem a ver com o que vem na fancaria literária que por aí pulula, mas na minha pessoal concepção, influída e desenvolvida a partir dos ensinamentos rosacruzes. Já escrevi bastas vezes sobre isto e continuarei a escrever. Resumidamente – o resto podem deduzir – é que todos os meus amigos, que neste momento me lêem, quando chegar a hora, morrerão definitivamente e – presume-se – o essencial, que deu vida ao vosso corpo, persistirá para mais tarde dar vida a outro actor e não ao mesmo. Nenhum de nós foi Napoleão, nenhum de nós foi Cleópatra, nem estes personagens foram outros antes. E, no entanto, em cada um de nós, personagens no palco, reside uma multidão. Cada um de nós é uma legião, uma súmula de actos gastos, de aprendizagens e evolução.
Quem conte resolver em uma nova encarnação o que não resolveu no tempo que gastou e no tempo que lhe reste do entreacto que agora vive, desiluda-se, porque não há tempo de compensação. Isto não é o futebol e os maus actores não merecem mais do que ser pateados.
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