quinta-feira, 8 de setembro de 2011

d´Arte - Conversas na Galeria LIV


Olival (Segundo Van Gogh)Autor António Tapadinhas
Óleo sobre Tela 30x40cm

Na pintura, o artista procura transmitir mensagens e emoções, tanto mais eficientes quanto menos utilizar a muleta da escrita ou da fala para a sua interpretação. De tal maneira que para apreciar a qualidade do pintor, deveria ser suficiente analisar a sua obra. O que é uma tarefa impossível - só o tempo dá a exacta medida do seu real valor. Por agora, tudo é considerado Arte - um imenso saco onde convivem ovas de carapau com caviar, lixo com obras-primas, dependendo de lóbis, partidos, camas, tachos… E não são os críticos que nos podem ajudar: o fantasma de Nadar paira sobre eles. Em 1874, o fotógrafo Nadar acolheu no seu estúdio uns quadros que pareciam inacabados, pintados ao ar livre, com pinceladas rápidas e nervosas, plenas de matéria e de cores puras, fortes e contrastantes. Estas pinturas eram sistematicamente recusadas pelos académicos que seleccionavam as obras que tinham qualidade para figurar no Salon, a grande mostra que se realizava de dois em dois anos, em Paris. Na primeira exposição das obras recusadas, um jovem pintor, Monet, apresentou uma cena marinha a que chamou “Impressão - Sol nascente”. Um crítico conceituado (Louis Leroy) considerou um papel de parede mais elaborado do que aquela obra, num cáustico e corrosivo artigo intitulado: “A Exposição dos Impressionistas”. Ironicamente, esta expressão depreciativa começou a ser utilizada para definir o género de pintura que se transformou numa das mais valiosas da actualidade. No top das obras vendidas estão alguns desses artistas recusados do Salon e, entre elas, destacam-se “Retrato do Dr. Gachet e “Auto retrato sem barba”, de Van Gogh que em toda a sua vida vendeu apenas um quadro. Foi sustentado pelo seu irmão Theo que encheu a casa de obras que não conseguia vender.
Sempre me fascinou o trabalho de Van Gogh. Depois de ler as suas cartas, com a descrição dos seus mais profundos sentimentos, para além de me fascinar, comove-me…
Esta obra é a minha homenagem a Van Gogh, do qual digo, como diria Óscar Wilde:
Não tenho nada a declarar a não ser a sua genialidade!

9 comentários:

luis santos disse...

Talvez conheça meia dúzia de quadros de Van Gogh e tive oportunidade de ler algures uma síntese biográfica do autor.

O seu percurso de vida recheado de inadaptações escolares, profissionais, amorosas, sempre o empurraram para a pintura, a sua inata potencialidade, o destino.

O cumprir do sonho garantiram-lhe a pobreza e, provavelmente, a liberdade, mesmo sem sucesso comercial. A liberdade, neste caso, pura e dura que lhe trouxeram algumas fortes amarguras, mas que, talvez, por via disso o tenham ajudado a conquistar a fama.

Acredito que, pelo menos, parte do sucesso do autor se deveu mais ao seu percurso de vida do que propriamente à sua genialidade.

A coisa que mais me impressiona na pintura de Van Gogh, sem apreciações técnicas, é o movimento que ele coloca nas suas telas. A realidade não está estática e toda ela tem vida. Toda ela é energia.

Quanto ao resto, os temas, os valores, a ideologia, não têm um particular relevo. Mas acaso precisam de ter?

E a ti, o que te atrai mais em Van Gogh?

Para ser justo e verdadeiro desejo que te acompanhem, sempre, muitas estrelas pelo caminho. Estou desejoso de reler o livro que aí vem.

Abraço.

Anónimo disse...

“Não viso exprimir com as minhas figuras, as minhas paisagens, uma espécie de melancolia sentimental, mas uma dor trágica. Enfim, quero chegar ao ponto em que digam de minha obra: este homem sente profundamente, este homem sente delicadamente.”

Van Gogh

A.Tapadinhas disse...

A vida de Van Gogh é, como dizes, um completo fracasso. Até mesmo quando se tentou suicidar apenas matou a sua orelha.

Fico com algumas reservas quando alguém diz que a felicidade é só para os ricos, os probezinhos coitadinhos têm de ser infelizes, é o seu destino. Sei que não é o teu caso! Deves pensar como eu, que todos têm direito a buscar a sua felicidade.

Nunca conseguiremos saber se as dificuldades de Van Gogh lhe aguçaram o génio. Sabemos que foi com a ajuda do irmão, para ser mais claro, que ficou completamente dependente do apoio financeiro do irmão Theo, que tinha um quarto cheio com os seus quadros que dizia vender nas galerias. Sem o apoio incondicional do irmão teria morrido à fome.

O que mais admiro em Van Gogh é a maneira intensa como viveu a sua vida e a sua aprendizagem. Entre a decisão de se dedicar à pintura e a sua morte medeiam dez anos. Dá a sensação que ele sabia o pouco tempo que tinha, a sensação de urgência, que ele sabia o pouco tempo que lhe restava para conquistar a extraordinária perfeição que tinha imposto a si próprio. A emoção que transmite, a expressão de cada pincelada, fascinam-me...

Sobre o livro vamos ter oportunidade de falar dentro em breve.

Abraço,
António

A.Tapadinhas disse...

Anónimo: "Mas o caminho que sigo, tenho de manter; se não fizer nada, se não estudar, se não procurar, então estou perdido. Então, ai de mim!"

A tragédia sempre presente em Van Gogh.

António

Luís F. de A. Gomes disse...

Aqui, as influências do Mestre são evidentes, mas eu, ma minha qualidade de leigo nestas matérias, quase arriscaria dizer que em muitos exemplares da tua obra -porque é de uma obra que se trata- e aqui estou a pensar, por exemplo, naquelas palafitas da Carrasqueira e até nesta última arriba praiã que nos ofereceste, são várias as peças em que denotas a presença dessa mesma influência só que de uma maneira súbtil, a qual está não só na vivacidade das cores que consegues, como até no modo como elaboras as imagens e com elas obténs uma simbiose que resulta num cunho que, na minha modesta opinião, é o teu, pessoal, aquela marca que te distingue de outros pintores e que nos leva a dizer, antes de o sabermos, este trabalho é dele.

Seja como for, não deixa de ser esta uma bela homenagem ao Mestre desde logo em termos pictóricos, propriamente ditos, pela claridade que expressas através da harmonia das cores que aplicas, dando um efeito de beleza muitíssimo agradável de ver e saborear, mas até pelo jardim de oliveiras que pintas, a lembrar-nos a paz de que estas árvores são símbolos e com que aqui consegues transmitir uma tranquilidade que nos convida à contemplação. É que o Mestre e o irmão dele que também o foi, na generosidade, tal como diz a Margarida, eram, acima de tudo, boas pessoas. O Theo, deve ter sido um ser humano excepcional.

Como seria classificada esta tua pintura há um século e meio atrás? Pois é isso que melhor lhe sublinha o génio, o de ter aberto um percurso, o de ter mostrado que esta Arte não estava confinada aos limites do(s) maneirismo(s) -salvo seja a expressão e sob reserva de a mesma não ter aqui aplicação possível ou a desejável- com que se fazia até à época.

Tenho pois a certeza que ele, agora que seguramente estará mais calmo, está neste momento a gozar estas sombras de paz e, de olhos brilhantes e um sorriso na alma, a meditar na consagração da Natureza, na consagração do homem enquanto, também ele, Natureza no que já encontrou conversa para o fim da tarde com algum Ghandi de quem se tem feito amigo.

São assim os jardins de paz e os mestres já o compreenderam há muito.

Aquele abraço, companheiro
Luís

Diogo Correia disse...

De há uns dias para cá, a vida e obra de Van Gogh têm me despertado a atenção desde que li um livro de um autor Francês sobre a vida dele.
E cada vez que vou sabendo uma coisa nova sobre ele mais o meu fascínio por ele aumenta.

Penso que a vida e a obra de um artista estão infinitamente ligadas uma com a outra tornando se uma só, Não acham?

Parece que há uma lei no universo que tende a dizer a certos homens que só terão reconhecimento após a sua morte.
Será que Van Gogh tivesse tido todos louros e as glorias a que tinha direito durante a vida a humanidade de hoje veria Van Gogh da mesma maneira???

Uma bela homenagem a um artista como V.G ehehehe
Faz-me lembrar muito ele ehehe

Um Grande Abraço
Diogo Correia

A.Tapadinhas disse...

Luís: "Aqui, as influências do Mestre são evidentes... são várias as peças em que denotas a presença dessa mesma influência só que de uma maneira súbtil, a qual está não só na vivacidade das cores que consegues, como até no modo como elaboras as imagens..."

A modéstia com que te declaras leigo em matéria de pintura, é desmentida com pequenos pormenores como o que estão na citação. Refiro-me à elaboração das imagens e à aparente espontaneidade da pincelada. Eu, antes de estudar Van Gogh e muitos que o estudaram mas não sabem, não fazia ideia do trabalho de preparação que as suas obras tinham. No seu museu, tive oportunidade de ver vários desenhos e esboços a pena, lápis ou carvão,sobre um mesmo tema, para ele encontrar os elementos certos para a composição. Nalguns desenhos até está a direcção da pincelada, para o trabalho final!

Afinal, ser génio também dá trabalho!

Quem sabe Ghandi e Theo não são espiritualmente a mesma alma que passou pela Terra como homens?

Abraço,
António

A.Tapadinhas disse...

Diogo Correia: Ainda bem que tens cérebro e coração para te apaixonares pelas coisas importantes da vida! Há muita gente que as deixa passar ao lado porque se preocupa com a espuma e despreza a água.

Se o mundo veria a obra da mesma maneira? A pergunta pode ser feita de outra maneira: Será que a obra de Van Gogh seria a mesma se ele tivesse uma vida fácil, de luxos e riqueza?

Para a primeira pergunta a resposta para mim é óbvia: Pior para o mundo!

Para a segunda, a resposta é mais complicada e será sempre uma especulação. Temos exemplos para todos os gostos. Eu gosto de pensar que ele, para cumprir a sua missão, tinha de viver assim, pensando que o dia que vivia podia ser o último!

Abraço,
António

Diogo Correia disse...

Agora que reflicto. Penso que as suposições tornam-se banais ou superfulas que, neste caso, nem vale apena questionar-me sobre elas.

Foi assim que aconteceu com Van Gogh e pronto. Eu gosto, tal como tu, de pensar na sua vida e obra tal e qual como aconteceu. Ele tinha de ser isto para dar aquilo, penso que as duas coisas são eternamente inseparaveis.


Grande Abraço
Diogo