quinta-feira, 29 de setembro de 2011

d´Arte - Conversas na Galeria LVII


Harém Autor António Tapadinhas
Óleo sobre tela 70x80cm
(clique sobre a imagem para ver pormenores)

Hoje quero apresentar-lhes, Rocky, um macho adulto da raça Rottweiler, e as suas companheiras Bianca e Chippie, da raça Husky siberiana. Rocky é, como os seus antepassados oriundo da região de Rottweil, na Alemanha, um defensor dos seus amos e das suas propriedades, com grande disponibilidade para a brincadeira e o trabalho. As suas companheiras, são completamente diferentes no seu comportamento: Bianca, de frente para a câmara, é uma fêmea chefe de matilha, que se lhe derem uma oportunidade, desaparece, levando consigo, Chippie, que segue fielmente a sua líder.
Para esta composição, foram tiradas algumas dezenas de fotos, com os cães isolados ou interagindo. No conjunto, parece-me estar retratada a personalidade de cada um dos animais: Rocky, macho dominante, a vigiar as companheiras, Bianca, chefe de matilha, a olhar desafiadora para a câmara e Chippie, a doce...
Feitas as apresentações, quero chamar a atenção para um pormenor que penso fazer toda a diferença. A tela, apesar de bastante povoada, dá a sensação de espaço, essencial para que os elementos que interessam, os cães, respirem livremente. A grande mancha verde da relva na parte inferior do quadro, foi para o observador ficar com essa impressão. Sobre as cores e contrastes, julgo que já sabem tanto como eu...
Este quadro, serviu-me para ilustrar uma crónica que foi recentemente publicada, que dizia assim:

VIDA DE CÃO

Noutro dia, estava deitado no jardim a conversar com o meu cão, tentando explicar-lhe as razões que me levam a invejar as pessoas que são capazes de falar de coisas complicadas que não controlam, como por exemplo o poder do dinheiro, com a mesma segurança e certeza com que, noutros tempos, se pensava que a Terra era o centro do Universo e o Sol girava à volta dela.
- E não gira? - Ladrou-me, interrogativo e, simultaneamente, irónico.
Não lhe respondi, claro. Ele, bem o conheço, estava a brincar.
- Com o passar dos anos - continuei - raramente tenho certezas e cada vez mais me engano. Sou capaz de escolher um programa de televisão, sem qualquer problema, porque não é uma escolha grave: a qualquer momento posso desligar!
Abanou a cabeça a concordar e, simultaneamente, a sacudir as moscas.
- Já não me sinto tão tranquilo quando vou votar: se me engano, só posso mudar de canal passados quatro ou cinco anos!
A sua boca abriu-se de espanto e, simultaneamente, bocejou.
Prossegui no meu raciocínio.
- É o mesmo grupo que quer controlar o que devemos ver, ouvir, apalpar, comer, cheirar, na internet, televisão, cinema, cartazes, revistas, jornais, no rádio ou discos, nas relações sociais ou sexuais, nas peixarias, talhos, praças, restaurantes, como se fôssemos atrasados mentais, mas que, ao mesmo tempo, nos consideram arautos de um mundo novo, com o mais risonho dos futuros, só porque tivemos a maturidade (dizem) de votar neles. Será que esta gente, não tem medo do ridículo?
A sua pata direita, fez-me sinal para travar o discurso e, simultaneamente, aproveitou para coçar a orelha. Ladrou-me:
- Vou contar-te uma calenda (lenda de cães) da minha família, cuja pergunta final é, simultaneamente, a resposta à tua dúvida.
E ladrou-me a história enquanto eu, simultaneamente, lhe sacudia as moscas.
- “ O avô do bisavô, da filha da minha bisavó, era um cão muito feroz. Toda a gente fugia dele com medo. Um dia, os homens fartos de tanto sofrer, foram queixar-se ao Deus-Cão.
Depois de os ouvir, Ele proibiu o avô do bisavô, da filha da minha bisavó, de morder nas pessoas.
A partir desse dia, todos se vingaram do mal que ele lhes tinha feito: os mais velhos batiam-lhe, os mais novos atiravam-lhe pedras, davam-lhe pontapés.
O meu antepassado, não suportou aquela desgraçada vida de homem e foi queixar-se ao seu Deus, achando que era injusta aquela sentença e exagerado tão grande castigo.
Depois de o ouvir atentamente, o Deus-Cão, perguntou-lhe, com um sorriso bondoso:
- Eu proibi-te de morder nas pessoas. Acaso proibi que ladrasses? ”
Quando me preparava para lhe perguntar qual a moralidade da cábula (fábula de cães), ele desatou a correr atrás dum gato e, simultaneamente, eu acordei.
Ainda hoje não sei se há moral.
Eu, o cão e a moral… que troika!

4 comentários:

luis santos disse...

Não deixem de ampliar a pintura... Basta clicar em cima com o botão do lado esquerdo do rato. E boa calenda.

Abracão.

A.Tapadinhas disse...

Luis: Já te respondi duas vezes...

...e o comentário desapareceu!

Só para te dizer que segui o teu conselho!

Abraço,
António

Luís F. de A. Gomes disse...

Gosto particularmente da luz deste quadro que até parece ter sido pintado de noite, sob luz artificial. O efeito que dá é pura e simplesmente encantador e confere à família um ar de dignidade que faz justiça à sua natureza de seres sencientes e, por isso, também eles dignos.

Quanto ao resto, o problema virá quando percebermos que a vida que nos estão a impôr só não será de cão pela simples razão de que estes, então, estarão a viver melhor.

Será que teremos que pedir à alguém licença para morder? No afunilamento em que nos estão a meter, não admirará muito se essa for a alternativa ao fundo desse túnel esmagador.

Esperemos que os homens ganhem juizo.

Até lá, aquele abraço companheiro
Luís

A.Tapadinhas disse...

O meu terreno confina com a estrada dos 4 marcos e na outra margem está um espaçoso terreno de cultura, normalmente de forragem para animais. Esse terreno tem um extenso canavial que bordeja uma nascente que mantém um charco com água durante todo o ano. Sei isso porque já lá fui lançar duas tartarugas que, não sei porquê, apareceram no meu terreno, para grande excitação do meu cão.

Todo esse espaço é dominado por um cão corpulento, como o rafeiro alentejano, que tem duas ou três cadelas por companhia. Funcionam em matilha, mas não faço ideia como sobrevivem. O que é facto é que têm bom aspecto.

Uma das cadelas estava prenhe. Há uns meses, vi junto ao canavial a cadela seguida por três cachorros, dois quase completamente pretos e um com malhas brancas. Agora já acompanham a matilha com facilidade. Há alguns dias que não vejo o cão malhado, o que é muito mau sinal. Os outros, continuam com bom aspecto...

Sempre que outros cães (normalmente de algum acampamento de ciganos) tentam passar no seu território são perseguidos impiedosamente, agora já com a colaboração dos filhotes que aprendem a ser cães. Vivem felizes os cães. O meu medo reside no homem: um destes dias os mandatários do regime enviarão os seus esbirros armados de redes e porão fim a esta liberdade ofensiva para as normas vigentes... Serão postos na cadeia e executados sem direito a defesa.

Tudo a bem da Nação!

Já está extensa a estória. Até...

Abraço,
António