quinta-feira, 20 de outubro de 2011

d´Arte - Conversas na Galeria LIX


Casas no Largo Autor António Tapadinhas
Óleo sobre Tela 41x33cm

Quando comecei a estudar pintura, fui atraído pela paleta radical e arbitrária, e pela drástica simplicidade de linha, de um grupo de pintores, catalogados como “fauves”.
Na primeira exposição dos rejeitados do “Salon d´Automne”, de Paris, em 1874, o quadro, “"Impression, Soleil Levant" de Monet, provocou o comentário desdenhoso do crítico de arte, Louis Leroy, que os chamou pejorativamente de impressionistas, nome que foi adoptado, com os resultados que se conhecem.
E, mais uma vez, a história repetia-se!
Também o critico de arte, Louis Vauxcelles, no Salão de Outono, em Paris, 1905, ao ver uma série de quadros radicais, a rodear um busto italiano clássico, exclamou: “Tiens, un Donatello parmi des fauves”. Coitado, mal sabia ele que estava a dar nome à escola que contribuiu para o primeiro grande movimento de ruptura estética “avant-garde”, do século XX. No seu curto período de existência (1905-1908), reuniu com a liderança de Matisse, pintores como Van Gogh, Braque, André Derain e Raoul Dufy.
Não escapei ao seu apelo. No início da minha carreira de pintor, utilizei a exuberância das suas cores, para algumas experiências. Delas, lhes darei conta, nas próximas entradas.
Esta obra (1995) é o primeiro exemplo.

2 comentários:

Luís F. de A. Gomes disse...

Os rejeitados, poderia ser uma das imagens de marca das artes, em geral ou, para sermos mais precisos e convenientes, deveríamos antes dizer uma das tragédias dos artistas e para os críticos e todos os entendidos das constelações de falantes sobre os artifícios dos outros, para esses sim, poderiam os rejeitados ser a imagem de marca de um fenómeno que desde as Luzes persiste em tantas e tantas vezes ir deixando no anonimato criações e reflexões que mais tarde se revelam não só em todo o seu explendor, como materializam com o máximo vigor as potencialidades que em si traziam. Parece-me que isso se deverá a um cruzamento entre a mais que humana incapacidade de prever e ver o futuro que, nestes casos, as grandes obras sempre antecipam perante o(s) presente(s) e o efeito que a mercantilização do(s) produto(s) artístico(s) tem sobre a valorização que num dado momento e contexto é possível de ser atribuida ao(s) mesmo(s), fenómeno este que a chamada cultura de massas agravou com a primazia que acabou por conferir ao critério das vendas.
Sem embargo, não deixo de ter para mim que nunca conseguiremos descobrir quaisquer métodos ou fórmulas eficazes para identificarmos o que é uma grande obra de arte. É claro que, tal como inúmeras vezes tem sucedido, poderemos ter a percepção da maravilha que temos pela frente e sermos capazes de lhe identificar as características que desse modo a classificam. Mas é o tempo o juízo dos Mestres e será no seu decurso que poderemos verificar se uma obra permanece, se, na genialidade maior, criou um antes e um depois. E são as que permanecem para lá das épocas e dos lugares que induzindo pensamentos e reflexões séculos depois de terem sido feitas, são justamente essas que poderemos designar por grandes obras e esta constatação deveria concorrer para uma maior humildade nas observações que fazemos.

Mas o que eu acho curioso nesta tua pintura é que não sendo ela própria característica da tua obra, tem, nas cores conseguidas, em algumas nuances -aquela mescla de luz, por exemplo- das formas, eu não diria as sementes -se é que o termo pode aqui ser aplicado- pois desconheço a cronologia das outras embora me pareçam posteriores a esta, mas arrisco as potencialidades de uma série de trabalhos -não me recordo os outros nomes mas refiro-me a uma série de quadros pictoricamente agrupáveis ao "Pastor de Sonhos"- em que, na minha modesta opinião pessoal, consegues o patamar sempre almejado de uma linguagem própria, pessoal e intransmissível.

A outra curiosidade que aqui encontro é a observação implícita que a nossa não é a única frequência de observação no espectro óptico da Terra. Como seriam as cores do nosso planeta se pudessem ser pintada pelas abelhas ou pelas formigas?
Ora, podendo parecer, não tem isto nada de jucoso ou pateta, antes se coloca no plano de uma Humanidade capaz de se reconhecer na irmandade de todas as formas vivas desta nossa casinha comum, por enquanto o único lugar que temos para viver. Afinal, todos nós acabamos por descender da(s) primeira(s) células que ainda não sabemos como aqui terão surgido.

E assim se vê como a arte mexe com a vida, se confunde com ela, a baralha, suscitando-nos o pensamento a seu respeito. É o dartear que nos faz falta.

Aquele abraço companheiro,
Luís

A.Tapadinhas disse...

Tens toda a razão quando dizes "que nunca conseguiremos descobrir quaisquer métodos ou fórmulas eficazes para identificarmos o que é uma grande obra de arte".

Tantas gavetas que ficaram com manuscritos que deviam ver a luz, tantos sótãos que ficaram com obras perdidas...

...e tantos caixotes do lixo que ficaram vazios!

Abraço,
António