domingo, 23 de outubro de 2011

O círculo



O centro converte o criado em criador.


Dentro e fora dele desenho-o para compreender o que não há para compreender
Numa crença cega penso que assim o alcanço.
Mudo de posição várias vezes, umas vezes sou exterior, outras vezes sou interior.
Mas mesmo assim não o integro em mim.

Criei outros tantos na falácia da comunicação,
Na tentativa de conseguir entender o que não há para compreender.
Os que criei foram-se interligando na tangência do tempo.
Criaram palavras, narrativas discursivas autónomas

Riam-se de mim...

Foram-se emancipando de mim, legitimaram-se.
Tornaram-se eles próprios círculos independentes da linha temporal.
Criaram vida, sonhos, utopias.
Apenas expiravam.

De tanto expirar o que inspiravam,
De tanta ânsia  do exterior
Obscureceram o interior, a inspiração.

Nesse obscurecimento nasceu a necessidade de evaporar o nevoeiro
De aclarar o círculo, de o tornar uno, de os agrupar num todo.
Que desenhado na folha de papel seria tão branco como ela,
Não se veriam as fronteiras, diluíam-se.
Nessa diluição a acção e o tempo seriam apenas acção e tempo.
Não haveria categorizações, apenas silêncios.

Mas lembrei-me agora que o círculo é o meu pensamento,
A minha acção, o meu tempo, as minhas categorizações,
O meu Eu.

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Apenas queria alcançar a vacuidade...

Maribel Sobreira
8 de Junho de 2010

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