por Miguel Boieiro
O zimbro é planta medicinal reputadíssima desde os tempos de
Dioscórides (século I d.C.). Refiro-me ao Juniperus
communis e não a outras espécies, subespécies e variedades de cupressáceas,
erradamente designadas como zimbros e que originam, por vezes, lamentáveis
enganos. Há tempos, a minha irmã mostrou-me, muito entusiasmada, umas bolinhas
de zimbro para fazer “chá” que tinha comprado a um ervanário ambulante no
mercado mensal do Pinhal Novo. Logo detetei que as tais bolinhas não eram de
zimbro, mas de sabina-da-praia, uma espécie afim, cujas bagas são tóxicas.
Repito o que já tenho afirmado centenas de vezes: para usos internos, há
plantas benfazejas, há plantas inofensivas, há plantas tóxicas, há plantas
mortais. Muito cuidado, portanto, porque persistem vendedores que, por
desconhecimento, negligência ou simples ganância, vendem aos incautos “gato por
lebre”.
A diferença fundamental entre os frutos da sabina-da-praia (Juniperus phoenica) é que estes
revestem-se de uma cor acastanhada, enquanto os do zimbro são pretos azulados.
Em pleno mês de fevereiro tive ocasião de subir à Serra da
Estrela e lá encontrei zimbros, alguns com bagas já azuladas à mercê dos
estorninhos que se deleitam com os primeiros frutos maduros da época. As
plantas agradecem, pois as aves ao defecarem, espalham sementes por todo o lado
e, desta forma, propagam a espécie.
O Juniperus communis
é um arbusto agreste, geralmente com 1 ou 2 metros de altura, podendo
excecionalmente chegar aos 10 metros no caso de haver condições propícias ao seu
desenvolvimento. Os que vi na Serra eram rasteiros devido a adversidade dos
ventos. Cientificamente, esta subespécie, que forma matos baixos e densos, tem
a classificação de Juniperus communis
nana.
Possui estrutura lenhosa e folhas em forma de agulha reunidas
em espiral. Os ápices são pontiagudos e apresentam uma apreciável dureza. É uma
espécie dióica, isto é, estão separadas as plantas masculinas das femininas.
Ambas florescem na primavera, mas só as femininas dão frutos, de forma
esférica, de entre 4 a 9 mm de diâmetro que, ao princípio, são verdes
acinzentados. Começam a amadurecer ao fim de 18 meses, adquirindo cor
negra-púrpura ou azulada.
As gálbulas (bagas) contêm um óleo essencial volátil algo
complexo (pineno, terpeno, borneol, inositol …), um constituinte amargo
(juniperina), resina, lípidos, glicéridos de ácidos gordos, taninos e
flavonóides.
O Dr. Lyon de Castro refere que a referida essência é
estupefaciente, produzindo sonolência e que as bagas são consideradas tónicas,
excitantes, diuréticas, digestivas, béquicas, vermífugas e antisséticas.
Indicações terapêuticas: debilidade geral, dificuldade em
urinar, arteriosclerose, asma, digestões lentas, insuficiência renal, cálculos
renais, bronquite, reumatismo (fricções), psoríase e eczema (em forma de
pomada).
Os frutos que são bastante acres podem ser consumidos
diretamente, mas apenas durante duas semanas. Espera-se depois dois meses até
nova aplicação. Tomar o infuso de 4 g por chávena, duas vezes ao dia, fazendo
também uma pausa similar à antecedente. O Dr. Oliveira Feijão prescreve o
cozimento das folhas e da casca dos ramos (60:1000) para uso externo em
fricções para os artríticos.
Outros autores apresentam variadas fórmulas terapêuticas,
algumas vindas de tempos ancestrais, através de xaropes, “vinhos”, elixires,
tinturas e pomadas. O zimbro é também amplamente mencionado nas “Plantas
Mágicas” de Sédir e no capítulo de botânica oculta no “Dicionário de Plantas
Curativas da Península Ibérica” de Enric Balasch.
Não convém, no entanto, efetuar tratamentos prolongados
porque podem provocar albuminúria (emissão de albumina com a urina).
Atualmente a maior fama do zimbro vem da sua utilização no
fabrico de aguardentes aromáticas. Estavam à venda na Torre (cimo da Serra da
Estrela) umas garrafinhas a preços nada módicos. A denominação francesa para
zimbro é “genièvre”, donde deriva a palavra “genebra” que os anglo-saxónicos
internacionalizaram para o snobe “gin”.
As bagas do zimbro, de sabor apimentado e ligeiramente
resinoso, são também usadas como especiaria, principalmente nos países
escandinavos, pois esta cupressácea dá-se bem com o frio, chegando a medrar até
nas regiões árticas. Em França e na Alemanha, as referidas bagas perfumam os
“chucrutes”, os “pâtés” e as carnes gordas, facilitando a digestão dos pratos
pesados.
Precaução final: Muita moderação ao tomarmos qualquer remédio em que entre o
zimbro, sem esquecer o “gin”, quer seja tónico, quer não.
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