Mulher ao Espelho, Picasso, 1963
Óleo sobre Tela, 116x89cm
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SOU
EU
Gostava de ser melhor.
Mas vou à frente de mim
Sem chegar ao que preciso
Para cumprir o meu ser.
Este ser que me apetece.
Este ser em que acredito.
Este ser que não alcanço
Por ir à frente de mim
Sem nunca me acompanhar.
Gostava de ser melhor
Gostava de a mim chegar.
Eu não sou o que desejo
Eu desejo o que não sou.
Estranho rodopiar.
Sem conseguir apanhar
Esta pessoa que vejo
Fugir da outra pessoa
Que teima em cá ficar
E não consegue chegar
Nem perto do que sonhei
Nem longe do que fiquei.
Para cumprir o meu ser
Gostava de ser melhor.
.
Serei duas ou nenhuma?
Sou eu.
E é por ser
Que não sou.
Maria Teresa Bondoso
Maria Teresa Bondoso
4 comentários:
Olá Teresa e António!
Teresa, que bom o seu poema de hoje! Tão fácil de entender, tão verdadeiro, tão Nós! Somos tantos num só, neste 'estranho rodopiar' de papéis que vamos representando, fugindo-nos algumas vezes... mas nem sempre! E é maravilhoso quando, às vezes, nos alcançamos e ganhamos alento para correr atrás deste desejar ser o que não somos -de novo!
António, esta semana nada de Picasso (vou ter que me conter...) - a gramática está na ordem do dia! :)
Abraços Primaveris a ambos!
Amélia
Também gosto muito.
Como diria o Herman Hesse, "nunca ninguém em tempo algum se consegiu tornar absolutamente coerente com o seu interior".
Contudo, é nessa procura que nos vamos construindo.
Um abraço.
Manuel João
A inquietação que a pluralidade do ser nos deixa, quando dela nos conseguimos aperceber.
Há quem morra sem ter sido um.
Luís
Obrigada, António, pelo emolduramento das minhas palavras e obrigada Amélia, Manuel João e Luís. Por sermos tantos num só, a procura... por desejarmos a coerência, podemos ser... ao fim e ao cabo, é na imperfeição que se manifesta a nossa humanidade.
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