quarta-feira, 31 de julho de 2013

Duetos



Eu e uma oliveira milenar
Foto de Lucas Rosa





TESTEMUNHO

Sou testemunha circunstancial:
não guardo mágoas
não transbordo
viajo em barco atracado
no cais da eternidade
(traduzo: espaço perdido
 no tempo confundido em lastro).

Avisto a terra conhecida e do alto
do mastro aviso aos navegantes:
terra entrevista
              terra até à vista.

(Pedro Du Bois, inédito)


terça-feira, 30 de julho de 2013

A COMUNIDADE DO VALE DA ESPERANÇA - UMA CRÓNICA



Ontem houve uma daquelas noites que nos vão perdurar na memória até que os dias se apaguem. Só posso lamentar que, de qualquer maneira, não tivéssemos gravado o que se passou uma vez que, para os meios disponíveis, o filme dos acontecimentos estaria, desde logo, fora de questão.
“Esta Noite O Amanhã”, foi o nome que os organizadores escolheram para o encontro que abriu com uma peça de Lopes Graça, pelo conjunto de câmara, um quarteto de cordas que o professor de música dirige, para evoluir num intercalar de poesia e pequenas sequências de interpretações que foram de um pequeno recital de guitarra clássica por um dos miúdos da aldeia e que mostrou ser um verdadeiro virtuoso naquele instrumento e na imaginação com que dele faz uso, apresentando-nos interessantíssimas versões de temas populares numas misturas a soar a jazz e, estranhamente, a fado e que para mim foi a pérola do serão e que, precedido por uma excelente actuação do coro da sociedade filarmónica da Vila, antecedeu o centro do cartaz com a hora e meia de actuação do Dr. José Afonso e do Padre Francisco Fanhais que, ora acompanhados por outros dois músicos, ora sozinhos em cena, nos presentearam com um espectáculo que nos fez cantar e rir, aplaudir e pensar e no fim, mal as últimas palmas se aquietaram e as pernas começaram a endireitar-se, ali manteve muitos de nós numa conversa de sentimentos dúbios de esperança e alento para a ideia de que este mundo de injustiça não poderá perdurar para sempre. Foi pois um seroar que se espreguiçou na madrugada e que a todos inundou de alegria. E devo acrescentar que dentro desta matriz, há muito que não presenciava uma coisa tão agradável e, é bom sublinhá-lo, de tamanha elevação.
É claro que o mérito vai inteirinho para os intérpretes que tudo executaram sem falhas e, em mais que um caso, com uma perfeição que a nenhum envergonharia fosse lá onde fosse que tocasse. Aliás, isso é um dos aspectos que geralmente me aborrecem nestes eventos, pois os participantes costumam encarar as suas interpretações quase como secundárias em relação àquilo que pretensamente pensam ter para dizer, com isso se despreocupando com o desleixo de falhas e desafinações e, para meu gosto e mesmo que não seja essa a sua intenção, como certamente não será, acabando por tratar a plateia segundo aquele velho ditado do para quem é bacalhau basta e, desse modo, afastando sem ter chegado a atrair. Desta vez foi diferente e todos se comportaram como qualquer profissional o faria se estivesse a pisar o palco mais importante do mundo. Para esse resultado muito deve ter contribuído o rigor e formalismo de uma organização que saiu da cabeça dos mais novos que são, afinal, quem assegura toda a animação cultural da nossa associação e foram ao pormenor de criarem efeitos de luz para distraírem as atenções dos diligentes arrumadores que retiraram e colocaram utensílios e suportes em sítios previamente estudados e assinalados e, ao mesmo tempo, serviram de ponto de demarcação entre as partes sucessivas que um discretíssimo apresentador foi apenas identificando. Não tenho dúvidas que uma tal condução das entradas e saídas dos músicos e recitadores foi o principal constrangimento para a eventualidade de participações menos cuidadas, pois, estando, tudo a correr tão bem, ninguém queria correr o risco de ficar lembrado por estragar algo tão bonito. Por isso digo que a ovação vai directa para os artistas, sendo as congratulações para repartir entre estes e quem cuidou para um acontecimento à altura do que podemos designar por uma noite memorável.
É o valor inestimável que têm estas casas como a nossa associação cultural.
Naturalmente estamos a falar de trabalho amador e geralmente de qualidade um tanto ou quanto duvidosa, contudo, nem por isso menos relevante ou importante. Que mal poderá haver por gente simples e humilde decidir representar o Bernardo Santareno? Será que o Autor fica diminuído por isso? Não me parece e se ao que faz de actor isso até pode confluir para lhe preencher a vida e a alma, ao que está no lugar do público, na larguíssima maioria, trata-se da única forma de poder assistir a teatro e a gozar os prazeres que lhes estão associados. Quem diz esta diz as restantes manifestações culturais, a começar pelas leituras que uma biblioteca à mão e para tanto orientada, proporciona e incentiva. Não haverão vantagens em uma população ser tanto mais culta quanto possível? Haja liberdade para isso e é justamente esta nuance que mais assusta os ditadores, não que um povo culto deles possa estar a salvo, antes pela percepção de isso só acontecer à medida que a liberdade se consolida e alarga. E o que estes espaços populares permitem é precisamente o sentido inverso dessa lógica, o proporcionarem aos mais pobres as possibilidades de usufruírem de alimentos do espírito a que as suas bolsas não chegam e as distâncias dos centros maiores ainda mais obstáculos colocam. Espanta-me como há quem desdenhe deste género de associativismo pois isso só pode decorrer da falta de compreensão daquilo que acabei de dizer e quando isso parte de gente que se diz progressista, então é um dos indicadores para percebermos estar perante um pateta qualquer.
Curiosamente a PIDE não andou por aí, pelo menos que alguém o tenha percebido. Não é que isso me entristeça, muito pelo contrário, ou que preferisse a presença tutelar desses esbirros o que de modo algum é ou poderia ser o caso. Bem vistas as coisas, nem as conversetas se teriam prolongado sob as estrelas se essa canalha por aqui tivesse andado com a sua sinistra vigilância. Mas fico curiosa por pensar que tão agradável ausência possa ter a ver com o facto de eu, de alguma maneira, estar a ser uma colaboradora do Ministério da Educação Nacional e, por essa via, estar a colaborar e a contribuir mesmo que indirectamente, para levar os objectivos do governo a bom porto. Não sei porquê mas, apesar disso, tenho as minhas dúvidas. Provavelmente andarão mais preocupados e ocupados a armadilhar as veleidades da campanha oposicionista para as eleições do próximo mês e a que mais do que um movimento democrático decidiu concorrer. Fosse esta a razão e teríamos aí um motivo adicional para gargalhar à custa do tirano. É que pela primeira vez em vinte e tantos anos de vida e muitos mais espectáculos realizados, gritou-se abertamente abaixo o fascismo e viva a liberdade que foi como alguns reagiram ao refrão dos “Vampiros” do baladeiro de Coimbra.

segunda-feira, 29 de julho de 2013

REAL... IRREAL... SURREAL... (39)

Two Camels and a Donkey, Paul Klee, 1915
Colecção Privada

REENCONTRO

Nasceram os dois naquele dia, naquela aldeia, naquele lugar longe e frio de um mundo que eu não conheço, mas do qual ouvi falar.
Iguaizinhos… ambos gordinhos de alegria e de carnes, com umas belas bochechas rosadas e espalhando saúde.
Os dois irmãos desde cedo que tinham tido sortes diferentes.

Um, ainda bebé, foi-se embora com o tio.
O outro ficou naquela terra fria e longe, acabando por crescer de um modo completamente diferente do seu irmão. Por agasalho usava peles de animais e como alimento comia uma espécie de papa da qual apenas o mais velho da aldeia conhecia o segredo. Todos sabiam, no entanto, que aquela espécie de papa podia, de uma vez só, alimentar corpo e alma, tal era o conforto que causava em quem dela se nutrisse.
A mãe dos dois rapazes nunca aceitou a ausência do outro filho e, desde o dia em que, sem uma lágrima, ambos se separaram, nunca mais falou. Olhava, quieta, o longe dos caminhos e, num sorriso que apenas o seu outro rapaz conseguia ver, trazia para perto a presença de quem muito cedo havia partido. Pode dizer-se que, durante muito tempo, era aquele sorriso adivinhado o que mantinha os dois filhos, o de longe e o de perto, ligados àquela mulher séria e triste de ausência.
O rapaz de perto era muito sossegado. Por companheiros tinha apenas um camelo cor de mel, do qual raramente se separava, e um pequenino livro de páginas velhas e gastas. Nessas páginas moravam histórias escritas por alguém que as pensou daquela maneira – mas que o menino não conseguia ler – e moravam também outras que o menino todos os dias inventava.  
Eram histórias muito diferentes umas das outras, mas todas elas falavam de um rapaz de faces rosadas, de cabelos vermelhos e compridos, vestido com peles de animais mais coloridos do que aqueles que povoavam a aldeia. Certamente, pensava o menino, eram animais do reino das cores, onde existiam todas as memórias e lembranças, mesmo aquelas dos tempos que ainda haviam de vir.  

Um dia, muito cedo, o rapaz acordou com uma espécie de ideia mal amanhada de um sonho que teimava em não se mostrar completo. Comeu as papas, ainda mais depressa do que o costume e sentiu-se logo muito bem. Fechou os olhos, respirou fundo e buscou, num lugar morno e sem tempo, o pensamento dos sonhos.  
Esperou.
Demorados dois dias, o pensamento chegou. Trazia com ele um homem sorridente e um menino rosadinho e gorducho… naquele sonho a mãe do menino falava com uma voz muito nova e dizia «meu filho». Se não fossem as palavras, juraria que se tratava da sua mãe. Era igualzinha, mas essa, a do sonho, tinha um riso muito claro e uma voz muito doce. Tal como as outras mães da aldeia, aquelas que o menino via às vezes da janela do seu quarto a passearem com meninos que deviam todos ser irmãos de outros meninos.  
Como era um sonho, não estava ainda acabado… quem seria o homem sorridente? Não era dali, certamente… porque os seus pés estavam ligados à barriga por dois pauzinhos de pele colorida. E os homens da aldeia – aqueles que o menino via atrás das mães da aldeia, a passearem com meninos que deviam todos ser irmãos de outros meninos – tinham os pés ligados às saias da pele de animais menos coloridos do que os animais do reino das cores.
Também lhe parecia que o seu sonho tinha dentro uma memória de coisas para acontecer… mas não tinha a certeza. Ficou contente.
O menino contou o sonho ao seu amigo camelo.  
E o camelo, que era, como todos os camelos, muito sábio, sorriu. Num sorriso igualzinho ao da mãe do menino quando, quieta, olhava o longe dos caminhos e trazia para perto a presença de quem muito cedo havia partido.  
Nesse mesmo dia, mais tarde, o menino já quase preso ao sono, ainda viu a sua mãe e o camelo… ambos sorriam com um sorriso muito claro… e ambos falavam com uma voz muito doce.
Adormeceu serenamente. Estava contente.

De manhã, quando acordou, a sua mãe tinha no corpo peles de animais coloridos e no rosto um sorriso claro e cheio. A sua voz, de nova, fez-se verdade.
«Levanta-te, meu filho e vem comigo», disse-lhe.
O menino sorriu e foi. Sem medo e sem silêncio de mãe.
Estava frio.  
Abriu a porta.
Do outro lado da porta, um menino de faces rosadas, vestido com peles de animais coloridos, mostrava no corpo o riso da alma.

Por trás, o camelo sorria.

domingo, 28 de julho de 2013






EXISTÊNCIA

  
Voga no ar e é energia.

Os sítios de onde sou
lugares de onde vim,
para onde vou …

O tempo.

O espaço.

Paisagem, tempo, espaço.

Modos de olhar, sentir...

Maneiras de estar, ser …





Fotos: Edgar Cantante; Texto: Manuel João Croca

sábado, 27 de julho de 2013

El Fin del Mundo


Até 1434 o mundo acabava para além do Cabo Bojador! E foi precisa muita coragem e saber para enfrentar esse fim do mundo! Sem pararem, os portugueses passaram “além” de todos os fins do mundo, o Cabo das Agulhas, a Taprobana, Timor, Austrália, Tasmânia, Nova Zelândia, para Leste, Oriente, enquanto para o Ocidente João Fernandes Labrador chegava ao Norte da América, Cabral ao Sul e Fernão de Magalhães abria a rota da circunavegação. Passando lá quase no fim da América.
Três séculos mais tarde Fitzroy atravessou duas vezes o canal que hoje leva o nome do barco em que viajou. O “Beagle”, e chamou áquela região Terra Del Fuego.
E é no Canal de Beagle que se encontra a cidade mais autral do mundo: Ushuaia! Onde orgulhosamente se informa que ali é el fin del mundo!


Os primeiros europeus que ali se instalaram foram ingleses, cientistas, até que um dia, bem no final do século XIX a Argentina se lembrou de afirmar que a terra era deles, o que, à moda dos gentlemen (esqueçam as Falklands/Malvinas) os ingleses acharam muito bem.
Mas era necessário ocupar, colonizar a região, e a idéia foi ali montar uma prisão de segurança máxima, como Alcatraz ou Ilha do Diabo; iniciada em 1898 ficou pronta em 1920, e encerrada em 1947. E assim nasce a cidade, num clima gélido, donde os prisioneiros não tinham como fugir. Consta na história que só um de lá saíu e nunca mais ninguém o viu!
(Também lá padeci um quanto tempo, como se pode ver pelos “documentos” abaixo, até obter a sempre almejada liberdade!)

Na triste e gélida cela
Tentativa de fuga infrutífera

Por fim... a liberdade

Deixemos a minha “triste” história e voltemos a Ushuaia. Cidade pequena, no Canal de Beagle, na margem norte, em frente território chileno, uns 90.000 habitantes, e rodeada de morros – o final dos Andes – paraíso do esquiadores... quando a neve cai em abundância, o que não se verificou este ano.
Quem sempre aproveita mais são os netos

Na semana anterior à nossa chegada a temperatura muito tempo em até em 18° em pleno inverno, quando esta é a temperatura do verão! O aquecimento global não perdoa a ninguém.
Naquelas águas gélidas pescam a Merluza Negra(Dissostichus eleginoides) um dos peixes mais saborosos que já comi, incluindo a maravilhosa garoupa das pedras de Angola, e que, infelizmente, como tantas outras espécies, começa a ver a sua extinção a aproximar-se com a pesca ilegal.
A filha - Joana - que foi pescar a Merluza

Outra especialidade é o Cordero Fueguino. Cada dose servida dá para uns quatro, mas como insistem em cobrar por cabeça, o paciente vê-se obrigado a comer alarvemente e depois levar dez horas para digerir. Mas que é uma delícia ninguém o pode negar.
Do vinho pouco há a dizer já que por todo o lado, tanto faz que seja Malbec, Carmenere, Cabernet Sauvignon ou brancos como Chardonay ou Torrientes, ninguém pode reclamar. A não ser para pedir mais.
Vale a pena uma visita a este Fin del Mundo,apesar de estar ainda sob a égide da cretina(pronuncia fuegina para a madama presidenta daquela gente) que com com seu defunto esposo tanto têm feito para desvalorizar um país que tanto já valeu, e ainda vale.
Mais agora com o grande papa argentino que, milagre, conquistou o coração dos brasileiros e de todo o mundo. Até os de lá del Fin!

25/07/2013
Francisco Gomes Amorim



sexta-feira, 26 de julho de 2013

Poema da Semana


Olá estimados amigos

NOSTALGIA
É o poema declamado que vos ofereço esta semana que deixa transparecer
um pouco do meu estro nostálgico após o meu regresso de Portugal, 
agradecendo aos muitos amigos que partilharam comigo extraordinários 
momentos durante este período de férias nos diversos locais 
por onde passei e me receberam com amistosa cortesia.
Veja e ouça NOSTALGIA em Poema da Semana ou aqui neste link:

http://www.euclidescavaco.com/Poemas_Ilustrados/Nostalgia/Index.htm

Euclides Cavaco
cavaco@sympatico.ca

quinta-feira, 25 de julho de 2013

D'ARTE - CONVERSAS NA GALERIA (2ª. SÉRIE)

RUA EM FORMA DE H
 


LUÍS DELGADO

Óleo sobre MDF 61x81 
 

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Rui de Pina


Rui de Pina nasceu em 1440 na Guarda e faleceu em 1522 na mesma cidade.
Ao serviço de D. João II, foi incumbido de várias missões diplomáticas, de entre as quais se destaca a representação dos interesses portugueses em Barcelona, após a viagem de descoberta de Colombo, procurando delimitar, em negociações que prenunciavam já o Tratado de Tordesilhas, os domínios destinados a Portugal e aqueles destinados a Espanha.
Foi nomeado cronista-mor do reino, guarda-mor da Torre do Tombo e da livraria régia por D. Manuel, em 1497. A actividade cronística desenvolve-se pelo menos desde 1490, data em que D. João II lhe atribui uma tença para "escrepver e assentar os feitos famosos asy nossos como de nossos Reynos".
Escreveu as crónicas de vários reis, entre os quais D. Sancho I, D.Afonso II, D.Sancho II, D.Afonso III, D.Dinis, D.Afonso IV, D.Duarte, D.Afonso V e D.João II adoptando um ponto de vista que exaltava os feitos dos monarcas.
As crónicas de D. Sancho I até D. Dinis foram editadas em Lisboa entre 1727 e 1729 por Miguel Lopes Ferreira; as três crónicas de D. Duarte, D. Afonso V e D. João II foram editadas entre 1790 e 1792 nos Ineditos de Historia Portugueza da Academia de Ciências, em edição prefaciada e organizada por Correia da Serra.
Quanto à crónica de D. Afonso IV, foi impressa em 1653, em Lisboa, por Paulo Craesbeck, de acordo com os manuscritos organizados por Pedro de Mariz, escrivão da Torre do Tombo. Estas edições corroboram nas suas introduções e mesmo licenças o testemunho de Damião de Góis, na Crónica de D. Manuel, segundo o qual nem todas as obras que lhe eram atribuídas seriam de sua autoria.
No prólogo à Crónica de D. Sancho I, o cronista propõe-se continuar o trabalho encetado por Duarte de Galvão com a Crónica de D. Afonso Henriques e elaborar a crónica dos sete primeiros reis de Portugal, lembrando as dificuldades acrescidas dessa tarefa, dada a escassez de fontes que justifica a inexistência de crónicas ordenadas anteriormente sobre o mesmo assunto: "haa sómente por Lugares muy ocultos algumas lembranças, cartas confuzas, e muy duvidozas". Na verdade, estas crónicas, segundo Damião de Góis, teriam sido construídas a partir de rascunhos de Fernão Lopes, refundindo uma Crónica Geral do Reino esboçada pelo primeiro cronista e que se supõe corresponderá à Crónica de Portugal de 1419.
Quanto às crónicas de D. Duarte e D. Afonso V, supõe-se que tenham também a mão de dois autores ou pelo menos que tenham como base memórias deixadas por Gomes Eanes de Zurara. De todas as crónicas assinadas por Rui de Pina, a Crónica de D. João II é a mais precisa, dado que o cronista foi actor e testemunha dos factos que relata. Opondo-se ao estilo lacónico e conciso das crónicas anteriores (com excepção da Crónica de D. Afonso V), aí o autor apresenta uma narração mais viva e documentada.

Obras:
  • Crónica de El Rei Dom Afonso, O Quarto
  • Crónica do Muito Alto e Esclarecido Príncipe D. Sancho II
  • Crónica do Muito Alto e Esclarecido Príncipe D. Sancho III
  • Crónica do Muito Alto e Esclarecido Príncipe D. Dinis
  • Crónica do Senhor D. Duarte
  • Crónica Do Senhor Rei D. Afonso V
  • Crónica D'el-Rei D. João II

Fonte:
  • GOMES, Jesué Pinharanda , 1939 - Dicionário de escritores do Distrito da Guarda. Guarda : Jesué Pinharanda Gomes, 1969. 124, [1] p : il ; 24 cm.
  • ROMANA, José Manuel Trigo Mota da - Antologia de escritores da Guarda : século XII a XX. Guarda : Câmara Municipal da Guarda, 2003. 406 p ; 25 cm PT 201436/03 ISBN 972-8813-16-3
  • Disponível em:

Margarida Castro
(in, dialogos_lusofonos@yahoogrupos.com.br


terça-feira, 23 de julho de 2013

A COMUNIDADE DO VALE DA ESPERANÇA - UMA CRÓNICA



O interesse pelo meu trabalho continua, muito embora, propriamente dito, as novidades desta tarde não o sejam inteiramente, pois tinha ficado mais ou menos assente que este convite teria lugar e com o propósito de vir a ser posto em prática já no ano lectivo que se seguirá às férias deste Verão que, por sua vez, teima em não dar tréguas nesta canícula que nos atira para a piscina com o mesmo gosto que os miúdos se entregam à brincadeira. Seja como for, pelo telefonema de há umas horas, fiquei a saber que a direcção que trata dos estágios dos professores para o liceu, conta que eu organize e execute uma série de sessões de formação a respeito de como planificar uma aula e estabelecer as melhores maneiras de apresentar uma matéria.
Com efeito, é justamente aí que incide toda a teoria da minha tese de doutoramento.
Eu parto de pressupostos muito simples. Antes de mais pela resposta às duas perguntas mais elementares e, quanto a mim, prioritárias que poderemos considerar. O que podemos entender por uma lição? Em que consiste uma aula?
Ora uma lição, na sua forma mínima, é um conjunto de conhecimentos que se transmite a outrem e a aula é, precisamente, o espaço e o lapso de tempo em que aquela ocorre.
Temos por isso que independentemente da vontade ou consciência de um observador, em todos os casos que possamos tomar como exemplificativos de qualquer um daqueles fenómenos, há necessariamente três elementos que se repetem e sem qualquer dos quais pura e simplesmente deixaremos de estar perante os mesmos, tal como anteriormente os concebemos.
Esses denominadores comuns são os seguintes:
Um, de ordem material, é o conteúdo temático daquilo que se pretende ensinar, digamos, em linguagem simplificada, a matéria a ministrar na aula.
Os restantes, de natureza humana, especificamente o professor que expõe e explica os saberes que queremos que sejam aprendidos pelos alunos que, em tal contexto, são o outro componente da situação.
Qual é o problema que imediatamente teremos que resolver na preparação de uma aula? Trata-se de compreender e equacionar como poderemos proceder para ensinar um determinado assunto e conseguir que este seja entendido e, de preferência, assimilado por aqueles a quem se destina.
Pois bem, o desafio básico passa desta forma a girar em torno da escolha dos melhores processos para, num certo momento, conseguir que uma dada plateia aprenda uma temática particular. Por outras palavras e em termos de uma ocorrência concreta, qual será o procedimento mais eficaz para que estas pessoas venham a aprender estes dados especificamente considerados?
Àqueles que apontámos como as partículas mínimas de uma aula ou lição, o binómio professor aluno e o objecto de estudo, temos com isso de acrescentar os meios, os métodos, os mecanismos, as tecnologias que tenhamos ao nossos dispor para que possamos levar a bom porto a missão em apreço.
Em resumo, não será errado dizer que uma lição é a transmissão ordenada e dirigida de uma mensagem ou um conjunto de mensagens, tendo em vista que as mesmas sejam aprendidas por aqueles que as recebem. Para aquela existe naturalmente um emissor e um receptor, cabendo ao primeiro optar pelas metodologias e técnicas apropriadas para que os objectivos sejam atingidos.
Com isto se espera que o transmissor esteja devidamente preparado e documentado no domínio que lhe é proposto abordar, mas também que possua uma boa formação no âmbito de saber elaborar a conveniente exposição dos temas.
Para tanto, quais são os recursos que poderemos eventualmente utilizar? Vários e de ordem diversa. A começar pelos materiais bibliográficos, dos livros, propriamente ditos, aos meros excertos de textos. Igualmente é de explorar a aplicação de imagens, da simples fotografia aos slides, sem esquecer o filme, em função do qual se pode partir para o esmiuçar de uma questão qualquer. Pessoalmente e com o desiderato de o usar no próximo ano lectivo, já tratei de pedir na associação que assegurem a projecção de “Um Violino No Telhado”, a partir do qual pretendo levar os alunos a reflectirem sobre os impactos de uma religião no dia a dia das pessoas comuns. Bem como temos de estar despertos e atentos às novas possibilidades tecnológicas, como, por exemplo, a retroprojecção de transparências em que poderemos destacar uma ideia que nos interesse, ou qualquer esquema relevante para o que estejamos a dizer e que obviamente preparamos para usar na oportunidade certa. Isto para além da tradicional cartografia que nos serve para localizarmos um qualquer evento ou um sítio determinado e das já habituais visitas de estudo invariavelmente com finalidades precisas e de carácter prático e complementares de um determinado conteúdo programático. Aqui, em tão heterogéneo conjunto, incluo os chamados trabalhos para casa que podem e devem ser praticados como complemento daquilo que se ensina e não apenas enquanto aplicação e treino daquilo que se aprendeu que, para isso, há que tirar partido das fichas de trabalho que os alunos, em geral, executam na sala de aula e que em concomitância servem como registo dos conhecimentos que se vão aprendendo. São estas as ferramentas que um professor pode escolher para desenvolver a sua acção.
Materializando agora com algo que não está incluído no programa do ensino oficial.
Suponhamos que eu pretendia falar das origens do pensamento político moderno e, portanto, teria que tratar de Spinoza e apresentar uma síntese do que consistiu a sua visão a respeito do estado e do papel dos governantes na sociedade.
Poderia muito bem solicitar um trabalho feito em casa, no qual, em poucas linhas, se fizesse um pequeno apanhado biográfico do sujeito. Não ficaria mal se me munisse de um texto ou de uma compilação de pequenos textos que resumissem o cerne das ideias do filósofo e, por último, poderia ainda ter um pequeno registo dos principais pensamentos, em acetato. Seria de toda a pertinência que elaborasse uma ficha de trabalho através da qual se tomasse a devida nota e simultaneamente se exercitasse o controle da aprendizagem sobre a matéria dada. Para ilustrar a exposição e a correcção do trabalho de casa, ficaria muito bem a passagem de diapositivos relativos à Amesterdão da época em que o homem que, por sinal, era de origem portuguesa, viveu.
Começaria então pelo tratamento do que tinha sido pedido aos alunos, a partir do que contextualizaria aquele grande pensador e a respectiva obra, ao que se seguiria a leitura e interpretação dos textos complementares, a primeira operação garantida pelos alunos e a segunda ainda pelos mesmos, desta feita mediante a orientação proporcionada pelas perguntas que lhes colocasse e que confluiriam para irmos ao encontro das conclusões previamente destacadas nas transparências que, em conformidade, culminariam os trabalhos. Na aula seguinte, depois de uma recapitulação da sessão anterior, necessariamente obtida a partir das respostas dadas pelos alunos às perguntas que, com esse propósito, lhes colocasse, passaríamos então à resolução da ficha de trabalho que, tendo um tempo dado para ser feita, seria seguidamente corrigida na aula com o que posteriormente se poderia partir para a matéria seguinte.
Eis, grosso modo, aquilo que terei para ensinar aos novos estagiários.

segunda-feira, 22 de julho de 2013

REAL... IRREAL... SURREAL... (38)

Starry Night, Vincent Van Gogh, 1889
Óleo sobre Tela, 73x92cm

Gosto quando o silêncio da noite

Gosto quando o silêncio da noite é marcado
pelo compasso dos meus passos
e do ranger que fica nas ramadas envilecidas
quando os suspendo, para olhar
as nuvens que passam entre a preguiça despida
que o fresco sentido no rosto faz abanar.

É tão bom quando temos a noite só para nós.

E gosto quando o compasso dos passos se apressa
pelo desejo de te contar como foi bonito
o mergulho que ainda há pouco dei entre as estrelas.

Luís Gomes

Para quem quiser recordar o hino de 

Don McLeanVincent (Starry Starry Night)

http://youtu.be/dipFMJckZOM

domingo, 21 de julho de 2013

 
 
ENTRETANTO
 
Entre-águas, tantos rios.
Entre gentes, tanto olhar.
Entre “mims”, tanta dúvida.
Entre músicas, tanto ruído.
Entre silêncios, tanta espera.
Entretanto, tanto tempo.
 
Tempo:
Foi, ainda;
Já, agora;
Será, logo.
 
Sempre.
 
 
 

Foto: Edgar Cantante; Texto: Manuel João Croca

sábado, 20 de julho de 2013

Livros d'África



SÓCRATES DÁSKALOS   (1921, Huambo – 2002, Lisboa)

Filho de pai grego e de mãe portuguesa, este angolano nascido no Huambo é senhor de um riquíssimo e agitado percurso político: fundou a Associação Académica do Huambo e a OSA/Organização Socialista de Angola, desmantelada pela polícia colonial em 1941; ainda nesse ano fundou em Lisboa a Casa dos Estudantes de Angola, embrião da Casa dos Estudantes do Império. Foi membro do MUD-Juvenil da Faculdade de Ciências de Lisboa.
Em 1952 regressou ao Huambo onde trabalhou como agrimensor particular por lhe ter sido vedado o acesso a lugares no Estado. Só em 1957 conseguiu o ingresso no corpo docente do Liceu de Benguela.
Em 1961, juntamente com Fernando Falcão, Aires de Almeida Santos, Luís Portocarrero, Carlos Costa e Manuel Brazão Farinha, entre outros, fundou a FUA/Frente de Unidade Angolana. Foram todos presos e deportados para Lisboa. Em 1962 exilou-se em França e organizou a FUA no exílio transferindo-se para Argel. Aí manteve contactos com outros exilados políticos, nomeadamente o general Humberto Delgado.
Em 1965 esteve na China com Gentil Viana, Viriato da Cruz, Carlos Morais e Onésimo da Silveira, durante a Revolução Cultural, até 1968.
De 1969 a 1972 esteve na Guiné-Conakri colaborando com o PAIGC.
Quando se deu o 25 de Abril encontrava-se como professor em Daloa, na Costa do Marfim.
Regressado a Angola foi seu representante na Comissão de Descolonização da 29ª Assembleia Geral da ONU. Foi Governador de Benguela, director da Sorefame (hoje Lobinave) e membro do Conselho da República de Angola até 1992.

Uma vida destas tinha que dar um livro, o que acabou por acontecer: intitula-se “DO HUAMBO AO HUAMBO – UM TESTEMUNHO PARA A HISTÓRIA DE ANGOLA” e foi editado pela Vega em 2000.

Desta autobiografia, aconselhável a todos os títulos para quem queira conhecer um pouco mais da História de Angola, deixo-vos um excerto do Prefácio escrito por Manuel Rui:
“(…) A história tem de ser escrita. Mesmo por cima de todos os acordos de paz ou de guerra. O que se passou foi que todos os urbanos foram mortos ou tiveram que abandonar a cidade, várias vezes, e a ela regressando outras várias até ao cansaço que faz desistir. E os camponeses, pela força da metralha, tiveram que fugir do campo – salvo poucos que mesmo assim inquinaram a demografia de Luanda – e eles nunca tiveram a hipótese de apanhar o avião para o estrangeiro. E não tiveram outro remédio que não fosse ocupar a cidade. O resto, na desgraça que estivemos com ela e ainda estamos, tudo isso está neste livro.”




Tomás Lima Coelho


sexta-feira, 19 de julho de 2013

Mordomo


                                                                      

Ao amigo Manuel João Croca



Habita por si próprio num corpo em efervescência,
 o desejo.
Existindo, para mim, tão único aquele em que a plenitude é:
  "servir".

Servir e servir com todas as ganas para lá das vontades.
Ser servo é ser uma árvore que dá vida, alimento, faz sombra
e ainda serve de consolo a poetas e artistas.

O serviço é o bem quando vem das profundezas
do que há para lá do cosmos, habitando
no homem que o contém luzindo em ouro dentro de si.

Abastecido de razão, e pela ausência de extração,
o projecto de prefuração mineira do espírito e da alma
é renegada pela engenharia mental teimando em não desenvolver.

É urgente voltar atrás, voltar às origens ancestrais,
Montar os puzzles da antiguidade para que o mundo avance.

Servir é conhecer o passado
e elevar o futuro à mais bela forma de plenitude,
para que ele estenda sempre sua passadeira vermelha
em aconchego ao almofadado pulsar
com que embala o coração.


 Diogo Correia   



quinta-feira, 18 de julho de 2013

D'ARTE - CONVERSAS NA GALERIA (2ª. SÉRIE)

DUAS CASAS E DUAS ÁRVORES
 


LUÍS DELGADO

Óleo sobre MDF 60,5 x 81
 

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Duetos



Para Ti

Clamei por Ti
na madrugada dos meus tempos
Corri veloz à tua demanda,
percorrendo tempos infinitos
do meu labor

À profundidade do meu ser,
a Tua voz serena
incutia um som não audível,
que permitia o meu deslizar
numa tranquilidade apetecível

Não foram tempos de ontem,
nem sonhos do amanhã
mas a eternidade
dum Agora,
que me seduz,
quando já não ouço a perturbação
da minha carne,
insatisfeita,
num caminhar
que parece não ter fim

Posso enfim gritar ao vento,
perscrutar vales e montanhas,
deixar que as minhas lágrimas
tombem em terra de ninguém,
mas sei que um dia acordarei
no teu doce regaço,
Pai-Mãe.

antónio


Existência

Mais do que cada um,
migalha divina e cósmica
só Tudo.


Luís Santos