sábado, 7 de dezembro de 2013

"A Decisão" - D. João I em Alhos Vedros: Considerações Finais


Os acontecimentos narrados são ficcionados, mas assentes em factos reais, concretamente a ida de El-Rei D. João I a Alhos Vedros e a sua permanência no «Palácio de D. Afonso, Conde de Barcelos.» [in “Crónica da Tomada de Ceuta”, de Gomes Eanes de Zurara (ou Azurara].

«É conhecida e muitas vezes citada a estadia de D. João I em Alhos Vedros, em 1415, pouco tempo antes da expedição a Ceuta. Segundo a “Crónica da Tomada de Ceuta”, de Gomes Eanes de Zurara (ou Azurara), o rei de Boa Memória estava em Alhos Vedros, refugiado da peste que vitimaria sua mulher Dona Filipa de Lencastre. Com ele estava o seu filho D. Afonso, conde de Barcelos.» [in VARGAS, José Manuel (2007). Aspectos da História de Alhos Vedros (Séculos XIV a XVI), Edição Junta de Freguesia de Alhos Vedros]

Também os Infantes da “Ínclita Geração” ali estiveram, a fim de saber qual seria a decisão de El-Rei, quanto à conquista de Ceuta.
Indiscutivelmente, a fazer fé no Cronista, foi em Alhos Vedros que Sua Majestade tomou a deliberação de partir para essa empresa e a transmitiu aos filhos.
Pode haver quem afirme que estes factos não passaram de mera ocorrência acidental, fruto de um conjunto de circunstâncias particulares.
Em parte, estou de acordo com essa visão
Contudo, também não podemos esquecer que a resolução Real tomada naquela terra da borda-d’água, se traduziu na mola incitadora da gesta portuguesa da Expansão Marítima, iniciada no séc. XV, e que tão relevantes consequências teve para Portugal e para o Mundo de então!
Por esse “simples” motivo, será que não merece a pena divulgar condignamente tais factos históricos, tão intimamente incrustados na História de Portugal, na História Europeia e na História Universal? Estou plenamente convicto que sim! Daí este meu singelo contributo.
Onde se terá situado, efectivamente, o «Palácio de Dom Afonso, Conde de Bar-celos»? Terá sido no Largo do Cais? Na Quinta da Graça? Ou, ainda, noutro local diferente destes?
Em termos narrativos, penso ser pouco relevante a problemática de tal localização. Já em termos históricos, considero pertinente que se intensifiquem e se aprofundem as pesquisas, no sentido de se definir a localização exacta desse «Palácio».
No meu texto, opto deliberadamente pela sua localização no Largo dos Cais, tendo como enfoque o Palacete dos Condes de Sampaio – uma construção que remonta ao séc. XVII, portanto posterior aos episódios narrados.
A ser essa a verdadeira localização, é evidente que a estrutura residencial que existiu no séc. XV não é a que hoje está visível. Mas poderá ter sido a partir dessa estrutura mais antiga que, posteriormente, tenha vindo a ser erigida a edificação ainda existente.
Esta minha escolha deveu-se, essencialmente, a uma estratégia narrativa mas assenta, também, no facto de se tratar de uma opção defendida por vários estudiosos.

«No “Guia de Portugal”, de Raul Proença (2.º vol., pág. 638), (...) pode ler-se o seguinte: “Teve aqui um palácio o Conde de Barcelos, D. Afonso e nele se refugiou seu Pai, o Rei D. João I, fugido à peste, enquanto sua mulher D. Filipa de Lencastre agonizava em Odivelas. O palácio veio depois a pertencer aos Marqueses e Condes de Sampayo.”» [in Alves, C., 1992, pp. 38-39]
«O Condestável Dom Nuno Álvares Pereira tinha propriedades nestas terras, e Dom Afonso, filho bastardo de D. João I, Rei de Portugal, tinha Palácio no Porto desta Vila. Dom Afonso casa com a filha do Condestável do Reino e torna-se Conde de Barcelos e, mais tarde, no 1.º Duque de Bragança. Neste palácio dos Barcelos, em Alhos Vedros, o Rei veio refugiar-se da Peste (segundo crónicas da época) que assolava Lisboa e já tinha tirado a vida à Rainha. E juntando os seus filhos na casa do meio-irmão destes (Dom Afonso) deu ordem à ínclita geração para a tomada de Ceuta. Saíram de Alhos Vedros e reuniram-se em Belém antes de partirem para o Norte de África. Este Palácio, hoje, permanece ferido mas de pé, abandonado depois de ter sido usado durante décadas como fábrica de confecções - o Primeiro Palácio dos Bragança.» [in Famílias de Alhos Vedros”, de João Gaspar – http://www.geneall.net/P/forum_msg]
«/…/o Paço Real, situado junto ao cais da vila, local onde se refugiou o rei D. João I para fugir à epidemia da peste, que assolava na altura a cidade de Lisboa, vitimando D. Filipa de Lencastre, sua mulher.» [in Jornal O Rio, 23/04/2009 –http://www.orio.pt/modules/xt_conteudo/index]

Enquanto cidadãos e Alhosvedrenses, compete-nos a todos nós (e a cada um) dar a conhecer estes feitos, e orgulharmo-nos de os mesmos terem ocorrido na nossa terra.
Desafio todos os estudiosos, evidentemente que no bom sentido, a disponibiliza-rem-se para aprofundar as suas pesquisas a propósito destes acontecimentos. Mas que lhes seja, igualmente, feita a devida justiça por quem de direito, e que esses seus trabalhos de investigação tenham os apoios oficiais necessários, assim como uma ulterior divulgação condigna.
Convido, pois, os Poderes Locais a investir ainda mais na recuperação do património construído, assim como a incrementar actividades de animação e de difusão dos factos históricos ocorridos em Alhos Vedros.
Estas iniciativas, a ser implementadas futuramente, constituir-se-ão numa mais-valia cultural (e não só), quer para Alhos Vedros, quer para o Concelho.
Nestes tempos de globalização (desenfreada), que tende a tudo homogeneizar, cada vez se torna mais premente e imperioso o incremento dos valores culturais e dos factos que marcaram épocas passadas. São eles que consubstanciam a herança recebida dos nossos ancestrais, que é nossa responsabilidade legar aos vindouros.
É nestas singularidades que se alicerça e enforma a identidade particular de cada Povo e de cada Nação! 


[SANTOS, Francisco José Noronha dos, A DECISÃO – D. João I em Alhos Vedros – Julho 1415, Lisboa, Sítio do Livro, Lda., 1.ª Edição 2011, pp. 145 – 149]



NOTA DO AUTOR: À data da publicação, a redacção do texto não se subordinou às normas preconizadas pelo novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.

9 comentários:

luis santos disse...


Caro Francisco

Parabéns pela tua "Decisão".

Antes de mais, porque está muito bem escrito e é,de facto, um texto com princípio, meio e... importante futuro para a nossa história local, logo agora que se estão prestes a iniciar as comemorações dos 500 anos de Foral.

Neste sentido, o repto que lanças às autoridades locais, para darem maior visibilidade às nossas riquezas históricas, são de absoluta pertinência. Penso igualmente que o Palacete dos Condes de Sampaio, agora propriedade da Câmara Municipal, mas em triste abandono, seria um bom sítio para se construir um núcleo museológico, até porque somos o único Concelho do Distrito que não o tem.

A nosso ver, trazes alguma luz sobre o sítio onde se terá instalado D. João I na sua importantíssima passagem por Alhos Vedros, pelos motivos que mencionas. O Pacacete do Cais (dos Condes de Sampaio), de acordo com o testemunho do António Gonzalez, o nosso arqueólogo de serviço que, diga-se, tem desenvolvido excelente trabalho e com pouco apoio, que hoje ali se ergue não é o original, pois que este se construiu em cima de um outro, como também tu argumentas, e que se poderá confirmar quando houver vontade política para tal.

Sente-se muito honrado o Estudo Geral por poder divulgar estas tuas "considerações", já que as julgamos deveras importantes para uma devida revelação da nossa história local. Porque o que seria dela se não fossem "carolas" como tu que prezam e reconhecem a importância das ricas potencialidades que ela contém em si.

Obrigado.

MJC disse...

Quando é que o livro chegará a Alhos Vedros?
Constou-me que se o encomendarmos os portes são mais caros do que uma encomenda feita à Amazon.

Abraço.

Manuel João

Unknown disse...

Luís,

Obrigado pelo teu comentário.

Oxalá se aprofundassem os 'estudos' no que concerne à localização do palácio de D. Afonso, Conde de Barcelos...

Quanto ao Palacete dos Condes de Sampaio, que bom seria a sua recuperação!

Que nenhum Alhosvedrense permita que a nossa rica História Local seja esquecida!!!

Agradecido.

Unknown disse...

Croca,

Respondendo à tua pergunta, o livro chegará a Alhos Vedros, logo que se organize uma 'apresentação pública', a fim de dar cumprimento às 'normas contratuais' acordadas com a Editora.

Quanto aos 'portes', creio que isso tenha a ver com as 'tarifas' definidas pelos CTT.

O que posso dizer de momento?
O livro há-de cá chegar!

Um abraço.

MJC disse...

Francisco, viva!

Se houver interesse e vontade da tua parte poderemos desde já agendar uma apresentação do livro na Casa Amarela. Deverias era garantir exemplares do livro para que quem quiser o possa comprar.

Abraço.

Manuel João Croca

luis santos disse...


Eu reforço a ideia do Manuel João. Seria muito bom que se agendasse data para apresentação da "Decisão". Ao que parece, Manuel João, só é mesmo necessário arranjar data adequada na agenda das atividades. Abraços.

MJC disse...

A programação da Cacav/Escola Aberta Agostinho da Silva/Casa Amarela tem muitas abertas e se não tivesse fazia-se por ter.
Serve isto para dizer que a bola está do lado do Autor. Provavelmente terá de convidar um apresentador (que eventualmente precisará de tempo para ler a obra caso ainda não o tenha feito).
Por aqui, falando individualmente mas certo de interpretar a vontade da direcção, disponibilidade total portanto, o Autor que fale.
Abraços,

Manuel João

Unknown disse...

Luís Carlos e Croca,

Na sequência dos vossos comentários, é evidente que será para mim uma honra fazer uma apresentação do livro na Casa Amarela.

Passando as Festas Natalícias, podemos começar a pensar no assunto.

Claro que terão de existir exemplares do livro, à disposição de que esteja interessado em adquiri-lo.

Desde já agradeço a amabilidade e a disponibilidade da Direcção da CACAV/ESCOLA ABERTA AGOSTINHO DA SILVA/CASA AMARELA.

Saudações e abraços para ambos vocês.

Francisco Noronha

MJC disse...

Ora essa amigo Francisco, a Cacav/Escola Aberta Agostinho da Silva / Casa Amarela existem para essas e muitas outras coisas afins. E para mais todas as outras que entendamos vir a realizar e concretizar. É um projecto aberto e em permanente construção, que cheguem pois mais e novos construtores.
O calendário que sugeres parece-me adequado, no início do ano começaremos a acertar pormenores para tratarmos da divulgação.

Abraço.

Manuel João