domingo, 29 de dezembro de 2013

 
 
 
Nunca voltemos atrás
Tudo passou se passou
Livres amemos o tempo
Que ainda não começou
 
Agostinho da Silva
 
Mais um ano se aproxima do fim.
Que dizer do ano que agora finda?
 Muita coisa se pode dizer e, ao fazê-lo, discorrer como quem volta a percorrer os caminhos, ou então resumir procurando as palavras que possam condensar o que se viveu e sentiu e que, de uma forma ou de outra, ainda perdura.
A nível mais geral diria que foi um ano marcado pela grande ofensiva do capital financeiro que, recorrendo a um terrorismo social como me não recordo, vem implementando um estado de fascismo económico escondido atrás de uns enfeites que nos procuram vender como um tal liberalismo e com o qual nos deveríamos congratular por ser reflexo de uma sociedade desenvolvida e moderna já livre dos fantasmas socializantes ultrapassados e retrógrados. O cidadão não acredita, claro, até porque está cada vez mais, com «uma mão cheia de nada e outra de coisa nenhuma», mas também não consegue atinar com a maneira de fazer parar o desvario selvagem de quem ocupa as cadeiras do “poder”. E seria bom que atinasse até porque a ofensiva veio para ficar e vai continuar se não por estes, pelos outros que com estes vêm alternando sem significativamente alterarem a música de fundo.
A nível mais pessoal diria que foi um ano em que se acentuaram situações de desconforto e se carregaram os tons do horizonte do futuro mais próximo. No intercâmbio humano com a tribo a que pertencemos acontecerem também algumas perdas irreparáveis por insubstituíveis.
A primeira das quais, naturalmente, a de Afonso que assim se chama o meu Pai.
Depois outros, próximos, que sentimos e percebemos que de nós se afastaram pelos caminhos da vida. Outros, porém, chegaram e por vezes suficientemente perto para podermos justificadamente esboçar a construção de algo em conjunto.
 
 E, entretanto, o tempo que nunca pára embora nem sempre se renove, pelo menos aparentemente.
 
O que mais desejo para 2014 é que, no plano social, consigamos o discernimento a arte e a habilidade para estancar o desvario e mudar o rumo e a toada.
 
A nível pessoal desejo poder ajudar com o meu contributo, para que colectivamente consigamos redesenhar um novo mapa com novas rotas onde cada um possa ter o seu espaço para caminhar sem pisar ninguém nem ser pisado e que as situações de desconforto possam ser neutralizadas e para que cada e todas as cores possam entrar na composição da paisagem na plenitude da sua matriz original.
 
E porque o meu Pai continua comigo nesta deriva, deixo-o aqui também para que o possam conhecer melhor um pouco.
 
AFONSO
 
De um imaculado silêncio
se eleva em memória clara
o teu legado mais profundo.
No deve e haver da vida
foste do Ser antes do ter
por ser mais ao teu jeito
e à tua medida.
O ter é breve e finito
só o Ser pode o desmesurado infinito.
Por isso tu foste, e és e serás
e juntos continuamos
enquanto em nós os caminhos não se acabarem.
 
Da tua família toda.
 



Manuel João Croca

5 comentários:

Diogo Correia disse...

Bonito poema "Afonso"

Bela homenagem a quem nos é querido.


Grande abraço Croca
Diogo

A.Tapadinhas disse...

Afinal, contrariamente ao que me disseste, estavas inspirado e, mais, é inspirador para quem lê...

Bom Ano para ti e Família.
Abreijos,
António

luis santos disse...

...Então, desejos de maior satisfação social e pessoal. Bom Ano para todos.

MJC disse...

Caríssimos,

muito obrigado pelos vossos comentários.
Naturalmente tentaremos todos melhorar o nosso nível de satisfação pessoal tornando-nos assim mais fortes para contribuir para o bem estar de toda a comunidade.
Bom ano para todos também.

Abraços.

Manuel João Croca

Gil disse...

Bonito... não tenho mais palavras d emomento

Abraço