Caravela "Boa Esperança"
Caro
Zé Paulo, depois deste silêncio demorado cá estou de novo dando notícias. Para
além de cumprir com o prometido, é também uma forma de ir organizando o registo
destes dias.
Sabe-se
lá que utilidade poderão ainda vir a ter no futuro…
“EM
BUSCA DA FELICIDADE” – Relato 2
De
todo o lado se ouve o mar no seu movimento perpétuo.
Talvez por isso, Lagos se
me apresente como uma nau de velas desfraldadas sempre pronta a partir.
É
uma cidade azul.
Azul que se repercute pelo branco da cal.
Identifico-lhe um
aroma de exóticas especiarias cruzando-se com o cheiro a limão tão
caracteristicamente nosso, mediterrânico.
A
cidade é fértil em arte pública.
Tem muitas esculturas.
Umas mais modernas,
outras mais clássicas.
Dentro das clássicas gosto particularmente de duas: a do
Infante Dom Henrique, o Navegador e a do seu aio, Gil Eanes.
São duas figuras
cimeiras na grande aventura que os Descobrimentos portugueses constituíram. O
primeiro como pensador e comandante, o segundo pelo papel decisivo que
desempenhou na desmistificação de um dos grandes mitos da altura, o do gigante
Adamastor.
Ao conseguir dobrar o terrífico cabo Bojador que, por via disso, foi
rebaptizado como da Boa Esperança.
Esperança que como sabemos se veio a
concretizar em muita glória e riqueza para o Reino com a chegada de Vasco da
Gama à Índia.
Desde essa era gloriosa que o espírito de partida e descoberta
ficou gravado no ADN da cidade. Porque daqui é natural Gil Eanes, aqui se fixou
o Infante e daqui partiram dezenas de naus que ajudaram a tornar possível a
empresa.
À época os medos eram muitos e, por isso, o Infante se preparou com denodo
para os vencer recorrendo ao estudo das ciências mais adequadas na época: a
cosmografia e a astrologia.
Essa
aquisição permitiu-me registar um outro ponto do manifesto, o 11º:
11. – NÃO FORÇAR OS AMIGOS E/OU COLABORADORES A
CONFRONTAREM-SE COM OS SEUS MEDOS ANTES DE PARA ISSO SE SENTIREM PREPARADOS.
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Agora
ando a vender livros.
Não só em Lagos, antes um pouco por todo o Algarve.
Voltei
à escola, não como aluno ou professor mas como vendedor de livros.
Não senti
constrangimentos e a experiência está até a ser bastante agradável, para além
de me estar a render alguns proveitos.
Passei
uns dias em casa do Pedro e do Mário que como já suspeitara são namorados.
Confesso
que nunca antes tivera convívio tão próximo com homossexuais e receava que a
proximidade provocasse algum desconforto mútuo.
Nada mais errado.
O convívio
revelou-se gratificante e enriquecedor.
O Pedro e o Mário mostraram-me uma
forma de companheirismo exemplar.
Sempre atentos e cúmplices, partilhando a
vida nas suas várias vertentes, respeitando a independência e individualidade
de cada um e mesmo a ternura, que manifestavam como sempre é normal (ou devia
ser) entre pessoas que se amam, fluía naturalmente e sem exageros que por vezes
criam constrangimentos.
Para além disso, permitiram-me
usufruto total da sua casa tudo fazendo para que me sentisse na minha própria.
Bem,
a verdade é que nos tornámos Amigos.
Estive
em casa deles quase duas semanas.
Eles saíam de manhã para o trabalho (o Pedro
é professor e o Mário trabalha numa empresa ligada ao turismo), deixando sempre
comida no frigorífico para que me servisse à vontade. Deram-me uma chave do
apartamento para que eu pudesse entrar e sair sempre que me apetecesse.
Ao fim
da tarde encontrávamo-nos num café, o “Carta de Marear”, que funciona como uma
espécie de tertúlia.
De professores, artistas, alguns alunos mais velhos,
funcionários com ocupações várias, alguns empregados do porto e mesmo alguns
pescadores.
O ambiente é sempre animado e as conversas, para além da galhofa,
são normalmente interessantes.
Há vários casais, outros namoram e os restantes
convivem, é giro.
No
outro dia, combinaram uma noite de convívio em casa do Tó Zé e da Mariana (estas
noites de convívio pelo que percebi são regulares), a que chamam “Noites do
Bardo: Música, Poesia e Criatividade”.
Cada um leva algo de comer e/ou beber e,
depois, tocam, dizem poesia (própria ou alheia), representam pequenas
coreografias, … enfim cada um faz o que lhe apetecer mas o enfoque são as
artes.
Vou participar na próxima.
Estou curioso e entusiasmado até porque… Bem,
a Carina é uma miúda muito interessante e bonita.
Confesso sentir alguma
atracção por ela e outro dia surpreendi-lhe um olhar onde me pareceu encontrar
alguma reciprocidade.
O que sempre mais me fascinou nas mulheres, antes mesmo da
suposta beleza física, é a sua “cabeça”, a forma como pensam e o interesse que isso
desperta em mim.
A Carina desperta-me enorme interesse e várias vezes dou por
mim a pensar nela, talvez esteja a ficar apaixonado.
A
carta já vai longa.
Na próxima te contarei do meu novo trabalho, do meu jovem patrão
livreiro e da tal “Noite do Bardo”.
Já agora, se quiseres dar notícias tuas (coisa
que gostaria), podes enviá-las para a seguinte morada (indica uma morada que
para aqui não interessa mas que é da Praia da Luz ali mesmo ao lado de Lagos).
Um
abraço, vou continuar a navegar (fico a aguardar as tuas notícias).
Miguel Torgal
Praia da Arrifana
Imagens retiradas da internet
Manuel João Croca
2 comentários:
Como andas por todo o Algarve, quando passares por Portimão, diz-me porque talvez nos possamos encontrar e, quem sabe, comer uma refeição diferente na Pizzaria Smile, a melhor pizza da região, com pinturas a condizer com a excelência do repasto...
Não é por ser a pizzaria da minha filha e os quadros de minha autoria, que eu os qualifico de excelentes... Nem pensar! Completa isenção de julgamento!
Abraço,
António
António, se conseguir estabelecer contacto com o Miguel não vou deixar de lha dar a dica.
Essa Pizzaria Smile apetece.
Abraço.
Manuel João
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