TENTATIVA DE UMA CRÓNICA
Fotos: Edgar Cantante
A
corja montou o circo e organizou o espectáculo.
Convidou
os, mais ou menos, correligionários e tentou cativar-nos para espectadores.
Os,
mais ou menos, correligionários compareceram quase todos.
Por
todo o país foi erguido um enorme palco para que ninguém fosse privado do
deslumbramento.
Do
espectáculo.
Para
a sua cobertura foram mobilizados todos os meios.
As
rádios e televisões, jornais e revistas, comentadores, fazedores de opinião…
Uns,
mesmo ausentes foram apedrejados, já outros, também ausentes, foram aclamados.
Uns,
ainda combalidos por alguns tropeços – qu’isto da sofreguidão às vezes pode
embaçar – foram recuperados e, por entre o soar das trompas, anunciou-se o seu
próximo regresso, agora que se aproxima nova época de caça e são reconhecidos
os seus méritos de batedores.
O
espectáculo apostou na cor e na música.
Na
falta de bons solistas, privilegiou-se o coro que, apesar de não ser grande
coisa, lá conseguiu atinar na toada.
Até
o sol ainda apareceu curioso por tamanho frenesim mas acabou por se ir embora.
O
tempo arrefeceu, ficou frio. As nuvens carregaram-se e escureceram.
O pagode recolheu-se.
Indiferentes alguns, incrédulos outros, com a alma pesada outros ainda.
Assim nos vamos adiando no protelar do que, no fundo, talvez sejamos ou queiramos ser.
*
Mesmo
se no fundo, onde tudo é ainda apenas e só magma indivisa, algo reivindica a
tona. Uma brisa agitando-se em luz remexe na profundidade pedindo garimpo para se depurar.
Garimpamos e tudo se agiganta pois que, se a luz de fora ilumina a de dentro apazigua e é então que amanhece.
M.J.Croca
5 comentários:
Porra, parecem mesmo palavras sobre o Congresso da Laranjina C.
Referia-me, naturalmente, à primeira parte do texto, porque sobre a segunda, já é conversa para outros congressos, mais "Acima do Dó Central", para utilizar o título de um livro que, como se vê, nunca mais esqueci.
Pois é Luís, é assim que andamos.
À superfície somos bombardeados porque ainda mexemos.
Precisamos recolher-nos para alcançar algum sossego e capacidade de nos sentirmos.
E pensarmos.
Abraço.
Manuel João Croca
MJC
'Há vida para além da corja' - garanto-te eu que, por coincidência, jantei ao lado do Coliseu na 6ªf à noite... o mais difícil foi o estacionamento, de resto não me afectou em nada a boa disposição!
Abraços e desejos de boa disposição também.
Olá Amélia, viva!
Sem dúvida que há embora eles preferissem que não.
Há vida e muita vida para lá da corja, há o melhor.
Depois é como dizes, embora a coisa tenda a alastrar o mal não se pega.
Bons projectos e boa disposição para ti também.
Abraço.
MJC
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