domingo, 23 de fevereiro de 2014

 
TENTATIVA DE UMA CRÓNICA
 
 
 
 
                                                               
Fotos: Edgar Cantante
 

A corja montou o circo e organizou o espectáculo.
Convidou os, mais ou menos, correligionários e tentou cativar-nos para espectadores.
Os, mais ou menos, correligionários compareceram quase todos.
Por todo o país foi erguido um enorme palco para que ninguém fosse privado do deslumbramento.
Do espectáculo.
Para a sua cobertura foram mobilizados todos os meios.
As rádios e televisões, jornais e revistas, comentadores, fazedores de opinião…
Uns, mesmo ausentes foram apedrejados, já outros, também ausentes, foram aclamados.
Uns, ainda combalidos por alguns tropeços – qu’isto da sofreguidão às vezes pode embaçar – foram recuperados e, por entre o soar das trompas, anunciou-se o seu próximo regresso, agora que se aproxima nova época de caça e são reconhecidos os seus méritos de batedores.
O espectáculo apostou na cor e na música.
Na falta de bons solistas, privilegiou-se o coro que, apesar de não ser grande coisa, lá conseguiu atinar na toada.
Até o sol ainda apareceu curioso por tamanho frenesim mas acabou por se ir embora.
O tempo arrefeceu, ficou frio.
As nuvens carregaram-se e escureceram.
O pagode recolheu-se.
Indiferentes alguns, incrédulos outros, com a alma pesada outros ainda.
Assim nos vamos adiando no protelar do que, no fundo, talvez sejamos ou queiramos ser.
 

*
Mesmo se no fundo, onde tudo é ainda apenas e só magma indivisa, algo reivindica a tona.
Uma brisa agitando-se em luz remexe na profundidade pedindo garimpo para se depurar.
Garimpamos e tudo se agiganta pois que, se a luz de fora ilumina a de dentro apazigua e é então que amanhece.


M.J.Croca




5 comentários:

luis santos disse...


Porra, parecem mesmo palavras sobre o Congresso da Laranjina C.

luis santos disse...


Referia-me, naturalmente, à primeira parte do texto, porque sobre a segunda, já é conversa para outros congressos, mais "Acima do Dó Central", para utilizar o título de um livro que, como se vê, nunca mais esqueci.

MJC disse...

Pois é Luís, é assim que andamos.

À superfície somos bombardeados porque ainda mexemos.
Precisamos recolher-nos para alcançar algum sossego e capacidade de nos sentirmos.
E pensarmos.
Abraço.

Manuel João Croca

Amélia Oliveira disse...

MJC
'Há vida para além da corja' - garanto-te eu que, por coincidência, jantei ao lado do Coliseu na 6ªf à noite... o mais difícil foi o estacionamento, de resto não me afectou em nada a boa disposição!
Abraços e desejos de boa disposição também.

MJC disse...

Olá Amélia, viva!

Sem dúvida que há embora eles preferissem que não.

Há vida e muita vida para lá da corja, há o melhor.

Depois é como dizes, embora a coisa tenda a alastrar o mal não se pega.

Bons projectos e boa disposição para ti também.

Abraço.

MJC