Amarras, António Tapadinhas, 1998
Óleo sobre Tela, 100x60cm
|
Dedicatória
de Ernesto Dias Jr.
Ao ler uma postagem do amigo António Tapadinhas - ilustrada com sua
própria pintura que ora roubo - correu-me a poesia. Trouxe-me o tempo em que,
abraçado ao brandal, de pé na proa, eu sabia todos os nomes. Ao amigo dedico,
pois, o poema.
Ao
cabo perguntava o seu pintor
O ganho que rendia à pensa corda
ser uma amarra triste e sem valor
quando sem barco nada mais que morta
O ganho que rendia à pensa corda
ser uma amarra triste e sem valor
quando sem barco nada mais que morta
Inveja
sentiria dos estais
a balouçar nas ondas e no vento
assoviando versos às sereias
fazendo coro às vozes dos brandais
a balouçar nas ondas e no vento
assoviando versos às sereias
fazendo coro às vozes dos brandais
Não
ter jamais na vida a alegria
de aguentar o pano a barlavento
ou revoluta como um lais de guia
fazer-se e desfazer-se em nós ao tempo
de aguentar o pano a barlavento
ou revoluta como um lais de guia
fazer-se e desfazer-se em nós ao tempo
antes
trabalha só quando sujeita
ao cais imundo irmãos de bom massame
acovardado os mares não enfrenta
sem pau, sem proa, é só e sem velame
ao cais imundo irmãos de bom massame
acovardado os mares não enfrenta
sem pau, sem proa, é só e sem velame
Retruca
o cabo ao moço em tom veraz
é fato que não sou um amantilho
nem um cabresto, nem um patarraz
nem em convés por certo me enrodilho
é fato que não sou um amantilho
nem um cabresto, nem um patarraz
nem em convés por certo me enrodilho
Nem
silvo quando vem a tempestade
nem sei o gosto de à água um beijo
nem mesmo se me desse a liberdade
um marinheiro em bêbado desleixo
nem sei o gosto de à água um beijo
nem mesmo se me desse a liberdade
um marinheiro em bêbado desleixo
Escreve
pois aí com teus pincéis
que meu labor ao fim se equilibra
É um dinheiro não medido em réis
que dá valor a cada minha fibra
que meu labor ao fim se equilibra
É um dinheiro não medido em réis
que dá valor a cada minha fibra
nas
mãos do estivador meu soldo
é marca que lhe deixam cabos
quando agradece ao fim de uma jornada
a honestidade impressa nos seus calos
é marca que lhe deixam cabos
quando agradece ao fim de uma jornada
a honestidade impressa nos seus calos
Agradecimento:
Agarrado ao quê? Lá fui ver: Brandal - cada um dos cabos
que aguentam os mastros no sentido transversal. Valeu que a partir de agora não
me vou ofender se me chamarem de burro: Burro - cabo ou peça que impede a
retranca de subir.
António Tapadinhas
2 comentários:
A pintura é muito boa, o poema não fica atrás, o conjunto é soberbo.
Gostei. Mesmo.
Abraço.
Manuel João Croca
MJC: Obrigado em meu nome e do meu amigo Ernesto Dias Jr.
Abraço,
António
Enviar um comentário