JOAQUIM DE LISBOA (Joaquim da Silva Caetano Serra)
Foi um regresso muito pouco habitual, mesmo naqueles dias de confusão, onde se verificaram todo o tipo de originalidades na hora da partida: houve quem trocasse automóveis por um saco de batatas ou por um simples pacote de cigarros.
Mas o Joaquim e mais
cinco compinchas resolveram bater todas as originalidades: fazer a viagem de
traineira!!!
“(…) E tínhamos então:
um pescador reformado; o seu ajudante; dois comerciantes de Bairro; um
electrotécnico; e eu do ramo bancário. Assim sim!... Já formávamos uma equipa
polivalente capaz de enfrentar Oceanos e tempestades!”
E com tal
“polivalência” se fizeram ao mar, corajosamente. As tropelias dessa jornada
são-nos contadas pelo Joaquim de Lisboa com um imenso humor (o que ameniza
bastante as situações difíceis que tiveram de enfrentar), misturadas com
lembranças da sua vida em Angola no livro “NA ROTA DE DIOGO CÃO”, numa Edição
de Autor de 2005.
“(…) Durante o dia (…)
vimos um remoinho de mar que nos sobressaltou e donde se elevava uma espécie de
vapor. Pensámos em primeiro lugar num submarino e já nos julgávamos a ser
perseguidos, ou pior, embatidos, mas o tio Zé afiançou-nos que seria “apenas”
uma baleia. Quando tentei saber mais e lhe perguntei quantas baleias já havia visto,
respondeu-me:
- Nenhuma!
Fiquei descansado e
esclarecido…”
Havia também assuntos
sério a debater:
“(…) Abordámos o
assunto em conversa e debatemos o que se faria se um de nós “batesse a bota”
por doença ou acidente. Pode parecer coisa pouco importante para debater mas
chegámos à conclusão que nada havia a fazer senão sepultar no mar aquele que no
mar tinha morrido e… tentar salvar os restantes.
Eu por mim dispenso tal
funeral até porque sou detentor de um talhão no cemitério de Caconda.”
E conta que o ganhou
por ter descoberto naquele cemitério a sepultura do famoso naturalista José de
Anchieta, ali falecido em finais do século XIX. O administrador, que não
sabia(!!!), ofereceu-lhe o tal talhão fúnebre.
As memórias de Angola
são imensas e pontilham todo o livro:
“(…) Mas quando, sem
trabalho ou incertezas, desejávamos bater-nos com uma farta churrascada de
peixe cacusso, rumávamos ao Porto Quipiri ali para os lados do Caxito nos
arredores de Luanda, onde um pescador local, o Atanásio – às vezes no decorrer
da festa e no despejar das cervejas já nos enganávamos e chamávamos-lhe,
carinhosamente, Satanás! – previamente avisado, lançava as redes na lagoa e ao
outro dia lá estavam prontos e esperando por nós os cacussos que, assados na
brasa e decorados de gindungo, deixavam um cristão a pensar porque é que a gula
era… pecado!!!”
Foi uma aventura
heróica, a viagem do Joaquim e dos seus companheiros. Mas lá para trás ficou
algo: a saudade.
“(…) A vida ia
continuar, e daí para a frente, todas as noites as saudades de Angola viriam
visitar-me, trazendo-me à lembrança uma terra que, com tudo o que continha e
por estranho feitiço, eu tinha sido “condenado” a amar.”
Tomás Lima Coelho
1 comentário:
Gostei muito e aguçou-me a vontade de conhecer melhor Joaquim de Lisboa e o seu sentido de humor!
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